Excêntrica escrita por Penelope Charmosa


Capítulo 2
Fuego.


Notas iniciais do capítulo

Vamos esquentar um pouquinho as coisas. Espero agradar a todos, boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/707832/chapter/2

Deus me salve.

Se é que existe algum.

Tudo que eu menos queria nessa vida era voltar para minha cidade natal. Minha ultima estadia nesse local não foi muito boa. Já fazem dez anos, mas experiências traumáticas não deixam a cabeça tão fácil.

Tudo bem, eu era bem esquisita quando pequena, mas era meu jeito. Eu era envergonhada de mais, tinha muitos amigos imaginários, conversava com eles (sozinha), eu só não sabia que eu não podia falar com eles em público. E esse foi o motivo para eu virar chacota.

A cidade tinha mudado, e muito. Meus pais diziam que a cidade crescera por conta da mata virgem, por ser um lugar "místico". Bobagem, são só algumas lendas inventadas por pais para suas crianças não entrarem na mata e se perderem. Mas as histórias pegaram e aqui estamos nós, desenvolvendo uma cidade por conta de crendices baratas. Ótimo.

Entramos na rua de minha casa, parecia que ali era o único lugar intocado. Minha casa ficava no final da rua, com o lado virado para a mata e os fundos para o lago. Os terrenos eram grandes, e quando eu digo grande é porque realmente eram. A casa em si ficava uns cinquenta metros da calçada, e tem o formato de cabana com dois andares. A fachada da casa era coberta por plantas trepadeiras, que na primavera coloriam as paredes de flores cor de rosa e brancas. Paramos o carro na entrada da garagem, meus avós mais seus cachorros nos esperavam nas grandes portas de vidro, que estavam totalmente abertas. Minha irmãzinha correu para os braços de minha avó enquanto minha irmã mais velha abraçava meu avô, os cães me recepcionaram muito bem. Inclusive, Marreta, nós o encontramos na capital, mas ele ficou muito grande para morar em nosso apartamento, então o trouxemos para cá, incrivelmente ele conseguiu ficar maior e mais forte e quando me viu me derrubou com suas patas imensas e lambeu todo o meu rosto. Eu podia escutar as risadas de toda a minha família.

Tudo bem eu também estava rindo.

—MARRETA! – minha avó gritou com muito custo (de tanto que ria) de onde estava e ele encolheu o rabo e saiu de cima de mim, mas permaneceu do meu lado enquanto eu retomava o folego.

— Parece que você precisa de uma ajudinha – eu vi uma mão em minha frente então eu a segurei. Grandes olhos azul celeste me encaravam e dentes bem alinhados brilhavam na minha cara.

—Ahm, obrigada. – engoli seco. Não podia ser, mas era.  

— Lembra de mim, Aiger? – Ele falou de novo e eu fingi que não sabia do que ele estava falando, mas não tinha como esquecer aqueles olhos, principalmente quando eles costumavam a te zoar o tempo todo.

—-Ahm... Não, foi mal.

—- Sou eu , Charles.

—- Ah, era você o idiota que não me deixava em paz quando eu era menor, não é mesmo.—Eu não podia perder a oportunidade.

—- Me desculpe por isso. Criança, sabe como é.—ele sorriu meio constrangido. Bom mesmo.

Eu sorri e tente falar que queria entrar, mas ele foi mais rápido.

—- então vai ficar por aqui? Ou só está de passagem?

Olhei para o carro que tinha um puta caçamba cheia de coisas e olhei para ele. Era meio obvio.

—- É definitivo.—Sorri, tentando ser “amigável”.

—- Ah, é... haha- ele riu meio sem graça, passou a mão nos cabelos que ficam mais claros até chegar nas pontas, olhou para o lado e então me olhou novamente, dessa vez no fundo da minha alma. Um frio na espinha fez minha pele arrepiar. PARA. Não é hora para isso. BASTA. – então, é... te vejo mais tarde?

—- Sem problemas. – Sorri com pressa.

Ele veio me cumprimentar com um beijo na bochecha e eu fui com um aperto de mãos. Digamos que não deu muito certo. No final foi um aperto de mãos próximo de mais.

            Não que aquele encontro tenha sido ruim, mas eu realmente só queria entrar em casa, tomar um banho e arrumar minhas coisas. Cumprimentei meus avos, que se olharam com cumplicidade quando me perguntaram quem era o cara com quem eu falava. Subi para o meu quarto e para a minha surpresa, estava do jeitinho que eu tinha deixado, fui até a sacada, olhei para o lago que refletia o sol, deixei a brisa quente penetrar nos meus pulmões e encarei a mata que permanecia com a mesma cerca velha. Tinham dois cavalos amarrados a ela, uma sensação estranha percorreu meu corpo. Uma imagem minha, de quando criança, percorreu minha mente. Ela estava meio embaçada. Voltei a olhar para o lago e lá estava ele-Charles-, tirando sua linda regata branca estampada com alguns desenhos psicodélicos, exibindo o abdômen sarado, ele mergulhou, o calor era grande, principalmente agora. CALA A BOCA. ENTRA NO QUARTO, SAI DESSA SACADA. Mas a tentação era maior. NÃO COMEÇA, AIGER!

Dei as costas e comecei a tirar das caixas minhas coisas, uma coisa tinha sumido do meu quarto, o guarda-roupa. Tinham dois cabeiros e estantes espalhadas pelo quarto. Comecei a pendurar as roupas e coloquei todos os meus sapatos em um canto, todos os quatro. Dois coturnos, um alto e um baixo, um chinelo e um tênis de corrida. Coloquei meu toca discos em uma prateleira e os discos um em cima do outro no canto ao lado da porta da sacada. Me joguei na cama, fechei os olhos por um instante, mas a paz de espirito foi rápida de mais.

