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— Hum... É... Sim, está bom.

Foi este o exato número de palavras que o professor usou para elogiar o desenho de Yuki. Mas, na realidade, foi nesta tela que ele ficou mais tempo observando, e não passou batido, como nas outras. Roku sorriu, entendendo sua expressão.

— Me desagrada ver que certos alunos ainda não começaram a fazer a atividade – Dizia, enquanto se encaminhava para a dianteira da sala de aula – Mas alguns desenhos iniciais estão ótimos. Se vocês souberem pintar corretamente, vão realizar uma verdadeira obra de arte. Infelizmente, o tempo não vai ser amigo de vocês. A escola quer apresentar as notas mais cedo este ano, então vou ter que antecipar a data de entrega das telas para semana que vem.

O som de desagrado e de protesto irrompeu na sala, vindo de vários grupos, enquanto outros permaneceram impassíveis. O sensei aguardou os alunos se acalmarem.

— Parem de reclamar! Sei que vocês vão conseguir.

Não adiantava; por mais legal que o professor fosse com os alunos, ele era o mais intolerante a atrasos. Encerrando o assunto das pinturas, deu continuidade na aula.

Logo que o intervalo para almoço soou os dois nekos rumaram o refeitório, antes que este enchesse demais.

— Yuki, eu conheço o professor e sei que ele gostou. Ele só não consegue dizer isso. Todos os anos ele pede esta pintura. Claro, sem os grupos, mas ele sempre gostou de dos meus trabalhos. Dava notas altas e colocava os meus quadros para a exposição. Mas ele nunca virou para mim e disse que estava excelente. Sempre elogios curtos.

— Ma-mas nem olhar para nós ele olhou! Como pode ter gostado t-tanto? 

Roku suspirou.

— Pequeno, nós dois somos nekos. Os professores acham que deveríamos ir para a classe especial por causa disso. É sempre a mesma coisa. Eles não olham direito para nós nem para dar bronca. Sequer para elogiar!

— P-Pe-... Pequeno? – Yuki parou no meio do corredor – P-por que você me chamou de Pequeno?

— A-ah... – As bochechas de Roku ganharam a coloração rosada de vergonha – S-sumimasen. F-foi só um apelido, Yuki. Desculpe 

— Não! T-tudo bem... – Pequeno... O neko ficou confuso com tanta proximidade; mas gostou. 

Logo eles já estavam em uma mesa. Expulsaram involuntariamente os dois alunos que estavam sentados na outra ponta.

— Yuki... Estou preocupado em ir todos os dias da semana na sua casa. Não quero incomodar ninguém.

— Já disse que não tem problema, que eu não vou ligar. É até melhor, ter mais uma companhia para passar o dia e para jantar.

— O problema não é este – Ele deu uma ligeira pausa para mastigar – Não quero ser uma perturbação. Sua tia tem a rotina dela, de cozinhar só para vocês... Se eu ficar aparecendo todos os dias... Não sei. Não concordo.

O olhar do menor se perdeu no almoço. Roku não entendia, mas ele também desconhecia da história.  Yuki alternou entre seu almoço e as frases:

— Tia Ellen morou numa casa onde viviam vários jovens, uma república, durante todo o período que estudou nos Estados Unidos. É torturante para ela viver somente comigo. Ela sente falta da turma, das festas. Não que ela diga isso, mas... Posso ver. Nunca recebemos visita, nenhuma. Mas nas duas vezes que você apareceu para jantar, ela ficou bem mais alegre. Deu para perceber.

Sua expressão era vazia, mas não emanava desprezo. Talvez uma fadiga, por ter de colocar tudo em palavras.

— Ela perguntava para mim todos os dias, quando vinha me buscar, se eu já tinha feito algum amigo, de um jeito até esperançoso, mesmo sabendo como é minha situação. Ela nunca deixou de ser otimista – Principalmente comigo. Fitando o prato, um sorriso lhe escapou pelos lábios – Quando falei da aula de tênis, ela queria dar uma festa, só para te agradecer.

Roku pareceu surpreso com tudo isso.

— Tia Ellen não vai se incomodar com você, de maneira alguma.

— E-eu... Nem sei o que dizer. Fazia muito tempo que alguém aceitava minha presença tão bem assim.

O menor apenas concordou. Pouco antes de terminar, lembrou-se de um recado.

— Ah! R-Roku... Sexta-feira minha tia vai para Tomodachi, logo de manhã. Ela pediu para eu perguntar para você se... Se você p-poderia ir comigo para casa. Só para eu não ter de ir sozinho.

— Sexta? Posso ir, sim. Já aproveitamos para adiantar o trabalho.

— Hai.

— E o que ela vai fazer em Tomodachi?

— E-eu... Não tenho certeza. Ela desenha roupas, “desenhista anônima” das grandes marcas. E acho que lá tem uma agência que avalia e pega os melhores desenhistas para fazer os modelos.

— Que legal. Não é aquela empresa que ela comentou, é?

— Iie. A empresa ofereceu uma mixaria pelos desenhos, e ela recusou.

— Então, sexta-feira.

O pequeno sorriu e confirmou com um aceno, levantando-se para descartar as embalagens de seu almoço.