Encounter escrita por Sak Hokuto-chan


Capítulo 2
One Night With You


Notas iniciais do capítulo

Esqueci de avisar na nota do capítulo anterior, mas essa fic será atualizada uma semana sim e outra não, tá? Além disso, não custa avisar que qualquer tipo de repetição é proposital... ;3

Orphelin, meu carneiro-beta, obrigada pelas revisões todas~



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Capítulo II

One night with you
Is what I'm now praying for
The things that we two could plan
Would make my dreams come true
One Night With You - Elvis Presley

***

Havia um rapaz de cabelos compridos que tinha acabado de sair de um banheiro minúsculo, um rapaz com uma tatuagem de escorpião que resolveu abordá-lo ali mesmo e um espaço que diminuía cada vez mais entre seus corpos.

— Estou realmente surpreso por você ter aparecido na praça... – disse Milo, seus lábios quase tocando os brincos na orelha de Mu enquanto suas mãos se mantinham na parede, encurralando-o contra a porta do banheiro.

— Ora, não é como se eu nunca aparecesse... – replicou, sentindo o cheiro de shampoo e fumaça nos cachos dourados que se misturavam com seus fios lisos sobre seu ombro, tamanha era a proximidade entre eles.

O efeito do único copo de álcool que Mu consumira já tinha acabado ou talvez fosse só uma impressão sua. Milo parecia mais sóbrio também, o que era ainda mais desconcertante, e continuava sem camisa. O torso bem delineado perigosamente perto, fazendo-o se retrair, as costas se apertando contra a porta de madeira como se quisesse atravessá-la.

Mu estava pensando em como é que ia sair dali – era muito, muito ruim em escapar ao ser cercado por alguém daquele jeito, ficava sem graça e corava e queria se esconder; céus, como era constrangedor! – quando teve um sobressalto ao sentir uma mecha do cabelo ser enrolada.

— Ehrm... Milo, eu preciso voltar lá pra fora...

— Você está se pegando com o Aiolia?

— Quê? Ahn, não, mas...

— Sabia que ele é muito estouradinho? – perguntou Milo, inclinando-se um pouco mais sobre o rapaz de cabelos compridos enquanto ele balançava a cabeça em uma negativa incerta. – Sério? Observe então, pois ele está vindo pra cá...

Mu apoiou as mãos nos ombros de Milo, empurrando-o um pouco para trás, antes mesmo de olhar para o lado com a boca entreaberta. Era verdade, Aiolia se aproximava com passos pesados e cara fechada, mal notando quando esbarrava em alguém.

— Por que você...?

— Pentelhar o Aiolia é um dos meus hobbies! – Milo respondeu, alegre, embora o próprio Mu não soubesse direito o que pretendia perguntar.

Milo.

— Hey, ele me pentelha o tempo todo também!

— Eu devia filmar isso e mandar pro Camus – disse Aiolia com voz sombria ao alcançá-los. Carregava uma garrafinha plástica de água que fez questão de encostar no rosto de Mu.

Ele apanhou a garrafa, agradecido por ter algum frescor naquele lugar abafado.

O rapaz com a tatuagem de escorpião cruzou os braços, ficando tão sério quanto o recém-chegado.

— Não me fale daquele ruivo maldito!

— Ah, ele te deu um fora?

Milo soltou um palavrão, abrindo a porta do banheiro e empurrando tanto Mu quanto Aiolia para dentro antes de entrar também e fechá-la. Não se preocupou em acender a luz, considerando a tênue iluminação que entrava pela janela estreita, vinda dos jardins, suficiente.

Enquanto Milo perguntava quem, em sã consciência, seria capaz de lhe dar um fora e Aiolia relembrava dos trocentos foras que Camus havia dado antes de ficar de saco cheio e aceitar sair com Milo; Mu só conseguia reparar no quanto o banheiro era mesmo pequeno e o quanto era absurdo que estivessem os três ali, discutindo em volta de um vaso sanitário.

— Exato! Camus negou muito, mas, no fim, não me resistiu!

— Aham, e cadê ele agora, então?

— Deve estar dormindo, aquele velho...

— Cansou de você, já entendi.

Eles começaram a discutir com tal vivacidade, trocando tantas ofensas, que Mu teve certeza de que eram muito amigos. Só não entendia porque estava ali no meio...

— Cale-se, Milo! Então o Camus te larga e você parte pra cima de gente indefesa?

