Você e Eu, Eu e Você escrita por Débora Silva, SENHORA RIVERO
Alguns dias se passaram e a tensão sobre Heriberto e seus horários de almoço, só aumentava. Victória chegou ao hospital, era hora do almoço queria pegar Heriberto no flagra. O dia não estava favorável, chovia muito.
Victória tinha ligado para ele e ele dissera que não sairia pra almoçar. Lembrou-se do que Rafael disse dos almoços do pai. Passou pelos corredores da clínica sem cumprimentar ninguém, como fazia quase sempre, abriu a porta do consultório e o viu de costas.
Haviam dois braços ao redor do pescoço dele. Seu coração parou, suas pernas falharam. Como assim ele estava beijando uma vagabunda. Era a vagabunda da Alessandra?
VICTÓRIA — Heriberto...– chamou com lágrimas nos olhos.
HERIBERTO— Victória?– Heriberto virou para ela com a expressão de surpresa. Estava abraçado a Alessandra, que chorava.
VICTÓRIA— Ah, por isso que não podia almoçar comigo?– deu dois passos atrás quando o viu se aproximar.
ALESSANDRA— Boa tarde, Victória, o Heriberto só estava me ajudando... – estava com lágrimas nos olhos e tentou justificar sua presença ali naquela sala.
VICTÓRIA— Cale a boca, vagabunda! – falou com raiva.
HERIBERTO— Victória!– ele gritou com ela.– Pare com isso!
VICTÓRIA — Eu não queria atrapalhar, desculpe. – falou cínica encarando ele e se controlando para não avançar nos dois, ali, próximos, abraçados.
HERIBERTO— Atrapalhar o que? – estava serio. – Alessandra, por favor, me deixe sozinho com minha mulher. – olhou a médica e se desculpou com o olhar por aquela situação constrangedora.
VICTÓRIA— Não precisa sair, querida pode ficar! – deu as costas e saiu como foguete dali.
Heriberto foi atrás dela, correu até alcançar a esposa e quando o fez segurou nela com cuidado. Estava uma fera quando se virou para ele.
VICTÓRIA — Não me toque! – bateu no peito dele até se soltar.
HERIBERTO— Calma, Victória, meu Deus, olha o estado que você está. O que você acha que viu? – a encarou, olhos nos olhos, ele não tinha nada a esconder.
VICTÓRIA – Me solta! Não importa mais o que eu vi! Vai com a sua vagabunda!– gritou se soltando e saiu hospital a fora.
Procurou a droga do carro, estava tão desnorteada que nem se quer lembrava onde o tinha deixado. Heriberto passou a mão pelos cabelos e seguiu atrás dela. Victória não podia pensar que ele tinha nada com Alessandra.
Foi atrás dela no estacionamento, chovia muito do lado de fora e ele a encontrou, desnorteada procurando o carro. Victória pegou a chave do carro e apertou o alarme e o encontrou, estava toda molhada já. Passou a mão pelo rosto e seguiu até o carro.
Heriberto correu atrás dela e a segurou, as pequenas mãos da esposa tremiam. Tomou a chave da mão dela e ficou na chuva olhando a esposa e sentindo o coração tremer.
HERIBERTO— Victória, me ouve, por Deus! – implorou nervoso com aquele cenário que se formava.
VICTÓRIA— Eu não quero te ouvir! Eu não quero falar com você! – bateu na mão dele e fez a chave cair no chão.
HERIBERTO— Você quer sim.– a segurou contra o carro.– Você veio até aqui para falar comigo!
VICTÓRIA— Que inferno, me larga, está me machucando! – gritou nervosa.
HERIBERTO— E você entendeu tudo errado! Vou soltar se você se acalmar, ou posso ficar aqui na chuva com você para sempre! – prendendo ela com seu corpo e suas mãos.
Victória o chutou e pisou no pé dele.
VICTÓRIA — Idiota! – abaixou e pegou a chave entrou dando uma portada nele.
Fechou travando o carro, ali ele não entraria. Heriberto bufou, tinha ódio daqueles destemperos dela. Bateu no vidro até quase quebrar gritando com ela que abrisse.
HERIBERTO— Victória! – gritou cheio de raiva e sentindo doer o local onde a porta tinha batido nele.
Ela passou a mão no rosto estava tremendo. Não sabia se pelo frio ou por estar tão nervosa, ligou o carro e fez morrer duas vezes.
HERIBERTO— Abra! – gritou com raiva, estava ficando nervoso.
Na terceira tentativa saiu cantando pneu quase atingindo o carro a sua frente arrancando um retrovisor de outro carro. Heriberto entrou na clinica apressado, pegou a chave de seu carro e saiu em disparada.