—- AIGER!—minha mãe gritou lá de baixo

—- O QUE?—respondi gritando de novo.

—-Tem alguém querendo falar com você.

Ai não.

—- Estou descendo.

E lá estava ele, rindo e conversando com meus pais, Caroline, minha irmã mais velha, o encarava com um certo ... desejo? Ele olhou para mim e sorriu.

—- Preciso falar com você. Acho que vai gostar.

Meus pais sorriram, inclusive meus avos, menos minha irmã mais velha. Ele veio na minha direção. Excelente. – Hoje vai ter uma festa no trapiche, você quer ir ?

Olhei para os meus pais e eles concordaram.

—- Pode ser.—levantei as sobrancelhas sorrindo sem graça.

—- Daqui uma hora, mais ou menos, eu passo aqui. Tudo bem?!

—- Tudo bem. – eu não deveria ter aceitado. Isso foi rápido de mais.

De qualquer forma, subi para meu quarto novamente, tomei um banho, coisa que eu estava louca para fazer, e comecei a escolher uma roupa. Coturno baixo, calça de moletom preta ate metade da canela, cintura alta, um cropped não muito curto, verde milico. Peguei o celular e o dinheiro que eu achei necessário e enfiei no bolso da calça. Logo a campainha tocou.  Corri para a porta, e um “juízo” vindo da cozinha fez meus lábios soltarem um sorriso.

—- Oi.—Abri a porta com velocidade, o que o assustou. 

—- Uou—ele arregalou os olhos.

—- O que? Tem alguma coisa na minha cara?

—- Não, não... ahn, você está... bem.

—-Ahm?

—- Ahm?—ele balançou a cabeça – Vamos?

—- Vamos.—Fechei a porta atrás de mim e segui ele.

Aquele silêncio constrangedor tomou conta de toda a atmosfera. Eu realmente não sabia o que falar.

—- E qual o motivo do retorno?

—- Não sei. Acho que sair da confusão muito urbana. Confesso que eu gostava de todo aquele barulho.

—- então pretende voltar? – ele me olhou

—- Não posso dizer ao certo. Vamos ver o que essa cidade reserva para mim agora. – olhei para ele  e ele disfarçava um sorrisinho – E o que tem nesse trapiche de tão especial?

—- Você vai ver.

—- Vamos, me conte.—Falei com ansiedade.

—- Relaxa um pouco. – ele riu

—- Foi a capital a culpada. – sorri olhando para ele.

Ele retribui o sorriso.

—- Então, me conte porque saiu daqui?- ele começou

—- Pense que os motivos eram óbvios.

—- OK, ok, só estou tentando puxar assunto.—ele sorria, e gostava da minha grosseria.

—- Esse trapiche...

—- O que tem ?

—- Fica muito longe?

—- Na verdade, é logo ali.—ele apontou para um lugar luminoso, incrivelmente lindo, principalmente agora, momento em que o sol se punha.

—- Quer chegar logo? Então não fique ai parada—Por incrível que pareça eu não tinha notado que estava parada e encarando o lugar, que ficava na curva do lago e de frente para a o outro lado da mata.

—- Ah, claro.

A medida que nos aproximávamos, uma tenda, que estava localizada bem no meio do trapiche , ficava maior e mais robusta.

—- O que é aquilo, um circo?

—- Aquilo? – Ele apontou para a tenda com o braço direito enquanto a mão esquerda ficava mergulhada no bolso da calça – Não , não. Aquilo é o, Teatro Macabro.

Eu sorri.

—- Não me diga que quer ir.-- Charles me encarou com um olhar de provocação.

—- Mas é óbvio que eu quero! Vamos. Não vai me dizer que tem medo.

—- Eu não tenho medo. Já conheço todas as histórias que eles contam. Você é quem vai sair se cagando de medo. – ele riu.

—- Quer apostar? –provoquei

—- o que eu ganho?

—- Você não vai ganhar nada.—mais um pouquinho só de provocação. Parecia que eramos amigos a muito tempo. 

—- Se você se assustar, nem que só um pouquinho eu ganho um beijo seu. Se for ao contrario, eu te dou um beijo

—- HA-HA, muito esperto. Se eu ganhar, você vai nadar pelado.

—- Você não mudou a minha parte da aposta. Não vai fingir que está com medo só para ganhar um beijo meu.—agora foi ele quem provocou

—- Você não contestou a parte de nadar pelado.—eu rebati.

—- Mas é claro que não. Dois motivos: o primeiro é que eu já fiz isso e gosto fazer isso, da uma sensação de liberdade. E o segundo é que você vai entrar junto comigo.

—-Mas nem fodendo.—contestei

—- Mas foder é a melhor parte.—Ele riu

—- Vamos no teatro ou não?—mudei de assunto

—- Ué, vamos né. Mas nem tente mudar de assunto, eu sei o que você quer. – Ele disse me puxando pela mão. E me guiando até o teatro.

—- O que eu quero, então ?

—- Não precisa fingir, eu sei que me quer.

—- Cala a boca! – eu falei rindo. Parte era verdade, mas não seria tão fácil assim.

Paramos bem na entrada do pseudo teatro.—Ainda da tempo de desistir—Ele me olhou.

—- Acho que alguém vai nadar pelado hoje.

—- Acho que alguém vai adorar o que vai ver. – Ele riu da minha cara que estava sem resposta.—Vamos ?—ele fez menção para entrar na tenda.

—- Vamos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Gostaram? Devo ir mais de vagar, ou o que fazer com os personagens. Comentem tudo o que quiserem.
Em breve tem mais. Isso é, seu eu conseguir me conter e não postar tudo hoje.
Beijoss.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Excêntrica" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.