Ela é o Cara escrita por Priscilla Florêncio


Capítulo 2
Uma transformação gloriosa


Notas iniciais do capítulo

Até que fim, até quem fim... Sim, eu sei, desculpem pela demora pessoal. Mas, confesso que nesse capitulo eu travei um pouquinho para escreve-lo...

Por isso, espero que vocês gostem...



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Mudanças no geral, nem sempre são boas. Mesmo que muitos tentem lhe convencer do contrário. Não se engane, quando a mudança é para melhor, sim, é muito bom. Porém, nada é pior que termos que fazermos mudanças ruins, ainda mais, quando estamos de olhos vendados. Sem poder saber o que estará esperando do outro lado da porta. Ginny sabia que iria ter que atravessar aquela porta. Ela teria que mudar sua vida radicalmente, pelo menos, por um tempo indeterminado.

Desta forma, para ela, mudanças não eram boas naquele momento. Sobretudo quando elas significavam ter que deixar tudo que ela conhecia e todos aqueles que ela gostava para trás.

Ser transferida para outro lugar não era bom, concluiu apreensiva. 

Ao optar por essa escolha Ginny entendia e compreendia que teria que deixar tudo para trás. Sua casa, cidade, sua vida. Deixar de ir nos costumeiros lugares de sempre, deixar de conviver com aqueles habituou-se a ver todos os dias. E principalmente, ela deixaria de ver seus amigos. Mudando não somente um detalhe, mas a vida inteira.

Ginny sabia de tudo isso.

Seria um exagero pensar assim? Talvez.

Mas depois de atravessar aquela porta, não terá mais como voltar atrás.

Aquele era o sacrifício que ela teria que se submeter. Pelo menos, para provar a si mesma que não era somente audaciosa. Mas determinada o suficiente para provar à todos que era capaz de realizar e, ser a melhor naquilo que muitos já estavam convencidos que Ginny era incapaz, apenas por ser mulher. Principalmente, é claro, para o idiota do seu ex-namorado.

Depois que seu irmão fugira — para algum lugar na América — com a banda dele, Ginny resolvera fazer duas coisas; a primeira delas seria o que dizer aos seus pais. Afinal, não poderia contar a eles que Geofrey resolvera fugir indo para algum outro país seguir com a sua carreira de astro do rock. Não, nem pensar. Sua mãe iria ter um colapso nervoso e seu pai provavelmente chamaria a Interpol para trazer seu filho de volta para casa sã e salvo. Por isso, o plano seria contar exatamente aquilo que eles queriam ouvir:

— Geff arrumou as malas ontem mesmo mãe. Já deve estar chegando em Devonshire — dissera para si mesma em frente ao espelho na manhã seguinte, numa espécie de ensaio para analisar se soara convincente o suficiente. Sempre fora uma boa atriz, visto que participara das aulas de teatro que sua mãe insistia para que ela fizesse — uma das poucas coisas que elas concordavam —, e depois de atuar em várias peças escolares, concluirá que levava algum jeito para a representação teatral.

Por fim, depois repetir aquela frase algumas vezes até conseguir soar o mais natural possível, compreendeu que aquilo iria ser convincente.

Sim, vai dar certo.

Afinal, sua mãe nunca fora de fazer muitas perguntas, pois estava sempre ocupada demais indo ao Spa, festas, e compromissos com suas amigas. Não que ela não fosse uma mãe preocupada, mas, Ginny sabia que nunca passara pela cabeça de Madeleine que um dos seus filhos fosse um fugitivo em potencial.

Por isso, se tivesse sorte ela poderia não desconfiar de nada.

O problema era que o anjinho-do-ditado e a sua consciência auto defensiva estavam travando uma batalha interna, deixando-a maluca.

Mentir não é nada bonito, Ginny...

Mas você está ajudando seu irmão...

Mentira tem perna curta...

Se você não fizer isso, não vai mais poder jogar futebol...

A corda da mentira é muito curta, é arrebenta fácil...

Vai ser por pouco tempo, eles nem vão perceber Ginny...

— Café da manhã! — num sobressalto Ginny acordara do seu devaneio, ao ouvir o aviso de sua mãe quando ela batera na porta do banheiro. Respirando fundo algumas vezes, resolvera que não teria como adiar o inevitável.

Se tudo desse errado, o máximo que poderia acontecer seria seus pais lhe darem um castigo para o resto da sua vida. Depois mandariam ela e o irmão para alguma clínica de auto avaliação para transtorno intensivo de personalidade e identidade. Se é que alguma coisa assim existia...