Mu estava enrolando as mangas da blusa para cima e levou um instante pra perceber que era o indefeso ali.

— Eu não sou indefeso, eu só... – tentou explicar, mas percebeu que o rapaz de olhos verde-azulados estava prestes a ferver para o seu lado também. – Eu fui surpreendido e... Por que você veio pra cá?

— Eu vim aqui porque você estava demorando pra voltar do banheiro... achei que a mulherada tinha te cercado de novo.

— Ah, não. O Afrodite chegou... elas estão tão ocupadas, venerando-o, que sequer me viram passar.

Era verdade. Mu só ficou intrigado com o fato delas não tentarem tocar Afrodite em nenhum momento. Mas, pensando bem, Afrodite emanava um aura intocável o tempo todo. Tinha a beleza das estátuas, feitas para serem admiradas, não alcançadas. Por outro lado, agora que pensava nisso, elas não tinham tentado tocar em Aiolia também. Talvez fosse algo que precisasse aprender...? Ah, mas aquela garota com olhos felinos bem que tinha tocado bastante nele...

— Hey, ninguém me largou, não! – exclamou Milo, ofendido. – O Camus só não veio porque tinha que estudar, dormir cedo e tal. E eu só estava brincando agora. Fora que era óbvio que o Mu não ia ceder porque... – interrompeu-se, dando uma olhada bastante sugestiva para Aiolia. Alternou o olhar para Mu e, quando ninguém disse mais nada, perguntou: – E aí, vocês vão se pegar ou não?

Aiolia revirou os olhos e Mu teve que rir:

— Aqui? Por cima do vaso? Com você assistindo?

— Eu fico quieto, juro! – Milo ainda tentou, inclinando o rosto para o lado em sua melhor cara de sou um bom menino.

Aí, começaram a bater na porta e eles tiveram que sair sob olhares confusos. Ninguém entendeu o motivo de terem três pessoas dentro daquele banheiro minúsculo, mas nenhum deles se incomodou em explicar.

— Alô, Camus!

— Onde? – Milo quis saber, antes de perceber que Aiolia estava falando no celular. No seu celular, por sinal, embora nem tivesse percebido quando foi que o desgraçado o afanou do bolso de trás de sua calça jeans. – Droga, me dá isso! O que você está fazendo?

E, sabe-se lá por que razão, os dois começaram a andar em volta de Mu. Assim, como se o rapaz de cabelos compridos pudesse representar algum tipo de barreira entre eles. Milo tentava pegar o celular ao mesmo tempo em que Aiolia se esquivava, dizendo para Camus o quanto Milo estava dando trabalho e precisava de atenção.

— Mentira! – Milo protestou, quase caindo para trás quando Aiolia praticamente enfiou o celular em sua cara.

— Fala aí com ele – disse, já segurando o pulso desnudo de Mu para se afastarem dali rapidinho. A pele pálida se arrepiou sob seu toque frio e um pouco áspero. – De nada, Milo!

— Vá se danar! Não, não você, Camus...

Foi só quando estavam de volta ao portão, fora do alcance de Milo, que Mu se permitiu sorrir. Mais confuso do que alegre.

— Melhor a gente dar uma volta – disse Aiolia, olhando por cima do ombro para ver se Milo já não estava atrás deles.

Entretanto, Mu só conseguia olhar para aquela mão que ainda segurava seu pulso. Parecia tão natural.

*

Havia um rapaz de cabelos compridos que não estava entendendo muito bem, um rapaz de olhos verdes que, talvez, fossem azuis ficando aborrecido e uma dupla de rapazes idênticos bastante persuasiva.

— Qual é, Aiolia, você acabou de falar que ia dar uma volta, nós ouvimos – disse o gêmeo que se apresentara para Mu como Kanon.

— Não pra fazer compras a essa hora!

— São só umas bebidas aqui pra festa, é rápido – explicou Kanon, já abrindo a porta de um dos carros estacionados perto do portão e empurrando Aiolia para o banco do passageiro.

— Você vem também? – perguntou o outro gêmeo, Saga, abrindo a porta de trás.

Mu se viu entrando sem ponderar muito. Tinha acabado de conhecer aqueles dois, mas era evidente que eles já conheciam Aiolia há tempos. Saga sentou-se ao seu lado, no banco de trás, enquanto Kanon se posicionou ao volante.

