Online.

Digitando...

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Digitando...

—Aonde está indo? –Eu observava atentamente o aparelho telefônico em minha mão, saindo entre passos apressados da grande boate com letreiro vermelho vivo. Ao ouvir Jade, virei-me, bloqueando a tela.

—Para casa! –Voltei a caminhar, mas podia ouvir o barulho dos saltos de Jade me perseguindo. Quanta insistência!

—Meu anjo,—a ironia nas palavras de Jade era nítida. –eu sei como um término de namoro pode ser horrível. Mas sabe o que é pior? Não aproveitar uma noite com sua melhor amiga simplesmente porque você não está recebendo a mensagem que você imagina receber em seus sonhos.

Visto por último as 23:56.

As coisas simplesmente não pareciam estar certas. Meus cabelos que estavam lisos já voltavam a ficar encaracolados nas postas. Sentia-me pesada com toda a maquiagem passada em meu rosto. Eu estava com um incômodo em meu estômago, observando há alguns minutos a conversa de Tyler, com esperança de que ele realmente fosse enviar alguma coisa dessa vez.

Há algumas semanas atrás, minha vida virou de cabeça para baixo; tive minha primeira desilusão amorosa. Mas não foi uma desilusão qualquer, essa foi pra valer. Eu poderia muito bem descrever nosso romance, sem poder negar que parecíamos um casal de um livro adolescente. Nossa história poderia ser como aquela em que os pombinhos se conhecem em um grupo de apoio para jovens com câncer, ou como aquela que o casal se conhece na faculdade e acaba se apaixonando perdidamente. Infelizmente, minha vida é bem mais decepcionante que isso. Eu também poderia fazer o maior drama do mundo, mas creio que já passei dessa fase de sofredora há algumas horas atrás, quando Jade me puxou de minha cama e insistiu na ideia de que eu precisava sair para me divertir e largar essa minha vida mergulhada em solidão. Jade costuma ser bastante exagerada quando quer.

Cá estava eu em uma grande boate no centro da cidade, com roupas minúsculas e com um copo bem cheio de energético nas mãos. Jade dizia que a bebida era o melhor remédio para um coração partido, mas depois de ter ingerido mais de meia garrafa de uma vodka qualquer, eu discordo totalmente disso.

—Eu vou te mostrar que a vida pode ser uma maravilha quando se é solteira. Vou te fazer esquecer aquele idiota que te largou, de uma vez por todas! –A loira sorriu para mim com seus lábios carnudos que estavam pintados de vermelho. Estávamos perto de uma das extremidades do grande cômodo e Hotter Than Hell preenchia nossos ouvidos. Ela estava apoiada na parede, o que fazia suas coxas carnudas ficarem a mostra. Jade aproximou-se e me virou de costas. –Vira esse copo, joga o cabelo pra trás e vai dançar, que aquele gatinho não para de te secar nem por um minuto!

Acho que depois dessa noite, Jade realmente havia levado a sério o fato de que eu precisava de lições para esquecer o meu ex namorado. Eu não era nem um pouco louca de discordar dela, por isso aceitei que realmente eu precisava tomar um rumo na minha vida. Eu precisava sair mais, me divertir mais, conhecer pessoas novas. Eu realmente acreditei que a vida de solteira seria ótima, até acordar no dia seguinte com dor de cabeça e colocando pra fora cada gota de álcool que havia em meu estômago.

—Maldito seja, Tyler! –Roguei todas as pragas que conhecia enquanto era interrompida pelo líquido viscoso que descia pela minha garganta, queimando-a. Dei a descarga e levantei-me, dando de cara com a parede espelhada do meu banheiro. Meus cabelos estavam presos em um coque totalmente desarrumado, com várias mexas soltas e fios arrebentados. Minha maquiagem estava acabada, fazendo meus olhos verdes ficarem extremamente realçados com o preto que escorria deles. Eu usava apenas uma camiseta branca larga, que costumava ser de meu irmão, que cobria até um pouco abaixo do meu quadril.

Por um momento, desejei estar dormindo novamente, mas me lembrei do real motivo por eu estar nesse estado.

Tyler.

Corri até meu quarto novamente, revirando os lençóis de minha cama assim que tive a oportunidade. Procurei em todos os cantos possíveis pelo meu maldito celular, e logo o achei no chão, ao lado de meus sapatos de salto alto. Logo que o liguei, dei-me de cara com uma foto minha e de Jade; ela segurava minhas bochechas, me forçando a fazer um biquinho, enquanto me dava um beijo na bochecha e eu estava com uma careta, com meus olhos quase fechados –o que me fazia ficar com os olhos pequenos, realçando minha descendência de asiáticos- e com o nariz enrugado. Aquele foi o dia do meu aniversário, em que eu tive uma festa surpresa e que com certeza havia sido uma das melhores da minha vida. Tyler tinha tirado essa foto quando nós havíamos saído com Jade e mais um de seus amigos para almoçar em um dos meus restaurantes favoritos. Um aperto se instalou em meu peito com as memórias, e então respirei fundo.

