Let me know escrita por Miss Fuck You


Capítulo 19
Atenção!


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas!
Sei que fiquei por um loooongo tempo longe. Me desculpem! Okay, agora vamos aos avisos:
1. PASSEI NO MEU TCC! Muito obrigada a todas as pessoas que me desejaram boa sorte. Então agora que não preciso me dedicar totalmente ao TCC, tenho muito mais tempo livre, ainda falta fazer algumas alterações que a banca examinadora pediu, mas o pior já foi e estou com mais tempo livre.
2. Esse capítulo não faz parte da história exatamente. É uma "história" que escrevi a algum tempo, no ponto de vista do Gustavo, apenas para me nortear com o passado da Alysson e do Gustavo. Então fiz algumas alterações e estou publicando.
3. As razões porque decidi postar esse capítulo: Acho que muitas pessoas podem ter ficado com raiva de algumas ações que a Aly vem tomando ao longo da história e espero que com esse capítulo vocês possam "compreender" um pouco melhor as suas atitudes e escolhas; O que também vale para o Gustavo, principalmente quando se trata da irmã.
4. Esse capítulo é basicamente uma reflexão do Gustavo sobre a sua vida e as suas atitudes.
5. O capítulo não está incluso na ordem cronológica da fanfic. O que quero dizer é que, ele não tem um tempo definido quando isso aconteceu, apenas que aconteceu depois que o Gustavo entrou para a banda. Até porque, seria difícil colocar esse capítulo na ordem cronológica da fic.
6. Como fiquei tanto tempo sem escrever nada, eu preciso reler toda a fic e me situar com a história e tentar lembrar o que eu queria escrever quando parei no último capítulo, e isso pode demorar um tempo (Um dos motivos para postar essa "história").
7. BTS praticamente não aparece (Apenas o Yoongi aparece, muito rápido e superficialmente, no final do capítulo). Como eu disse acima, foi algo que escrevi para me nortear na história da Alysson e do Gustavo.
8. Não é necessário ler esse capítulo para entender os próximos.
Acredito que isso conclui todos os avisos que eu queria informar. Prometo tentar postar o mais rápido possível, boa leitura.



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Tentei pensar em qualquer coisa que tenha feito de errado, mas não consegui pensar e nada. Batuquei meus dedos na mesa, ainda tentando lembrar se consegui ferrar com alguma coisa em algum momento.

Pode ser que finalmente os outros membros tenham se cansado de mim, eu não estaria surpreso com isso. Toda essa coisa de idade era um saco e era um saco ser o mais novo e ter que se lembrar de ter que se comportar de modo diferente apenas por causa disso.

A porta do escritório finalmente se abre e Hideki coloca a sua cabeça para dentro, ele parece surpreso e aliviado quando me vê. Me sinto da mesma forma, se estou aqui por alguma merda, pelo menos não fiz a merda sozinho.

—O que está acontecendo? – Ele pergunta em inglês. Eu não era muito bom no inglês, mas tinha conseguido aprender um monte com ele, mas eu sabia que ele não conseguia falar em coreano quando estava muito nervoso, então me esforçava para falar com ele em inglês.

—Eu não sei. – Volto a bater meus dedos na mesa, tentando me acalmar. Quando entrei nessa banda eu não ligava muito pra isso, era só um lugar pra estar, para não ter que ficar sozinho, mas em algum momento começou a ser importante pra mim.

—Você já pegou a música nova? – Hideki me tirou dos meus pensamentos.

—Hun? – Ele começou a batucar os dedos na mesa também, gargalhei da sua tentativa, não é que ele fosse fora de ritmo, nem nada do tipo, mas ele fazia umas caras muito engraçadas enquanto fingia tocar bateria. – Mais ou menos. – Dou de ombros. Não demora muito e Chul entra junto do manager no escritório.

Para o nosso alívio, não fizemos nenhuma merda, era apenas a gravação para um programa. Parecia muito invasivo, mas não é como se tivéssemos lá muita voz para dizer que não queríamos fazer. O manager saiu e Chul, nosso líder ficou, ele nos disse para encarar esse programa com leveza, só tínhamos que cuidar com as coisas que disséssemos, mas que deveríamos ser nós mesmos. Hideki saiu da sala e Chul pediu que eu ficasse, voltei a me sentar na sua frente, ele me encara de modo sério.

