Encounter escrita por Sak Hokuto-chan


Capítulo 15
Problems


Notas iniciais do capítulo

Lembram-se da época em que eu atualizava uma semana sim e outra não? Bons tempos, né? Eu era feliz e não sabia... Bem, espero que todos tenham tido boas férias. Vamos lá~

Agradeço ao carneiro-beta, Orphelin, pelas revisões³³³ todas~



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Capítulo XV

Too many problems, oh, why am I here?
Well and I can see there's something wrong with you
But what do you expect me to do?
Problems - Sex Pistols

***

Havia um rapaz de cabelos compridos com dificuldades para se concentrar na palestra que assistia, tudo graças à inesperada companhia sentada ao seu lado.

Era raro para Mu encontrar pessoas com quem se sentisse confortável de imediato, e Lune não era uma delas. Pelo contrário, chegava a ser incômodo estar perto dele. E seria difícil explicar o motivo.

Eles nem tinham conversado muito e, durante as poucas vezes, Lune não parava de fazer perguntas sobre Shion, o que lhe deixara ressabiado. Qual seria a razão de tamanho interesse?

Afrodite, Saga e Hilda estavam em apresentações diferentes, assim como Myu, mas Lune estava ali com Mu, mais interessado em um livro que tinha em mãos do que na discussão que se desenrolava entre os congressistas.

Ou mais interessado em examinar Mu. A curtos intervalos, o rapaz de cabelos compridos sentia a pressão do olhar de Lune em seu rosto. Estava ficando complicado ignorar. Ele entendia que Lune deveria estar admirado por sua semelhança com Shion, mas não achava que era para tanto. Não se pareciam a nível Aiolia e Aiolos, por exemplo.

Ah, pensar em Aiolia o fez sorrir. No mesmo instante, sentiu o peso do olhar de Lune aumentar.

— Ehrm... Algum problema?

— Verificando as semelhanças – explicou Lune, fechando o livro e apoiando-o sobre as pernas. – Ao ter as curiosidades satisfeitas, Shion costumava sorrir, mas nunca do modo que você acabou de fazer.

O comentário provocou uma contração no rosto de Mu. Seu irmão não era alguém que denominaria de curioso.

— Saiba que a curiosidade dele era vasta e insaciável – afirmou Lune, como se seguisse seus pensamentos. – E ele era deveras rebelde também.

Os olhos esverdeados de Mu se arregalaram. Não tanto pela suposta rebeldia do irmão quanto pelo fato de que Lune encostou a mão em seu queixo, levantando-o.

— Por trás dessa sua expressão serena haverá aquele potencial que, um dia, eu enxerguei em Shion?

O desconforto foi tão grande que Mu desviou o rosto de modo quase rude. Em seguida, clareou a garganta e, olhando para o palestrante, especulou:

— Potencial para o quê?

Lune voltou a abrir o livro, alheio às sensações que causava, e não falou nada.

*

Havia um rapaz de cabelos compridos conversando pela internet com um rapaz de aparência imponente.

— Eu acho que o Hamal está com sobrepeso, veja – observou Shion, erguendo o cãozinho agitado diante da tela do computador para que o irmão pudesse vê-lo pela webcam. – O Dohko diz que ele apenas tem pelos em excesso. Não sei, não.

— Hmm, ele é bastante peludo mesmo... Quando eu voltar, dou uma checada nele.

— Okay. Bom, além das trivialidades, há alguma coisa que você queira falar comigo? Algum problema?

— Não acho que seja um problema, mas apareceu uma pessoa que conhece e parece superinteressada em você – comentou Mu, lembrando-se do terrível mal-estar que sentira durante o dia. – Ele assistiu à maioria das palestras a que fui hoje e fez algumas perguntas sobre você. Como eu não sei o quão próximo vocês são, fui o mais vago possível. O nome dele é Lune.

