Para Sempre escrita por Lu


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Olá, leitoras! ♥

Estávamos com muitas saudades do Nyah!, e de todas vocês. Esperamos, de coração, que vocês gostem. Eu adorei retornar a Terra Média, principalmente, para I See You.
Sem mais delongas, boa leitura! *-*



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— Nana, tudo bem? — o príncipe indagou ao aproximar-se de sua mãe. Os olhos de Luna permaneciam fixos no trono de seu esposo, memorizando cada traço daquele assento imponente e magnífico. — Logo partiremos, alguns já nos esperam nos Portos Cinzentos.

A rainha da Floresta Verde não o respondeu de imediato, apenas permaneceu na mesma posição, completamente paralisada. Suas mãos frias encontravam-se postas em cada lado de seu corpo, e seu típico olhar de verão não poderia estar mais escurecido.

— Mãe? — Finwë voltou a proferir, tentando ganhar ao menos um olhar.

— Eu vivi mil e quinhentos anos neste lugar, e agora parece-me que todo este espaço de tempo foi insuficiente. — suas vestes brancas desciam como cachoeiras de seda sobre seu corpo e a coroa de prata contrastava com seus cabelos negros. Sua figura parecia quase irreal já que ela era a última rainha élfica na Terra Média. — Contudo, sei que não há mais nada aqui para nós.

O príncipe suspirou e, em seguida, assentiu. Sua postura ereta e seu rosto desenhado não deixavam dúvidas sobre quem era seu pai. E como ele, Finwë tratou de camuflar suas emoções ao dizer com firmeza:

— Não há mais nada aqui para nós. — o elfo engoliu o bolo que crescia em sua garganta. Ele era um príncipe, e deveria agir como tal. — Foi ao túmulo dele, se despedir?

Aquela pergunta perfurou o coração de Luna, fazendo-a, finalmente, desfazer-se de sua inércia. Os olhos azulados da rainha voltaram-se para trás, como se já pudessem visualizar a pedra lisa e o jardim que adornava o eterno local de descanso.

— É apenas um corpo morto, como um recipiente vazio. Ele não está lá, nunca esteve. — ela se ouviu proferir, quase em um fio de voz.

— Nana, não sofra… — o filho pediu antes de abraçá-la, subitamente. Ela o rodeou com seus braços, como costumava fazer quando Finwë ainda era pequeno, seu pequeno príncipe. Agora ele era alto e magnífico, a cópia exata de seu pai. Com exceção dos cabelos e dos olhos, a herança da parte de sua mãe. — Aman espera por nós, seus últimos filhos ainda distantes. Ouça o canto do Oeste nos chamando, está na hora de ir.

Luna chorou mais uma vez, acolhida nos braços de seu filho. Quão grande era seu amor por tudo aquilo, por aquela terra, aquela floresta, aquele reino. Depois de alguns minutos, suas lágrimas cessaram e seu rosto se suavizou. Os pássaros cantavam em algum lugar, e ela pensou em como sentiria falta daquele som.

Eles caminharam para fora da Sala do Trono, se afastando cada vez mais de tudo que conheciam, e a elfa observava os corredores de seu lar passarem diante de seus olhos, lentamente. Agora eles estavam vazios e silenciosos, com algumas folhas secas adentrando o lugar e cobrindo parte do chão.

Ela ergueu o rosto para fitar o de seu filho e percebeu o brilho de saudade que irradiava de suas íris esverdeadas. Mas, ele não proferiu nenhuma palavra, elas eram desnecessárias naquele momento.

Ambos logo chegaram ao Grande Portão, sendo recebidos por Elenor.

— Vossa Majestade, Alteza. — o capitão os saudou com uma reverência. — Está tudo pronto, podemos partir.

Luna podia ouvir o cântico de seu povo, ao fundo. Era suave e harmonioso, como as águas dos rios. Eles se despediam da floresta e, como em resposta, um vento corria por entre as árvores e balançava suas folhas.

As primeiras fileiras já caminhavam para a trilha, partindo, e tudo o que se podia ver era a esperança de uma nova vida brilhar em seus rostos.

— Mãe… — Finwë chamou-a, voltando a atenção da elfa para o cavalo posto diante de si. Ela sorriu e massageou a pelagem castanha da montaria, sussurrando palavras doces em seu ouvido. Após sua partida, ele ficaria aos cuidados da neta mais nova de Eldarion.

