Ela é o Cara escrita por Priscilla Florêncio


Capítulo 5
Intrusos no banheiro


Notas iniciais do capítulo

Só posso dizer uma coisa...
F-I-N-A-L-M-E-N-T-E! Com todas as letras!



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A monitora chefe tinha os olhos arregalados e a boca entreaberta como se estivesse prestes a dizer alguma coisa, porém, nenhum som sairá enquanto olhava para o aluno novato semi-despido.  

Em seguida, Ginny notou que a outra garota ficará com um semblante estranho, fechado e sério. Pois, Hermione estava pensando rapidamente, refletindo na melhor forma de agir.  

A expressão "Salvo pelo gongo" nem sempre fez sentido para Ginny, visto que ela nunca havia analisado exatamente o significado daquele estranho ditado popular antes. Agora pensado melhor, nos combates das lutas de boxe quando o juiz notava que um dos boxeadores estava sofrendo muito durante o embate, ele — o juiz — soava rapidamente o gongo antes que o outro boxeador desse um golpe fatal no seu adversário, portanto, o cara era literalmente salvo pelo gongo. 

Aquela expressão nunca fora relevante ou fizera sentido para Ginny. Até aquele momento...  

PIIIIIN PIIIIIN PIIIIIN 

O som do primeiro sinal para o início das aulas soara fortemente alto, exatamente, naquele momento. Ginny que estava prestes a receber um golpe fatal da monitora chefe e cair derrotada no chão frio do banheiro, fora literalmente salva pelo gongo.  

Já que o sinal acabará fazendo com que Hermione desperta-se do seu devaneio particular. Agora ela estava com semblante comedido, como se estivesse pensando e analisando, a melhor forma de punir o aluno novato que quebrara — obviamente — várias regras do regulamento escolar. 

— Você tem 10min — ela falou somente. 

Para quê? Tenho 10min para juntar todas as minhas coisas e dar o fora? 

Ginny continuou paralisada sem querer dar o próximo passo em seguida, pois sabia que seria o fim. Percebendo isso, Hermione se direcionou para o lado oposto do banheiro aonde ficavam os chuveiros. De frente para uma das cabines, ela abriu a porta e ligou o registro d'água. 

— O próximo sinal vai tocar daqui uns 10min e você já perdeu pelo menos 1min parada aí. 

Quando entendera o que Hermione estava dizendo, Ginny ficou atônita. Mas, sem querer perder mais tempo, assim como ela dissera, ela imediatamente tirou a peruca ruiva e o restante das roupas, e entrou na cabide do chuveiro sem sequer pensar muito no assunto. 

No instante que a água quente caiu sobre seu corpo, a  alegria foi instantânea. Ginny nunca imaginara que ficar alguns dias sem tomar banho com água corrente de verdade, tendo que se limpar apenas com paninhos humedecidos, fosse ser tão torturante daquele jeito. Portanto, utilizou os minutos que tinha sabiamente, pois não sabia enquanto tempo iria poder tomar banho novamente. Nem mesmo sabia se iria ficar em Hogwarts até o final do dia.  

Talvez, se eu conseguisse explicar a ela... Explicar o que? Você foi pega no flagra Ginny 

Três breves toques na porta e ela soubera que seu tempo havia acabado.  

Ao sair da cabine do chuveiro Ginny vira que Hermione ainda estava ali, aguardando, e não havia sumido por mágica como ela estava torcendo para que acontecesse. Hermione estava com os braços cruzados, batendo uma ponta dos sapatos do chão impacientemente. Contraditoriamente, a serenidade em sua expressão foi o que deixou Ginny intrigada.  

— Olha só, se você me deixar explicar... 

— Não — cortou ela sem haver um tom hostil em sua voz, mas por estar aparentemente com muita pressa. — Não temos tempo agora. Vista-se, rápido! 

Como não era um pedido, mas, sim uma ordem, Ginny fora logo pegando o seu uniforme — o qual, ainda bem, havia se lembrado de guardar antes de sair do dormitório —, e se vestiu o mais rápido que conseguira.  

E foi por muito pouco, que não fora descoberta outra vez. 

— Ei, Mione você não vai acreditar... — alguém disse, próximo da porta do banheiro. 

Num movimento impressionante Ginny foi atirada para dentro da cabine do chuveiro velozmente. Em seguida a monitora chefe jogou todas as coisas de Ginny para dentro da cabine, junto com ela.  