Analisando bem, Lune tinha feito mais apontamentos estranhos do que perguntas. Entretanto, Mu não considerou relevante citá-las na ocasião. O jeito que ele parecia ver seu irmão tampouco condizia com o seu próprio jeito de vê-lo.

Os olhos de Shion se arregalaram do outro lado da tela.

— Lune?! – quase gritou, deixando Hamal cair de suas mãos para seu colo, de onde o cachorro pulou para o chão. – Ele é de uma área diferente desse seu congresso. Se está aí... é um problema, sim.

— Por quê? Aliás... De onde vocês se conhecem?

Distraído com os próprios pensamentos, Shion nada respondeu. Seus olhos tinham se estreitado. Sabendo que não adiantaria insistir, Mu esperou com sua paciência usual.

— Está decidido, Mu – declarou o rapaz de aparência imponente. – Estou indo até você...

— Ahn?! – Ficou tão abismado com aquela decisão repentina que se inclinou para perto do notebook sem perceber. – Por quê?

— Conversaremos quando eu chegar. É imperativo que eu tome as providências necessárias agora mesmo.

— Espere, Shion... Isso é um absurdo! Diga qual é o problema com aquele sujeito... Tenho certeza que posso lidar com ele sem que você precise se dar ao trabalho de vir e...

— Mu – chamou, em sua característica entonação de comando. – Eu vou te dar uma escolha: eu posso ir resolver as coisas sozinho, ou eu posso ir levando o seu doce namorado junto...

— Quê?!

— As coisas vão ficar problemáticas com ele, você sabe. Por outro lado, não há dúvidas de que se resolverão com rapidez...

— Céus, não! Nada de Aiolia. Eu nem sei como contar a ele sobre o Myu. Nem consigo imaginar o que teria que fazer, se ele aparecesse aqui.

— Ótimo! Nos vemos em breve — comunicou Shion, num tom de absoluta determinação, encerrando o contato.

Encerrou o contato! Simples assim. Mu ainda ficou alguns segundos olhando, boquiaberto, para a tela de seu notebook. Shion não atenderia nenhuma chamada, não adiantaria insistir. Então, Mu pegou o celular e ligou para a única pessoa que poderia ajudá-lo a lidar com o irmão.

— Ele vai o quê?! – Dohko se exasperou do outro lado da linha, ao ser informado do que havia acontecido. – Sem chance! Ele não vai ao lugar em que aquele cara está...

— Qual é o problema com o Lune?

— Todos! Não se preocupe, Mu, eu vou falar com o seu irmão e garanto que ele não vai a lugar nenhum, okay? Qualquer coisa, eu te aviso.

E também finalizou a chamada, apressado tal como Shion antes dele.

Mu ficou encarando a tela do celular. Estava entendendo cada vez menos. Massageou os sinais que possuía na testa, sentindo uma dor de cabeça se aproximar. Era início de noite e não havia outras palestras que chamassem sua atenção na programação. Só que Afrodite não tinha retornado, o que o deixava sozinho no quarto do hotel com seus pensamentos preocupados.

Durou menos de cinco minutos, pois não demorou a bateram de leve na porta.

— Olá, Mu – cumprimentou Hilda, sorrindo para ele. – O Saga vai voltar tarde do evento e, como sei que o mesmo se aplica ao Afrodite, gostaria de saber se você quer ir a um café comigo.

O rapaz de cabelos compridos avaliou a situação. Shion era determinadíssimo sempre que resolvia fazer alguma coisa, Mu mal tinha chance de impedi-lo. Não havia nada que pudesse fazer, além de torcer para que Dohko conseguisse dissuadir o irmão daquela ideia estranha – embora, na maioria das vezes, o máximo que Dohko conseguia fazer era ir junto com Shion para impedi-lo de causar algum estrago.

— Claro! Vamos lá.

O melhor que podia fazer era espairecer para evitar a dor de cabeça, pensou ele, sem se lembrar de que as coisas sempre conseguiam ficar piores.

