Let me know escrita por Miss Fuck You


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

"I'm thinkin' bout how
People fall in love in mysterious ways"
- Ed Sheeran - Thinking Out Loud

(Estou pensando em como
As pessoas se apaixonam de maneiras misteriosas)



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                Desde aquele dia as coisas começaram a melhorar na minha vida, apesar de ainda ser freelancer, estava tendo muitos trabalhos ultimamente, principalmente com k-idols, não os grandes grupos famosos, mas aquele que estavam começando e aqueles que estavam quase alcançado o sucesso. O que me rendeu uma boa grana.

Então pude enviar dinheiro para casa. Minha mãe não falava, mas eu sabia que as coisas não estavam muito fáceis em casa, esse foi um dos principais motivos que aceitei vim para a Coréia, eu estava quase voltando para o Brasil, já que as coisas não iam muito bem na Inglaterra quando recebi a proposta. Estava desesperada por dinheiro para vim pra cá sem nenhuma promessa de emprego fixo, sem nenhuma garantia.

Mas finalmente as coisas estavam melhorando, eu tinha tanto trabalho que mal dormia, tive de arrumar uma agenda. De verdade! Eu tive que arranjar uma agenda! Eu não dormia muitas horas e eu não podia estar mais feliz com isso.

Eu tinha muito a agradecer ao Bang oppa, ele era o maior divulgador do meu trabalho e fazer as fotos do Bangtan ajudou muito a alavancar a minha carreira.

Eu já estava até sentindo saudades do meu oppa, a última vez que o vi foi quando fomos comer carne com o Bangtan e isso foi a alguns meses atrás, eu sabia que ele estava bastante ocupado agora e sempre quando ele tinha tempo eu não tinha e vice versa. Mesmo assim precisava agradece-lo apropriadamente, uma mensagem de texto não era algo satisfatório.

Estava na Big Hit por conta de um trabalho e pensando em ligar para ele quando sou surpreendida pela sua voz soando alta pelo lugar. Ele estava repreendendo algum dos membros.

—Oppa! – o chamei e acenei. Ele parecia surpreso em me ver. – Não sabia que estaria aqui hoje.

—Não sabia que você seria a fotografa. Como tem passado?

—Bem. Muito bem, estou cheia de trabalho ultimamente. – dou um grande sorriso, ele sorri junto e bagunça o meu cabelo, apenas dou risada de seu comportamento, mesmo que ele fosse o único a se aproximar em primeiro lugar, ele tinha suas bochechas completamente vermelhas.

—Por favor cuide bem do Bangtan. – ele diz se curvando, ainda rindo me curvo também.

—Vou cuidar bem das crianças. – lhe respondo.

Ele me guia para dentro do prédio e para uma sala de reuniões, onde me encontrei com outras pessoas responsáveis pelo grupo, conversamos sobre o conceito para as fotos, dei ideia de alguns lugares onde achava ser bom para tirar fotos, começamos a marcar os dias e os horários para as fotos.

Dessa vez eu iria tirar todas as fotos, não apenas algumas fotos no estúdio. A reunião foi encerrada, mas permaneci conversando com a estilista deles, falando sobre as roupas e os sentimentos que queria passar com as fotos. Só me dei conta da hora quando meu celular apitou me avisando do meu próximo compromisso. Passei meu número para a estilista e me despedi rapidamente dela, peguei a minha bolsa de trabalho e saí correndo da empresa.

Que péssima ideia. Que ideia idiota essa minha! Quase sou atropelada não fosse por alguém me puxar para fora do caminho, nesse momento eu estava caída em cima dessa pessoa, ainda respirando pesado e tremendo com o susto, meus ouvidos ainda zumbindo com o som da buzina do carro que quase me matou.

—Você está bem? – envergonhada me levanto o mais rápido possível e quando vou o ajudar a se levantar percebo que é o Suga do Bangtan.

