Nem Tudo é Ganância escrita por Bianca Raynor


Capítulo 20
♕ Capítulo Vinte ♛




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Quando crianças e aprendemos a andar fazemos de tudo para não cair, mas sempre parece inevitável. Assim me sinto novamente. Apaixonada. Não sei quando isso aconteceu, mas já faz um tempo, só não queria enxergar a realidade. Creio eu, que desde o momento em que o vi pela primeira vez. Fiquei com tanta raiva quando ele me derrubou, mas assim que olhei em seus olhos, todos os sentimentos dentro de mim mudaram.

Sua gentileza sempre ali. Pronta. A disposição de todos que aparecerem.

Cair no sono essa noite foi complicado. Meus lábios pareciam que estavam queimando. O sabor da sua boca não saia da minha. E devo confessar que estava com medo que sumisse.

Acordo com a sensação de está sendo observada.

Abro os olhos. Encontro Thomas deitado a minha frente com os olhos brilhando e um sorriso tímido. Ele está muito próximo de mim, de modo que posso sentir sua respiração. Essa proximidade me deixa completamente a sua mercê. Lembro dos seus lábios colados nos meus. O sabor de morangos. Me afasto um pouco e acabo caindo no chão. Levanto-me atordoada. Thomas está sentado com os olhos arregalados.

— Você está bem? — ele pergunta preocupado.

— Isso num foi como nos meus sonhos — balbucio e solto uma gargalhada.

É obvio que meus encontros com Thomas nunca são tradicionais e sempre marcados comigo caindo no chão. Isso não é nada parecido com uma dama. Uma dama sempre está pronta para o que virá. E eu sempre ia parar no chão após um encontro surpresa.

— Sonhos? — ele pergunta franzindo o cenho.

Meu rosto aquece.

Não deveria ter mencionado nada sobre sonhos.

— O que está fazendo aqui? — Tento mudar de assunto.

Ele não parece surpreso com a minha pergunta.

Senta-se próximo a cabeceira da cama e eu o acompanho sentando ao seu lado. Talvez não fosse bom tamanha proximidade.

— Gostaria de conversar sobre o que aconteceu essa tarde — fala olhando em meus olhos.

Assim que essas palavras saem de seus lábios desvio o olhar e meu rosto esquenta.

— Não precisa ficar envergonhada — Thomas sussurra.

— Claro que deveria. Eu o beijei e uma...

Sou interrompida pelos lábios de Thomas sendo colados nos meus. Meu corpo não se surpreendeu com sua atitude, apenas recebe de bom grado. Suas mãos estão segurando minha face, talvez com medo de que me afasta. Mas ele não entende. Não vou me afastar.

Thomas sem desfazer o contato entre nossos lábios me deita sobre a cama. Minhas mãos vão para seus cabelos. Puxo-os e um gemido vem do fundo de sua garganta. Suas mãos passam por meus braços, minha cintura e vão em direção as minhas costas. Ele me pressiona contra seu corpo e aprofunda o beijo.

Quando estamos quase sem ar, Thomas encerra o beijo. Mas sem nos distanciar. Nossas testas estão coladas. Respirações pesadas. E sei que há um sorriso estúpido em meus lábios. Abro os olhos e ele também está sorrindo, mas com os olhos fechados.

— E agora eu a beijei. E não me arrependo.

Ele abre os olhos, parecem perfurar a minha alma. Meu corpo está formigando, desejando mais contato físico. Mas Thomas se afasta, se senta e estende a mão para me ajudar a levantar. Ele está mais uma vez sentado com as costas na cabeceira e agora estou sentada ao seu lado no sentido contrário, observando qual será seu próximo passo.

Suas mãos tocam meu rosto. Seu polegar passa por meus lábios. Meus olhos encontram os seus novamente. Suas pupilas estão dilatas. Ele quer que eu seja sua. E eu quero ser dele.

— Deus sabe o quanto quero beija-la, até que não aguentemos mais — ele fala, suspira e retira suas mãos de meu rosto, mas elas encontram minhas mãos.

Observamos nossas mãos por um longo tempo.

— Não sei se isso é apropriado, principalmente no meio da noite. — Meus olhos sobem para seu rosto e vejo um sorriso tímido se formar em seus lábios.

— Com certeza não é apropriado — minha voz sai rouca.

Seu sorriso se amplia, azuis e verdes se encontram.

— O que sente por mim? — pergunta.

Pressiono os lábios para que um sorriso não brote neles.

— Mamãe me perguntou isso uma vez. E eu não consegui responder com exatidão. Simplesmente disse que você me faz sentir que estou segura e que não quero que algo ruim aconteça com você. Mas... — Mordo o lábio inferior e torno a falar. — Nos últimos dias, esse sentimento tem ficado mais profundo, tenho tido sonhos...