Luna se afastou, apoiou um dos pés no estribo da sela e, com toda graça e nobreza de uma rainha, o montou. O animal relinchou e bufou, como se soubesse que aqueles eram seus últimos momentos juntos. Então, a elfa tratou de acalmá-lo, como sempre fazia, segurando as rédeas com firmeza.

Ela ergueu o olhar para fitar o portão do palácio — uma última vez — e assim sorriu minimamente. O vento soprou mais forte. Ela guardaria aquela visão para sempre em suas memórias.

— Minha senhora? — Elenor se pronunciou, mas Luna não proferiu palavra, apenas assentiu com a cabeça. Já estava pronta para partir. Quando Finwë se aproximou em sua montaria, eles seguiram para a Trilha da Floresta.

O caminho rodeou o coração de Luna como os braços de uma mãe, pois, a saudade já descia sobre seu coração.

Horas depois, a rainha da Floresta Verde sentiu seus olhos marejarem ao contemplarem o antigo reino de Lothlórien — totalmente coberto pela sombra do vazio, vazio causado por conta da partida de seus antigos moradores — e então a tristeza da despedida foi abatida pela breve felicidade.

Ela logo veria Galadriel e Celeborn, veria tantos outros, quem sabe Mithrandir. Quanta saudade sentia de seu amigo. E Elrond, sim, o antigo senhor de Valfenda, como deveria estar? Ao lado de seus dois filhos e de sua esposa, apenas Arwen era tirada desta contagem. Luna ainda conseguia se lembrar de seu triste memorial na Cidade Branca e de seu túmulo em Cerin Amroth.

Ela mal conseguia acompanhar o decorrer da jornada, pois, estava perdida demais em seus pensamentos.

Como gostaria de ter o marido consigo naquele momento.

— Vossa Majestade, veja! — Elenor chamou sua atenção, fazendo-a notar as pessoas que os seguiam e acenavam, proferindo palavras de despedida para os últimos elfos a deixar a Terra Média. Só então a filha de Orodreth notou que já estavam nas redondezas de Rohan.

Ela decidira tornar o caminho mais longo, revisitando antigos reinos e revivendo suas memórias mais gloriosas. Só depois retrocederiam o caminho e seguiriam para o noroeste da Terra Média, para o destino final.

— Você se lembra, meu amigo? Lembra-se dos netos de Éomer brincando por esses campos ao lado dos filhos de Eldarion? Lembra-se dos cavalos de Edoras correndo contra o vento? — ela fez uma pausa, semicerrando os olhos e observando em volta, nostálgica. — Finwë ainda estava em sua juventude… — exclamou para frisar a distância de tais lembranças. — está tudo tão diferente.

— Sim, está. — o elfo respondeu, exibindo um sorriso mínimo. Um leve soprar balançava seus cabelos longos. — E que grande beleza vemos nesta renovação.

Ela o fitou, também sorrindo.

— Que grande beleza… — concordou, retornando seus olhos azulados para a visão da brisa balançando os campos. Ela os fazia dançar harmoniosamente, indo e vindo, de um lado para o outro.

O sol caía e se erguia no céu durante os longos dias da jornada. Agora a rainha podia ouvir a voz de tudo e de todos, todos aqueles que já haviam partido, levados pelo tempo, e seus rostos vieram à sua mente. Ela relembrou-se da lealdade de Nathrini, da bravura de Dwalin, da gentileza de Balin, o sacrifício de Elros, da amizade de Bëor, Dior e Húrin, da firmeza de Gimli, da honra de Dáin e, por fim, do amor de Bard.

Ah, Bard… a elfa ainda conseguia sentir o peso daquele sentimento sobre seu coração, e a voz dele ressoava nas paredes de sua alma, abraçando-a ainda que por uma breve lembrança.

Durante horas, todo o percurso diante de seus olhos brilhantes a relembrou de sua existência naquele lugar, e a rainha se pôs a imaginar em como tudo ficaria com o decorrer dos anos, séculos, milênios. Céus, e como se alegrava em saber que tudo aquilo teria continuidade, que não era o fim.

Ainda não…

Luna suspirou e ergueu o olhar, desta vez, observando de verdade. Suas íris atentaram para o caminho e ela viu os grandes portões de Mithlond, sabendo que era o fim de sua jornada na única terra que conhecera. Mas, também sabia que era o início de uma ainda mais bela e rica, rica em felicidade.

Hîril vuin! — Luna ouviu a voz de Laurelin e logo viu-a atravessar o arco próximo do lugar onde se encontrava. A elfa sorria em sua direção, alegre em revê-la depois de tanto tempo.