*

Havia um rapaz de cabelos compridos tomando chá com uma garota de longos cabelos claros. Para Mu, compartilhar aquele momento com Hilda era similar aos chás tradicionais que acostumara a fazer com Shaka e Afrodite, nas tardes de sexta.

Todavia, era uma constatação vazia. Seus pensamentos estavam longe dali.

— Você não gostou do seu chá? – inquiriu Hilda, notando que Mu não havia tocado na bebida.

— Huh? Não, não é isso. Desculpe, eu estava distraído com algumas preocupações.

— Oh, tem algo a ver com o Aiolia?

— Bem... – titubeou Mu, refletindo. Em partes, sim, tinha a ver com ele.

— Ah, se não quiser contar, eu compreenderei. – Hilda levantou as mãos num gesto apaziguador. – Eu não ousaria me intrometer na relação de vocês. Pergunto porque conheço o Aiolia há uns dezesseis anos e, talvez, pudesse ser de alguma ajuda.

A informação fez Mu se recordar de que, certa vez, Aiolia havia mencionado que o Clube dos Cinco o conhecia há tempos.

— É, somos todos amigos de infância do Aiolos. O que significa que o Aiolia ainda era um bebê muito fofinho na época.

O rapaz de cabelos compridos conseguiu visualizar, com nitidez, a careta que Aiolia faria diante daquele muito fofinho e quase riu sozinho. Ele explicou a Hilda qual era a questão envolvendo Aiolia e, para seu completo espanto, era tão confortável conversar com ela que, quando percebeu, tinha contado toda a parte envolvendo Shion também.

— E diante desse rebuliço todo, nem sei se é apropriado contar sobre Myu para Aiolia na próxima vez em que conversarmos, ou esperar voltar para dizer que o vi aqui. Você tem alguma opinião?

— Agora! – Hilda garantiu de imediato, cobrindo a boca e corando ao perceber a rapidez com que tinha falado. – Desculpe. Seria melhor assim que possível. Ele com certeza vai ferver e é capaz de querer vir até aqui. No entanto, se você disser que não é para vir, ele vai continuar fervendo e não virá. Ele não arriscaria arranjar uma briga com você por causa de um suposto ex qualquer.

— Hmm... – fez Mu, segurando a xícara com as duas mãos. Fitou o chá e soltou um suspiro cansado. – Às vezes, parece que ninguém acredita que sou capaz de me cuidar sozinho.

Era Aiolia incomodado com Myu, Shion incomodado com Lune, Shaka incomodado com Aiolia...

— Você falou sobre isso com o Aiolia?

— Sim... Na última vez que nos vimos, eu disse a ele, de novo, que posso me cuidar porque... – Mu pausou. Ia dizer porque ele estava preocupado com você e o Saga ficarem bêbados, mas achou que soaria indelicado. – Ehrm, por tudo isso, e ele disse que acreditava em mim.

— Se ele disse, é verdade.

— Por sinal, várias pessoas disseram que o Aiolia não consegue mentir. Isso quer dizer que ele nunca mente? Ou que é tão óbvio quando mente que dá para perceber com facilidade?

Hilda deixou escapar uma risada suave – o extremo oposto da gargalhada megalomaníaca que Mu já escutara ela soltar após algumas doses de vinho.

— Se eu contasse, estragaria sua diversão. Você descobrirá sozinho.

Foi com frustração que Mu a fitou. Decidiu não insistir. Em todo caso, mesmo que Aiolia acreditasse de verdade, isso não o impediria de ficar aborrecido.

— Não se preocupe. – Hilda deu um tapinha consolador no dorso da mão dele. – Você vai acabar criando sua própria maneira de lidar com ele.

Mu assentiu, agradecido. Era difícil não permanecer um tanto ressabiado com o que aconteceria, mas estava se sentindo melhor devido a conversa com Hilda.

— Oh-owh... – sussurrou ela, olhando para além de Mu.

Ele sequer ficou surpreso ao ver Myu se aproximar da mesa em que estavam, sendo seguido, de perto, por um rapaz que não conhecia.