— Sonhos?

— Sim. Sonhos que não gostaria de mencionar. Não são sonhos que uma dama deveria ter. — Desvio o olhar com o rosto em chamas.

Sinto Thomas me observar.

— Nunca consegui tirar da minha cabeça o dia em que nos conhecemos. Você parecia assustada e viva. Mostrava ter uma curiosidade imensa para tudo a sua volta. Seus cabelos. Seus olhos. Tudo isso me chamou atenção. Tudo em você me atraiu.

Mordo o lábio inferior para impedir um sorriso, mas não consigo. Ouvi-lo falar que pensa em mim todo esse tempo me faz sentir culpada. Querer mata-lo foi a pior coisa que já imaginei. Como eu poderia viver sem ele? Ele nunca falou que me ama, mas o que ele sente por mim parece ser muito mais saudável e verdadeiro do que o que Juan dizia sentir.

Cansei. Cansei de me importar com o fato de já ter amado Juan.

Havia um homem que se importava comigo. E eu também me importava com ele. Ele me queria e eu também o queria.

Encontro os olhos de Thomas. Ele parece receosa. Ele espera que eu diga algo, mas eu não quero falar. Quero sentir.

Me jogo nos braços de Thomas e o beijo. O beijo como se minha vida dependesse disso. O beijo como se ele fosse o ar que eu respiro. O beijo porque sei que estou completamente apaixonada e sei que posso ser feliz ao seu lado. Que posso faze-lo feliz.

Rolamos sobre cama. Thomas fica por cima de mim. Suas mãos vão para meu rosto e o beijo cessa.

— Casa comigo? — ele pergunta sem fôlego.

Minha primeira reação é engasgar. A segunda é tirá-lo de cima de mim.

— Isso não foi um pedido muito romântico — balbucio rouca.

Não estou reconhecendo minha própria voz. Sei que ele já havia falado com papai e deveria esperar por isso. Mas não esperava.

— Você tem razão.

Ele pigarrei. Se ajoelha na cama e senta sobre as pernas, na minha frente. Pega minhas mãos e começa a falar.

— Senhorita Giovanna Lusivon, concede a honra a esse humilde homem de se tornar seu esposo?

Minha voz me deixou. Minha boca está aberta em surpresa. Estou sem palavras. Ele acabou de me pedir em casamento, de verdade.

— Você está me deixando nervoso. Nunca pedi ninguém em casamento e não gostaria que...

Beijo-o.

Não consigo acreditar no que ele acabou de me propor.

De todas as certezas que tive em toda a minha vida, essa é a única que está certa. E não preciso de palavras para responder.

Nossos lábios se descolam.

— Isso foi um sim? — ele pergunta com o sorriso que tanto amo.

Pressiono meus lábios nos seus por alguns instantes e depois sorrio.

— Vou considerar como um sim.

Nos deitamos um do lado do outro. Nos olhando. Sorrindo. E nos beijando. Tudo tão doce e meigo. Ele não tentou ultrapassar os limites. Ele apenas quer ver se tudo isso é real. Assim como eu.

— Como você acha que serão nossos filhos? — Thomas pergunta curioso.

Dou uma gargalhada.

— Já está pensando em filhos? Nem casamos ainda. — Toco seu rosto.

— É, mas podemos imaginar. — Ele pega a minha mão e planta um beijo na palma.

— Um menino, com seus cabelos.

— Aah, isso não é justo. Eu iria falar com seus cabelos. — Ele se aproxima beija meu pescoço e cheira meu cabelo - Eu amo seu cabelo.

— Eu também amo seu cabelo. É da mesma cor dos de papai.

Meu coração se contrai ao pensar nele.

— Havia falado com ele. Havia pedido sua mão a ele — fala e depois pressiona seus lábios nos meus.

— Eu sei... Ele me contou — falo desanimada.

— Por que não me disse? — pergunta franzindo a testa.

— Não sei. Depois de tudo que aconteceu, nada pareceu fazer sentido. Esqueci tudo que poderia ser bom na minha vida — suspiro.

Ele me observa. Azuis e verdes presos um no outro.

— Quero seus olhos — fala tocando meu rosto.

— O que?

Dou uma risada.

— Quero seus olhos para o nosso filho — fala sorrindo.

Voltamos a falar de filhos.

Gosto dessa brincadeira.

Observo seu rosto e tendo imaginar algo dele em uma criança loira dos olhos verdes. Não é tão difícil. Ele é lindo.

— Sua boca, junto com seu sorriso.

Thomas sorri e nos beijamos.