— Bom dia mãe — cumprimentará a título habitual, ao entrar na copa e avistar sua mãe comendo seu habitual desjejum light. Madeleine ao bebericar seu suco verde, lançara lhe um breve sorriso em cumprimento e voltara a verificar alguma coisa em seu smartphone.

Ótimo, pelo menos ela não está de mau-humor.

Colocando algumas torradas em seu prato, Ginny examinara sua mãe pelo canto do olho. Madeleine já estava produzida; com um coque alto no cabelo castanho-avermelhado, num vestido cintura alta e sapatos altos Jimmy Choo. Poderia estar indo para alguma festa, mas Ginny à conhecia o bastante para saber que aquelas eram, simplesmente, roupas comuns do dia-a-dia para Madeleine.

— Acordou tarde, não vai ir treinar hoje? — quis saber ela sem direcionar um olhar a Ginny.

— Não — Ginny respondeu, franzindo o cenho ao concluir —, o diretor resolveu cortar o nosso time, injustamente.

Ao ouvir aquilo, Madeleine levantara o olhar imediatamente.

— Oh, é mesmo...? — dissera ela levantando as sobrancelhas com uma leve curvatura no canto dos lábios, quase, imperceptível. Contudo Ginny percebera — Lamento, querida. Mas sabemos que foi a melhor decisão.

Ginny suspirou desanimada. Já era de se esperar que sua mãe fosse dizer aquilo, porém ela sempre quisera — bem lá no fundo —, mesmo que fosse indiretamente, a aprovação de Madeleine. Portanto, saber que aquele lamento era um falso lamento, deixou-a num misto de desânimo e frustração. Ela nem se quer quisera ou importara-se em saber, o porquê, do time ter sido cortado injustamente. E esse era um dos motivos para Ginny estar totalmente convencida que àquela era a melhor decisão.

Repassando mentalmente o que havia ensaiado para dizer, engolira seu último pedaço de torrada para então fixara o olhar em Madeleine. O quanto antes melhor...

— Mãe, o Geff...

— Eu sei Ginny — interrompera ela e Ginny arregalara os olhos surpresa.

Droga. Mas, então, porque ela não estava gritando histérica?

— O que... O que você sabe? — indagou com muita cautela.

— Seu irmão, ele me mandou uma mensagem hoje mais cedo — concluirá Madeleine, contudo não esclarecerá mais nada. Ginny aguardou um instante esperando mais alguma explicação. Mas, sua mãe, aparentemente, parecia achar que não era necessário dizer mais nada pois, pelo jeito, concluirá que ela também já sabia o que Geff dissera.

— E, o que foi que ele disse, exatamente? — perguntou analisando a expressão dela, tentando encontrar algum vestígio de raiva contida. No entanto, Madeleine respondera despreocupadamente apenas:

— Ele disse que não queria estar aqui quando seu pai chegasse. Por isso, resolveu ir para Devonshire sozinho, garantiu que está bem e que dará notícias em breve — esclareceu ela ainda verificando alguma coisa em seu celular tranquilamente.

Se Madeleine voltasse sua atenção para filha naquele instante, notaria a expressão de choque e a boca entreaberta dela. Ginny não conseguia acreditar no quanto aquilo era esclarecedor.

Que ótimo, muito obrigada Geofrey!

Mesmo que Geff não soubesse de nada do que Ginny pretendia fazer, ele a ajudara indiretamente — sendo sorte ou não —, talvez fosse aquelas conexões mentais que irmãos gêmeos tinham. E por causa disso, Ginny nem ao menos precisara representar sua falsa desculpa. Geff conseguira resolver aquele detalhe sozinho, como se soubesse que a irmã precisasse exatamente daquela ajudinha.

— Valeu Geff — Ginny murmurou baixinho consigo mesma, em agradecimento ao irmão.

Agora faltava resolver a segunda coisa a se fazer; na verdade, faltava encontrar um modo de como fazer esta segunda parte do plano. E para isso, Ginny teria que contar com a ajuda das suas amigas. Já que não tinha a mínima ideia de como fazer aquilo.

Todavia, o café da manhã, ainda não havia terminado...

— Então Ginny, agora que você não tem mais que jogar esse tal de futebol. Vai poder sair mais comigo. Poderíamos ir ao Spa, você com certeza está precisando de uma boa hidratação de pele. Michael vai ficar muito satisfeito se você fizer isso, sabe — dissera sua mãe em tom de desaprovação.

— Eu terminei com Michael, mãe — anunciou Ginny friamente, sem conseguir se importar com o que ela dissera.