—Sim… obrigada. – digo fazendo uma reverência – Obrigada. – repito.

—Tem certeza que você está bem? Ainda está tremendo. – diz ele me entregando meu celular que nem tinha percebido que deixei cair.

—Ah! Sim, sim, estou… - me assustei com a hora que meu celular exibia. – Caralho! Estou atrasada.

Então saí correndo. Talvez fosse muito falta de educação da minha parte, mas eu estava realmente muito atrasada. Por algum milagre eu consegui um táxi e prometi ao motorista uma boa gorjeta se ele fosse mais rápido. Felizmente eu não era a única atrasada, o grupo que eu iria fotografar também estava atrasado, o que me fez respirar bastante aliviada.

A sessão fotográfica correu de modo tranquilo, apesar da falta de habilidade das meninas, eu consegui que elas fizessem poses realmente provocantes, já que seu conceito era sexy e provocante, fazer as poses para elas foi algo um pouco constrangedor no começo, mas logo eu já não estava mais me importando com isso. O manager me agradeceu muito e por um longo tempo.

Esse tipo de atitude para mim era desconcertante, não estava acostumada com isso. Com olhares hostis e comentários maldosos, sim, mas coreanos sendo gentis comigo? Isso era algo novo pra mim. Por ser estrangeira e não atender o padrão de beleza deles, sempre fui muito hostilizada, acredito que até mesmo perdi muitos trabalhos por conta disso. Por isso sou muito grata ao Bang oppa por me ajudar muito, ele foi uma das poucas pessoas que me recebeu com um sorriso e não se importou por eu ser estrangeira, sempre foi muito gentil e solicito, me explicando as coisas quando percebia que eu não entendia e falando de forma calma e repetindo para ter certeza de que eu o compreendia. Minha gratidão por ele era enorme.

Desde aquele dia em que fui chamada às pressas para ser uma fotografa substituta, percebia que as pessoas vinham me tratando de forma diferente, os olhares hostis diminuíram consideravelmente no ambiente de trabalho e algumas pessoas até mesmo me chamavam de sunbae, vinham conversar comigo e até mesmo me chamavam para almoçar. Isso não somente na empresa em que eu regularmente frequentava, mas como todas as outras para a qual trabalhava.

Sentada em um café realmente agradável comecei a pensar em todos os altos e baixos da minha vida. Quando vim para a Coréia, meu trabalho foi muito requisitado, mas depois de algumas semanas de trabalho, as pessoas foram lentamente se afastando, me estranhando, me descriminando. E o fato de não conhecer nada da cultura desse país não ajudou em nada, acredito que ofendi uma boa parcela de pessoas durante aquele tempo. Não posso afirmar com toda a certeza que foi isso que determinou meu fracasso, mas posso dizer com toda a certeza que foi nesse ponto em que as coisas começaram a ficar realmente difíceis.

Passei três meses quase na miséria, não conseguia falar o idioma corretamente, não conseguia arranjar trabalho, eu estava quase implorando para a minha família me ajudar a voltar para o Brasil quando conheci o Bang oppa. Muitas vezes ele me ajudou como interprete, apesar de seu inglês não ser dos melhores, foi meu guia pelas ruas desconhecidas, me indicou pequenos trabalhos que me fizeram sair da miséria. Eu sabia que ele realmente estava tentando me ajudar a arranjar trabalho, mas eu sou muito nova e as pessoas tendem a desconfiar que alguém tão jovem possa ser uma profissional. De qualquer modo, passei seis meses vivendo com meus pequenos trabalhos.

E então quando estava desesperada o suficiente, pronta para desistir, recebo aquela proposta que mudou a minha vida. Três meses inteiros com trabalho atrás de trabalho e muitos ainda marcados. Olhei para o calendário no meu celular, em alguns dias faria um ano que estou morando na Coréia e três anos que não via a minha família.