— Seu nariz e suas orelhas — fala quando descolamos os lábios.

— Sua pele — falo.

E assim estava montado. Um filho que não sabemos que será assim. Mas que podemos imaginar nossas características físicas nele. Espero que quando tivermos um filho de verdade, ele se parece com o pai, tanto no caráter como na aparência.

Nos beijamos talvez por horas. Nos abraçamos por horas. Sorrimos por horas. Em algum momento da noite, disse que estava cansada e ele falou que esperaria eu dormir para poder ir embora. Me aconcheguei em seus braços. Os braços que me guardariam para resto da vida. Os braços do meu noivo.

Acordo com a luz do sol sobre meu rosto.

Esqueci de fechar as cortinas.

Observo o quarto enquanto desperto. Lembro da noite passada e um medo surge em meu coração. Talvez não tenha passado de um sonho. O que seria terrível porque foi tão real e mágico. Pela primeira vez em dias me sinto feliz.

Procuro algum vestígio da noite passada, mas nada consola meu coração. Cheiro o espaço ao meu lado. Onde imaginei que estava deitado, enquanto estava em seus braços. E seu cheiro está ali. Intacto. O perfume que só pertence a Thomas.

Geneviève entra no quarto. Pára próximo a porta e me encara.

— Aconteceu alguma coisa? — pergunta com a testa franzida.

— Não — respondo me sentando.

— Então por que está com esse sorriso? — pergunta se aproximando.

Nem havia percebido que estava sorrindo. Estou tão feliz que o sorriso já faz parte de mim.

— Não posso ter acordado de bom humor? — falo tentando despistá-la.

Ela cerra os olhos, mas decide não discutir.

Geneviève prepara meu banho e trato de tomá-lo o mais rápido possível. Visto o vestido verde com bordado vermelho. Noite passada Thomas disse que ama meus cabelos, então vou tratar de destacá-los.

Quando já estou pronta escutamos uma batida na porta. Meu coração salta dentro do meu peito. Sei que é ele.

Geneviève abre a porta e uma cabeça loira toda sorridente aparece. O sorriso que já fazia parte de mim, se amplia.

Tudo foi real.

— Bom dia Geneviève! Bom dia Senhorita! — fala enquanto entra no quarto.

— Bom dia Majestade. — Geneviève o cumprimenta. — Vão tomar o desjejum aqui?

— Não, obrigado Geneviève. Pode ir! — Thomas fala.

Geneviève parece relutante em nos deixar sozinhos, mas atende a ordem.

Assim que a porta se fecha me lanço nos braços de Thomas. O meu lugar seguro.

— Acordei pensando que você poderia desistir de mim — ele fala e beija meu ombro.

— Acordei pensando que tudo tinha sido um sonho — falo enquanto me distancio.

Suas mãos vão para meus cabelos e depois para meu rosto.

— Quase não sai daqui. É tão bom tê-la em meus braços. Nem consegui dormir.

Me afasto assustada.

— O que? Como assim? Não conseguiu dormir? — falo preocupada.

Ele trabalha tanto, precisa descansar.

— Não se preocupe. Já passei noites sem dormir por causa de coisas desagradáveis. Não será algo agradável que me fará mal.

— Mas você precisa descansar. Trabalha muito — falo tocando seu rosto.

— Não se preocupe.

Suas mãos vão para minhas costas e ele me puxa para seus braços. Seus lábios encontram os meus com um beijo doce e profundo. Minhas mãos vão para seus cabelos e os acaricio.

Encerramos o beijo.

— Contaremos a todos depois do desjejum.

Aceno em afirmação.

Quando estamos prestes a sair do quarto, Thomas me prende contra a porta e me beija desesperadamente. Sua língua dança com a minha em um ritmo brutal. Meu corpo se aquece. Assim que encerramos o beijo estamos completamente sem fôlego.

— Agora podemos ir — fala com um sorriso safado nos lábios.

Retribuo com o mesmo sorriso.

Estamos a mesa. E nunca vi mesa tão farta como está. Há tudo que se pode imaginar. Bolos, tortas, biscoitos, mel, suco, chá, leite, diversas frutas. Coisas que não sei o nome e nunca ouvi falar.

O desjejum está quase chegando ao fim. Estou nervosa. Anunciar nosso casamento. Hoje, sem dívidas é o melhor dia da minha vida. Pelo menos até agora.

Quando chegamos a sala de jantar Thalia nos enviou um sorriso cínico que arrepiou minha espinha. Mas deixei de lado. Pensar em meu casamento é muito mais importante do que pressentimentos. Até porque os sorrisos que Thomas me direcionava a mesa me fez esquecer qualquer pensamento ruim.

