Todos estavam contra mim, havia sido derrotado. Passando os dias na escuridão; o que tinha feito para merecer isso? Deveria ser assim? Nos tempos em que Hong Kong e a guerra pelo ópio me fizeram perder toda a glória e honra de minha infância. E eu pensei que ninguém viria me dar apoio.

Então, você apareceu.

– Oh china, por que está tão triste? Nunca lhe vi assim...

Sorriu-me gentil.

Rússia era seu nome, àquele das atitudes levemente assustadoras, do sorriso congeladoramente gentil e alma que vivia em um constante e temeroso inverno. Pouco sabia sobre você antes, me fornecendo uma incrivelmente bela e quebradiça esperança.

Apoiei-me em suas palavras, pois realmente queria voltar a sorrir como naqueles velhos tempos, podendo achar que era possível confiar em você por completo. Mas quando me dei conta... Quando finalmente tentei me re-erguer, fui empurrado de volta para o canto escuro da solidão que você me tirou, deixando-me novamente confuso.

– Por quê aru?

Perguntei simplório, porém em prantos, jogando o que restava de minha honra e dignidade naquelas duas pesadas palavras cheias de ferimentos de uma guerra na qual você deu inicio, contra mim e contra tudo que se opusesse a você.

– Nossas ideias e nossos princípios são parecidos, China, mas não iguais. Por mais que tentava, por mais que queria, nosso conflito era certo, inevitável. Não preciso mais de você, agora, já que não queres seguir-me, és algo descartável. Não queres se juntar à mim, mas em um futuro distante, quem sabe... Adeus, China.

Como uma criança fútil que se cansara do brinquedo, apenas falou, sem pouco se importar comigo. Aquelas palavras carregadas me atingiram, sendo mais fortes do que qualquer arma de fogo fabricada naquela época. Dilacerando meu coração e, talvez, a esperança que restava, pude sentir as lágrimas brotando em meus olhos e descendo por meu rosto ensanguentado e ferido.

Ao contrário do que imaginei, você não sorriu, esboçando aquela face maligna que todos temiam. Estava sério, o que era estranho e me surpreendeu. Mas o que eu não consegui entender no momento era o fato de seus orbes violetas brilharem com o luar, mostrando seus olhos marejados, quase transbordando. Você parecia ter sofrido muito quando disse aquilo, mesmo não demonstrando, mas sumira de minha vista rápido, sem dizer nada, enquanto eu continuava no chão frio, sem compreender o porquê.

Quando foi embora, me deixou com apenas mais perguntas sem nenhuma resposta. Queria mesmo ter dito e feito aquilo? Estaria preocupado comigo? Como você estava depois disso tudo? Então, pude me levantar mais uma vez ao concluir que a culpa não era realmente sua. Mesmo fazendo grande estrago em meu coração, seus atos poderiam ser perdoados, seus ferimentos, curados e seu coração, re-fragmentado.

Porque percebi que, quem perdera tudo naquele momento tinha sido você, que ficou sem minha companhia, que também à precisava, talvez mais do que eu. Vi tudo de longe, sua derrota, a reconstrução de seu povo, a volta do que era antes, mas não pude ajudar, também estava necessitado. Consegui quase tudo que perdi aos poucos e me sentei à espera daqueles tempos que vão voltar, os tempos que passamos juntos. Sonho com o momento que caminharei novamente por aqueles belos campos de girassóis ao seu lado. E então, poderei tê-lo novamente para amar e ser amado, sem perigos e sem traições, com a esperança de não perdê-lo nunca mais.