A saudade apertou o meu coração e fez meus olhos arderem. Não… não posso cair no choro em um lugar público, hoje era um dia em que me reservei uma folga, apesar de ter trabalhado até a tarde, eu tinha a noite livre, merecia um tempo tranquilo e despreocupado, comecei a fuçar meu celular para me distrair da saudade, olhando meu canal e os comentários, as pessoas estavam pedindo por novos vídeos, eu estava tão atarefada com o meu trabalho que vinha negligenciando meu canal. Já fazia algum tempo em que vinha pensando em fazer algum vídeo, principalmente uma live. Por que não?

Me ajeitei na mesa, para que a câmera só pegasse eu e a parede, não queria ser processada por ninguém apenas porque foi pego no fundo do meu vídeo, eu não sabia se podia filmar lá dentro também, mas eu estava em um lugar mais ou menos escondido, então decidi aproveitar disso.

A live começou, ajeitei meu celular em cima da mesa para que me filmasse e enquanto esperava, comecei a comer o que tinha comprado. Não demorou muito e as pessoas começaram a aparecer e a comentar, eu até que tinha bastante inscritos no meu canal.

—Olá! Boa tarde pessoal! – disse animada, mas ainda baixo. – Ahh! Agora é madrugada por aí, não é? – comecei a receber as respostas afirmativas. – Humm… E o que vocês fazem acordados de madrugada? – passei algum tempo lendo em voz alta os comentários, alguns me fizeram rir, outros eu ignorei completamente, eram simplesmente maldosos ou nojentos, não mereciam ser lidos. – Quando eu comecei a live eu tinha me esquecido do fuso-horário. Onde eu estou? – li um comentário. – Eu estou em um café em Seoul. Eu não sei se eu posso filmar aqui, então… é por isso que eu estou falando baixinho, ou eu acho que estou falando baixo. Então me avisem se vocês não conseguirem me ouvir direito. – recebi comentários das pessoas falando que conseguiam me ouvir e comentários sobre a música que estava tocando no café, eu nem se quer tinha me dado conta. – Vocês acreditam em mim se eu disser que nem prestei atenção na música, já estou acostumada, escuto K-pop praticamente todos os dias no meu trabalho. Hum… ultimamente estou trabalhando com muitos grupos de k-pop. – os comentários começaram a vim tão rápido que eu tive de pegar o celular e voltar os comentários para poder lê-los. – Os grupos com quem geralmente eu trabalho são grupos novos, a maioria está no começo da carreira com pouco tempo de debut. Hum… hoje eu estava fotografando umas meninas que ainda não debutaram. – eles começaram a me perguntar o nome do grupo e acabei revelando o nome, eu não tinha certeza se era segredo ou não, mas se era, agora já era tarde demais. – Então esperem ansiosos pelo debut delas. Hum... deixa eu ver o que mais… Hum… Se eu já trabalhei com algum grupo famoso? Acho que só o Bangtan… BTS… isso foi a alguns meses atrás.

Mais uma vez os comentários começaram a vir muito rápidos, tive que voltar e comecei a responder, na maioria eram perguntas sobre os membros. Respondi aquilo que eu sabia e o que eu julgava inofensivo, não queria ser atacada pelo fandom deles.

—No geral são meninos muito simpáticos e que trabalham duro, passamos muitas horas no estúdio tirando fotos, eles nunca reclamaram. Hum… sobre o relacionamento entre eles… hum… não sei… parece ser bom, eu estava muito ocupada tirando fotos. Desculpem ARMYS, não tenho muito o que revelar sobre eles, eu apenas os fotografei uma vez. Mudando de assunto… eu realmente vi muitos comentários me pedindo para postar novos vídeos… Desculpem pessoal, eu sei o quanto vocês querem conhecer mais esse país. Eu estava planejando filmar sobre as universidades e como é o ensino por aqui, sei que tem muitas pessoas curiosas sobre isso, mas ultimamente o trabalho tem consumido todo o meu tempo, hoje é o único dia que eu tenho uma folga. Tenho trabalho marcado até o mês que vem. Mas eu juro que vou reservar um dia para fazer o vídeo e esclarecer a dúvida de todos. Ah! Deixem comentários no meu vídeo anterior sobre as dúvidas de vocês, vou tentar ao máximo responder todas, okay?