— Estava no escritório de papai, ontem, olhando alguns papéis e me deparei com algo bastante interessante — Thalia fala ainda com aquele sorriso.

— E o que seria? — Thomas pergunta desinteressado.

Pego um morango de uma bandeja a minha direita e o como. Morangos sempre me lembram os lábios do meu noivo.

Amo lembrar que agora ele é meu noivo.

— Um acordo de casamento entre você e a filha do Conde Antoine Chermont — Thalia fala toda feliz.

Meu coração se aperta. O morango que estava comendo de repente ficou amargo. Minha garganta está fechada, mas faço um esforço para engolir. Tudo desmorou diante de mim. Com uma simples frase minha vida virou uma ruína.

Sinto os olhos de Thalia sobre mim. Sinto seu sorriso.

Como ela consegue se alegrar com o sofrimento dos outros?

Não olho para Thomas. Mas sinto seu choque.

Ele não sabia.

E é a única coisa que me consola no momento.

— Você tem certeza que era isso que estava escrito? — a voz de Thomas sai grave e ele parece conter uma raiva imensa dentro de si.

— Absoluta! — Thalia exclama em tom vitorioso.

Isso foi o máximo que pude suportar. Levanto-me. Olho para Thomas para pedir permissão para me retirar. Mas ele não olha para mim. Está envergonhado. E eu estou sofrendo. Saio da mesa sem pedir permissão e corro para meu quarto.

— Giovanna! — Thomas me chama ao fundo, mas ignoro.

Só quero entrar em meu quarto e chorar.

Assim que encontro o quarto entro as pressas e me jogo sobre a cama, deixando as lágrimas rolarem. Geneviève está aqui. Seus olhos estão em mim. Talvez tentando assimilar o que aconteceu de errado.

— Menina, o que houve? — pergunta sentando-se a cama.

— A vida Geneviève. Não fui feita para ser feliz — falo meio às lágrimas.

— Mas o que aconteceu? — indaga enquanto acaricia meu braço. — Senhora Piccoli falou alguma coisa que a magoo?

— Ela só falou a verdade. Nos mostrou a realidade. — Estou soluçando, as lágrimas caem, mas nada da dor passar.

— Que realidade, não enten...

— Ele vai se casar — grito, e Geneviève me olha assustada — O pai de Thomas fez um acordo de casamento com um Conde. — soluço mais alto — Thomas me pediu em casamento ontem. Foi o dia mais feliz da minha vida. Mas tudo foi para nada. Tudo foi em vão.

— Ooh querida! — ela fala e me coloca em seus braços.

Meu coração parece que irá se desmanchar a qualquer momento.

— Eu o amo Geneviéve — falo soluçando. — E a agora vou ter que vê-lo se casando com outra mulher. Não vou suportar.

Geneviève não fala nada, apenas me abraça. Seus braços são reconfortantes, como de uma mãe. Mas não tiram a dor.

Ouvimos uma batida na porta. Sei quem é. É ele. Não quero vê-lo.

Geneviève me solta e estava pronta para manda-lo ir embora, mas antes de chegar a porta Thomas a abre. Seu rosto demonstra tamanha angústia quando me vê.

— Geneviève nos deixe a sós — fala com a voz rouca.

— Thomas, não acho...

— Geneviève! — sua voz é autoritária.

Geneviève o olha por algum tempo, mas obedece. Me deito sobre a cama novamente, com o rosto no travesseiro. Thomas se senta na cama.

— Saia daqui — grito para o travesseiro.

— Não, não vou sair — sua voz esta embargada. — Não me mande embora, não posso ficar longe de você.

Sinto facas sendo enfiadas em meu peito.

Thomas toca meus braços.

— Me deixe em paz — grito.

— Não! Não existe paz longe de você.

Thomas me puxa para seus braços. Me aperta contra seu corpo. E quero que ele saia, mas também que permaneça ao meu lado. Me consolando por não podermos ter a vida que queríamos.

— Saia. Vá embora — grito.

Continuo a me debater. Até que Thomas encontra os meus lábios. Meu corpo se aquieta. Se envolve.

Eu o amo tanto. E nem ao menos sabia. Até hoje.

Me derreto em seus braços. E me deixe deliciar com seus lábios. Os lábios do homem que amo.

— Vou resolver essa situação.

Fala quando descolamos nossos lábios e nossas testas ficam coladas, assim como na madrugada.

— Eu prometo a você que vou resolver. Sou rei. Posso fazer o que quiser — fala amargurado. — Todo esse trabalho tem que me valer alguma coisa.

Engulo em seco. Lágrimas rolam silenciosamente sobre minha face.

Thomas beija minha testa e sai do quarto.

 


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