— O que? Mas por que? Ele é um garoto tão alto, forte, atraente... — Madeleine falou claramente decepcionada. E ali estavam listadas as qualidades mais importantes que um homem deveria ter para namorar sua filha. Pelo menos, eram essas as qualidades que Madeleine mais considerava.

— Claro, então porque você não namora com ele mãe? — Ginny disse rindo, ironicamente. Recebendo um olhar faiscante por parte de Madeleine.

Aquele era um ótimo jeito de terminar o café-da-manhã.

x.x.x.x

Mais tarde naquele dia, logo depois que as garotas saíram do colégio.

Ginny, Katie e Angelina, foram para o centro de Londres. Pois de acordo com Katie o cara que a amiga da prima dela conhecia, era o melhor especialista naquela área...

Depois que Ginny contara o que queria fazer para as amigas, as duas logo se prontificaram a ajudar sugerindo várias ideias, Katie e Angelina ficaram muito entusiasmadas com o plano de Ginny. Afinal as duas também haviam ficado indignadas com o corte do time feminino no colégio, porém de alguma forma sabiam que uma hora ou outra aquilo iria acontecer. Além disso como eram amigas de Ginny à bastante tempo, conheciam a paixão que a garota tinha pelo esporte. E nesse caso, ajudar a amiga seguir com aquele plano maluco era uma pequena demonstração do quanto queriam que Ginny continuasse a jogar futebol.

E agora, lá estavam elas. Em frente a um prédio que continha um enorme logótipo com letras desenhadas em auto relevo Gilderoy Glorious's  Beleza Estética Transformista.

— Katie, você tem certeza de que esse cara é mesmo o melhor nisso? — perguntara Ginny, pois não estava se sentindo muito confiante com aquele plano.

— Sim, tenho certeza — dissera ela com convicção, mas percebeu que Ginny e Angelina não estavam muito convencidas. — Vocês lembram daquela minha prima Alicia Spinnet e aquela amiga dela?

As duas assentiram, demonstrando que se lembravam.

— Vocês notaram alguma coisa diferente com a tal da Duda? — quis saber Katie, se referindo a amiga de Alicia.

— Sim, ela tinha uma voz bem rouca pelo que eu me lembro — recordou Angelina.

— E rebolava demais também — falou Ginny e as três riram. — Mas, o que isso tem a ver com o que vamos fazer Katie?

— Tem tudo a ver com o que vamos fazer Ginny — Katie replicou com empolgação. — Porque ela, na verdade era ele, antes de vir para cá. A Duda, ou melhor dizendo Eduarda, era o Eduardo.

— O que!? — disseram Ginny e Angelina ao mesmo tempo com expressões identicamente chocadas.

— Viu só vocês nem desconfiaram, é por isso que eu sei que esse cara é o melhor.

Em seguida, Katie com um sorriso gigante no rosto puxara as duas amigas para dentro do Salão de Beleza. Ao entrarem, Katie anunciou-se para a recepcionista informando que tinha hora marcada. Logo depois uma mulher loira muito bem maquiada chamou-as pedindo que as três à seguisse. Elas subiram para o segundo andar, pois pelo que parecia o salão fica na parte superior, sendo que na parte inferior ficava uma butique, com todo tipo de roupas finas, calçados e bijuterias nacionais ou importadas.

Quando chegaram no andar superior, a mulher loira direcionou-as por um corredor que continha janelas duplas altas que davam para uma varanda grande e no final desse mesmo corredor havia uma enorme porta de vidro jateado. Ao chegarem em frente a porta, a mulher loira sorriu para elas.

— O senhor Lockhart às aguarda — informou ela, dando passagem para que elas entrassem no cômodo.

Aguardando no meio da sala, em pé com um sorriso branco brilhantemente perfeito estava Gilderoy Lockhart, que de acordo com Katie, era o renomado estilista, cabeleireiro, especialista em transformações tanto visuais quanto estéticas de Londres. Alto, cabelo loiro ondulado sedoso e olhos azuis, Ginny conseguia sentir a prepotência só de olhar para ele. No entanto, se esse cara era realmente o melhor, iria pagar para ver, literalmente. Por fim, depois dos cumprimentos com todos já tendo informando seus nomes. Gilderoy olhou para cada uma das três, para dizer em seguida:

— É um dia glorioso, temos aqui três lindas jovens. No que eu poderia ajudá-las? — indagou ele continuando com o seu largo sorriso branco.

Ginny relanceou um olhar as amigas, Katie e Angelina pareciam estar numa espécie de petrificação, provavelmente causa por aquele homem ou talvez fosse o sorriso dele exaustivamente branco. Ele não parava de sorrir mostrando aqueles dentes brancos-cor-neve, quer estivesse falando ou não.