—Estou preocupado com você. – Merda! Eu sabia que tinha feito alguma coisa errada!

—Me desculpa hyung. – Aprendi rápido que essa era a forma mais rápida de sair de uma encrenca.

—Você não tem que se desculpar. Eu que tenho de me desculpar. Sei que no começo eu peguei muito no seu pé para acompanhar todos nas práticas e apresentações, mas… você está indo rápido demais. Você precisa descansar um pouco se não vai ficar doente. Você pega rápido as músicas e praticamente nunca erra em uma apresentação, sou muito grato por isso, mas você ter dormido poucas horas e não para por um minuto se quer do dia. Eu quero que você aproveite essas gravações e tome algum descanso, faça coisas divertidas, coisas que você gostaria de fazer. Não se preocupe se vai parecer chato para os espectadores, apenas se divirta, tudo bem?

Apenas assenti, sentindo como se finalmente tivessem retirado um peso dos meus ombros. Peso que eu não sabia que estava lá até ser retirado. Já fazia algum tempo que eu vinha me preocupando em aprender rápido as músicas para poder fazer as minhas próximas tarefas, com a escola, aprender coreano e inglês, aulas para me expressar melhor com as fãs, promoções das músicas, aprender talentos pessoais, ajudar na composição das novas músicas e ensaiar, eu tinha que dar meu máximo em todas as tarefas, eu não tinha um minuto se quer para perder.

Chul saiu da sala e me deixou lá sozinho, eu tinha dito a todos que ficaria ensaiando, isso já era algo normal para os membros da banda. Chul deveria realmente ter ficado preocupado comigo, porque ele sempre está importunando todos para ficar uma hora a mais nos ensaios, dizendo que precisamos ensaiar mais. Acho que nunca o escutei falar pra ninguém descansar, eu mesmo quase nunca o via dormindo e pra mim parecia que ele pensava tanto na empresa quanto eu, mas se ele estava dizendo que estava preocupado comigo, então eu devo ter passado um pouco dos limites.

De repente me sentia cansado, como se só a menção da palavra “descanso” fizesse meus olhos pesarem. Respirei fundo e me levantei da cadeira, iria escutar Chul. Corri pelos corredores da empresa e alcancei o estacionamento antes que eles fossem embora, abri a porta da van e entrei. Hideki estava dormindo bem no caminho, só para provocar esbarrei no seu joelho enquanto entrava e fechava a porta.

—Mudou de ideia? – O manager perguntou enquanto eu me desviava de um soco do Hideki e me ajeitava no lugar.

—Sim.

—Que bom. Estava pressentindo a hora que você ficaria doente.

—Estou bem hyung. – garanto a ele, quando já estou ajeitado no meu banco ele parte com o carro.

Apago por todo o caminho e não estou muito acordado quando chegamos em casa, apenas meio me arrasto, meio sou carregado pelo Hideki até o nosso apartamento, quando entro em casa os outros membros começam a fazer barulho por me verem em casa, os ignoro e vou para o meu quarto dormir.

***

Quando eles disseram que iriam filmar o nosso dia a dia e que as gravações começariam cedo, eu não pensei que seria acordado com uma câmera na minha cara, nem com uma maldita buzina. Apenas volto a cobrir minha cabeça com o cobertor, mas ele é puxado por alguém, me encolho com o frio repentino.

—Quero dormir mais! – Resmungo para a pessoa, mas não devolvem o meu cobertor, derrotado me sento e abro os olhos pra perceber que ainda estou sendo gravado e que tem pessoas estranhas rindo da minha cara de sono. – Quem são vocês?

—Somos do programa xxxxxx. Vamos filmar o dia a dia de vocês. – um homem que está mais atrás explica, eu assinto e desço da beliche, coloco meu casaco e vou verificar o Hideki que ficou calado durante todo esse tempo.