No instante seguinte, um intruso desconhecido adentrou o banheiro. Agradecendo mentalmente por Hermione pensar rápido e ser ágil igual a um felino, Ginny colocou as mãos sobre o peito tentando acalmar silenciosamente as batidas frenéticas do seu coração, podendo apenas escutar o que Hermione e o intruso falavam.  

— Aconteceu alguma coisa? — o intruso quis saber, provavelmente por causa do semblante frenético de Hermione. Mas, Ginny pode apenas imaginar a expressão intrigada do desconhecido. No entanto, surpreendentemente ela conseguiu reconhecê-lo pela voz, como sendo o seu colega de quarto. 

Caramba, será que ele não sabe que isso é um banheiro feminino 

— Não, não aconteceu nada Harry — Hermione negou tranquilamente, confirmando quem ele era. — Então, você ia me dizer alguma coisa? 

Como ela estava apenas ouvindo, Ginny entendeu que a monitora chefe queria mudar logo de assunto. 

— A iniciação do time foi uma confusão — Harry contou com uma certa empolgação. — Alguém acionou o alarme de incêndio e o negócio ficou feio. Remus apareceu, mas por azar, ele estava junto com o Seboso. Aí como o Snape não podia dar detenção para todo mundo que estava lá, ele acabou adiando o jogo contra os Wilders como punição. Sirius ficou bem furioso por causa disso. 

Adiaram o jogo, mas como isso é possível?  

— Quer dizer que agora, Sirius ficou bravo por vocês terem feito esse trote idiota de novo? 

— O que? Não, ele ficou furioso por nós termos sido pegos — respondeu ele rindo.  

Depois do que Harry falou, Ginny não conseguiu se conter e acabou rindo junto com ele. O que foi um erro, visto que o seu riso acabou provocando um ruído... 

— Ei, que barulho foi esse? — ela ouviu ele indagar logo depois, e xingou-se mentalmente pelo descuido, torcendo para que ele não tivesse notado de onde viera o barulho.  

—   Que barulho? Eu não ouvi nada — mentiu Hermione, e mais uma vez Ginny anotou mentalmente um agradecimento mais tarde à monitora chefe. — Mas e aí, Sirius não vai punir vocês por causa do trote que deu errado? 

Ela tentou mudar de assunto novamente. Por sorte, deu certo. 

— Ah, você sabe que isso é tradição do time — contou Harry —, Sirius sempre enche o peito para dizer que foram os Marotos que começaram com a iniciação dos novatos. Ele e meu pai, já fizeram coisas bem piores no tempo deles. Provavelmente ele só vai dar um jeito de pegar mais pesado no treinamento.  

Marotos, quem são eles? Sirius? Ele é o técnico Black? E como é que ele vai deixar o treinamento mais pesado ainda?!   

— Não acho isso certo. Nunca gostei dessas iniciações que vocês fazem — constatou Hermione sensatamente. — Mas o que houve com o sinal, afinal? Já era para ter tocado. 

— Ah tem isso também, mas você não vai gostar. O professor Dumbledore cancelou as aulas de hoje — Harry começou dizendo com cautela. — Quando acionaram o alarme de incêndio no vestiário, Filch achou que o castelo estava realmente pegando fogo, e acabou acionando o alarme de incêndio em todas as salas de aula, agora eles estão dando uma geral em tudo. Mas, o mais suspeito até agora, é o porquê dele não ter acionado os alarmes nos dormitórios também— completou ele com ar de riso, numa desconfiança sarcástica. 

— Eu não acredito — refutou Hermione com indignação.  

É, eu também não. Quer dizer que se fosse realmente um incêndio, esse tal de Filch ia deixar que todo mundo morresse tostado? 

— As duas primeiras aulas eram de Literatura Inglesa! — concluiu Hermione enraivecida, expondo o seu real aborrecimento.  

— Oh, caramba, é mesmo — falou Harry num tom falsamente impressionado. — Se você descobrir quem foi que acionou o alarme, não esqueça de agradecê-lo por mim. 

Ginny abafou um riso depois do que ele dissera. No entanto Hermione ignorou totalmente o deboche do amigo, visto que aparentemente seu aborrecimento a fizera lembrar de algo. 

— E aonde está o Ronald? Ah quero dizer, o Uon-Uon — corrigiu-se ela logo em seguida, imitando a última palavra num tom de voz esganiçado. 