— Mu! – exclamou Myu, com alegria genuína ao vê-lo.

— Senhorita Hilda! – animou-se o desconhecido, indo direto até a garota sem olhar para Mu. – A senhorita Pandora está bem?

— Sim, Zelos – pontuou ela, com uma voz que teria transformado água em gelo.

Zelos se encolheu como se ela tivesse empunhado uma arma.

— Deixe-a em paz – Myu interferiu e fez as apresentações com rapidez, percebendo o semblante confuso do rapaz de cabelos compridos.

Hilda não sabia que era Myu o aspirante a ex — Mu não citara nomes –, mas, a julgar pelo olhar, ela supôs que deveria ser ele. E, pelo fato de estar andando com Zelos, supôs que ele não deveria ser uma boa companhia para Mu.

— Vamos voltar ao hotel? – sugeriu ela, levantando-se. – Os rapazes devem ter chegado.

Com a certeza de que ela não queria ficar na presença de Zelos por algum motivo, Mu assentiu. Porém, ao fazer menção de se levantar, Myu tocou seu ombro.

— Podemos conversar, por favor?

Mu começou a dizer que gostaria de acompanhar Hilda, visto que haviam ido até ali juntos, mas Zelos se adiantou, dispondo-se a acompanhá-la para onde quisesse.

— Prefiro ir sozinha – ela anunciou, mantendo o tom glacial. Voltou-se para Mu e, suavizando o tom, disse: – Não se preocupe comigo. Com licença.

Hilda partiu com movimentos leves e a graciosidade de uma bailarina. Mu ficou tão incomodado por ela ir sozinha quanto por não estar com disposição para conversar com Myu, sem falar na impressão de que ela queria dizer alguma coisa...

— Pode nos dar privacidade, Zelos? – questionou Myu, deixando evidente que discutir não era uma opção.

— Humph – grunhiu Zelos, lançando a Mu um olhar ávido. – Esse é o Mu, hein?

— E ele é bastante próximo do famoso Aiolia – informou Myu, de forma sugestiva. – Aposto que você sabe quem é. Se não me engano, vocês já tiveram alguns desentendimentos...

A avidez de Zelos para Mu mudou para receio. Com um esgar cauteloso para Myu, ele se retraiu e deu um passo para trás, prestes a se afastar.

— Outra coisa – acrescentou Myu. – Ficar perseguindo a Pandora vai levá-lo a desentendimentos com Radamanthys. Não se esqueça.

Se possível, Zelos se retraiu mais e saiu resmungando sem proferir nenhum comentário.

Radamanthys?, pensou Mu. Onde tinha escutado aquele nome? Radamanthys, tinha algo a ver com a Pandora, então...

— Mu? Posso?

Tirado de suas reflexões, Mu assentiu ao vê-lo gesticular para a cadeira livre.

— Não precisa ficar desconfiado – defendeu-se Myu, tentando interpretar a expressão dele. – Não pretendo ser o tipo de pessoa inconformada que interfere nos relacionamentos alheios. Não que eu fosse reclamar, se você resolvesse me dar uma nova chance.

Mu agradeceu por aquilo. Era o que faltava, ter um pseudo-ex – como Aiolia chamava – o perseguindo. Uma preocupação a menos. Preferiu não pensar nas implicações daquilo sobre não reclamar se ganhasse uma nova chance.

— Eu gostaria que fôssemos amigos. É raro encontrar alguém que possua interesses similares aos meus.

— Hmm, eu não vejo isso funcionando, Myu. Eu não quero criar conflitos com o Aiolia e tenho certeza de que ele não ia gostar nada de uma amizade entre mim e alguém que ele sabe que já saí.

Myu apoiou a mão sob o queixo.

— Não seria injusto? Quero dizer, o Aiolia mantém amizade com ex. Por que você não poderia?

