Nem Tudo é Ganância escrita por Bianca Raynor


Capítulo 18
♕ Capítulo Dezoito ♛




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Ainda não compreendo o ataque da irmã de Thomas. Ela não me conhece, nunca me viu, não sabe nada sobre mim. Claro, apenas que meus pais morreram.

Ah sim.

Talvez ela pense que quero resolver essa situação para que não fique sem teto. Forçar Thomas a casar comigo seria a solução dos meus problemas, teria um marido e de bandeja ganharia o reino, me tornaria rainha. Ou ela imagina que todas as mulheres que chegarem perto do irmão serão interesseiras, vão querer apenas a coroa. Sei que queria fazer isso, mas depois que conheci Thomas... Não teria coragem, ele consegue ser tão maravilhoso, mesmo com tanto fardo em suas costas. E ele sente algo por mim. Não posso esquecer que ele pediu a minha mão a papai. Mas isso não importa agora, não quero tentar viver um relacionamento, não quero tentar me apaixonar, meu coração já está ferido demais.

Ou simplesmente, Thalia não gostou de mim.

Não consigo pensar em mais nada e estou cansada de imaginar porque esse tipo de sentimentos por mim.

Ouço uma batida na porta e grito para quem quer que seja entrar. Thomas entra no quarto e fecha a porta, segue em direção a minha cama onde estou deitada com a barriga sobre a cama e abraçando um dos travesseiros. Seu olhos prendem os meus, mas não falamos nada. Há um silêncio terrível entre nós, sinto que ele deseja falar algo, mas parece exitante ou até mesmo, temeroso.

— Peço perdão pelo que Thalia fez. — ele fala abaixando os olhos parecendo envergonhado.

— Não tem do que se desculpar. — falo me sentando na cama, mas levando o travesseiro junto comigo, depositando sobre o meu colo — Ela tem razão.

Thomas franze o cenho.

— Tem razão? Em que? — pergunta confuso.

Por um momento penso em conta-lo toda minha história. Contar que apaixonei por um homem simples, que trabalha em uma taverna, que logo mais tarde se tornaria o assassino de meus pais. Contar que planejamos lhe dá um golpe, tomando para nós todo conforto e luxo do palácio e de brinde viria a coroa. E se ele ainda me manter viva depois de tudo isso e me permitir continuar a contar tudo, diria que mesmo amando esse homem tenebroso, não conseguiria tirar a vida dele, de Thomas, pois o que sinto, o carinho por ele me deixa assustada. Sendo impossível imaginar um lugar sem ele.

Mas o medo de ver o ódio em seus olhos por mim é maior do que qualquer culpa. Thomas tem sido meu ajudador. Ele é a luz em meio a escuridão.

— Ela tem razão em se preocupar. — falo passando as mãos pelo travesseiro — Você é o rei, tem um reino para governar. E ainda mais você é irmão dela, querendo ou não, deve sentir necessidade de protege-lo.

Thomas bufa e senta-se ao meu lado.

— Querer me proteger é muito diferente de ser rude com meus convidados. — fala pegando um dos travesseiros e repetindo meus movimentos.

Chega ser engraçado ele repetir o que estou fazendo com o travesseiro. Dou uma risada e seus olhos caem sobre mim e aparece um sorriso tímido em seus lábios. Me impressiono com quanto seu sorriso me encanta e hipnotiza.

— Toma o desjejum comigo? — ele fala ainda com o sorriso nos lábios.

Ele não pode me pedir para retornar a sala de jantar. Não com a irmã dele me crucificando por algo que só pensei em fazer.

— Acho melhor continuar aqui. — falo encarando para o tapete vermelho com desenhos amarelos sobre meus pés.

— Eu digo aqui. Vamos comer aqui. — pega meu queixo com dois dedos e ergue minha cabeça para olha-lo.

— Aqui? — pergunto e ele acena em reposta — Então, acho que sim.

Thomas se levanta e alguém bate em minha porta, grito um "entre" e Geneviève entra, mas para no mesmo instante quando vê Thomas ao meu lado.

— O que faz aqui Thomas? — ela pergunta com uma carranca.