O desprezo na voz de Hermione era quase palpável, e Ginny ficou intrigada com aquilo. Visto que, ela não se lembrava daquele apelido ridículo do seu primo, e aparentemente Hermione não associava aquele nome à algo bom. 

— Digamos que ele estava meio ocupado, e não pode vir... 

— Ah claro. Como sempre, não é mesmo? 

— Hermione, você sabe que é meio difícil dizer ou fazer qualquer coisa quando aqueles dois estão juntos... 

— Nem vem Harry — interrompeu Hermione —, não defenda aquele egoísta. É obvio que ele preferiu ficar com aquela sanguessuga, ao invés dos amigos. Mas, é bom que ele saiba que se precisar de qualquer ajuda minha, eu vou ficar muito feliz em dizer um sonoro; não. E você deveria fazer a mesma coisa. 

Sanguessuga? De quem é que eles estão falando? 

— É, você já deixou isso bem claro. Mais de uma vez — dissera Harry e Ginny pode notar o desgaste na voz dele.  

— Exatamente — afirmou ela enfaticamente. 

Logo depois, um silêncio se instaurou no banheiro, e Ginny entendeu que nem Hermione, nem Harry queriam aprofundar aquele assunto.   

— Bom, eu tenho que ir falar com o Sirius. Você quer que eu...? 

— Não, pode ir. Eu vou ficar por aqui, já que as aulas foram canceladas. 

— Tudo bem. A gente se vê depois então. 

— Ok. Até mais tarde. 

Ginny pode ouvir uma pequena movimentação e ela soube que Harry estava saindo do banheiro. E por um instante conseguiu sentir um certo alivio... Mas mais uma vez, durou pouco tempo... 

— Ah só mais uma coisa — anunciou ele ao voltar lembrando-se de algo. — Fizemos a contagem de todos que estavam na iniciação do time, e só tinha uma pessoa faltando.  

Ah não, mais que droga! 

— É mesmo, e quem era? 

— O novato. Geofrey Weasley. 

Droga, droga, droga, mil vezes droga. 

— O seu colega de quarto? 

— Sim, ele mesmo. Se você o ver por aí, é só avisar que estamos procurando por ele. 

— Tudo bem, eu aviso. Mas, eu posso saber porquê?  

— Queríamos saber como ele conseguiu saiu de lá tão rápido e sem que ninguém o visse. Mas, na verdade a gente meio que apostou em algumas coisas antes do primeiro treinamento do time desse ano. 

— Isso não é novidade — Hermione retrucou enfadonhamente.  

Harry riu. 

— Digamos apenas, que nós fizemos algumas apostas que envolveram o time reserva, e ele acabou sendo o mais indicado. 

Indicado pra quê!? 

— E para o que ele foi indicado? 

— Mione, você não faz parte da apostas, então... 

— Essas apostas são perda de tempo. Então, fale de uma vez. 

— Você poderia tentar e dar um palpite... 

— Palpite uma ova, vamos lá, desembucha logo!  

Harry riu mais uma vez. E Ginny estava começando a apertar os punhos imaginando o pescoço do seu colega de quarto entre elas, sufocando lentamente. 

— Ok. Ok. Nós sempre fazemos apostas com o time de novatos, isso você já sabe — começou dizendo. — Mas, dessa vez foi diferente. Ron, Draco e eu, apostamos com o time: Qual dos novatos, eles achavam, que iria ser molenga igual a uma garotinha durante o treinamento... 

Molenga igual uma garotinha? Bando de idiotas. 

— Uau, vocês realmente conseguem se superar a cada ano. 

Mas, Harry ainda não havia concluído. 

— Quase todo mundo apostou no Creevey. 

— Creevey? Mas, espera aí, não foi no...? 

— Não, fizemos outra aposta depois dessa.  

Ginny revirou os olhos. E teve quase certeza de que Hermione também fizera a mesma coisa. 

— Qual foi a outra aposta? 

— Bem, por causa da primeira, apostamos numa brincadeira sugerida pelo Draco: Qual dos novatos se pareceria mais com uma garota... 

Merda, aquele loiro-bunda-branca me paga! 

— Eu, Draco e alguns outros do time apostamos no Geff, o que foi bem útil — contou Harry com ar de riso. — Consegui uns 100 só nessa brincadeira.  