—Alysson?

—Bang oppa! – acenei para ele que veio na minha direção com os meninos atrás dele. Eles chegaram cumprimentando e eu fiz o mesmo e me esqueci por um segundo o celular ainda na live.

—Só um momento, por favor. – pedi com o máximo de delicadeza. Voltei a atenção para o meu celular que novamente tinha muitas perguntas. – Então gente… meu… como se fala isso em português? – pela primeira vez me vi com dificuldade em traduzir alguma coisa. Eu ri de mim mesma e dos comentários dizendo que eu já estava esquecendo meu próprio idioma. – Desculpa, desculpa, eu realmente não sei como traduzir isso, o meu Oppa acabou de chegar e eu preciso dar atenção a ele, okay? Então… por favor sejam pacientes comigo, eu prometo que vou trazer novos vídeos para vocês em breve e não se esqueçam de deixar as suas dúvidas no meu vídeo anterior ou mandem pelo twitter, o que ficar mais fácil… O quê? – li um dos comentários, mas não consegui acreditar. – Vocês querem ver o Bang oppa?

—Hum? – ele perguntou. Todos já estavam sentados e fazendo seus pedidos enquanto eu me despedia.

—Eles estão pedindo para te ver oppa. – digo e dou risada da cara dele de assustado. Ele nega com a cabeça.

—Você está ao vivo? – Suga perguntou, ele estava sentado do meu lado, então ele só se inclinou para o lado e apareceu na transmissão.

—Oi! – ele disse de forma animada, o olhei chocada. O que ele estava fazendo? – Oh! Tem um monte de comentários! Você é realmente famosa! Tem até comentários em inglês!

Eu simplesmente não sabia mais o que fazer, as perguntas eram tantas que eu não sabia por onde começar e ele ainda estava sorrindo e acenando para o celular e… mandando corações!

—Sim, sim esse é o Suga pessoal. – decidi responder as perguntas, acho que não adiantava negar que não era ele. - Foi realmente uma grande coincidência, ele quis dizer oi para os fãs brasileiros.

—Oh! Eles estão falando de você V! – Suga comenta e logo V aparece para ler os comentários e mais uma vez vem aquele monte de comentários.

—Olá! – ele diz animado e acenando para o celular. – O que eles estão dizendo Noona?

—Hum… eu realmente tenho que ler isso? – ele acenou enfaticamente. – Elas estão falando que você é bonito. – ele solta um grande sorriso em resposta e começa a mandar corações.

—Obrigado ARMY’S. Em breve nós voltaremos com uma nova música e eu acredito que vocês vão realmente gostar. Tchau! – ele diz acenando e voltando para o seu lugar, Suga era o único que ainda permanecia olhando os comentários.

Eu rapidamente traduzi o que ele disse e me despedi sem ler mais nenhum comentário. Mesmo sem entender uma palavra do que eu falava, quando me viu acenando Suga fez o mesmo. Assim que parei a transmissão soltei um grande suspiro.

—Eu estou tão ferrada! – falei em português mesmo e ignorei as perguntas do que aquilo significava. – Eu espero que nenhuma fã louca decida me ameaçar por vocês aparecerem no meu vídeo. – lhes falei.

—Foi bastante inofensivo, não acho que vai causar problemas. – Oppa me tranquilizou. Me senti bem melhor depois disso e consegui sorrir, então me lembrei que ainda não os tinha cumprimentado, o que causou risada em todos, mas devolveram o cumprimento. – Os meninos te viram e quiseram vir cumprimenta-la. – ele disse olhando para o seu café e por algum motivo ele estava corando e os outros tentando esconder risos.