O desgraçado ainda estava dormindo! Bravo, arranco o seu cobertor também, se eu não posso dormir, ele também não pode! Ele faz parte desse programa também. Ele reclama qualquer coisa em japonês, eu o ignoro e roubo seu travesseiro, ele solta um xingamento em coreano e eu começo a rir e bato com o travesseiro na sua cara.

—Você não pode falar isso hyung, estamos sendo filmados!

Dessa vez ele abre os olhos, assustado, mas antes que ele pudesse se sentar e encarar a câmera, bato outra vez o travesseiro na sua cara, o ouço xingar outra vez, mas não fico lá pra escutar, rápido passo por entre todas as pessoas que estão nos assistindo e corro para o quarto do Seung Won e Dong-Yul.

Rindo, porque posso escutar o Hideki reclamando de mim e provavelmente ele virá atrás de vingança, me jogo na cama do Seung Won, ele passa um braço sobre mim para me manter quieto e volta a dormir. Seguro a risada e espero, agora tem duas câmeras, uma me filmando e outra filmando a porta do quarto, não demora muito e o Hideki aparece, ele está com seu travesseiro em mãos e um rosto raivoso, mas ele para quando percebe que estou junto do Seung Won.

—Eu mato você depois. – ele reclama e volta sai do quarto, o câmera que estava filmando a porta o segue, eu solto uma gargalhada da sua covardia, por algum motivo ele morre de medo do Seung Won.

—Você devia parar de provocar ele desse jeito. – Seung Won me surpreende falando, minha resposta é outra risada. – Vai pra aula?

—Sim.

—O hyung vai preparar comida pra você. – Ele finalmente abre os olhos e se assusta com a câmera, ele solta um grito e pula na cama, o que arranca risada de todos, o câmera até tenta segurar o riso, mas acaba rindo também quando Dong-Yul acorda com o grito dele assustado, perguntando “o quê” um monte de vezes e também se assusta com o tanto de gente estranha no quarto e acaba caindo da cama.

Depois da confusão da manhã, todos estão em pé logo cedo, Hideki e eu nos revezamos para nos arrumar e quando terminamos tem comida pronta e quente nos esperando. Quando entramos no carro percebemos câmeras, aquelas que geralmente Idols usam, instaladas no carro, fazemos um pouco de palhaçada, mas logo nos entediamos, Hideki cai no sono e converso um pouco com o manager, hoje ele não colocou nenhuma das suas músicas estranhas, acho que é por causa das câmeras, então eu coloco as minhas músicas estranhas para tocar, a maioria é rock, mas só para provocar o Hideki coloco uma do BigBang e cutuco as suas costelas pra ele acordar.

—Estamos quase chegando. – Aviso quando ele abre os olhos, penso que ele vai voltar a dormir, mas quando percebe a música que está tocando muda completamente e começa a cantar. Eu não gostava muito de k-pop, mas fazia bagunça com os outros quando começava a tocar.

A aula foi completamente diferente, devido as gravações o professor decidiu testar o nosso coreano fazendo uma competição. Hideki ganhou, é claro, ele estava a muito mais tempo do que eu na Coréia, eram poucas as vezes que ele não sabia se expressar em hangul, enquanto eu estava constantemente usando o inglês. Esse foi um dos motivos que decidi aprender inglês junto do coreano, pra mim inglês era mil vezes mais fácil e quando eu não sabia me expressar com o coreano eu falava em inglês e a maioria das pessoas conseguia me entender desse modo. Eu tinha melhorado muito na pronuncia do coreano e sabia falar um monte de coisas, mas ainda sofria muito na hora de escrever, geralmente escrevia tudo errado, estava sempre me confundindo com os caracteres.

Depois da nossa aula voltamos para o dormitório, eu geralmente partia dali para a minha aula de inglês e depois para as minhas aulas particulares para conseguir me formar na escola, estava orgulhoso que atualmente estava adiantado na escola e as últimas provas foram moleza, já que eu quase não ia a escola eu fazia as aulas no meu próprio tempo e velocidade.

Nem se quer descemos do carro, os outros entraram e fomos para a empresa, onde ensaiamos por algumas horas e depois eu fui ajudar Chul e Seung Won a escrever novas músicas. O produtor do programa disse que queriam filmar “um dia normal” das nossas vidas. E no final do dia, fizeram uma entrevista com todo mundo.

