Start escrita por Queen Of The Clouds


Capítulo 4
Missão Impossível




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Anastasia

Depois de algumas semanas de aula eu me surpreendi quando Alexy e Rosalya finalmente faltaram. Esse era um tipo de evento que acontecia na mesma frequência que a aparição do cometa Halley.

Alexy me levava até em casa religiosamente todo dia depois da aula e logo hoje, por falta de sorte, dei de cara com uma tempestade ao sair da faculdade. Estava me perguntando como iria atravessar aquela chuva quando recebi uma ligação do próprio Alexy. A chuva estava tão forte que precisei tapar um ouvido para escutar o que ele dizia.

—Alô?

—Annya? Oi!

—Alexy? Aconteceu alguma coisa?

—Nada demais. Só precisei resolver um problema pessoal e acabei me atrasando demais para ir à aula. Mas já estou voltando pra casa, vou passar em frente à faculdade agora e, se quiser, posso te dar uma carona, só... calma, Rosa, eu já disse!

Eu franzi o cenho.

—O que disse? A Rosalya está aí com você?

—Ahn? Não, claro que não! Me espera no pátio que eu já estou chegando!

—Tudo be...

—Ah! E não se esqueça do nosso encontro no sábado para organizarmos o seminário! Beijos!

Ele desligou antes que eu pudesse responder. Por que ele me lembrou sobre o seminário se nos encontraríamos em alguns minutos? Dei um meio sorriso, completamente perdida com a ligação. Era quase impossível permanecer alheia à companhia de Rosalya e Alexy. Por mais difícil que fosse para mim de aceitar, a verdade é que o bom humor deles era tão contagiante que não demorou muito para eu me acostumar com a presença dos dois no meu cotidiano. Eu ainda tomava cuidado para não falar da minha vida e não me envolver demais, mas não podia negar que os momentos que eu passava com eles eram a melhor parte da minha semana. Acho que, mantendo essa "distância segura", não seria uma má ideia aproveitar a companhia deles. Era um bom plano.

Eu esperei mais alguns minutos, torcendo para que os raios não resolvessem aparecer junto com a chuva, até que um carro vermelho parou e buzinou. Corri até o carro e entrei direto. Nesse caminho meu cabelo já gotejava pela chuva.

—Oi, Alexy. Chegou rápido.

—Poxa, você acha mesmo que somos tão parecidos assim?

Eu me virei devagar, prestes a entrar em pânico. Era o irmão do Alexy, Armin.

Apesar das nossas constantes saídas ao shopping, Alexy ainda me pregava algumas... peças. E nas últimas semanas algumas situações curiosamente estranhas vinham me acontecendo. Ele me chamava para ir até a casa dele e quando eu chegava lá... encontrava apenas o Armin. Era nítido que o cara ficava sem jeito pela atitude do irmão e ficava com pena de mim, então ele sempre agia com muita simpatia e bom humor. Se oferecia para me fazer companhia enquanto eu esperava o Alexy, dizia que eu poderia pegar o que quisesse na geladeira —algo que eu definitivamente nunca faria— e sempre se prontificava para me levar em casa quando começava a ficar tarde. O problema era que, não importava as circunstâncias, eu sempre encontrava uma maneira de fugir da sua companhia, por mais agradável que fosse.

Eu pensava em questionar Alexy sobre isso, mas ao mesmo tempo não queria iniciar um assunto sobre o Armin com ele. Ele ficava extremamente agitado com qualquer contato entre nós dois, dizia que eu ficava "bobinha" na presença do Armin. Imagine então se ele soubesse que da última vez não consegui recusar a companhia do irmão dele. Além da aparência, Armin compartilhava de um traço bem forte com o seu irmão gêmeo: era difícil se manter alheio à sua presença. Nesse dia, ficamos apenas assistindo televisão e conversando um pouco mas, mesmo assim, a tarde foi extremamente divertida. Eu me considero uma pessoa quieta, mas era tão fácil e confortável estar com ele, que eu precisava me lembrar o tempo inteiro de não me deixar levar, não me aproximar e nem falar demais. Eu odiava admitir, mas Armin parecia ser uma pessoa legal.

Mas, mesmo assim, ainda era uma surpresa ele vir me buscar. Todas as vezes que nos encontramos foram por acidente, não era possível que agora também fosse.

—Ah, me desculpe, não vi que era você. Seu irmão disse que ia vir me buscar.