—Nós estávamos curiosos para saber como se conheceram. – Jimin começou a perguntar de forma inocente, mas logo seus olhos adquiriram um brilho e ele soltou um sorriso malicioso. – Toda vez que perguntamos para o hyung ele muda de assunto e começa a corar.

—Ah! Isso! – não pude evitar de rir, eu achava hilário, mas o oppa sempre ficava constrangido com isso, nesse momento se possível ele estava ficando ainda mais vermelho. – O oppa me ajudou quando eu estava andando perdida por Seul.

—Só isso? – Jimin parecia decepcionado. Soltei uma gargalhada com a sua cara de decepção.

—AAA~… O hyung não ia ficar desse jeito só por causa disso. – Suga comentou do meu lado.

—Hum… - mais gargalhadas vinda da minha parte.

—Foi uma situação confusa. – Bang oppa interrompe antes que eu possa falar qualquer coisa.

—Vocês estão me deixando curioso. – J-Hope falou quase quicando em sua cadeira com a ansiedade.

—Como eu disse eu estava perdida, quando eu encontrei o oppa… ele estava sentado numa mesa fora de um café… - eu não aguentei segurar o riso. – eu me aproximei pra pedir informação. Naquela tempo meu coreano era mil vezes pior do que é hoje em dia, então… realmente foi uma situação confusa. Eu tentei pedir ajuda com o meu coreano muito precário e o oppa estava esperando uma pessoa que também era estrangeira e… - mais risos da minha parte. – as coisas começaram a ficar confusas porque a gente não conseguia se comunicar muito bem…

—Eu achei que ela era o meu encontro! – O oppa fala rápido, seu rosto inteiro vermelho. – Eu estava num encontro as escuras e esperando uma estrangeira, ela apareceu, eu confundi as coisas e demorou um longo tempo até conseguimos nos compreender, meu encontro apareceu e foi uma catástrofe. – ele terminou de falar e deu um grande gole no seu café. – Satisfeitos? – os meninos caíram na risada, eu não pude ajudar o coitado meu oppa, comecei a rir junto deles e logo ele também estava rindo.

—Mas de verdade, sou muito grata ao oppa, ele realmente me salvou naquele dia, sem a ajuda dele não faço a menor ideia de como ia conseguir voltar pra casa. – disse quando todos os comentários sobre o Bang oppa terminaram e todos se acalmaram.

—Ah! Isso é realmente engraçado. – J-Hope diz, de vez em quando ele soltava uns risinhos, bem… toda vez que ele olhava para o oppa.

—Eu fiquei sabendo que você fará as nossas fotos. – Jin comentou.

Eu confirmei e eles começaram a fazer um monte de perguntas e a dar ideias, eu pedi que esperassem e tirei meu caderno de anotações e comecei a anotar suas ideias para o ensaio fotográfico, eu achava interessante e importante ter a visão deles para as fotos, eles conseguiram me explicar de forma muito mais clara o conceito por trás de suas músicas, o que eles desejavam passar para suas fãs e quais resultados eles esperavam.

A nossa conversa durou um bom tempo e eu achei aquele tempo muito produtivo. No meio da nossa conversa Bang oppa teve de ir pois estava ocupado com seu trabalho. Eu estava muito concentrada numa conversa com o Suga sobre fotografia que nem percebi que aos poucos os outros foram embora, só percebi isso quando Namjoon e Jin estavam indo embora.

—Não volte muito tarde. – Namjoon disse para o Suga, que apenas lhe acenou. Depois que os dois foram embora comecei a me sentir estranha, o clima ficou estranho. Ninguém estava falando mais nada. Eu não sabia mais o que fazer, nem o que falar.

—Hum… - comecei e chamei a sua atenção, ele ainda olhava para a saída. – Acho melhor irmos também. – ele acena de forma positiva e se levanta ainda em silêncio. Antes que chegássemos a porta ele colocou um boné e uma máscara preta.