Ginny tivera que segurar o próprio impulso de não sair porta à fora e dar umas boas bordoadas no seu colega de quarto e em cada um daqueles idiotas, mostrando para todos eles quem era a garota ali. 

— Quer dizer então, que vocês acham que o seu novo colega de quarto se parece com uma garota? — repetiu Hermione — Que ridículo. Na verdade, eu sei exatamente o que é isso. Preconceito. Não é porque ele seja diferente de alguma forma que isso signifique que ele seja gay, e mesmo que fosse, isso não é motivo para zombarias. Além disso, vocês homens sempre tem um motivo para debochar de tudo que seja relacionado as mulheres, há não ser que seja em benefício próprio.  

— Mione — começou Harry cautelosamente. — Foi só uma brincadeira.  

— Muito desnecessária por sinal. Malfoy nunca foi muito inteligente, então já era de se esperar. Mas, eu não esperava isso vindo de você Harry Potter. 

Ará, bem feito! É isso aí Hermione, dá nele. 

— É, eu sei que foi idiotice — Harry confessou. — Mas vem cá, aposto que você também deve ter pensando que esse cara é estranho. Não, que eu ache que ele seja esquisito por ser gay. Estranho mesmo é o jeito dele ficar me encarando, como se estivesse interessado em alguma coisa. E qual é né, eu não jogo nesse time. 

O que? Geofrey não é gay! E eu não fico te encarando seu metido idiota. Eu só olho algumas vezes, poxa. Olhar não arranca pedaço, sabia? 

— Harry, eu acho que você está imaginando coisas. Você ainda nem conhece ele direito, não tem como ter certeza disso. 

— É você deve ter razão. Posso estar vendo coisas demais. Enfim, eu tenho que ir... — disse ele apressadamente. — A gente se fala depois. 

Ginny pode ouvir que ele se despedirá de Hermione com um beijo no rosto, e sairá em seguida batendo a porta do banheiro. 

Com um suspiro de alivio. Sabendo que dessa vez seria seguro, Ginny abrira lentamente a cabine do chuveiro. 

— Isso foi bem esclarecedor — ela começou dizendo. — Obrigada, por não me dedurar, eu não sei porque você fez isso, mas... 

— Eu odeio mentiras — cortou Hermione. — Na verdade, eu nunca menti para ninguém antes, principalmente para os meus amigos. Então, eu realmente espero que você tenha uma ótimo motivo para estar fazendo isso. 

— É, e eu tenho — enfatizou Ginny. 

Hermione a encarou duramente, provavelmente verificando se não haveria nenhum traço de falsidade em seu olhar. Concluindo que não havia, ela continuou: 

— Ótimo. Então, poderia me explicar o que isso significa? — questionou, apontando para a peruca ruiva que Ginny segurava em uma das mãos. — Porque eu realmente acho que esconder o fato de você ser uma garota para tentar se relacionar com outras pessoas, não seja uma boa forma de começar um relacionamento.  

— O que? Não — Ginny retrucou. — Eu não sou gay. 

Hermione arqueou as sobrancelhas. 

— Ah, quer dizer que você não...  

— Não, eu não estou fazendo isso para ficar com garotas. 

— Bem, então por que você está fazendo isso? — perguntou Hermione com curiosidade. 

— É uma longa história... 

— Não vamos a lugar nenhum, estamos sem aulas. 

Ginny sorriu contidamente, pois ela sabia que não poderia fugir daquilo, e estava devendo um voto de confiança que a monitora chefe depositou nela, por isso acabou sentindo que poderia confiar em Hermione, querendo ou não. Logo, começou a narrar tudo o que aconteceu até aquele momento, e a outra garota ouviu atentamente cada detalhe que Ginny lhe contou.  

x.x.x.x 

— Então, basicamente você está se passando pelo seu irmão para poder jogar futebol, sem que ninguém fique duvidando das suas habilidades ou do seu talento, por você ser mulher. Além de poder mostrar para aqueles machistas preconceituosos que não somos um sexo frágil, assim como eles pensam que somos — falou Hermione enxugando totalmente a história que Ginny havia acabado de relatar. 

— Sim, basicamente, é isso mesmo. Desse jeito, não parece ser grande coisa — Ginny riu. 

— Não, ao contrário, é grande coisa sim — salientou Hermione. — Você está lutando por algo em que acredita. A sua coragem deveria servir de exemplo para qualquer um. 