—Foi ele que me pediu para te buscar!

Ah, Alexy, você me paga por isso!

—Eu estava terminando uma partida importante e ele tirou o meu computador da tomada. Perdi por sua causa.—Implicou, virando uma esquina.

—Talvez você jogue mal e ele só estava tentando ajudar, não coloque a culpa em mim.—Retruquei, em brincadeira.

—Muito engraçad... o-oh.

O carro parou subitamente.

—O que houve?

—O carro parou.

—Eu já tinha percebido isso, Armin.

—Deve ser algum problema no motor... outra vez.—Ele tirou a chave e abriu a porta. A luz se acendeu e o som ensurdecedor da chuva começou a abafar sua voz.—Não aguento mais esse carro velho!

Eu toquei seu ombro, antes que ele saísse do carro.

—Espera, você vai olhar isso agora?

—...sim?

—Na chuva?

Ele fechou a porta, confuso, e a luz voltou a se apagar. Seus olhos azuis reluziam com as luzes da rua de uma forma quase... mágica.

—Bem, não podemos ficar parados aqui dentro para sempre, não é?

Nos encaramos. Eu quis me dar um soco por ter desejado que sim, mesmo que o pensamento tenha durado menos de um segundo. Tirei a mão de seu ombro e acenei com a cabeça, desviando o olhar. Eu não deveria pensar assim.

—Tem razão. Vai lá.

Senti seu olhar sobre mim por um momento, até ouvir o som da porta abrindo e fechando. A chuva estava tão forte que não demorou muito para o cabelo dele ficar igual ao meu. Ele penteou os fios escuros para trás com os dedos e levantou um pouco o capô do carro. Era o suficiente para que eu não conseguisse ver no que ele trabalhava, mas não era eficaz para me impedir de admirar sua expressão concentrada. Suas sobrancelhas estavam franzidas numa expressão séria que, se é que era possível, o deixava ainda mais bonito. Aproveitei os poucos minutos que tinha para observá-lo.

—Como pode existir alguém assim?—Sussurrei sozinha, quase inconformada. Ele levantou os olhos para mim, de repente, fazendo meu coração dar um salto. Eu virei o rosto de imediato, profundamente interessada nas gotas de chuva deslizando pela janela.

—Acho que consegui resolver o problema, por enquanto.—Comunicou, feliz, ao entrar no carro.—Você disse alguma coisa?

—O q-quê?

—Eu vi você mexendo a boca. Disse alguma coisa?

—N-não, eu estava... cantando.

Ele me analisou com os olhos semicerrados.

—Cantando, é? Então, além de invasora de quartos, agora você também é mentirosa?

—Invasora de quartos? Essa é nova.

—E a parte sobre ser mentirosa não é?—Ele rodou a chave na ignição e ligou o carro, comemorando brevemente pelo seu sucesso.—Eu esperava mais de você, Anastasia.—Brincou, balançando a cabeça. Eu revirei os olhos, fingindo irritação, mas acho que ele levou a sério.—Estou só brincando, okay?

—Eu sei, não precisa pedir desculpas.—O tranquilizei. Ele concordou com a cabeça e ficou em silêncio... por poucos segundos.

—Geralmente, eu não falo tanto. Não sou tão chato assim, sabia?

—O quê?—Perguntei, sem entender.

—É, não sei porquê não consigo calar a boca quando converso com você.

—Então quer dizer que só eu tenho esse azar?—Disparei, sem pensar, em tom de brincadeira. Quando me dei conta, ele me fitava.

—Ai, essa doeu!

—Desculpe!—Eu levei a mão à testa, arrependida, mas ele dava gargalhadas.—Eu estava brincando, foi mal, de verdade.

—Relaxa! Foi engraçado.

—Eu sou péssima em fazer brincadeiras.—Eu balançava a cabeça, completamente sem graça. —Acho que tenho uma expressão séria demais para isso, falo como se fosse um robô.

—Você? Séria? Não.—Ele ergueu as sobrancelhas dramaticamente, me fazendo sorrir.—Você não parece um robô, Anastasia, só é uma pessoa reservada e está numa cidade nova, com pessoas desconhecidas. Se fôssemos amigos há mais tempo, tenho certeza que não seria assim.

—E como eu seria?

Ele olhou para mim de soslaio e me dirigiu um sorriso.

—Você vai descobrir sozinha.—Falou, decidido.—Só vou precisar de alguns meses.