***

Hoje estávamos em uma emissora, esperando a nossa vez de nos apresentar, já tínhamos filmado para o programa, então rapidamente saí do caminho das pessoas, coloquei meus fones e esperei a hora passar. Hideki estava sentado do meu lado, tão calado quanto eu e evitando chamar a atenção das pessoas. Era por isso que gostava tanto do Hideki, ele me entendia e ajudava. Estrangeiros não são muito bem aceitos pelos coreanos, principalmente no meio artístico, então nós dois evitávamos ficar no caminho dos outros ou chamar a atenção, eu apenas agradecia que a banda tinha nos aceitado muito bem.

Quando me mudei para o dormitório entrei em muitas brigas, principalmente com um ex-integrante que não gostava de mim, simplesmente pelo fato de que vim de outro país, depois foram as diferenças culturais, talvez medo que eu não fizesse tão bem quanto eles, ou que não me dedicasse tanto quanto eles, já que não fui um trainee oficialmente. Mas as coisas mudaram depois de um tempo, Dong-Yul se mantinha um pouco afastado do Hideki e de mim, mas nunca foi grosseiro sem um bom motivo, na verdade era raro ele entrar em qualquer tipo de briga e ele geralmente tentava amenizar as coisas quando alguns membros entravam em conflitos. Agora que penso melhor, ele é distante de todos, mas cada dia que passa começo a pensar que é apenas seu jeito extremamente calmo e não que ele seja distante ou desgoste da gente. Chul só se importa se nos apresentamos bem e estamos nos dedicando tanto quanto ele, mas ele sempre traz comida quando estamos com fome, mesmo sem pedirmos, nos leva ao hospital quando aparentamos doente e nos acorda quando temos compromissos, mesmo que ele não tenha nenhum e poderia ter ficado dormindo naquele tempo. Seung Won era diferente de todos, ele me aceitou e cuidou de mim assim que coloquei meus pés dentro do apartamento, enquanto os outros tiveram que se acostumar comigo, ele me mostrou o lugar e minha cama, apresentou todos, me fez um monte de perguntas, me ajudou quando não conseguia me comunicar muito bem, me protegeu quando outras pessoas tentaram me machucar, seja com palavras ou com punhos.

Uma vez cheguei a perguntar a ele porque, ele riu da minha preocupação e disse que não tinha motivos para não gostar de mim ou se manter afastado. Ele era o cara mais tranquilo e de sorriso fácil que eu já conheci, mas era assustador quando ficava com raiva e eu só o vi com raiva uma única vez. Foi em uma emissora, tínhamos acabado de debutar e a maioria das pessoas torcia o nariz na minha direção, eu me destacava de mais dos outros, Hideki ainda conseguia se misturar, embora eu percebesse certa atitude diferente com ele, mas não chegava a tanto quanto dirigida a mim, mas se as pessoas apenas olhassem daquele modo para mim estava tudo bem, mas não pro Seung Won que estava ficando irritado, eu tentei o acalmar dizendo que estava tudo bem e fiz algumas brincadeiras, acabei chamando mais atenção das pessoas, mas nada que outros artistas no lugar não estivessem fazendo pior, de qualquer modo, eu levei uma grande bronca e fui um pouco humilhado, Seung Won veio me defender, seu rosto mostrava tanto ódio e a sua postura era ameaçadora, ele não é um cara baixo, eu sou alto para a minha idade e ele está apenas alguns centímetros mais baixo do que eu e tem o dobro ou o triplo de músculos, ele não é um cara que você quer enfrentar.

Até hoje não sei o que ele falou pro cara que estava brigando comigo, ele nunca levantou a voz, mas o cara veio se desculpar comigo e depois sumiu o mais rápido possível. Quando Seung Won se virou pra mim, ele tinha mudado completamente, sorria tranquilo e seu corpo estava relaxado, parecia menor do que apenas um segundo atrás, ele passou um braço pelo meu ombro e me levou para outro lugar.

Naquele momento eu entendi o que era um hyung.