— Sim — começou Ginny percebendo que o homem-dentes-brancos voltara toda a sua atenção para ela. — Eu gostaria de saber... Queria saber, se você poderia me fazer parecer mais com um garoto.

— Oh — dissera ele formando um perfeito O com os lábios. — Já executei diversas transformações de gênero, perfeitamente, se me permite dizer. Então, poderíamos começar com...

— De gênero? Ah, não, não — interrompera Ginny vendo que ele entendera errado. — Eu não quero ser um garoto de verdade, eu só quero parecer com um. Como meu irmão, na verdade.

Gilderoy levantara uma sobrancelha ao analisar Ginny do alto aos pés.

— Esse com certeza é um pedido bem inusitado, senhorita. Mas antes de lhe dizer se é possível, preciso saber como seu irmão é. Teria alguma foto?

— Sim, tenho — Ginny puxara seu celular no bolso do jeans. Procurou uma foto de Geofrey na galeria de fotos, encontrando uma selfie que ele tirara dos dois há algumas semanas atrás. — Aqui.

O homem-dentes-brancos examinou a foto diversas vezes, ora verificando o celular, ora lançando longos olhares a Ginny. As três amigas aguardaram pacientemente.

— Bem, essa transformação será simples, porém trabalhosa. Posso dar um jeito no cabelo, com a barba, vamos ter que te deixar mais reta também, sem curvas. Contudo, você terá que fazer alguns treinamentos de comportamento com a voz, postura, gestos e coisas do tipo. Mas no geral, posso fazer você parecer exatamente como seu irmão, desde que, você consiga ser o seu irmão, minha cara.

— Claro, sim, eu consigo. Com certeza — confirmou ela de todas as formas possíveis.

— Ótimo, então podemos começar imediatamente — ele disse, batendo as mãos no alto para em seguida vários assistentes adentrarem a sala se posicionando ao redor das três amigas. — Comecem a tirar algumas medidas da garota ruiva. Depois vamos verificar qual será o melhor, corte ou postiço. Teremos que dar um jeito nos seios dela também, em seguida as roupas. Há muito o que fazer. Rápido, ao trabalho pessoal!

No instante seguinte, todos os assistentes de Gilderoy começaram a fazer várias coisas ao mesmo tempo, tudo em torno de Ginny. Que era puxada de lá para cá, de cá para lá.

Sentindo-se pela primeira vez como um ioiô, Ginny percebera que agora estava realmente pondo em pratica o seu plano. Definitivamente, iria para Devonshire se passar por seu irmão.

x.x.x.x

Algumas semanas depois, com muitas idas e vindas ao salão de beleza. Sendo que Ginny tinha a absoluta certeza, que sua mãe iria se sentir muito orgulhosa. Ela teve que admitir que Gilderoy era realmente muito bom no que fazia, pelo menos ele convencerá, depois de dar um de guru de estilo fazendo jus à Tim Gunn.

Finalmente ela iria poder saber se aquela transformação valera a pena. Ou pelo menos saber se seria convincente.

— Pronto? Já podemos ver?

Ginny ouviu Katie perguntar com empolgação do outro lado da porta.

As três estavam na casa de Angelina, haviam saído salão de Gilderoy e ido direto para lá. Faltando poucos dias para o início do ano letivo, Ginny iria mostrar a sua transformação para as amigas. Ela havia conseguido colocar toda a sua "fantasia" sozinha — era como elas se referiam a sua mudança de visual —, para se passar por seu irmão gêmeo.

Ao longo daquelas semanas aprendera a se comportar mais como um garoto, praticando uma fala mais rouca, um andar mais duro e desleixado, com gestos do tipo "e aí cara". Contudo, a transformação visual fora a mais radical, ela e Geff tinham um formato de rosto semelhante, o nariz e os olhos eram muito parecidos, no olhos tinham o mesmo tom castanho avelã. Os arcos das sobrancelhas de Ginny tinha uma leve curvatura a mais, no entanto, Gilderoy conseguira fazer a sua mágica e a deixara praticamente igual ao seu irmão. O único detalhe que era o mais imprescindível, fora o cabelo. Ginny sempre tivera o cabelo longo, por isso quando Gilderoy dera as opções de corta-lo para deixá-lo igual ao do seu irmão ou utilizar uma peruca... Ginny certamente optara pela segunda opção, com certeza, afinal seu cabelo sempre fora seu ponto fraco, por isso corta-lo seria muito doloroso. Ou seja, fora de cogitação.

