É muito cedo para dizer isso, afinal você é bem baixinha.

— Alice Kingsleigh

...

Era um dia agradável se iniciando. A casa da família Kingsleigh estava começando se iluminar pelos primeiros raios do sol. Ally, que estava com seus 16 anos, já corria pela casa tentando pegar sua gata, sem fazer barulho já que seus pais estavam dormindo.

— Volta aqui. — Ally sibilou para a gata que estava em cima do armário de porcelana. A gata ficou olhando para a loira sem entender. — Kriss, vem cá.

Ally olhou mais uma vez para a gata que se aconchegava no topo do armário e pegou uma cadeira subindo logo em cima dela para alcançar a gata. Quando Ally já estava em uma altura boa, dando conta de pegar a gata, Kriss deu um miado e saltou do armário indo em direção à geladeira.

— Gata maldita. — a pequena loira desceu da cadeira e a colocou em seu devido lugar. — Está com fome, não é mesmo? — abriu a geladeira e retirou o leite, pegou a vasilha de Kriss e despejou o líquido lá dentro. — Você só faz isso comigo quando quer comida.

Kriss correu graciosamente ao ponto em que Ally deixou a vasilha da gata cheia de leite. Não demorou muito para a gata tomar tudo.

A loirinha deixou sua gata de lado e foi preparar o seu café da manhã e dos pais. Pegou os ovos, suco e pão.

— Bom dia. — seu pai foi o primeiro a parecer. Charles Dodgson era um homem muito atraente e esperto, talvez um pouco louco também. E sobre os finos raios da manhã, seus traços pareciam perfeitos. — Dormiu bem querida?

Ally sorriu e terminou de colocar o ultimo ovo no prato levando para seu pai.

— Dormi, e o senhor? — o serviu com o suco de laranja. — Onde está mamãe?

— Alice está no banho. — o homem pegou um tomou um gole do suco e comeu um pedaço da torrada. — Está delicioso, Ally, vou sentir saudades disso quando estiver fora.

— Estiver fora? Vocês vão viajar? — os olhos de Ally esbanjaram tristeza. — Mas vocês não podem vocês já viajaram mês passado.

— Houve um imprevisto. — Charles acariciou o rosto de sua filha. — Vão precisar de nós na reunião com a França.

— Eu odeio a França. — Ally emburrou, fez a mesma careta que fazia quando tinha sete anos e isso divertiu seu pai.

Alice apareceu um pouco depois da cena, sorrindo ao ver sua pequena já acordada.

— Mamãe. — Ally correu para abraçar sua mãe. — Não me deixe, de novo.

— Bom dia, Ally. — Alice retribuiu o abraço da filha e a encarou sorrindo e mexendo no nariz da filha. — Parece que alguém acabou de descobrir algo que não deveria. Não vamos te deixar.

— Vão. — Ally pareceu determinada. — Vocês mal voltaram da última viagem e já vai de novo. Não é justo comigo!

— E o que é justo para Allyson Kingsleigh Dodgson? — Alice sorrindo apertando a filha e a conduzindo para a mesa do café. — Você não vai ficar sozinha, terá Kriss para te fazer companhia.

— Essa gata só me procura quando está com fome. — Ally cruzou os braços e encarou os ovos. — Vocês vão chamar Magg?

— Ainda não decidimos. — seu pai falou recendo um cutucão de Alice. — Digo, ainda não sabemos se vamos precisar.

— Não quero uma babá. — Ally disse firme. — Eu não preciso de uma babá, já sou crescida.

— É muito cedo para dizer isso, afinal você é bem baixinha. — Alice comentou arrancando a risada de seu marido e filha.

Duas semanas se passaram desde esse acontecimento. Ally não aprovou a hipótese de ter alguém para ficar com ela enquanto seus pais viajavam, queria ter ido junto, afinal esse era o trabalho que ela teria que assumir um dia.

— Allyson, quer alguma coisa para comer? — Magg perguntou, mas não obteve resposta da garota. Ally estava um pouco distante, seguia Magg pela floresta.

Ally finalmente conseguiu pegar Kriss e se preparava para voltar, quando uma árvore a chamou atenção. A tal árvore tinha um jeito diferente, a terra em volta dela parecia remexida. A garota deixou a gata no chão, que voltou para a casa, e mexeu na terra, descobrindo um pequeno baú, não tão enferrujado e nem tão sujo. Forçou sua fechadura até abrir, revelando folhas e folhas escritas a mão.

“Nunca procurar o Coelho Branco”, “Nunca mais seguir um coelho”, “Chega do País das Maravilhas”, “Chega de tudo”, “Aquilo era um sonho”, “Nunca mais seguir o Coelho”, “Aquilo fazia parte de minha loucura”.

Era a letra de sua mãe. Sua mãe havia escrito aquilo mesmo? Nem parece a pessoa alegre de sua mãe. Não teve tempo de remexer mais os papeis para ver se era realmente sua mãe, viu um vulto pulando de um arbusto a outro. Guardou uma carta consigo e o resto na caixa, e foi atrás do vulto, pois achava que era Kriss.

Quanto mais perto ela chegava do vulto, mais ele se afastava. E quando ia o agarrar, ele pulou em um tronco de árvore. Ally olhou para o buraco e desiquilibrou, caindo.

As raízes das árvores rasgavam sua camisola e incomodavam. Fechou os olhos por medo e quando os abriu, não tinha certeza de que vira era realmente um piano seguido de uma mesa de chá. Aquela descida estava demorando muito, o tempo estava desacelerando e ela junto. Até que caiu em uma sala cheia de portas.

A história está para se repetir...