Ele me disse que odiava esse ódio dos coreanos pelos estrangeiros, odiava um monte de coisas na Coréia, mas que aquele ainda era o país dele e ele não fugiria como a maioria das pessoas que eram contra as mesmas coisas que ele, ele disse que tentaria mudar o país, tornar um lugar melhor e mais tolerante e que faria isso sempre e quando precisasse, que esse foi um dos motivos para se tornar alguém famoso.

Acho que meio que idolatro o Seung Won, mas acho que está tudo bem, na minha mente ele é alguém que vale a pena ser idolatrado e é uma vergonha que ele não seja tão famoso quanto deseja pra poder mudar a Coréia.

Mas desde aquele dia, tento evitar chamar atenção, porque não quero que ele se envolva em alguma briga por minha causa e acabe tendo problemas com a empresa ou que seu sonho seja prejudicado.

Com os garotos da banda eu me esqueço que sou diferente das outras pessoas, esqueço que muitas pessoas não gostam de mim, que existem milhares de pessoas me criticando e dizendo que estou roubando o lugar de algum coreano. Quando estamos apenas nós, não existe essa diferença.

Era uma sensação estranha estar no palco da Coréia, eu já tinha me apresentado no Brasil, nunca para tantas pessoas, eu tinha muita sorte se cem pessoas aparecessem, mas logo no começo, a banda já tinha fãs, eles já tinham feito alguns encontros, tocados algumas músicas covers, mas desde que o baterista havia abandonado completamente a banda eles pararam com essas apresentações e começaram a procurar desesperados por um novo baterista, pensei que as fãs tinham abandonado completamente eles, eu estava enganado, parecia que a expectativa pelo debut só tinha aumentado, de qualquer modo, a reação das fãs não foi lá muito agradável no começo, mas agora as coisas estavam positivamente diferente.

Assim que entrei no palco escutei elas gritarem, eu sempre início sozinho, “esquento” o público enquanto os outros checam os instrumentos uma última vez e se preparam, agora eu podia ver placas com o meu nome, escutar pessoas gritando e me chamando, eu não era mais apenas um “substituto temporário”, agora as fãs me aceitavam como parte da banda.

***

—Isso é tão estranho! – Eu digo encarando a panela. – Você tem certeza que vamos poder comer isso? – Pergunto ao Seung Won, estávamos gravando um episódio em que supostamente deveríamos descansar, mas eu realmente estava preocupado com a comida.

Ninguém na banda sabe cozinhar de verdade, sempre estamos muito ocupados para estar em casa na hora das refeições e quando isso acontecia, sempre pedíamos comida ou fazíamos ramyon.

—Eu já disse que sei cozinhar! Você não acredita no hyung? – dei uma outra olhada na panela, eu não conseguia identificar nada ali dentro.

—Vou fazer ramyon. – decido.

—Eu te ajudo! – Hideki vem pro meu lado pegando uma panela grande e indo encher de água enquanto eu procuro nas sacolas o ramyon que eu joguei nas cestas de compras mesmo que os hyungs tenham me dito pra devolver, eu continuei insistindo e eles compraram.

—YA! Eu já disse que estou fazendo a comida! – Ele reclamou para mim, mas o ignorei. – YA! Seu punk! Estou falando com você!

—Eu sei. – Digo olhando pra ele e rindo.

—Aish! – Ele resmunga alguma coisa e volta a olhar pra panela, posso ver no seu rosto que ele também está preocupado com a comida.

Os mais velhos ficaram o tempo todo reclamando por eu e Hideki estarmos fazendo ramyon quando eles já estavam reclamando, eu os ignorei e Hideki tentou se justificar, então quando a nossa comida ficou pronta eu e Hideki atacamos a nossa comida, eles reclamaram ainda mais, mas quando a deles ficou pronta e provaram logo vieram comer ramyon.

—Vocês querem que eu faça mais? – Pergunto já que eles praticamente tomaram conta da panela, eles soltam uns resmungos e eu vou fazer mais.

***

Hoje era um daqueles dias estranhos, acordei com saudade da minha mãe, da minha casa, dos meus amigos, da minha vida antiga. Talvez fosse porque hoje eu ia ver minha irmã, sempre quando marcávamos de nos encontrar, as memórias me faziam ficar desse jeito estranho.