— Estamos apenas conversando e vamos tomar o desjejum aqui. Poderia buscar algo para comermos?

Thomas tem um tom suave até mesmo quando está dando ordens. Logo lembro a maneira como falou comigo ontem e hoje com sua irmã. Ele pode ser um doce, mas quando perde a cabeça parece ser terrível.

Geneviève sai do quarto ainda com uma carranca e não demora muito para dois criados chegarem com duas bandejas. Como sempre, há fartura em tudo que foi trago. Pão, morangos, chá, suco, leite, biscoitos, mel. Não entendo para que tanta coisa, somos apenas duas pessoas, não como muito. Apesar de que não sei se Thomas como muito, nunca o vi comer. A comida é colocada em uma mesa próxima a uma das enormes janelas. Nos sentamos logo em seguida e começamos a comer.

Enquanto comemos me dou ao luxo de observar o quarto pela primeira vez. A paredes de madeira envernizada deixam o cômodo elegante. Há cortinas vermelhas nas janelas, as cortinas estão abertas mostrando a chuva cair sobre o vidro. A cama está coberta por uma marfim juntamente há almofadas e travesseiros cobertos com a mesma cor, detalhados com fios de ouro, um trabalho bastante delicado. Lembra os bordados de mamãe em meus vestidos.

Volto meus olhos para janela que está a nossa frente. Sinto os olhos de Thomas sobre mim.

— Estava pensando em cavalgarmos hoje, mas a chuva não deu trégua. — meus olhos caem sobre ele no momento que começa a falar.

Meu coração se aperta assim que ouço a palavra "cavalgar". Nunca será a mesma coisa. Não sem Winter. Quando o destino resolveu me tirar algo, arrancou tudo de meus braços.

— Não sei se gostaria de cavalgar depois do que aconteceu. — as palavras saem em um sussurro, mas sei que me escutou.

Observo sua testa franzir.

— Não compreendo? — pergunta colocando a xícara de chá sobre o pires — Sei que perder os pais é terrível e também sei que está sofrendo, mas cavalgar lhe faria bem. Pelo menos para mim, quando tenho muito trabalho e fico estressado, só é necessário uma longa cavalgada para poder que sentir mais leve. No seu caso seria necessário, para limpar um pouco os pensamentos.

— Não conseguiria. — não sem Winter.

— Então terá que me ajudar a lidar com aquele cavalo, porque ele não deixa ninguém monta-lo.

Ele não entende...

Espera... Ele disse cavalo.

"...lidar com aquele cavalo..."

Me engasgo com o suco de laranja, mas consigo me recuperar rapidamente.

— Como assim? "Aquele cavalo"? — pergunto com os olhos arregalados e o coração cheio de esperança.

Ele franze a testa novamente.

— Seu cavalo. Winter, certo? — suas palavras enchem meu coração de alegria.

— Winter está vivo? — pergunto quase sem ar, não cabe tanta alegria em meu coração.

— Sim. Achou que ele havia morrido? — pergunta erguendo as sobrancelhas erguidas — Ooh não, ele está bem, só não deixa ninguém montá-lo. Pensei que poderíamos sair hoje para cavalgar e ver esse bicho domado, mas a chuva não nos permitiu.

WINTER ESTÁ VIVO.

Não me aguento de tanta felicidade. Estou completamente paralisada. Ao que me parece, todo ou qualquer tipo de sentimento parece me causar paralisia.

— Podemos vê-lo? — falo com o coração aos pulos no peito.

— Claro. Assim que terminarmos. — ele fala e coloca um morango na boca.

Comi o resto do café da manhã as pressas. Em um dia normal, não acharia que tínhamos demorado a comer, mas hoje pareceu uma eternidade.

Thomas me leva por alguns corredores até que chegamos a cozinha. Todos se curvam diante da presença do rei. Eu deveria ter vergonha de como tenho agido, ele é o rei e tenho o tratado como qualquer. Mamãe teria muito desgosto da filha que sou. Ele sorri para todos e seguimos para fora da cozinha. A parte que leva até o estabulo é coberta nos proporcionando uma varanda simples para o campo. Caminhamos pela terra fofa por um longo tempo, assim que chegamos ao estabulo vejo Winter de longe. Meu coração parece que vai sair do corpo. Corro em sua direção.

