Tratado dos Párias escrita por Isabela Allmeida


Capítulo 14
Encontro com o malfeitor Parte 1




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Acordei com o sol atravessando as cortinas. O raio de sol batia diretamente em meu rosto, levantei para abrir a janela e parei ao olhar para fora, Samuel olhava para minha janela do outro lado da rua com o rosto pensativo enquanto admirava minhas cortinas.

Ele não tinha engolido essa afronta, eu conhecia aqueles olhos, tinha um olhar cobiçoso e sonhador. Meus braços ficaram arrepiados de imaginar o que ele faria comigo se me desposasse, imaginava que nada de bom seria, agradeci mentalmente por ter tido um caminho diferente nos planos, só precisava pensar em um meio de fugir depois que o tempo passasse ou se não tiver conseguido nada depois de um mês, ainda podia voltar ao plano primário, mas no baile quase não consegui suportar por meia musica, não me imaginava tendo estômago para me aproximar dele novamente.

—Tenho que conseguir.

— Falando sozinha Diana? — Eva entrava em meu quarto com um copo de leite com mel. —Beba isso querida, logo vira o café da manhã, mas ainda ira demorar, hoje está um dia agitado, as três servas foram chamadas de volta pela família de Samuel, então teremos que ser apenas nós duas.

— O cavalheirismo acabou cedo hein.

— Sim, sem noivado sem mimos para minha pobre Diana.

Rimos daquilo e juntas começamos a arrumar as coisas. Foi um alívio na verdade, aquelas três estavam ali apenas para saber tudo o que acontecia no interior da casa, não para realmente servir. Ficamos todo o dia arrumando as coisas e ainda precisávamos fazer compras, teríamos que ir ao mercado colorido, um mês seria muito tempo.

— Precisam de companhia? — Dimitri nos alcançou quando abríamos a porta.

— Acho melhor deixar apenas mãe e filha fazer as compras senhor, não é bom verem um homem poderoso de negócios segurar sacolas. Mulher é uma raça inferior para os humanos, e uma atitude que no seu costume seria cavalheirismo aqui seria tido como submissão ou fraqueza.

Dimitri torceu a boca, contrariado. —Tem razão Eva, não posso ser visto como tolo enquanto Diana estiver nas mãos do rei, pelo menos levem dinheiro a mais para pagar um carregador, não quero nenhuma das duas carregando peso em excesso.

— Sim papai.

Dimitri apertou os olhos em minha direção. — Não abuse filhinha ou papai pode ficar nervoso.

— Não papai — pisquei os olhos várias vezes fazendo graça, então quando percebi o perigo corri fechando a porta escutando o som do sapato que batia do outro lado.

Ri como nunca ao lado de Eva.

— Vocês estão felizes hoje.

Fui pega de surpresa, não tinha reparado no príncipe ali parado ao nosso lado parecendo fascinado com a cena que tinha visto, o sorriso morreu em meus lábios e estava com raiva do intrometido, ele conseguia se meter até mesmo ali. 

— Alteza. — Disse Eva com exemplar educação. Me lembrando ao ver ela fazer fiz uma reverencia suave fechando a cara em seguida e ele percebeu porque tirou a cara de surpresa trocando por uma envergonhada.

— Sei que não avisei minha chegada e peço desculpas por pegar as duas em situação tão familiar e íntima e ressalto, muito interessante, mas não pude deixar de me lembrar que sendo forasteiras aqui vocês não tem criados para lhes ajudar e como tudo será uma correria para vocês hoje eu vim oferecer dois dos meus criados mais fieis. Eles irão acompanhar e proteger as duas assegurando que não terão dificuldades com os pacotes.

— Como sabia que iríamos ao mercado hoje?

E ali estava a cara de sabido, senti vontade de copiar Dimitri e mandar o sapato nele.

— Porque foram pegos de surpresa ontem então hoje teriam que correr com as coisas e as compras.

— Agradecemos vossa gentileza alteza — Eva novamente fez uma vênia gentil. Ela que estava me salvando de não ser mal criada, eu parecia um bonequinho de cordas, se Eva era cortês eu seguia o exemplo.

— Eu que agradeço por isso, ficarei tranquilo ao saber que uma parte do transtorno que eu causei seja diminuído. Então senhoras, esses são seus criados hoje.

Os dois saíram de trás da carruagem e eu poderia jurar que o chão tinha sumido de meus pés quando olhei para eles.

Um medo irracional me voltou, não da morte, mas do reconhecimento, o príncipe sem perceber o que se passava fez as apresentações.

— André é o meu criado mais próximo, de minha extrema confiança, e lhes levará aonde precisarem para comprar o que precisam.

Ele fez uma profunda reverência sem me olhar nos olhos e me senti perdida naquele momento.

Me mantive ereta sem saber como reagir. André estava tranquilo e relaxei um pouco, talvez não tivesse me reconhecido no fim das contas, ainda assim aquela sensação de alerta não me deixava tranquila.

O príncipe olhou para André e falou já seguindo para seu carro.

— Cuide bem delas André, não as deixe cansarem muito.

— Sim vossa alteza pode seguir tranquilo.

Assim o príncipe entrou na carruagem e partiu depois de cumprimentar nós duas e sorrir para mim. E pelo seu sorriso com certeza estava lembrando da cena que viu quando chegou. Segurei na mão de Eva e segui andando reta, mas meu coração parecia que ia saltar do meu peito.

 


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