Não tinha percebido quantas horas tínhamos passado dentro do café, mas pelo jeito foram muitas, o céu estava escuro e as ruas tranquilas. Fiquei parada na porta sem saber muito bem pra que caminho seguir. Odiava admitir, mas não lembrava mais pra que lado eu tinha de seguir. Foi quando Suga começou a andar e eu o segui na esperança de encontrar alguma rua conhecida ou algum táxi.

—Você parece bastante nervosa. – ele comentou depois de algum tempo.

—Eu? Hum… acho que estou… - ele virou seu rosto para mim. – É vergonhoso admitir, mas… eu estou perdida. – ele olhou sério para mim por uns dois segundos então eu pude escutar a sua gargalhada. Acho que foi a primeira vez que a escutava, eu geralmente o via sorrindo, mas nunca o escutei gargalhar. – YA! Isso é sério! Estou realmente perdida. – o empurrei levemente e isso apenas o fez rir mais ainda.

—Faz quanto tempo que você mora aqui? – ele pergunta quando para de rir da minha cara.

—Daqui a alguns dias, um ano.

—E como é possível que ainda se perca? – o olhei com uma careta.

—Eu me perdia até na cidade onde eu nasci e morei por dezessete anos, então, acho mais do que natural me perder em uma cidade onde moro apenas a um ano.

—Então você também tem um péssimo senso de direção. Isso explica porque está sempre correndo por aí.

—Ah! Hum… sobre isso… obrigada por aquele dia. Eu devia ter agradecido direito, mas eu estava tão atrasada que acabei sendo rude.

—Você é sempre muito educada. A não ser por algumas coisas, mas como você é uma estrangeira a gente deixa passar.

—O quê? – parei de andar, ele deu dois passos antes de perceber que eu parei, então se virou pra mim confuso. – O que eu fiz de errado? – tentei pensar duramente no que eu tinha feito de errado, mas nada vinha na minha mente.

—Não é nada para se preocupar. – ele diz de forma leve.

—Mas…

—Apenas esqueça isso, já disse que não é nada para se preocupar. – ele segura meu pulso e me força a voltar a andar.

Me calei e voltei a andar. Em que momento eu fui rude? O que eu fiz de errado? Comecei a pensar nessa tarde, o que eu havia feito nessa tarde que poderia ter sido considerado rude? Não conseguia pensar em absolutamente nada, fora aquele dia em que ele me salvou de quase ser atropelada e que eu não agradeci direito… não consigo pensar em mais nada fora isso. Deve ser isso, ele deve estar incomodado por que eu não agradeci direito. Como eu faço para me desculpar? Existe algum tipo de etiqueta pra isso? Vou ter que fazer alguma pesquisa. As fotos estavam marcadas pra daqui a alguns dias, eu poderia pesquisar e então agradecer de forma apropriada nesse dia.

—Aigoo! – Suga parou na minha frente de repente e eu quase trombei com ele. – Você está se preocupando com o que eu disse, não é? – desviei meus olhos dos seus, comecei a ficar constrangida, ele estava perto demais.

—Não. – respondi simplesmente.

—Está bem óbvio que você está.

—Eu não consigo deixar de me preocupar. – admito. – O que eu fiz de errado? Quando eu fui rude? Eu só consigo pensar naquele dia em frente à sua empresa e agora eu não sei que fazer para me desculpar.

—Não é sobre aquele dia. – o olhei surpresa, ele tinha seus olhos sérios.

—Então o que eu fiz?

—Se eu não responder… você vai ficar remoendo isso, não é?

—Provavelmente – com toda a certeza. Eu até mesmo não conseguiria dormir direito pensando nisso.

—Você nasceu em 94. – eu devo ter feito uma cara muito estúpida porque ele começou a rir da minha cara.

—O quê? Como isso é considerado rude?

—Eu nunca disse que você foi rude.

—Eu não entendo.