O rapaz de olhos azuis-ou-verdes ainda não tinha se conformado. No começo, tinha entendido que os gêmeos queriam que ele fosse comprar as bebidas, mas se os dois estavam indo também, por que diabos tinha que acompanhá-los?

— Porque, do contrário, vamos contar para o Aiolos que você continua fumando. E você sabe que não vai conseguir negar quando ele te perguntar se é verdade – disse Kanon, com toda a tranquilidade de alguém que sabe que venceu, pois contra fatos não existem argumentos.

Aiolia não disse mais nada, ficou emburrado no banco da frente. O que Kanon dissera não explicava porcaria nenhuma, mas desistiu de tentar entender.

Saga virou-se para Mu e explicou com sua voz grave:

— Aiolos é o irmão mais velho dele. Muito adorável a seu próprio modo...

Mu podia jurar que Aiolia rosnou. Assim como podia jurar que os gêmeos se entreolharam pelo retrovisor com sorrisos cúmplices.

Chegaram rápido a um supermercado 24 horas, porque aquele ponto era mais perto do que uma loja de conveniência e porque Kanon dirigia em alta velocidade. Em seguida, os gêmeos saíram do carro sem insistirem para que Aiolia os seguisse. Mu preferiu ficar no carro, aguardando os gêmeos e fazendo companhia para Aiolia.

— Nem pensem em aprontar alguma coisa aqui – avisou Kanon, ligando o rádio antes de bater a porta e sumir pelo estacionamento com o irmão.

Elvis Presley serviu de trilha sonora para os questionamentos que Mu estava se fazendo. Perguntava-se se Aiolia estaria muito bravo e o que poderia dizer para acalmá-lo. Não lhe ocorreu nada, então apenas tocou um ombro dele com a mão, como se para lembrá-lo de que ainda estava ali.

— Foi mal por isso – disse Aiolia, colocando uma das mãos por cima da mão de Mu. Sorriu com o canto da boca avermelhada quando a pele lisa se arrepiou outra vez. – Eles só fazem isso pra me pentelhar, não é como se precisassem de mim aqui, e você acabou sendo arrastado junto.

— Não é ruim – disse Mu, porque era meio estranho, mas não era nem de longe ruim. Era até bom, porque enfim estava com Aiolia sem uma multidão por perto. Só havia os dois e Elvis naquele carro, naquele estacionamento quase vazio, pelos próximos minutos até os gêmeos voltarem.

Aiolia encarou o teto do carro, soltando a respiração quase com pesar.

— Pra onde foi o tempo? Da hora que nos conhecemos até agora aconteceu tanta coisa e, ainda assim, só sei sua idade e que você gosta um pouco de astrologia.

O rapaz de cabelos compridos soltou uma risadinha baixa, inclinando-se para mais perto do banco que os separava.

— E eu que sequer sei do que você gosta?

— Hmm... – titubeou, as pontas dos dedos um pouco ásperos dedilhando os ossos da mão de Mu. Carpo, metacarpo e falanges. – Estourar plástico-bolha?

— Acho que isso não conta, Aiolia. Todo mundo deve gostar de estourar plástico-bolha...

— Alivia o stress, né? Aliás, cadê sua outra mão?

— Se o que você está querendo é uma massagem – disse Mu, colocando a outra mão sobre o ombro livre dele – já adianto que não sei fazer...

Apesar disso, Mu se viu pressionando devagar aqueles ombros largos, passando pelo pescoço, enquanto Aiolia soltava um suspiro satisfeito ao se curvar um pouco para frente a fim de que o banco não atrapalhasse muito.

— Aí está, gosto de massagem – concluiu após alguns instantes. – Serve?

O rapaz de cabelos compridos ponderou um pouco, mas seus dedos logo esbarraram em alguma coisa metálica e o pensamento se perdeu. Era uma espécie de correntinha, percebeu, enroscando o dedo indicador nela, acompanhando o formato ao longo da clavícula de Aiolia.

— Posso ver?

Aiolia assentiu, quase levantando a mão para puxar o pendente para fora da camiseta, mas se deteve e esperou. Limitou-se a encostar outra vez no banco.

Os dedos pálidos de Mu logo encontraram o pequeno objeto, deslizando suavemente pela superfície irregular, tocando mais pele do que metal com tanta leveza que Aiolia sentiu cócegas.

— Hey, não se mexa tanto, eu ainda não... Oh! – exclamou, quando seus dedos acabaram esbarrando no tórax dele.