Finwë se aproximou para ajudá-la a descer de sua montaria e logo Luna estava nos braços de sua amada nora.

— Meu coração se alegra em revê-la, Majestade… — a loira exclamou ao se afastarem, ainda sorrindo docemente.

— Minha querida! — ela a saudou, tocando em seu rosto rosado enquanto o filho tomava lugar ao lado de sua esposa. Luna sorriu ainda mais ao observá-los juntos. — Que bom que estão aqui, comigo…

— Serei para sempre seu, minha senhora! — Finwë lisonjeou-a, curvando-se para capturar seu pulso e beijar a costa de sua mão. A rainha e sua nora riram do elfo, e era tudo o que ele queria ver: sua mãe sorrir. — Vamos… — o príncipe ofereceu ambos os braços para as damas e assim seguiram para dentro da belíssima construção.

Eles caminhavam em silêncio, pois, mais uma vez, as palavras eram desnecessárias. Os elfos que partiram do reino junto consigo vinham logo atrás, e tudo não poderia soar mais cerimonioso. Luna outra vez quis chorar, mas não de tristeza.

“Que bom que estamos todos juntos…”, pensou com emoção.

Ela já podia avistar grandes e numerosas embarcações, todas construídas por seu povo. Há muito elas vinham sendo preparadas e a rainha nunca conseguira descrever o sentimento que sentira ao receber a notícia de que tudo estava pronto.

— Onde está Oropher? — perguntou ao voltar os olhos para Finwë.

Os três pararam e, soltando-se de sua mãe gentilmente, o príncipe sorriu ao apontar para um lugar atrás dela.

— Seu neto está ali, nana.

Luna se voltou e, depois de alguns segundos de procura, avistou os cabelos loiros da criança. Como se sentisse sua presença, Thranduil girou o corpo, ainda sorrindo com o neto no colo, e fixou seus olhos azulados na figura de sua esposa. Seu sorriso era sublime, como uma manhã de primavera, e seus cabelos eram balançados por um vento suave bem atrás de suas costas.

Uma figura muito distante daquele elfo que ela contemplou na primeira vez em que esteve na Sala do Trono.

Ele passou a caminhar em sua direção, lento e nobre, como o amanhecer. Depois de tantos séculos, Thranduil ainda tinha a capacidade de fazer o coração de sua rainha bater descompassado.

— Finwë, se viesse mais devagar teriam se passado mil anos. — foram suas primeiras palavras antes de voltar seu olhar para Luna. — A sua irritante mania em me confrontar parece não ter desaparecido com o tempo, você optou em permanecer no reino apenas para me incomodar.

— Se lhe conforta saber, meu senhor, não se passou um dia sem que eu sentisse a sua falta. — ela retrucou e aquilo o desarmou por completo, fazendo-o curvar o canto dos lábios em um sorriso mínimo. — E você, meu querido Maitimo… — Luna aproximou-se do esposo para ver melhor a criança em seu colo. Ela os abraçou e o neto sorriu ainda mais, dizendo algumas palavras na língua que seu pai o estava ensinando; a língua de Valinor.

Thranduil observava a conversa dos dois, emudecido. Ele dividia seus olhares entre sua rainha e a criança, quase não acreditando que tudo aquilo era real. Erguendo os olhos, o loiro avistou o filho caçula e sua nora. E como eram felizes, seriam eternamente. Logo ele veria Legolas, seu primogênito, e o abraçaria pela saudade em seu coração…

Sua família.

Quando poderia imaginar que um dia seria tão abençoado? Quando teria desconfiado que seu mar extenso e profundo de mágoa e tristeza seria convertido na mais sublime e duradoura das felicidades?

— Majestade. — Finwë se aproximou quando Luna tomou Oropher dos braços de seu esposo. O elfo inclinou cabeça, respeitosamente, e logo seus olhos de jade voltaram a se fixar na figura de seu pai.

Ele agora trajava as vestes de seu povo e seus cabelos logo estariam longos, como de costume. Thranduil quase riu ao relembrar-se da antiga teimosia e das infinitas discussões com seu filho mais novo.

E quão grande e honrado príncipe ele havia se tornado.

— Meu filho. — o rei o saudou, observando-o minuciosamente. Em outros tempos seu olhar de inverno poderia tê-lo sufocado, mas, agora Finwë conseguia sentir o que a postura rígida de seu pai tentava esconder. — Eu mereço o seu amor?