O gosto amargo que Mu sentiu não era por causa do chá. Ele apertou os punhos sob a mesa. Não precisava saber daquilo. Aliás, como é que Myu sabia?

Myu encolheu os ombros.

— Ele é famoso. As pessoas acabam comentando várias coisas, além do motivo que causou a fama em si...

— É diferente. Ele não iniciou nenhuma amizade com ex depois que passou a sair comigo – argumentou Mu, esperando que fosse verdade. Queria voltar ao hotel. Aquela história tinha acabado de azedar seu humor. – Enfim, preciso ir, amanhã cedo tem novas palestras.

— Tudo bem – Myu anuiu, presumindo que ele não gostaria de companhia para voltar, apesar de estarem hospedados no mesmo lugar. – Peço apenas que considere minha amizade. Com o Aiolia, eu me entendo.

Com certeza, refletiu Mu, o rosto de Myu e o punho de Aiolia se entenderiam...

*

Havia um rapaz de cabelos compridos próximo à janela, encarando o celular. Estava prestes a ligar para Aiolia. Não que tivesse decidido o que diria. Nem como diria.

Mu tentou se confortar com as palavras que Hilda dissera sobre Aiolia não pretender arranjar briga à toa consigo, mas a perspectiva de vê-lo ferver não era nada animadora. Ah, bem, era melhor esclarecer tudo aquilo de uma vez.

— Olá, Aiolia! Você está ocupado? – indagou ao ter a chamada atendida. – E você está em casa? Pode ligar a webcam para mim? Não sou um grande apreciador de chamadas de vídeo pelo celular. O quê?! Óbvio que não é porque eu preciso das mãos e dos movimentos livres para fazer essas coisas aí! De onde você tira essas ideias indecentes?

Balançando a cabeça em negativa, Mu abriu o notebook. Era impressionante que nas primeiras palavras trocadas com Aiolia, apesar de absurdas, já estivesse se sentindo alegre.

— Hey! – Aiolia o saudou pela webcam e prosseguiu: – Está se divertindo com os nerds? O Afrodite está tentando te levar pro lado negro da força? Saga e Hilda estão sóbrios?!

O rapaz de cabelos compridos expôs que estava meio puxado – e o que ele queria dizer com nerds?! –; que mal vira Afrodite e Saga durante o dia todo, mas que Hilda estava sã até onde sabia.

— E você, o que anda aprontando?

— Nada... O Milo está aqui em casa me perturbando, pra variar. Ah! E o pseudo-ex? Viu o infeliz por aí?

Pronto, lá estava o assunto. Mu afastou uma mecha de cabelo do rosto e respirou fundo.

— Ele está no mesmo hotel que eu... – E ponderou, pela enésima vez, que era muita coincidência, uma vez que havia várias opções de hospedagem na região.

Para sua imensa surpresa, Aiolia se limitou a proferir um mero hum. Estava esperando exclamações exasperadas, imprecações, punhos se agitando no ar... Não aquele silêncio todo.

— Ehrm... Eu já te disse o quanto acho incrível sua capacidade de demonstrar descrença e desagrado com um único resmungo?

O rapaz de olhos meio verdes e meio azuis fez um muxoxo.

— O que ele está querendo com você, Mu?

— Minha amizade...

— Amizade? Hah! Amizade, sei. Inseto abusado! Vou esmagar a carcaça afetada dele no concreto, vão ver só!

Ah, enfim ele estava reagindo de acordo com o que tinha imaginado. Mu o fitou pela tela com um misto de alívio e horror.

— Céus, Aiolia, acalme-se! Você não disse que acreditava que eu sei me cuidar?

Aiolia interrompeu um de seus brados, pestanejando.

— Eu acredito!

— Então, deixe-me lidar com ele. Até porque eu me sentiria mal se ele, ou qualquer pessoa, levasse uma surra por minha causa.

— Ele não vai levar uma surra por sua causa. Vai ser por causa dele mesmo, por se atrever a ficar te rondando sabendo que você não está disponível... Maldito inseto!