— Valeu, eu acho. Só que não está sendo nada fácil ter coragem para fazer isso. Sinceramente, não recomendo. 

As duas riram. E pela primeira vez desde que chegou em Hogwarts, Ginny sentiu que poderia confiar em alguém, sem ter que ficar agindo como um cara, com barba e cabelos postiços. 

— Ah, você esqueceu um detalhe muito importante — lembrou Hermione, sorrindo. — Ainda não disse seu nome. 

— Ginevra, mas pode me chamar de Ginny — cumprimentou com um grande sorriso. 

— Hermione, mas disso você já sabia — disse a morena rindo. — Então, como é ser um garoto? 

— Horrível. 

Com pausas para altas risadas, Ginny contou a Hermione como era conviver com rapazes o dia todo e ainda ter que se passar por seu irmão, tendo que convencer todo mundo que era um garoto.  

— Falando nisso — falou Hermione, depois que Ginny contou como havia sido torturante o treino de futebol. — Acho que você tem um pequeno problema. Você estava ouvindo quando Harry disse como achava estranho o modo como Geofrey olhava para ele, não estava? 

Ginny confirmou com um aceno de cabeça. Hermione continuou. 

— Então, acho que ele está certo. 

— O que? Como assim você acha que ele está certo?  

— Bom, eu conheço Harry desde os onze anos, e ele nunca notou nada que não estivesse bem de baixo do nariz dele — constatou Hermione. — Por isso, se ele percebeu alguma coisa no modo como Geofrey estava olhando para ele... É bem provável que ele esteja certo.  

— Mas... Mas, eu não... 

— Ginny, eu tenho que perguntar — ela disse calmamente. — Você está gostando do Harry?  

Ginny ficou boquiaberta. Não estava esperando por aquilo.  

Mas, Hermione continuou esperando por uma resposta. 

— Não, é claro que não. 

— Tem certeza? 

— Sim tenho, eu mal conheço ele — justificou —, isso seria idiotice. Porque, qual é né, ele acha que eu sou um cara. Meu irmão, um cara que é o primo do melhor amigo dele. 

Mesmo com todas as justificativas listadas, Ginny tentou convencer a si mesma de que aquilo era verdade. Memorizar todos os motivos pelo qual não poderia se apaixonar por seu colega de quarto. Mas, no fundo ela sabia que isso não estava muito longe de acontecer. Afinal, ela conseguiu se encantar no primeiro dia que conheceu Harry Potter, somente no segundo em que olhará para aqueles olhos verdes-esmeraldas. Só de imaginar ele tocando em sua pele, seus lábios, sussurrando em seu ouvido, ela já podia sentir calafrios excitantes... 

Para de ser idiota Ginny. Idiota. Idiota. Idiota. 

— Não, eu não estou gostando dele — negou para si mesma, com todas as letras.  

— Ah que bom! — falou Hermione com um suspiro de alivio. — Porque, seria bem complicado se você estivesse. Sabe, tendo que dormir todos os dias no mesmo quarto, as aulas, o futebol.  

É, isso mesmo. Eu. Não. Gosto. Dele. Nada. Nadinha. Nenhum pouquinho.  

— É. Mas, então, porque você acha que eu tenho um problema? — perguntou tentando mudar logo de assunto, porque não queria pensar mais do que já era necessário, no moreno de olhos verdes.  

— Bom, o problema é que pelo jeito, todo os garotos do time estão achando que Geofrey se parece com uma garota. Sabe, com modos delicados e femininos demais, ou seja, eles acham que ele é gay.  

— Isso não é verdade.  

— Eu sei, mas é o que eles pensam. Por isso, vamos ter que fazer alguma coisa para convencê-los de que Geofrey gosta de sair com garotas. 

— E como vamos fazer isso? Porque, assim, ele é bem popular e eu nem sei porquê, mas ele aproveita isso para ficar com várias malucas. Da última vez, ele estava namorando a nossa vizinha, um francesa chata e obsessiva.  

— É isso, é o que nós vamos ter que fazer! — exclamou Hermione com empolgação. 

— O quê? Namorar uma francesa chata e obsessiva? 

Ginny riu da própria piada. Mas, Hermione não prestara atenção. 

Logo depois, a morena adquiriu uma postura ereta e pensativa, andando de um lado para o outro no banheiro feminino interditado. Ginny franziu a testa, mas acabou não dizendo nada e ficou apenas observando a monitora chefe andar de cá pra lá, de lá pra cá.  