O outro elfo sorriu, repousando as mãos em ambos os ombros do mais velho e apertando-os entre os dedos antes de responder:

— O senhor tem o meu amor, pai. — e então o abraçou, surpreendo Thranduil, que não se demorou em retribuí-lo. — Logo estaremos todos juntos outra vez… — disse o príncipe, referindo-se a seu irmão. Ele se afastou e fitou o rei, sorrindo suavemente.

Finwë ouviu um “ada!” e em seguida voltou-se para seu filho, agora nos braços de Laurelin. A elfa riu e Oropher agarrou-se ao pescoço dela quando ele se aproximou dos dois. O filho de Thranduil abraçou-os e beijou o rosto do pequeno com um amor que iluminava seu semblante.

Aquela visão aqueceu o coração do senhor da Floresta Verde com o calor de dois sóis.

Ele sentiu alguém se aproximar e logo o corpo de Luna fez-se presente a seu lado. Eles se entreolharam e o loiro sentiu-se extasiado ao contemplar as íris de sua amada, sentiu-se abençoado ao vê-las brilhar como as estrelas.

A comitiva do Alto Rei se aproximou e o herdeiro de Eldarion colocou-se diante do elfo, curvando-se respeitosamente.

— Meu senhor Thranduil. — o homem o saudou. — Que os Valar guardem seu caminho e que a luz das Terras Imortais jamais permita que a vossa existência se perca na história dos homens. Dou minha palavra de que cantarei os cânticos de seu povo e que os vossos nomes não submergirão no tempo enquanto eu viver, e ainda depois de minha partida para os braços de meus antepassados.

Uma salva de palmas foi ouvida.

— Abençoado seja este dia, abençoada seja a sua linhagem. E que Elendil, filho de Eldarion, filho de Elessar, Alto Rei dos homens, seja lembrado por muitos séculos depois do fim de seus dias. — o elfo curvou a cabeça em sinal de honra e respeito. — Já não sou mais Thranduil, Rei da Floresta Verde. — ele disse ao erguer os braços para retirar a coroa de folhas vermelhas de sua cabeça, entregando-a ao governante dos Reinos Unificados. — Guarde-as em seus tesouros e que elas sirvam de lembrete, para a raça dos homens, de seus eternos irmãos que residem no Oeste. — ele se voltou para Luna, a seu lado, e ao vê-la se inclinar retirou gentilmente a coroa prateada de sua cabeça para entregá-la a esposa de Elendil.

Os convidados se afastaram e o caminho até o início daquela nova jornada agora estava bem diante de seus pés.

Thranduil ergueu uma das mãos e logo a elfa repousou a sua na dele. Ele voltou o olhar para a embarcação que os levaria e também fitou seu povo, que os aguardava. Todos agora os observavam atentamente, encantados pela beleza do amor que os cercava.

O loiro os guiou pelo corredor que se abria diante deles e o som das ondas batendo contra o cais de pedra inundou seus ouvidos.

— Está pronta para iniciar mais esta caminhada ao meu lado, minha senhora? — ele indagou e Luna sorriu, ainda com os olhos fixos no percurso à frente.

— Eu jurei que o faria por toda a eternidade. Não se lembra, meu senhor? — foi a vez de Thranduil sorrir.

Eles se separaram por alguns segundos quando Luna pisou na rampa e adentrou a embarcação, sendo seguida por seu marido. A elfa caminhou para a proa, observando o horizonte que os esperava, e o elfo a acompanhou, analisando-a em silêncio.

O sol iluminava o rosto de Luna e Thranduil admirou sua beleza intacta. Seus longos cabelos negros desciam por suas costas, sua pele alva e delicada, seus olhos brilhantes e vistosos… quase mil anos e ela ainda era Luna, sua Luna.

— Obrigado — ele proferiu e ela o fitou com o cenho franzido pela confusão. — por tudo isso. — Thranduil girou o corpo para olhar a família de seu filho, que estava em outra parte do barco, e todas as outras embarcações que eram preenchidas por seu povo. Ela ganhou seu olhar outra vez. — Hannon le, melleth nîn

Sorridente, Luna aconchegou-se em seus braços quando ambos sentiram a embarcação se mover para longe do cais.

Agora estavam indo para casa.

— Ainda vai me amar amanhã de manhã? — ela questionou e ele se lembrou muito bem daquela indagação. Com um sorriso suave emoldurando os lábios finos, seu eterno soberano a respondeu:

— Para todo o sempre…

FIM


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Notas finais do capítulo

Hîril vuin - Minha senhora
Hannon le, melleth nîn - Obrigado, meu amor
...

Esperamos que tenham gostado, muitos beijos! *-*