Ao fundo, Mu ouviu a voz de Milo perguntar quem Aiolia estava xingando igual ao Vegeta. Aiolia gritou um cale-se, Kakarotto! para ele e voltou a resmungar.

— Ainda seria uma surra relacionada a mim... – Mu insistiu, ciente de que a probabilidade de Aiolia mudar de ideia era mínima, para não dizer nula.

O rapaz de olhos azuis que talvez fossem verdes nem o ouviu, estava andando de um lado para o outro, fervilhando como uma tigela de sopa.

Puxa, pensou Mu, deveria ter pedido algumas dicas para Hilda. Que diferença fazia Aiolia acreditar que sabia se cuidar se ficava tão nervoso? O que diria? Não queria que discutissem.

— Olha, não me pareceu que ele estava mentindo – esclareceu, lembrando-se da conversa com Myu. – O argumento dele é que... – Deteve-se, em dúvida se era uma boa ideia contar aquilo.

Logo percebeu que tinha que prosseguir, pois Aiolia sentou-se de novo diante do computador e estava prestando toda a atenção em suas palavras, com uma expressão nada feliz. Além disso, queria ao menos saber se estava certo ao dizer, para Myu, que as circunstâncias entre Aiolia e ele eram diferentes. Mu respirou fundo.

— Bem, ele diz que o fato de termos saído não deveria ser um impedimento para sermos amigos, visto que você mantém amizade com ex... ou é o que dizem...

O rapaz de cabelos compridos calou-se, mordendo o lábio inferior. Aiolia estava dardejando raios pelos olhos.

— Eu não mantenho amizade com ex – Aiolia replicou entredentes, com frieza. – É o inverso. Aconteceu de eu ficar com pessoas que eram minhas amigas... Não tinha motivo pra terminar a amizade porque não deu em nada.

— Entendi.

— Isso incomoda você?

— Não... Eu só preferia que o Myu não tivesse me contado. Quer dizer, faz sentido o que você diz. E é diferente de aparecer alguém agora, tempos depois de vocês terem parado de sair, querendo sua amizade sendo que nunca foram amigos.

— Como aquele inseto está querendo com você.

— Sim. – Mu deslizou os dedos por uma mecha de cabelos, pensativo. – Hmm... Se eu tivesse me envolvido com o Shaka ou o Afrodite, você não se incomodaria, certo?

— Você teve algo com algum deles?!

— Não, claro que não! Quero dizer que, se tivesse acontecido algo no passado e tivéssemos continuado amigos, você não se importaria a essa altura, não é?

— Acharia horrível e esquisito, mas fazer o quê? — Aiolia deu de ombros. – E você não precisa se preocupar com ex aparecendo atrás da minha amizade. Você é a primeira pessoa com quem eu me envolvo, que não fazia parte do meu círculo de amizade.

Mu ficou impressionado. Aquilo significava que Aiolia tinha se envolvido com vários dos amigos dele? Decidiu que não queria saber nem quantos, nem quais, nem quando. Ele era seu namorado e era o que importava.

Com exceção da garota ruiva, nenhuma das demais pessoas próximas a Aiolia olhava para ele com excesso de ternura.

— Agh! Virar uma massa disforme e rastejante vai ser pouco pro infeliz! – Aiolia voltou a se exaltar e a andar de um lado para o outro. – É melhor eu ir resolver as coisas...

— Quê?! Espera aí! Por que ainda está zangado?

— Por quê? Não adiantou ficar atrás de você, ele passou essas informações tortas, pra causar intriga!

— Intriga? Acho que não. Parecia estar repetindo o que ouviu. Sendo famoso, não é de se estranhar que digam coisas erradas a seu respeito, Aiolia – justificou, ciente de que muita coisa era verdade no que dizia respeito à agressividade.

— Por que está defendendo aquele idiota?

— Não estou defendendo ninguém. Eu quero evitar problemas. Não precisa vir aqui, ok? Deixe-me lidar com ele...

