Melancólica Rotina escrita por skrxh


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Relevem os erros, plmdds sz
Boa leitura >.



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                Acendo um cigarro e o levo a boca. Dou uma longa tragada e solto vagarosamente a fumaça pela boca. Observo meu isqueiro azul marinho. Era um presente de Pedro, para acender as bocas do fogão, e não cigarros. Mas agora era meu e eu acenderia o que quisesse. Pedro sabe. Ele diz que eu estou me matando. Eu não me importo. Se eu fumar ou não um cigarro, morrerei. Qual o problema de adiantar esse processo, se eu já não vivo mais?

                Ao longe, o sol se põe sobre o rio de águas escuras, poluídas. É um lindo contraste, digno de uma pintura numa tela. Não que o rio poluído seja bonito, longe disso. Aprecio a mistura de cores de azuis e verdes escuros do rio com os amarelos, laranjas e vermelhos do sol. O observo até sumir completamente, trazendo consigo a noite. Há muitos e muitos anos atrás (5 anos), numa hora dessa, estava estirada na rede do sítio onde morava. Contemplava as estrelas que pontilhavam o imenso pedaço preto-azulado de minúsculos pontos brilhantes. Eu sentia falta da noite no campo. Era mais bela. Essa cidade está toda poluída e iluminada, a luz e a fumaça atrapalham-me a ver o céu estrelado que tanto gosto.

                O cheiro horrível do cigarro estava impregnado em minha boca e meus dedos. A nicotina tem um gosto ruim, o cigarro me faz mal, mas não vejo motivo pra parar. Meu cinzeiro já estava cheio de tocos e cinzas, meu maço já havia sido fumado e contaminado meu pulmão. Mas que diferença faz, né?

                Saio da varanda. Gosto de morar no último andar do meu prédio, que fica na última rua antes do rio, no último bairro da cidade. Apesar de tudo que passei aqui, é um bom lugar pra se morar. Na janela do meu quarto dá pra ver outros prédios. Nas manhãs em que não trabalho, vejo o dia nascer atrás dos prédios. Lá pelas 5h, 6h já está claro o suficiente para ir na padaria tomar meu café. Mas agora, de noite, tudo que vejo são as luzes acesas dos meus vizinhos. Me escoro na janela e observo suas rotinas. Há uma televisão ligada e algumas formas sentadas na frente dela. Eis uma coisa que não assisto faz bastante tempo. Quando morava no campo, costumava sentar com Pedro e Anelise para assistirmos novelas ou seriados de noite. Nunca fui muito fã de filme. Nunca fui muito fã  de coisas que acabam rápido demais.

                Resolvo sair da janela, pois estou ficando nostálgica. A cozinha. É, lá parece um bom lugar para se fazer vários nadas. Talvez eu possa cozinhar um pouco. Anelise e mamãe gostavam dos meus bolos. Abro o armário, pego a farinha. Junto todos os ingredientes e coloco em cima da pia. Ligar o rádio ou ouvir um CD não faz mal, né? De qualquer forma, uma melodia suave começa a tocar pelo recinto. A música me anima. Quebro os ovos, coloco o leite, a farinha, e tudo que precisa para fazer um bolo, na batedeira e bato, dançando e murmurando. A faixa trocou e eu já estava bem feliz. Coloquei o bolo pra assar e aguardei. Enquanto o via crescer, lembrei de um fato ocorrido meses atrás. A cada minuto que passava, eu ficava menos feliz e mais irritada. Desliguei a música. Voltei a ser aquela pessoa sem sentimento e reação que venho sendo. O bolo termina de assar e eu não o tiro do forno. Sinto cheiro de queimado. Ainda o deixo lá. O deixo queimar até ficar completamente preto. Abro o forno, fumaça enche a minha cozinha, meu rosto leva uma rajada de calar. Coloco as luvas nas mãos, pois preciso delas no escritório daqui a pouco. Jogo o bolo fora. Abro a geladeira para ver se tem alguma sobre comestível. Até tem um pedaço de lasanha. Estragado. Quando foi a última vez que eu comi uma refeição completa? Semana passada? Anteontem? Essa lasanha claramente não é desses dias. Ah, não me importo. Jogo fora também.

                Deito em minha cama e observo o teto. Lembro-me de meus planos de vir para a cidade, encontrar um emprego e uma casa, arrumar um cara legal e ter uma boa vida. Como eu era inocente. Meus pensamentos me perturbam o resto da madrugada.

                Horas se passam e meu quarto clareia. Levanto para ver o sol nascer. Na cabeceira tem uma garrafa de bebida alcoólica. Bebo no gargalo mesmo. Meu despertador toca, em vão. Tomo banho e escovo os dentes. Visto roupas limpas e saio para mais um dia sufocante e inacabável de trabalho. Sem comer e dormir mesmo. Estou acostumada.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler (e relevar os erros gramaticais) s2



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