Victória dirigiu como louca, não sabia onde ir, até que freou bruscamente quase batendo no carro a frente.
Heriberto dirigiu procurando por sua mulher, ultrapassou os carros seguindo com se fosse pra casa, mas sabia que ela não estaria lá. Preocupado, ligou para o celular dela, tocou muitas vezes e não teve sucesso. Depois do susto no trânsito, ela voltou a dirigir.
HERIBERTO — Me atende, Victória! – ele gritou com o celular!
Ligou pra casa e descobriu que Victória não estava lá, depois para Pepino e ela não tinha ido para a empresa. Se desesperou e bateu três vezes no volante com ódio xingando. Por que ela sempre entendia o que não era?
Victória dirigiu por mais uns minutos e parou frente uma casa. A casa era muito bonita, com um quintal cercado de árvores e um grande portão de muros altos. Por que tinha que ser sempre assim, esse desespero?
A chuva não deixava ela ver nada. O portão se abriu no automático e ela entrou com o carro. Desceu assim que parou, olhou a casa a chuva já não era problema. Suspirou e se perguntou o que fazia ali. Não havia mais ninguém na casa.
Victória fico ali naquela mesma posição perdida em seus pensamentos e lembranças. Olhou em volta o lindo quintal com árvores altas e um jardim bem cuidado. Aquela casa era especial e muito bonita.
Vinte minutos depois, Heriberto parou o carro em frente ao portão. Ali era o refúgio dela, todas as vezes que Victória queria fugir, em especial, fugir dele, aquele era o local escolhido. Estava tão furioso e cansado de tudo aquilo, de tanto ciúmes dele mesmo, de tanto ciúmes dela.
O portão abriu e ele entrou com o carro. Victória sentou na varanda e de olhos fechado suspirou. Quando Heriberto entrou e viu o carro dela, o coração se acalmou. Desceu do carro na chuva e parou na chuva olhando para Victória.
Não dava para ver nada, mas ele ficou alguns segundos lá, sem dizer nada, apenas olhando em direção a ela. Victória tinha a cabeça baixa olhando as mãos. Heriberto caminhou e foi até a varanda, parou todo molhado e se sentou num banco longe dela.
HERIBERTO— Você me fez vir aqui...– suspirou triste.– Nessa casa... nessa maldita casa!
VICTÓRIA— Vá embora! – olho pra frente.
HERIBERTO— Eu não vou embora, Victória até você me ouvir. E serei grosseiro se for preciso para você me ouvir e entender que não tem motivos para estar assim. – a voz autoritária e firme, com ela não podia recuar.
VICTÓRIA — É o que mais você sabe agora, ser um grosseirão imbecil! – reclamou dele sem o olhar nos olhos.
HERIBERTO— O que eu fiz desta vez? Estava abraçando uma de minhas médicas? Sim, eu estava, ela acabou de perder um paciente, eu apenas a consolei. Apenas isso! Não temos um caso!
VICTÓRIA— Vai pro inferno com suas explicações que eu não quero te ouvir! – o tom era baixo mais carregado de fúria.
HERIBERTO— Eu não tenho nada com mulher nenhuma! – suspirou com cansaço de dizer essa mesma frase com tanta ou mais frequência do que dizia eu te amo. – Minha mulher é você, Victória. Ou você não quer mais ser a minha mulher? – agora os olhares se encaravam.
Ela sorriu irônica com o "minha mulher é você, Victoria".
HERIBERTO— Me diga, é isso que quer? Deixar de ser minha mulher? – provocou, queria saber o que se passava na cabeça dela.
Victória já tinha os pés no chão e se levantou, estava pesada por seu casaco estar encharcado.
VICTÓRIA — Sua mulher, Heriberto? Sua? Sou eu que não quero ser ou você que está esquecendo disso dia a dia? – cobrou.
HERIBERTO— Você sabe que eu nunca me esqueço, Victória! Você tem o seu lugar comigo, isso nunca mudou. Eu te respeito e te amo apesar de tudo, de nossas brigas, desse inferno que virou nossa vida juntos! – declarou oque sentia de modo verdadeiro, estava complicado administrar aquelas diferenças todas.
VICTÓRIA — Mentiroso! – gritou.
HERIBERTO— Não sou mentiroso! – gritou de volta, mas respirou fundo, tinha que se acalmar, ela estava nervosa demais.
VICTÓRIA— Me diz que não pode almoçar comigo... – gritou furiosa com ele. – Comigo que sou a SUA MULHER e te encontro agarrado com outra? – ela tinha lágrimas nos olhos, estava ferida de um modo que ele nem podia imaginar.