— Esse oh não soou ruim... O que foi?

— Você é forte mesmo... – murmurou, a palma da mão inteira escorregando pelo esterno de Aiolia, indo um pouco para os lados no tórax dele, fazendo o pendente balançar no processo. – Tipo, definido.

Mu não estava se preocupando muito com o que fazia, guiado pelo fascínio da constatação. Talvez ainda fosse culpa daquela única bebida, talvez fosse culpa do próprio Aiolia.

— Ah, sim – replicou, outra vez com aquela nota clara de orgulho na voz, colocando uma das mãos por baixo da barra da camiseta até alcançar a mão de Mu e guiá-la mais para baixo, para o próprio abdômen, onde a soltou. – Vai reparando.

— É, bem definido... – observou antes de soltar um suspiro baixo, a mão tateando a pele suave que cobria aqueles músculos rígidos e bem delineados, seu braço todo esticado por dentro da camiseta de Aiolia, deformando a gola. A outra mão escorregou do ombro para o braço dele, reconhecendo bíceps e tríceps firmes ainda que o tecido xadrez da camisa estivesse no caminho.

O rapaz de olhos azuis muito verdes respirava devagar, as costas empurrando o banco, apreciando o contato. Sua mente já tinha se esquecido de Elvis e dos gêmeos. Deve ser por isso que seu corpo se moveu instintivamente, erguendo os quadris do assento, fazendo com que as pontas dos dedos de Mu encostassem no cós de sua calça jeans surrada.

O rapaz de cabelos compridos apoiou a testa no ombro de Aiolia. Ele tinha se sentado de novo e aquela posição, envolvendo-o com um braço por detrás do banco do carro, não era exatamente confortável... hmm, não que isso importasse... não quando a mão fria de Aiolia se emaranhou em seus cabelos tão compridos, puxando-os levemente na altura da nuca.

A jugular pulsou forte na garganta de Mu. O carro resumiu-se aos cheiros de shampoo, de cigarros e de couro. Aiolia virou o rosto, os lábios tocando em sua têmpora escondida sob os cabelos. Deu para sentir o piercing gelado e... céus, ele estava levantando os quadris de novo...

Os sons de passos, conversa e garrafas tilintando, seguidos por chaves balançando os fizeram se separar no susto. Elvis pareceu ter voltado junto com os gêmeos, embora nunca tivesse ido. Mu se encolheu no banco de trás, encarando o próprio rosto corado no reflexo do vidro da janela, o coração frenético no peito. Ao mesmo tempo, Aiolia proferiu um palavrão, respirando fundo na tentativa de amenizar a pulsação, ajeitando a roupa no lugar.

Saga entrou no carro, sentando-se atrás, ao lado de Mu, lançando olhares rápidos e pouco interessados para os dois rapazes. Kanon sentou-se ao volante, deu uma boa olhada em Aiolia, deu outra olhada em Mu pelo retrovisor, cutucou a bochecha de Aiolia e sentenciou:

— Ele disfarça melhor do que você.

— Fica na sua, Kanon! Dirige logo aí!

— Você quer vir atrás? – ofereceu Saga, compreensivo.

— Não incentive safadezas no nosso carro, irmão!

E, mesmo com o constrangimento, a provocação e o estranhamento consigo mesmo pela própria ousadia, Mu se pegou sorrindo ali. O que mais podia fazer? Estava alegre.

Continua...


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Notas finais do capítulo

Gêmeos! ♥

Andaram me perguntando sobre as sides de Change of Heart, então, caso alguém tenha lido aquela longfic e tenha a mesma dúvida, saiba que não, eu não desisti delas. Como eu cheguei a mencionar num dos últimos capítulos, meu plano agora é ter sempre alguns capítulos escritos antes de começar a postar algo, pra gente não passar por aquela situação chata de ter que ficar semanas esperando postagem nova quando rola um bloqueio criativo... D: Encounter mesmo só não está finalizada ainda porque, como meu carneiro-beta andou ventando por aí, tenho outras 3 fics em andamento (mas não vou arriscar começar a postar todas de uma vez).

Enfim, Suh, Svanhild, Gabbe Chin, MilaScorpions, Orphelin, reneev, Bakanda, Bloody Rose e arianinha, obrigada pelas reviews! ♥ Eu andava meio ressabiada de postar, mas vocês fizeram valer a pena :3

Que tal esse capítulo?



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