Depois de alguns minutos, a garota de cabelos cheios e dentes grandes, viu-se para a ruiva que já estava começando a ficar com um semblante entediado. 

— Eu sei exatamente o que nós vamos fazer. 

x.x.x.x 

Uma hora e meia depois... 

Ginny tivera que voltar para a Ala Masculina, depois que ela e Hermione elaboraram um ótimo plano para convencer os outros garotos da integridade masculina de Geofrey. Mesmo que ainda houvessem alguns furos que deveriam ser acrescentados ao plano, de acordo com Hermione. Ginny já estava muito empolgada com o que elas iriam fazer. Pois, para ela seria extremamente divertido.  

De banho tomado, roupas-limpas e um grande sorriso no rosto, Geofrey passará pela porta da frente da Ala Masculina... Contudo, não estava esperando que houvesse uma pequena recepção aguardando a sua chegada.  

— Ora, ora, ora vejam só, quem resolveu aparecer... — ela ouviu o treinador Black dizer. E ao virar-se para o canto direito da sala, de onde viera a voz, Ginny viu que também estavam ali, além do técnico; Ronald seu-primo Weasley, Draco bunda-branca Malfoy e Harry lindo-pra-caramba Potter.  

Todos os quatro encaravam Geofrey de uma forma misteriosa, e Ginny não soube ao certo como deveria se sentir com a presença do técnico e seus colegas de time.  

— Mas o que vocês...?  

— Ah não é necessário dizer nada Weasley — cortou o treinador. — Eu estava apenas querendo te parabenizar pessoalmente por seu grande feito de hoje. 

Ginny franziu a testa, pois não sabia qual havia sido o seu grande feito do dia — pelo menos, não pensou em nenhum que fosse ser considerado pelo técnico.  

— Ãããm obrigado senhor, eu acho... 

O treinador curvou o canto dos lábios numa espécie de sorriso, mas que também poderia ser classificado como uma careta desajeitada. Ele aproximou-se um pouco mais de Geofrey, tentando focalizar melhor o garoto e Ginny sentiu-se desconfortável com a invasão de espaço. 

— Vou ir direto ao ponto Weasley. Hoje mais cedo, você esteve junto com os outros novatos na iniciação do time, muitas testemunhas o viram por lá. E pelo que me contaram, você foi o único que não foi encontrado depois do incidente com os alarmes de incêndio. Portanto, eu fiz as contas Weasley, você foi bem ágil fazendo aquilo...  

— O que? Não, eu não fiz... 

— Não. Não negue — interrompeu ele. — Já que o que você fez acabou sendo útil para o time... Por isso, eu quero propor-lhe o seguinte: Uma recompensa por ter nos dado mais tempo de treinamento antes do próximo jogo. Pense muito bem Weasley, pois eu não costumo voltar atrás com as minhas decisões, e meus jogadores também não vão. Apenas uma recompensa. Entendeu? 

Ginny assentiu com um aceno de cabeça, concordando com a oferta. Mesmo que tivesse certeza de que não haveria um modo de recusar qualquer coisa ao treinador.  

— Ótimo. Então, nós vemos no próximo treinamento — concluiu ele direcionando-se para a porta de saída. — E, Harry ainda não terminamos aquela conversa.  

— Tchau, Sirius — Harry respondeu, secamente. 

Os dois trocaram um olhar irritado entre si, demonstrando que haviam tido uma conversa, anteriormente, com algum assunto mal resolvido, todavia ainda não haviam concluído — pelo menos era isso que Sirius achava. Mas, para Harry aquele assunto já havia acabado. É, só ele mesmo, para conseguir recusar alguma coisa ao técnico Black.   

Depois do treinador ter se retirado da Ala Masculina. Ginny viu-se sozinha com os outros três, que olhavam para ela de um modo estranho. Até mesmo seu primo Ronald — que não estava com um aspecto muito apresentável —, olhava para Geofrey como se ele fosse esquisito. Contudo, o que estava estranho mesmo eram as roupas de Ron, ela notou. A camiseta social do uniforme dele tinha a gola toda amassada, desatada de dentro da calça, a gravata vermelha estava desfrouxada e torta, e Ginny percebeu também que os lábios de Ron estavam borrados num tom de vermelho forte, como se ele tivesse sido sugado por alguma sanguessuga com batom vermelho... Era uma aparência bem desleixada e ela tinha certeza de que se Hermione o visse naquele estado, reprovaria totalmente.  