No conjunto total; com uma peruca ruiva, sobrancelhas, barba postiças e vestindo-se exatamente como seu irmão, jeans e jaqueta de couro preto. Aquele era, finalmente, o momento certo para poder saber se iria convencer alguém ao se passar por Geff.

Abrindo a porta, vira as amigas esperando sentadas no sofá da sala. Elas ainda não tinham visto a "fantasia" completamente, somente em partes, por isso quando à viram totalmente vestida como Geff, não tiveram outra reação se não começarem a pular, gritar e baterem palmas.

— UAU! — exclamaram as duas em conjunto.

— Então, gatas, qual das duas topa um role por aí? — Ginny falou num tom grave, imitando a voz do seu irmão. Katie e Angelina caíram na risada, junto com ela.

— Meu Deus do céu, você está praticamente igual ao Geff, Ginny! — constatou Angelina ao analisa-la numa volta de 360°.

— Sério mesmo? — quis saber ela não conseguindo acreditar totalmente. — Será que não estou parecendo uma versão do Marilyn Manson que deu muito errado?

As amigas caíram na risada, Ginny não estava muito confiante na ideia de ir para outro colégio se passar por seu irmão.

Diversas vezes naquela semana, ela começara a surtar de repente, fazendo uma lista de várias coisas que poderiam dar errado por causa daquela maldita ideia idiota — que era como ela mesma se referia ao seu próprio plano. Então Katie e Angelina tinham que acalma-la, dizendo e relembrando a ela, que aquilo tudo era por uma boa causa... Na verdade, a causa e o motivo principal, seriam para que elas pudessem esfregar na cara daqueles idiotas machistas, fazendo-os admitirem de uma vez por todas que uma garota sabia, sim, jogar futebol — mesmo que fosse se passando por um garoto.

As primeiras duas partes do seu plano já estavam concluídas. No entanto, Ginny acabara se esquecendo de um pequeno detalhe: seu álibi.

Por mais que ela tivesse conseguido ter feito a parte principal de todo o esquema, Ginny ainda não tinha como sair despercebida por um tempo indeterminado. Sua mãe estava a cada dia mais difícil de aguentar, obrigando Ginny a ir com ela nos finais de semana passarem um tempo juntas no shopping para de acordo com Madeleine, um banho de loja. Ginny não conseguiria dizer o que era pior; as fofocas dela sobre a vizinhança — sendo que estas Madeleine insista em lhe contar —, os vestidos rosas com estampas floridas e muitos babados que ela implorava para que Ginny experimentasse para depois comprar por conta própria, ou a teimosia dela para que Ginny voltasse a namorar com Michael.

Aquilo tinha que acabar, era horrivelmente torturante.

Contudo, foi num desses finais de semana no shopping que Ginny tivera uma ótima ideia. A qual com certeza faria com que Madeleine não suspeitasse de nada por um bom tempo. Mesmo que fosse uma ilusão. Visto que a parte surpreendente, fora que Madeleine acabará sugerindo a ideia para o seu álibi, por mais que ela não soubesse disso.

Sua mãe lhe dissera — numa das suas várias fofocas —, que a filha mais velha de Apoline Delacour estava fazendo um interessantíssimo curso de moda em Paris. A parte mais interessante era que a filha mais velha da Sra. Delacour iria ficar muitas semanas fora de casa, ou até meses, por causa deste curso... Bem, é claro, aí estava a desculpa perfeita. Pois, desta forma, Ginny conseguiria dar sequência no seu plano maluco. Por isso, mais tarde, ela dissera a sua mãe que fizera a sua inscrição para esse mesmo curso, alegando que gostaria de poder saber mais sobre a moda parisiense com a vantagem de poder apreender a ser mais feminina, diretamente com aqueles que eram experts no assunto, os franceses. O único porém, seria a escola, visto que caso ela fosse passar uma temporada em Paris, teria que faltar no colégio... Mas, para Madeleine aquilo não era um empecilho e Ginny já contava com isso.

Portanto, ali estava seu álibi, o qual sua mãe aprovará de prontidão com um enorme sorriso do rosto — o seu súbito interesse pela moda parisiense.

x.x.x.x

Imponente, essa era sem dúvida a melhor maneira de descrever Hogwarts School. Ou melhor dizendo, grande, muito grande. Mas, o termo correto mesmo seria castelo, um castelo enorme. No entanto, não era um castelo normal igual aqueles que estamos acostumados a imaginar nos contos de fada, e também não era nenhum pouco semelhante ao Castelo da Cinderela no Walt Disney WordNão mesmo. O castelo de Hogwarts School era gigantesco, imponente e principalmente aterrorizante.