Heriberto suspirou...
VICTÓRIA— Eu te odeio! – declarou mentirosa, mas sentindo ódio naquele momento.
HERIBERTO— Eu poderia me levantar desta cadeira, Victória e perder a paciência com você ou posso entrar naquele carro e ir embora e te deixar aqui! – os olhos dele explodiam em sinceridade. – Mas eu prefiro isso. – foi até ela e a pegou no colo, sabia que ela ia se debater.
VICTÓRIA — Me larga! – se debatia e soltou os sapatos no desespero de tentar sair dos braços dele.
Heriberto mesmo assim saiu com ela em seus braços para a chuva, caminhou até ficar no meio do pátio. A chuva caia intensa nos dois e ele a olhou em seus braços se debatendo. Os olhos verdes dela se perderam nos dele, estava furiosa.
VICTÓRIA— Idiota! Imbecil! Me solta, Heriberto me solta eu vou te matar, seu cretino! – empurrava ele, batia em seu peito e em seu rosto.
HERIBERTO — O que eu mais amo em você é seu temperamento, Victória! Essa sua força, esse seu jeito brigão. Eu não vou soltar até você se acalmar ou nós dois termos uma pneumonia. – olhava ela reagir a suas palavras, ela o amava, isso ele não tinha dúvidas.
VICTÓRIA— Por que você faz isso comigo? – chorosa, rendida no colo dele, mirando seus olhos com desespero. – Olha onde eu vim parar!
HERIBERTO— Você não sabe mais conversar? – questionou. – Por que não me esperou falar com você no consultório, saiu como uma louca, correndo o risco de se machucar, de bater de carro! – foi duro com ela, corria perigo se comportando assim.
VICTÓRIA — Eu não suporto mais isso! – ela suspirava acelerada.
HERIBERTO— Você quer que eu demita, Alessandra? – os olhos firmes.
Victória chorou sem se debater nos braços dele. As lágrimas escorrendo e ele podia ver apesar da chuva.
VICTÓRIA— Eu não quero essa mulher perto de você, você não entende isso! Que droga! Você faz eu ser alguém que eu não gosto! – sentiu-se destruída, ali, nos braços dele, coagida pela força daquele amor.
HERIBERTO— Victória, eu também odeio o Oscar e você está com ele todo tempo, percebe a ironia disso tudo? – sentiu o rosto queimar, odiava falar naquele imundo.
VICTÓRIA— Você não me vê abraçando e beijando ele! – rebateu.
HERIBERTO— Cada vez que te vejo, o imundo está lá, do seu lado. – suspirou. – Não, Victória, eu te peguei dançando com ele. O imundo quase com as mãos no seu traseiro, o que é bem pior!
VICTÓRIA — Você vê as coisas onde não existe. Do mesmo modo que Oscar me quer, Alessandra também e você dá asa a ela! Você almoça com ela quando é para estar comigo! Você dá moral a ela! – cobrou, esposa que era, tudo que direito e lhe estava sendo negado.
HERIBERTO— Amor, não dou asa a ela, ela trabalha comigo. – a viu mais calma, assim como o rosto estava menos tenso. – O que você quer? Se você não quer eu não como com ninguém. A gente não planeja essas coisa, Vick. – foi sincero. – Estamos com fome, vamos comer na cantina e aí nos encontramos. Eu não a convido para almoçar. É o acaso. Com nossas agendas de médicos é impossível marcar essas coisas. Sempre tem mais alguém, Afonso, Otávio.
VICTÓRIA— Meu filho não iria mentir pra mim! Você estava no restaurante, Heriberto! Ingênuo... ela arma essas coisas, a vagabunda! E você cai!
HERIBERTO— Amor. – ele a desceu de seu colo, a encostou no carro e a beijou com desejo lentamente.
Victória odiava isso. Bateu nos ombros dele, mas se deixou beijar. Heriberto a beijou mais, mais intensamente, as mãos buscaram e cintura dela e invadiram a roupa molhada a puxando para ele.
VICTÓRIA— Vai me fazer sua aqui?– falou sem ar.
HERIBERTO— Vou! Para ver na chuva você se acalma.– as mãos roçaram dentro da saia dela suspendendo.
Victória o segurou pelo ombro com uma mão e a outra o enlaçou no pescoço. O beijo se intensificou de modo desejosamente sexual, como um pedido para que os corpos pudessem se querer, se pertencer.
VICTÓRIA— Despeça essa mulher ou eu vou me encarregar dela! – falou arfando enquanto recebia as carícias dele.
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