De braços cruzados numa atitude beligerante, Aiolia assentiu com má vontade e ficaram os dois em silêncio.

O rapaz de cabelos compridos massageou os sinais que possuía na testa. Ficarem daquele jeito não era muito melhor do que discutirem.

Os lábios de Aiolia se comprimiram por um momento. Sua expressão sombria se desfez e seus olhos pareceram perder o foco.

— Acho que preciso falar com meu irmão...

Mu escutou um barulho de porta abrindo e, de repente, a voz alegre de Aiolos soou do outro lado da tela:

— Chamou, irmãozinho?

— Na verdade, não...

— Viu como eu sei quando você precisa de mim? – interpelou, aproximando-se do caçula. – E, quando eu não sei, seus gritos ecoando pela casa me indicam... – Aiolos olhou para a tela e sorriu: – Oi, Mu!

— Boa noite – saudou, sentindo um alívio momentâneo pela interrupção.

— É com você que ele está bravo?

Incerto, Mu fez que não. Era por sua causa, não consigo, pelo que tinha deduzido.

O rapaz de bandana vermelha olhou para o irmão e voltou sua atenção para Mu.

— Que bom... – Aiolos abriu um sorriso maior. – Vocês são tão adoráveis!

— Adoráveis? – repetiu Mu, ouvindo Aiolia rosnar feito um gato contrariado.

Imperturbável, Aiolos ergueu um braço e deu um tabefe no topo da cabeça do irmão.

— Adoráveis! – reafirmou em voz alta, para ser compreendido em meio aos palavrões que Aiolia começou a resmungar. – Espera um pouquinho, Mu. – Enganchou o braço no do caçula e o arrastou para longe do computador.

O gesto causou uma espécie de déjà vu no rapaz de cabelos compridos. Ah, sim. Aiolos tinha feito a mesma coisa no festival de bandas, naquela vez que Aiolia havia ficado irado por causa de Máscara da Morte. Torceu para que Aiolos conseguisse fazer a mesma mágica.

Não precisou esperar nem dois minutos até Aiolos passar correndo, exclamando um tchau, Mu!, antes de bater a porta com pressa. Aiolia voltou a se sentar diante da tela, revirando os olhos verdes-e-azuis.

— Foi mal, Mu. Se você diz que vai lidar com ele, okay. Vou ficar quieto aqui.

O rapaz de cabelos compridos o encarou, abismado. O rosto de Aiolia estava sem sinais de irritação, cinismo ou apreensão. Whoa, precisaria pedir umas dicas para Aiolos também.

— Não está mais zangado?

Aiolia deu de ombros pela segunda vez na noite.

— Não estou contente, mas se o seu jeito não funcionar, eu vou poder fazer do meu jeito, ?

— Bem... Soa justo, acho.

— Que tal se eu segurar o infeliz pra você bater? – Aiolia sugeriu com benevolência, animando-se.

A imagem mental, que a ideia provocou, arrancou uma risada de Mu.

— Vou pensar.

Com isso, o clima se aliviou e normalizou a ponto de eles passaram os próximos minutos conversando sobre diversas coisas aleatórias. Ver Aiolia sorrir de novo foi suficiente para que Mu se esquecesse, um pouco, daquele dia tão longo e problemático. Sentia-se feliz, com aquela sensação familiar no estômago que o fazia querer suspirar.

— Sabe... Apesar de ter certeza de que isso vai inflar seu ego leonino... Estou sentindo sua falta...

Os olhos azuis manchados de verde cintilaram.

— Aww, isso significa que você resolveu concordar com o sexo virtual? Diz que sim!

— Não! Aff... Dessa sua ausência crônica de romantismo, eu não sinto falta, não, viu?

Aiolia inclinou a cabeça para um lado e riu – o tipo de risada que deixava evidente que não entendera nada. Mu teve que rir também.