Somente por esses detalhes, evidentemente, aquela não poderia ser considerada uma escola normal.

Acostume-se Ginny, você vai ficar aí por um bom tempo.

Hogwarts School era uma instituição em período integral, basicamente um internato. O colégio era conhecido por aceitar inúmeras transferências de alunos mal disciplinados, irresponsáveis ou sem solução. Por causa disso, haviam muitos boatos sobre a escola. Alguns eram totalmente exagerados, certamente, pois estes diziam que os alunos que quebravam as regras no colégio eram mandados para câmaras de gás subterrâneas e nunca mais eram vistos, diziam também que uma garota morrera num banheiro feminino assombrando-o desde então... Os pais é claro, não sabiam de nenhum daqueles boatos ou não davam a minima para eles. Pois a maioria deles mandavam seus filhos para aquela instituição, por que acreditavam que somente ali seus filhos poderiam tomar jeito. Ginny não acreditava em nada daquilo, apesar de que muitos dos seus colegas que já foram transferidos para Hogwarts, nunca mais voltaram. Ela só não tinha certeza, se aquilo era bom ou ruim.

Porém, naquele instante — mesmo que se ela quisesse —, não teria mais como voltar atrás.

Foram 3hrs e mais alguns minutos de viagem no New Beetle amarelo que Katie havia ganhado de presente dos pais. E lá estavam as três, contemplando o imponente castelo de Hogwarts School.

Katie e Angelina insistiram em levar Ginny para o condado de Devonshire, pois Hogwarts ficava na parte norte do condado, portanto, para deixa-la em segurança dentro do colégio — na verdade, elas estavam com receio de que Ginny acabasse desistindo do plano e fugisse. Por isso, queriam ter certeza de que ela passaria pelos portões. Porém, não imaginavam que aqueles portões seriam tão grandes.

— Olha só, eu ainda posso voltar. Vou comprar uma passagem para Paris e ir fazer aquele curso. Sei lá, acho que seria melhor eu começar a fazer o que minha mãe acha que eu estou fazendo, só para variar um pouquinho — Ginny falara enquanto as três olhavam pelo painel de vidro do carro vislumbrando a imponência do castelo e seu enorme portão de ferro fundido.

— Não, você não vai fazer isso — alegou Katie. — A Ginny que nos conhecemos não desiste nunca. A Ginny Weasley que eu conheço, bate no peito e em cara de frente qualquer desafio. Por isso, não. Você não vai desistir, nos não vamos deixar você fazer isso! — Katie fizera seu discurso convicto, segurando Ginny pelos ombros para fazer com que ela entendesse, de uma vez por todas, que aquilo não era uma opção.

Balançando a cabeça, Ginny fechara os olhos e respirou fundo.

— Você tem razão eu não posso desistir, não agora. Porque, nesse caso, é tudo ou nada.

Momentos depois elas saíram do carro, Katie e Angelina ajudaram Ginny a retirar suas malas do bagageiro e foram com ela até os portões. Lá avistaram a entrara para o castelo. Alguns alunos já entravam, enquanto um homem muito alto e grande gritava para todos "Alunos novos, alunos do primeiro ano por aqui!".

— Então é isso — disse Angelina, ao passo que elas contemplavam a cena — Boa sorte amanhã, Ginny. Já sabe, né? Se precisar de qualquer coisa, é só ligar. Ok? — concluiu ela e as duas se abraçaram.

— É isso aí. Se te tratarem mal ou qualquer coisa do tipo, não seja teimosa ou durona, é só dar um grito que a gente vem correndo — Katie falou sorrindo e as três riram. Essa era a parte mais dolorosa para Ginny, se despedir das suas melhores amigas.

Não é um adeus. Eu não vou ficar aqui para sempre.

— Ok. Então, até depois suas molengas — dizendo isso, as três deram um apertado e ultimo abraço. Em seguida, Ginny virou-se em direção aos portões de Hogwarts School.

Sendo um plano maluco ou não, ela tomara sua decisão.

x.x.x.x

Ginny não sabia porque fora mandara para aquela sala.

No entanto, ali estava ela sentada de frente para a vice-diretora de Hogwarts. Uma mulher com aproximadamente cinquenta anos. Deveria ter sido muito bonita na sua juventude, mas naquele momento o único aspecto que ela demonstrava era severidade. Tinha os cabelos presos num coque apertado e usava óculos de lentes quadradas. Mas, sua expressão era implacável e inflexível.