Dessa vez eu acordei sem perturbar mais ninguém, tomei cuidado para ser silencioso, e saí o mais rápido possível antes que um deles acordasse e quisesse vim junto. Não é que tenha vergonha nem nada da minha irmã, ela era muito educada com eles, mas tendia a fazer um monte de perguntas embaraçosas e ficar pedindo que eles cuidassem de mim. Além do fato de que já escutei eles dizendo que achavam minha irmã bonita, depois disso nunca mais convidei nenhum deles para ir pra casa comigo e evitei que eles a encontrassem.

Quando cheguei em casa ela me abraçou e fez um monte de perguntas, me entupiu de comida e fez mais perguntas.

Aly estava ocupada falando sobre todas as suas novidades enquanto ela lavava a louça, me ofereci para ajudar mas negou a minha ajuda e me mandou descansar. Ela tinha um sorriso no rosto, parecia feliz.

Não era a primeira vez que eu me perguntava se isso era de verdade, ou se era apenas um fingimento. Se fazendo de forte pra não me preocupar, assim como quando a mãe morreu. Ela passava os dias tentando descobrir tudo o que a mãe fazia, tentando fazer as mesmas coisas e diminuir a ausência dela. Eu não entendia isso naquela tempo, eu achava que ela não sentia falta da mãe, achava ela uma insensível e mentirosa, e cada vez que me lembro de tudo o que disse de ruim pra ela me sinto mal e envergonhado.

Quando cheguei aqui na Coréia eu me dei conta do tipo de vida que ela estava levando e apenas me senti pior. Ás vezes em que ela achava que eu estava dormindo e a escutei chorar, noites que escutei ela se preocupando com dinheiro. Eu também não pensei muito nela nesse tempo, não pensei no dinheiro que ela me entregava para que eu tivesse o que comer, será que ela tinha dinheiro pra ela comer? Quantas vezes ela disse que estava cheia e na verdade não tinha comido nada?

Lembrei dela tomando água enquanto eu comia ramyon, eu odiava comer aquilo praticamente todos os dias, lembrei do seu rosto envergonhado quando reclamei e das suas promessas que traria algo diferente, ela sempre cumpriu suas promessas e agora eu me perguntava o quanto custou pra ela manter essas promessas. Lembrei dela saindo cada vez mais cedo e voltando cada vez mais tarde, mas naquele tempo eu só sabia ficar irritado porque estava sozinho em casa.

Lembrei de todos os seus pedidos de desculpas.

Lembrei de todas as vezes que ela me abraçou quando eu era uma criança estava assustado. De quando ela me carregava para o seu quarto, trancava a porta e dizia que queria me mostrar uma música nova, ela colocava os fones no meu ouvido e aumentava a música, eu achava um máximo porque a mãe nunca me deixava ouvir músicas altas no fone. Também me lembro dos meus amigos dizendo que suas irmãs e irmãos mais velhos eram uns chatos, que sempre os ignoravam e brigavam com eles, eu me gabava da minha e contava todas as nossas aventuras. Como ela sempre me levava para shows que ela estava fotografando, sempre quando ela ia viajar pra outra cidade ela me levava junto. Foi ela que me apresentou a bateria, eu já era apaixonado por música, mas no meu aniversário de nove anos ela me levou a um show de uma banda, eu achei os caras incríveis, mesmo que hoje eu saiba que não havia nem cinquenta pessoas assistindo eles, ela me apresentou eles e o baterista, provavelmente namorado da minha irmã naquela época me deixou tocar em sua bateria.

Eu me apaixonei naquele momento, todo o caminho pra casa eu só sabia falar isso. Estava sendo o dia mais feliz da minha vida até chegarmos em casa e encontrar meu pai batendo na mãe, eu fiquei assustado, aquele homem era meu pai, mas ao mesmo tempo não era. Foi assustador ver minha mãe esticar o braço em nossa direção e ver seu rosto machucado e sangue no chão onde ela estava deitada. Ainda lembro dele estar gritando qualquer coisa pra gente, mas eu não conseguia tirar os olhos da mãe, ela tinha fechado seus olhos e me senti mil vezes mais assustado. Mas Aly me puxou com força quase me machucando e me mandou correr para o quarto e trancar a porta, eu não queria ir, estava assustado, mas ela gritou comigo, eu lembro de correr, parar na escada e olhar para trás e ver ela levar um tapa, mas ela ainda estava gritando pra mim ir para meu quarto e trancar a porta.