Eles conversaram por alguns minutos – até Milo invadir o quarto de Aiolia, dizendo que estava na hora de irem em algum show que tinham combinado para aquela noite. E, embora Aiolia tivesse demonstrado preferir continuar conversando, o próprio Mu o incentivou a ir, afinal, precisava se preparar para dormir. O dia seguinte era um domingo, não obstante, o congresso continuaria.

— Não bastassem os suspiros... – reclamou Afrodite, de braços cruzados atrás de Mu.

— Céus! – sobressaltou-se Mu, notando que Saga estava com o amigo. – Faz tempo que estão aí?

— Acabamos de chegar – o rapaz com a pintinha charmosa falou, sem emoção. – Você estava distraído, trocando olhares e sorrisos felizes...

Saga riu. E não foi uma risada qualquer. Foi uma risada que deixou Mu em alerta.

— Hmm... Por onde é que vocês andaram para voltarem do evento a essa hora?

— Você vai descobrir – assegurou Saga, aproximando-se e envolvendo um braço de Mu, puxando-o para si.

— Hey, espera! – pediu Mu, sentindo um cheiro de vinho nele. – Vocês andaram bebendo? Afrodite!

— Eu pareço bêbado para você? – Afrodite quis saber, franzindo o nariz levemente arrebitado e sem fazer o menor gesto para afastar Saga de Mu.

O rapaz de cabelos compridos o observou com intensidade. Afrodite era bom em disfarçar. Antes que pudesse concluir algo, sentiu a respiração de Saga em seu ouvido, dizendo-lhe que precisavam de diversão, e acabou dando um pulo que não o fez parar a metros de distância porque Saga segurava seu braço.

— Solte-me, por favor! Está na minha hora de dormir.

— Hoje é sábado, Mu. E estamos em uma cidade extasiante – avisou Afrodite, abrindo a porta do quarto para que saíssem.

— E amanhã cedo teremos novas palestras, caso não lembrem – complementou Mu, tentando se desvencilhar sem sucesso. – Se querem sair, ok, divirtam-se. Eu nã-...

Contudo, Afrodite apenas segurou seu outro braço e ajudou Saga a arrastá-lo para fora do quarto. Mu o encarou, estarrecido, constatando o absurdo daquilo. Conseguia ouvir Aiolia dizendo eu avisei! – e tinha acabado de se entender com ele.

Sendo carregado pelo corredor, Mu voltou a si e refreou-se, forçando os outros dois a pararem também.

— Sério... Isso não é uma boa ideia sob nenhum ângulo.

Afrodite trocou um olhar com Saga e soltou Mu.

— Não são nem dez horas. Aposto que você não jantou, não é?

Devagar, Mu fez que não. Tinha apenas tomado chá, com Hilda, no início da noite.

— Então, vamos jantar. Depois, voltamos para o quarto, pode ser?

Mu olhou para o rapaz que insistia em segurá-lo.

— Por que está tenso? – interrogou Saga, apertando o braço dele com força calculada antes de soltá-lo.

O rapaz de cabelos compridos foi encarado com tanta maldade que não tentou sequer responder.

Estava com a impressão de que a noite seria longa e problemática.

Continua...


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Notas finais do capítulo

Tem espectros demais rondando... e.e' Bom, como este capítulo ficou gigantesco tive que dividir em dois e acabou que este ficou mais focado no Mu, mas no próximo veremos melhor as coisas no lado do Aiolia (incluindo Milo, Aiolos os demais membros do Clube dos Cinco...).

E que tal este capítulo? Lembrando que eu não mordo, então leitores-fantasmas podem sair das trevas e comentar com segurança~ ♥ Eu fiquei muito feliz pelos que se manifestaram no último capítulo! Continuem assim, vocês são demais ♥

Obrigada pelas reviews: Suh Domingues, reneev, Laiza, Raquel Ohara, PCHolmes, Orphelin, Ysoga, Diana Lua, Suh, Drama Queen, Bloody Rose, MilaScorpions e Svanhild ♥



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