— Gostaria de lhe dar as boas-vindas Sr. Weasley — dissera ela num tom austero. — Como já deve saber sou a vice-diretora, Minerva McGonagall. Estou ciente do seu histórico escolar em Holloway School, contudo quero que saiba que nesta instituição não serão aceitos qualquer tipo de rebeldia, indisciplina ou desleixo. Por isso, a sua única preocupação deve ser com o seu aprendizado. E devo dizer, que estarei sempre verificando o seu progresso. Neste caso, espero que não me desaponte.

Com certeza, Ginny não iria querer desapontar a vice-diretora.

Em seguida, ela mandara chamar um aluno que iria mostrar a ala dos dormitórios para Ginny, ou melhor dizendo, para Geofrey. Alguns instantes depois, Geofrey estava sendo conduzido pelos enormes corredores de Hogwarts para os dormitórios. Aquela escola era praticamente um labirinto, ela não sabia se iria conseguir se lembrar de todo o caminho mais tarde.

— Não se preocupe, você não vai precisar se lembrar de todo o caminho depois. Todo mundo é mandado para os dormitórios em conjunto, por isso sempre vai ter alguém para te mostrar aonde fica. E com tempo você se acostuma — informara a monitora-chefe que a vice-diretora coordenara para mostrar a ala dos dormitórios à Geff.

Ginny não estava preocupada.

Não. Em pânico seria o termo mais apropriado.

Caramba, será que essa garota lê pensamentos?

— Seu nome é Geofrey Weasley, certo? — perguntara ela, logo depois. E Ginny pode apenas confirmar com um aceno de cabeça. A monitora-chefe franziu o cenho ao observar o aluno novo demonstrando que estava achando-o meio esquisito.

Droga. Ela está deve estar pensando que você é muda ou maluca Ginny. Diga alguma coisa!

— E você... — começara ela, mas percebera rapidamente que sua voz estava no tom normal, por isso limpando a garganta indagara num tom rouco: — Qual seu nome?

— Ah, Hermione Granger — respondera a monitora-chefe com um grande sorriso, estendendo a mão num gesto de cumprimento.

Ginny aceitou o cumprimento, lançando um sorriso contido para Hermione.

Logo depois, continuaram a subir várias escadas, dobrando mais alguns corredores. Mais alguns passos depois, finalmente chegaram em frente a uma porta que dizia "Ala masculina"...

Masculina, que começava com a letra M, de macho, relativo a homens. Garotos. Merda!

Ginny estava paralisada, olhando para aquela insígnia. Que poderia significar muitas coisas...

— Bom, essa é a ala masculina — anunciou Hermione, quando percebeu que o aluno novo continuava parado no mesmo lugar. — Olha, deve ser bem difícil ser transferido. Mas, sabe, aqui não é tão ruim. Com o tempo você vai perceber que Hogwarts é um ótimo lugar para se estar e aprender.

A monitora-chefe continuava ali e Ginny percebera que ela estava tentando tranquilizar o aluno novo que deveria estar com uma expressão de medo e pavor.

— Valeu, eu acho...

Ginny respirou fundo e preparou-se para entrar na ala masculina, quando Hermione voltara a dizer:

— Ah, só mais uma coisa. As aulas vão começar amanhã, vai ter um mural no salão principal com todos os horários e você pode... — ela interrompeu-se de repente, e num instante de hesitação tirara uma folha de dentro de um dos seus muitos livros que segurava nos braços. — Aqui, essa é a grade de horários para o último ano. Seja bem-vindo a Hogwarts.

Ginny notara que aquela deveria ser a grade de horários dela, pois havia muitas anotações nas aulas de Literatura, Química e Matemática. A monitoria-chefe de cabelos castanhos, crespos e cheios, pele morena, feição amigável e um grande sorriso no rosto deveria ser a melhor aluna de Hogwarts.

— Obrigado, mas eu acho que não é necessário...

— Tudo bem, eu tenho outra — alegou ela, com aceno logo sairá pelo mesmo corredor que vieram. — Nos vemos nas aulas!

Vendo a monitora-chefe sumir pelo corredor, Ginny percebera que estava sozinha pela primeira vez naquele dia. Então, mas uma vez respirou fundo tendo acalmar as batidas do seu coração.

São só garotos Ginny, não monstros.

No entanto, aquilo só poderia ser um equívoco. Visto que, garotos não deveriam agir como um aglomerado de babuínos bobocas balbuciando em bando. Só que era mais ou menos isso mesmo que eles estavam fazendo, quando Ginny entrara na Ala dos dormitórios masculinos.