Meu mundo desabou naquele dia, nunca pensei que ela estava trancando a porta pra manter aquele monstro longe, sempre pensei que era pra mãe não descobrir que estávamos acordado até tarde ouvindo música. Naquela noite eu tranquei a porta e chorei enquanto escutava os gritos dele e da minha irmã, mas nada foi mais assustador do que o silêncio. Mas não me atrevi a me mexer ou dormir até escutar uma batida suave na porta que só me assustou mais, mas escutei a sua voz dizendo que eu podia abrir, quando abri a porta ela estava sorrindo, secou as minhas lágrimas disse que estava tudo bem. Fiquei com vergonha quando ela percebeu que eu tinha mijado nas calças, pensei que ela fosse brigar comigo, mas ela apenas sorriu, pegou roupas novas, segurou a minha mão e me levou até o banheiro e deixou que eu dormisse com ela na sua cama.

Aquela noite não parecia real, mas a mãe ficou o dia inteiro no quarto e Aly não saiu do meu lado, as coisas pareciam ter voltado ao normal, mas toda vez que ela colocava os fones nos meus ouvidos eu aceitava e era grato por não escutar mais nada do que a música e ver seu sorriso. Eu dormi com ela por um longo tempo, e na maioria das noites eu mijava na cama, ela nunca reclamou. Mas eu não conseguia mais chegar perto do meu pai, não conseguia mais olhar para minha mãe e não procurar machucados. Mas as coisas ficaram piores quando meu pai parou de trabalhar e passava o dia em casa, de dia minha irmã estava na escola e eu ficava em casa escutando as coisas odiosas que meu pai falava, vi algumas vezes ele levantar a mão para a minha mãe a ameaçando e ela se escolhendo. Aquilo foi entrando na minha cabeça, roubando a minha inocência e logo eu estava brigando na escola, entrando em todos os tipos de problemas e andando com garotos mais velhos e encrenqueiros.

A mãe foi chamada na escola, ela me deu um grande sermão e me deixou de castigo, mas aquilo só me deixou com mais raiva, e eu briguei ainda mais na escola a ponto de ser expulso e machucar um menino feio dele precisar ir pro hospital.

Foi Aly quem me recuperou, ela não gritou como minhas professoras e a mãe. Ela me abraçou, foi gentil e chorou. Eu não queria que ela chorasse, eu tentei melhorar, mas tudo era confuso na minha cabeça de criança. Eu apenas melhorei quando ela me levou pro mesmo cara que me deixou tocar na sua bateria e ele tentou me ensinar, nas primeiras vezes eu não dei bola pra ele, mas eu estava curioso demais pra o ignorar completamente e ele começou a me dar aulas e depois de alguns meses Aly me levou para ter aulas com um professor de verdade, eu ia todos os dias, assim que eu saia da escola minha irmã estava ali me esperando, comíamos o que quer que ela tinha trago, ela me levava para a minha aula de bateria e ia para a escola, a mãe me buscava e eu ia direto pro meu quarto, não querendo ver o meu pai.

As coisas foram assim por um longo tempo, até a polícia aparecer em casa, foi uma noite em que os fones não conseguiram cobrir os gritos, mesmo estando no volume máximo. Eu lembro da Aly gritando e chorando pra mãe, lembro do olhar de pena dos policiais, um deles conversava comigo, querendo saber se eu estava machucado.

A polícia veio mais algumas vezes, agora eles já conheciam a nossa família, sabiam os nossos nomes, mas quando uma mulher apareceu me fazendo um monte de perguntas, esse foi o momento que tudo mudou, meu pai foi embora de casa, a mulher ainda aparecia em casa.