— WINTER! — grito para poder livrar meu corpo de tanta felicidade, parece que vou explodir a qualquer momento.

Assim que chego ao seu lado abraço seu dorso. Nunca pensei que sentiria tanta falta desse animal. Ele é o bem mais preciso que tenho. Ele é minha família.

— Pelo visto ele gosta mesmo de você. — Thomas fala todo sorridente.

— Claro que gosta, desde novinho ele está conosco... comigo — estremeço com a lembrança de meus pais — Ele é novo, só tem dois anos que o tenho. Mas tenho certeza que nos consideramos da família, ele agora é minha única família. Só tenho ele.

Thomas se aproxima e coloca a mão sobre a cabeça de Winter.

— Você num tem só ele. Tem a mim.

Thomas olha para mim de uma forma que me faz perder o fôlego. Como se pudesse enxergar dentro de mim. Aquele imã que nos leva um ao outro está de novo aqui. Nos puxando um para o outro. Thomas levanta a mão e direciona até meus cabelos. Coloca uma mecha atrás da minha orelha. Observo seu olhar. Há algo diferente em seus olhos. Algo que faz desejar me jogar em seus braços. Mas me controlo. Abaixo a cabeça para tentar sair dessa hipnose.

Algo me vem a mente.

— E Rosa?

Thomas franze o cenho em confusão.

— Quem é Rosa? — sua voz sai rouca o que me dá arrepios.

— A égua que comandava a liteira. — falo preocupada.

Seus olhos brilham em conhecimento.

— Aah sim! Ela foi ferida, — seu tom é sério o que me preocupa — mas já esta sendo cuidada. Deixei meus melhores criados cuidando dela. Acredito que ficará bem.

Meu coração infla com seu gesto. Ele é sempre tão maravilhoso. Tudo que ele faz me agrada. Tudo que ele faz é para me agradar. Ou simplesmente é maravilhoso.

Deveria ter me apaixonado por Tommy. Ele sim, merece todo meu amor. Mas agora, tudo que quero é manter meu coração fechado para qualquer tipo de sentimento. Do tipo se apaixonar.

Minha gratidão por Tommy é tão grande que me atiro em seus braços.

A terra é difícil de se equilibrar com esses sapatos. Saltos. Não estou acostumada. Sempre usei botas.

Assim que meu corpo se impacta com o dele meu corpo relaxa e o dele me recebe com espanto. Não esperava por tamanho agradecimento. Não demora muito para que me abrace em resposta. E seu abraço é firme. Como se não quisesse que saísse dele. Como se quisesse me manter ali para sempre. E quem disse que queria sair dali? Em seus braços me sinto em casa.

Retiro meu rosto de seu ombro. Mas continuo em seus braços. Próxima demais de seus olhos. De seus lábios. Olho em seus olhos e ele está me encarando. Seu olhar está coberto de desejo e algo mais. Não posso me deixar levar. Seus braços parece me apertar ainda mais, me aproximando de seu corpo. Seus olhos caem sobre meus lábios e logo depois os meus sobre os seus. Tudo que desejo nesse momento é saber o sabor deles. Mas com toda minha força de vontade pressiono meus lábios em sua bochecha. Próximo demais de seus lábios. Deixo os pressionado por um tempo. Sinto seus dedos se apertarem em minhas costas. Assim que abandono seu rosto seus lábios quase encontram os meus, mas abaixo a cabeça.

Thomas respira profundamente ainda me apertando.

— Acho que devo ir trabalhar. — sussurra.

Aceno. Não estou em condições de falar.

Thomas planta um beijo em minha mão assim que me liberta de seu aperto. Depois segue seu caminho para dentro do palácio.

Solto a respiração que nem sabia que estava prendendo. Acaricio o dorso de Winter.

— O que esta acontecendo comigo? — pergunto a Winter sem esperar uma resposta.

Estou um pouco assustada com a avalanche de sentimentos que tive hoje. Estou assustada. Estou apavorada. Posso está me apaixonando pelo rei.

 


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