Coloquei a minha senha, que era a data do meu aniversário de namoro (ou pelo menos era) e entrei em meu whatsapp. Haviam algumas mensagens de alguns grupos e outras de Jade, perguntando se eu estava bem. Eu não lembro nem um pouco da noite de ontem, mas tive uma breve lembrança quando vi um nome em especial.

Eu havia mandado uma mensagem.

‘’Eu estou com saudade’’

‘’Você nunca mais me chamou eu fiz algo errado?’’

‘’Porque você sempre digita algo, mas sempre apaga e nunca envia?’’

Meu coração parou por alguns segundos. Eu definitivamente nunca mais iria beber nada com álcool. As mensagens ainda não haviam sido visualizadas e por um momento desejei com todas as minhas forças que elas poderiam ser apagadas ou simplesmente não lidas.

Online.

Digitando...

‘’Bom dia!’’

‘’Eu também’’

‘’Só gostaria de saber como você está.’’

Quase permiti que um sorriso escapasse por meus lábios, mas meus pensamentos viajaram para o momento em que discutimos pela última vez. Decidi não responder. Larguei meu celular no criado-mudo ao lado de minha cama e passei as mãos em meu rosto, sentindo minha cabeça latejar. Era uma segunda-feira e eu provavelmente havia perdido os primeiros horários de minhas aulas e eu amaldiçoei Jade por ter tomado aquele porre logo em um domingo.

Eu poderia ter ficado em casa, mas a maldita prova de física seria hoje e eu não estava com vontade de sair correndo a procura de algum atestado médico. Peguei o necessário e voltei para o cômodo que eu estava, me permitindo tomar um banho longo e gelado. 

—

—Uau, você está ótima. -Michael me esperava em frente à escola assim como eu o havia pedido por celular. Ele estava vestindo uma calça jeans skinny e tênis azuis, com uma blusa preta gola V. Eu ficava surpreendida como meu irmão podia ser tão bonito. Seus olhos verdes eram exatamente da mesma cor que os meus, porém os seus cabelos eram o oposto; dourados como raios de sol. 

—Muito obrigado pela parte que me toca. -Dei um sorriso amarelo e tirei meus óculos escuros que eu havia colocado apenas para disfarçar minhas olheiras profundas, os guardando em minha mochila preta estampada com pegadas de gatos. 

Eu havia acabado de terminar a prova de física e não estava nem um pouco confiante quanto ao resultado dela. Números nunca foram o meu forte. Eu sairia pra almoçar com Michael hoje em um restaurante perto de minha escola. Eu mal esperava para comer um hambúrguer bem grande com uma porção enorme de batatas fritas. Isso sim que é comida! Michael inclinou seu corpo um pouco para frente para poder alcançar minha bochecha com um beijo estralado, então sorriu alegremente. 

—É tão bom te ver de ressaca! Você parece Andressa dos tempos do primeiro ano. -Sorri quando tínhamos começado a caminhar. O restaurante não era longe, porém estar longe do ar-condicionado em um calor tão forte desse não me era nem um pouco atrativo. 

—Eu continuo sendo a mesma Andressa, Mike. Talvez com alguns pedaços a menos, mas a mesma. -Michael soltou uma risada gostosa e me abraçou de lado. Desde que eu havia começado a namorar tinha me afastado um pouco de meu irmão, talvez pelo ciúmes que meu irmão tinha ou até mesmo por eles nunca terem se dado bem desde o início de tudo. Quando tudo acabou, eu fiquei por muito tempo apenas em meu apartamento, então apenas voltamos a conversar agora. 

Depois de alguns minutos caminhando, entramos no restaurante, fazendo com que um som de sino anunciasse nossa chegada ao local. Michael passou os olhos pelo local, mas depositou o seu olhar em um ponto específico do restaurante. Sua expressão mudou da água para o vinho e logo que eu me vi olhando para o mesmo local que meu irmão, tive a mesma reação. 

Tyler estava a algumas mesas logo depois da entrada, sorrindo enquanto conversava com uma garota. Seus cabelos castanhos estavam em um topete desajeitado e maldito seja ele por deixá-lo bagunçado depois de descobrir que eu adorava quando ele estava assim. Seus olhos também castanhos, porém com uma coloração mais clara, estavam fitando os olhos da garota em sua frente, enquanto ela gesticulava e parecia contar uma história extremamente empolgante para ele. Eu não conseguia ver a garota, apenas seus cabelos loiros e suas grandes unhas que estavam pintadas de preto. Depois de perceber que acabei ficando tempo demais os observando, aqueles olhos percorreram o restaurante e pousaram nos meus. 

Primeiro, senti meus batimentos pararem e logo depois eles começaram a ficar frenéticos. Tyler fez uma expressão assustada e logo a garota virou-se também, mas com um sorriso no rosto. 

Por um momento, vi que eles estavam dividindo uma torta, exatamente do jeito que nós dois fazíamos quando estávamos juntos, e coloquei a expressão mais fria o possível em meu rosto. 

Sentei-me na primeira mesa e peguei o cardápio. Logo Michael fez o mesmo. 

—Está tudo bem? -Meu irmão perguntou-me e eu sorri. 

—Está tudo ótimo. Não poderia estar melhor, irmãozinho.