Precisou que a mãe fosse ameaçada pelo serviço social pra expulsar o pai de casa e seguir em frente com a queixa de agressão. As coisas foram muito melhores depois disso, mas eu era filho do meu pai no fim das contas, quando eu estava lá nos meus doze anos ele começou a me ligar, a aparecer nos lugares que eu frequentava e a mexer com a minha cabeça, voltei a arranjar brigas e andar com as pessoas erradas, até fui preso. Minha mãe livrou a minha cara na primeira vez, naquele tempo a Aly estava ocupada de mais trabalhando e se preparando para viajar pra fora do Brasil. Na segunda vez que eu fui preso, a mãe não veio me tirar, eu passei a noite na cadeia. Aly estava me esperando, ela estava furiosa. Eu nunca tinha apanhado, mas naquele dia ela me bateu tanto e gritou comigo, me perguntou se eu queria ficar como meu pai e depois chorou um monte.

Eu me senti um idiota completo, principalmente por ela estar cogitando a ideia de deixar de ir para Londres, eu prometi a ela ser alguém melhor e tomar jeito. Parei de falar com meus supostos “amigos” que só me colocaram em encrencas, voltei a me dedicar 100% a música, eu já tocava bem bateria, mas queria me tornar ainda melhor e aprender outros instrumentos, escrever músicas, me apresentar.

Fiz disso a minha vida, me tornei alguém melhor, alguém que minha mãe e irmã se orgulhariam. Me reaproximei da minha mãe quando a Aly foi estudar fora, tentei tirar qualquer magoa dela do meu coração e esquecer todas as coisas ruins.

—O quê? – Aly me tirou dos meus pensamentos. – Você tá com uma cara estranha! – Ela diz rindo e jogando um pouco de água no meu rosto.

—Nada! – Seco meu rosto e volto a encarar. – Só… obrigado e… desculpa.

—O que é isso de repente? – Ela tenta ficar séria, mas deixar escapar um riso. – O que você andou aprontando? Quebrou alguma coisa?

—Não quebrei nada! – Me defendi, ela me olhou desconfiada, mas deixou o assunto pra lá.

—Eu fiz sobremesa, você tem que comer antes de ir. Pensando melhor, eu vou embalar pra você levar… talvez um pouco de comida também, tenho certeza que na geladeira daquele dormitório não deve ter comida nenhuma! – Ela diz distraída abrindo a geladeira e tirando todas as comidas que tinha acabado de guardar.

Escuto o barulho da porta destravando e a voz do Yoongi perguntando se eu já tinha me chegado, ele ri quando me vê e pergunta como estou.

—Vocês já comeram? – Ele estava olhando para toda a comida que Aly estava separando em potes.

—Sim. – Respondo a ele porque Aly estava muito ocupada falando consigo mesma. – Acho que a nuna pretende fazer com que todos da banda engordem. – Ele ri e concorda.

—Não se preocupe. Minha mãe manda comida com menos frequência agora, então suponho que quando você estiver na minha idade a Aly pare de mandar tanta comida cada vez que você aparece.

—Está tudo bem. – Eu falo baixinho pra que ela não escute. – Lá nunca tem comida mesmo e ninguém lá saber cozinhar. Os hyungs adoram quando ela manda um monte de comida. Só não fale isso para ela, se não é capaz da nuna ir todos os dias no dormitório para fazer comida para a gente.

—É… ela seria bem capaz de fazer isso. Parece que cada dia que passa ela se parece mais como uma mãe coreana. – Ele diz pensativo e olhando com adoração para a minha irmã.

Pra mim ela não se parece com uma mãe coreana, ela é apenas a Aly que eu sempre conheci, mas que eu nunca consegui apreciar direito ou dar o devido valor. Fui tão injusto e mesquinho com ela, tantas vezes que eu não conseguia contar e mesmo assim ela nunca guardou rancor ou deixou de cuidar de mim.

Eu tive muita sorte, porque a Alysson foi uma mãe quando a nossa mãe não podia cuidar da gente e ser uma mãe de verdade, e foi uma irmã quando eu precisei de uma. Eu amo a minha mãe, com todas as minhas forças, eu realmente amo e sinto a sua falta, mas agora que parei para relembrar de todo o passado, posso ver que na minha infância Aly foi quem cuidou de mim e quem fez o papel de mãe e educadora.

Desculpa Aly! Vou tentar ser melhor com você daqui pra frente!


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