Pelo corredor aonde ficavam os quartos, haviam várias portas de cada lado das paredes e várias destas estavam abertas. Muitos aviõezinhos de papel eram atirados para todos os lados, bolas de basquete e futebol, alguns deslizavam num skate pelo chão, outros pulavam, gritavam, muitos falatórios e música alta, muito alta. No geral era um caos, puro e simplesmente. Ginny num misto de surpresa e coragem fora direcionando-se por entre os aviõezinhos de papel, as bolas de basquete e de futebol, desviando dos skatistas e ignorando os olhares curiosos que ela conseguira chegar no quarto de número, quarenta e dois. Este estava aberto, por isso, num sobressalto para tentar se livrar de uma vez por todas daquela loucura Ginny entrara correndo fechando a porta com baque logo em seguida.

Estando de costas para a porta, com a respiração irregular e de olhos fechados, Ginny não percebera que o quarto não estava vazio. Quando abriu os olhos percebeu que estava sendo observada e inspecionada por um par de olhos.

Droga, você tem um colega de quarto Ginny.

Um colega de quarto bem atraente, por sinal, ela percebeu. Ele estava sentado na beirada da cama com o controle do seu playstation na mão, mas não fora isso que Ginny notara logo no início. Não mesmo. Pois seria muito difícil prestar atenção em qualquer outra coisa, tendo no mesmo cômodo, um rapaz moreno de cabelos pretos bagunçados e pelo que ela pode notar, olhos verdes-esmeraldas intensos. E provavelmente por causa do clima quente que estava fazendo naquele dia, ele não achara necessário usar uma camiseta e Ginny, obviamente, não pudera deixar de perceber que ele tinha uma ótima condição física.

Qual é o problema dos homens afinal? Será que é tão difícil assim ficar de camiseta no verão?

Mas, ela sabia que não estava sendo justa. Pois tudo aquilo que é bonito tem deve mostrado, não é mesmo? E seria um enorme desperdício não poder ter aquela visão. Momentaneamente sem fôlego. Ginny percebera que o seu colega de quarto atraente estava observando-a com uma expressão intrigada. Então ela entendera que deveria ser por causa do garoto estranho do outro lado do quarto que estava babando por ele... Ou melhor dizendo, encarando-o.

— Err... E aí... — começou ela, sem saber o que dizer exatamente. Passou as mãos pela peruca ruiva de fios curtos com nervosismo, e percebera que as maças do seu rosto estavam quentes.

Qual o seu problema Ginny? Não é hora para ficar tímida e muito menos corar. Seja homem!

— Oi — ele cumprimentara de volta com um olhar avaliador, e Ginny não pudera deixar de notar que a voz dele era incrível.

Limpando a garganta pela segunda vez naquele dia, adquirindo a postura mais máscula que ela conseguira naquele momento, Ginny lançou um sorriso simpático ao seu colega de quarto.

— Então, eu sou novo aqui... — falou e percebeu que fora uma idiotice, pois deveria ser a coisa mais óbvia do mundo. — Ah, meu nome é Geofrey. Geofrey Weasley — apressou-se em dizer.

Por fim percebeu que o seu colega de quarto, arqueou as sobrancelhas demonstrando estar surpreso com alguma coisa que ela dissera. Ginny só não saberia dizer sobre o que exatamente ou o porquê daquela reação. Mas, num instante ele voltou ao normal.

— Harry Potter, bem-vindo a Hogwarts — disse simplesmente voltando a sua atenção para o que estava fazendo.

Ginny podia não estar muito tranquila naquele momento — afinal suas pernas estavam bambas e suas mãos estavam suando —, mas ela percebera que o seu colega de quarto não estava muito feliz e também tivera a impressão de que não fora bem recebida.

Harry Potter poderia ser um cara atraente, ter os cabelos negros desalinhados mais bonitos que ela já vira e olhos verdes incrivelmente hipnotizantes. Mas ele com certeza, não era o cara mais simpático que Ginny já conhecera.

Que maravilha, meu colega de quarto mal me conhece e já me odeia.


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Notas finais do capítulo

Demorou, mas saiu, eu estava maluca aqui para conseguir terminar o quanto antes esse capitulo, porque, eu queria muito que a Ginny fosse o quanto antes para Hogwarts, e agora ela finalmente chegou... E eu estou com várias ideias na cabeça, por isso, não sei dizer o quanto o próximo capitulo vai demorar, vai depender se as minhas ideias vão fluir rapidamente ou não...

Enfim, espero que tenham gostado desse capitulo... Por favor, comentem!