—Eu nasci em 93. Sou seu oppa, mas você me trata como se fosse mais novo. – meu queixo despencou. Então era isso! Meu Deus! Eu não me dei conta disso, eu sabia o quanto a idade é importante para os coreanos e fui cometer um erro tão básico quanto esse.

—Desculpa! – digo me curvando várias vezes. – Desculpa! Desculpa! – ele ainda está rindo de mim.

—Eu aceito suas desculpas se você me chamar de oppa.

—Desculpa oppa. – eu não podia ver seu rosto completamente, mas eu sabia que ele estava sorrindo por causa de seus olhos.

Voltamos a andar em silêncio e eu continuo sentindo minhas bochechas queimarem com a vergonha. Era vergonha por ter cometido um erro desses e vergonha por ter o chamado de oppa, eu não sabia exatamente o porquê estava ficando com vergonha por chama-lo assim, ele não era o primeiro homem que eu chamava assim, mas estava me deixando envergonhada.

—Você não precisa me chamar assim na frente dos outros. – ele diz depois de um tempo. – E você com certeza não precisa chamar o Jin assim.

—Mas…

—Basta apenas continuar agindo como você vem agindo. Chegamos. – ele indica o ponto de táxis. – É mais fácil desse modo no trabalho.

Eu permaneço parada, apenas o olhando. É patético, mas não quero ir pra casa, não quero me sentir sozinha de novo e alguma coisa nele me conforta, me deixa a vontade o suficiente para não querer voltar para a minha casa vazia, para a dor e saudade que me esperam no momento em que abro a porta.

—Se você não estiver cansada podemos apenas aproveitar a noite e andar. – sua voz soa mais baixa, talvez tímida.

—Eu gostaria. – respondo no mesmo tom.

E então nos afastamos do táxi e continuamos a andar lado a lado, eu sentia vergonha, gratidão e nervosismo, tudo misturado.

—Deve ser difícil vim para um país tão diferente do seu país de origem.

—No começo foi bem mais difícil. Eu já estava preparada para coisas que eu estranharia, já que vivi dois anos na Inglaterra, mas… as coisas aqui são bem mais diferentes do que eu pensava.

—Ás vezes é fácil esquecer que você é mais nova do que eu. Você parece muito madura pra sua idade.

—Deve ser porque trabalho desde muito cedo. Me apaixonei pela fotografia quando eu tinha os meus quatorze anos, minha família investiu em mim, acreditou em mim, então eu me dediquei muito a isso, logo eu estava fazendo fotos profissionais, participando de concursos, não demorou muito pra conseguir meus primeiros trabalhos. Acho que isso me fez crescer mais rápido. Mas o que acho que realmente me fez crescer foi quando eu aceitei uma proposta de emprego em Londres, eles também me ofereceram uma bolsa para estudar, eu aceitei sem pensar duas vezes. Quase morri sentindo a falta da minha família. Isso afetou minha vida profissional e as coisas começaram a ficar difíceis. Eu estava quase voltando para o Brasil quando recebi a proposta para vim para a Coréia.

—E por que você aceitou vir se estava tão mal?

—Por que as coisas não iam nada bem para a minha família financeiramente. Minha mãe tentava esconder de mim, mas meu irmão não tinha essa preocupação, ele me contava absolutamente tudo o que acontecia em casa.

—Você parece uma pessoa completamente diferente de quando a conheci. – ele diz depois de um longo tempo em silêncio.

—O quê?

—Você parecia uma pessoa muito tímida, o tipo de pessoa que passaria despercebida, que não chama a atenção, mas então eu vi você trabalhando, tirando fotos e conversando com as modelos e eu não sei… mudou completamente a imagem que eu tinha de você.

—Eu me tornei uma pessoa mais interessante? – pergunto rindo.

—Sim. – seu tom é sério. - Estou curioso pra descobrir mais. Você se tornou uma pessoa interessante.


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