E agora, sabendo o que Hermione havia dito sobre os caras do time acharem que Geofrey não gostava de garotas, e que Harry provavelmente pensava a mesma coisa. Ela saiu rapidamente de perto dos três, e foi para o seu quarto. Mesmo que soubesse que não haveria como se esconder quando estivesse ali. 

Abrindo sua mochila que estava num canto do quarto, Ginny ligou seu Macbook para tentar se distrair, sentando-se em sua cama tentando se sentir um pouco mais confortável. E quem sabe, por sorte, conseguisse conversar com Katie e Angelina... 

— Então, Harry vai ficar como atacante, Draco no meio de campo e eu fico no gol, a mesma coisa com as outras posições. Nada de diferente, o mesmo time de sempre — Ron dissera, assim que os três entraram no quarto. 

— Sirius sabe que nós somos bons no que fazemos, porque ele iria mudar isso?  

Foi o que Ginny ouviu Harry disser, e continuou focalizando qualquer coisa de interessante no seu computador, mesmo que este estivesse na tela de início e ela não quisesse fazer nada além de ficar ouvindo o que eles estavam falando. Por isso, fingiu estar mexendo em alguma coisa, para que eles não soubessem que ela estava interessada em conversa alheia.  

— É mais talvez não seja o suficiente no campeonato. Nós somos bons sim, mas e os outros times? Eles podem ter caras que sejam tão bons quanto nós. Ou até melhores. 

— Olha só Ron, como o Sirius disse, nós conseguimos um pouco mais de tempo até o próximo jogo. É claro que não podemos subestimar os adversários, mas, qual é né... Não podemos ser tão pessimistas — Harry disse tentando motivar os amigos. 

Mas, Ginny percebeu que eles não ficaram muito convencidos. 

— É, nunca pensei que fosse ficar tão feliz com alguma coisa que o Seboso fosse... — Draco dizia, mas parou de falar de repente. Ginny levantou levemente o olhar para ver o que havia feito ele parar de falar... Teve que prender a respiração, quase caindo da cama, ao perceber que tinha deixado sua mochila aberta na beirada do colchão, com um saquinho de objetos femininos saindo de dentro do seu tênis. Lá estavam os seus rolinhos de absorvente, visivelmente identificados. 

— Ei, ei, porque você tem absorventes dentro do seu tênis? — questionou o seu colega de quarto, enquanto o seu primo Ron e Draco continuavam paralisados em choque. 

Aí não acredito, que vacilo! Pense rápido, Ginny! Rápido! 

— Errr, errr... Errr, por causa do meu nariz — falou hesitantemente —, ele sangra muito.  

— Você coloca isso no nariz!? 

Os três estavam boquiabertos, sem acreditar.  

— É. Isso mesmo, eu coloco no nariz. Assim... — ela pegou um dos rolinhos na mão, e eles deram um passo para trás amedrontados, como se Geofrey estivesse segurando uma bomba e eles fossem morrer a qualquer momento. Ginny então colocou um dos absorventes no nariz, sem hesitação. — Viu só, é muito útil. E podem acreditar, absorve tudinho. 

Com expressões de nojo na cara, os três acabaram caindo na risada.  

— Caramba, esse cara é muito estranho — Draco falou, quase caindo de tanto rir, se apoiando no ombro de Harry. Os três sacudiam o corpo de tanto gargalhar. — Ainda bem que ele é o seu colega de quarto Harry.  

Alguns minutos depois de altas risadas, com Ginny tendo que vê-los rir, apontar e balançar a cabeça. Eles acabaram parando, e não voltaram a falar mais nada com Geff depois disso. 

Ginny acabou ficando no seu canto do quarto, constrangida.  

Torcendo, torcendo muito para que o plano de Hermione desse certo.  


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Notas finais do capítulo

Eu sei, eu sei... Demoreei muuuito para voltar a postar um novo capítulo. Me desculpem pessoal, mas teve muita coisa nesse começo de ano, e eu não conseguia terminar esse capítulo nunca!

Estou muito feliz por ter terminado hoje. Por isso, estou torcendo para que vocês gostem...

Enfim, até o próximo galera. Não vou ficar enrolando vocês.

Um grande abraço.



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