Primeiro, a Rosalya. Depois, o Alexy. Agora, o Armin. Eu me pergunto o que faz com que as pessoas se sintam tão empenhadas a serem minhas amigas quando me conhecem. Talvez seja pelo desafio de se aproximar e ganhar a confiança de alguém introvertido. Quando descobrem que não há nada demais para ver, elas vão embora. É sempre assim.

Suspirei. De repente, me senti cansada. Era sempre o mesmo padrão. Eu já conseguia ver à frente: quando eu começasse a me afeiçoar por essas pessoas, elas iriam virar as costas para mim.

—Não precisa se incomodar. Eu sou assim desde sempre.

Ele se calou quando paramos num sinal vermelho. Apenas as gotas de chuva caindo sobre o teto do carro preenchiam seu silêncio.

Desde sempre?—Perguntou, depois de muito tempo. Ainda devia estar incomodado com a minha resposta curta. Sorri levemente.

—Qual o problema nisso?

—Nenhum. Só estava me perguntando o que faz uma pessoa ser séria desde sempre.

—Uma série de problemas.

—E você gostava de como era antes dos problemas?

Eu suspirei.

—Com certeza.

Ele ficou em silêncio outra vez. Parecia pensativo. 

—Então eu tenho uma nova missão: exterminar sua expressão séria.

—Já disse que não precisa se incomodar...

—Não é incômodo, é uma honra. Me sinto em Missão Impossível.

Balancei a cabeça.

—Tudo bem, Ethan Hunt, faça o que achar melhor.—Eu olhei pela janela.—A propósito, você passou direto pelo meu prédio.

Ele deu a ré, estacionou o carro e me estendeu a mão para que eu a apertasse.

—Acho que é aqui que nos despedimos.

Meu olhar alternava entre o seu rosto e a sua mão.

Eu estava nervosa só pela possibilidade de tocá-lo!

—Hum, melhor não. Minhas mãos estão... sempre muito frias.

Ele fez uma careta.

—O que foi?

—Essa foi a pior desculpa que já ouvi em toda a minha vida!

—Não foi uma desculpa!

—Tem razão, não foi só uma desculpa... foi uma péssima desculpa!

—Armin!

—Pense nisso como seu primeiro passo em direção à uma personalidade menos séria, que tal? Um pouco de contato humano ajuda.—Ele voltou a estender a mão.—E se não apertar minha mão vou exigir um abraço.

Eu revirei os olhos e apertei sua mão. Seu toque era quente. Ele deu uma risada.

—Satisfeito?

—Por ora, sim.

Eu sorri.

—Obrigada pela carona, Armin.

—Disponha, mademoiselle.

 

Alexy

Chequei o relógio na tela do meu notebook mais uma vez. Já eram quase onze da noite e Armin ainda não havia chegado. Não recebi nenhuma mensagem ou ligação dele ou de Annya. Deixei meu corpo escorregar na maldita cadeira de plástico amarela. Comprei só por aparência, porque o conforto era definitivamente zero.

—Está se preocupando à toa, garoto.—Rosa resmungou enquanto digitava algo no seu celular.—Eles estão bem.

—Só estou ansioso.—Murmurei, roendo as unhas. Rosalya afastou minha mão com um tapa, interrompendo meu péssimo hábito. Eu suspirei.—Acha que eu estou forçando demais?

Ela olhou para cima, fingindo considerar algo.

—Talvez, um pouquinho...

Eu choraminguei, escondendo o rosto nas mãos.

—Estou brincando!—Rosa afastou minhas mãos e quando abri os olhos ela cruzava as pernas sob si para sentar-se na beira da cama.—Alexy, se for para esses dois se gostarem, isso vai acontecer, independente da sua interferência ou não. Você não precisa se sentir culpado por dar um empurrãozinho.

—E se o meu empurrãozinho estiver mandando-o para a beira de um precipício?

Rosalya me encarou, sem entender. Eu era levemente dramático quando queria.

—Ah, você lembra da última vez, não lembra? O estado em que ele ficou... era quase difícil de acreditar que éramos gêmeos.

—Não exagere...—Ela interveio.

—Você me entendeu, Rosa. Aquelas garotas arrancaram toda a vida que havia no Armin, ele ficou irreconhecível. Annya parece ser uma boa pessoa...

Rosalya deixou o celular de lado.

—Mas você tem medo de que ela...

Eu suspirei e me deitei na cama.

—É. Eu tenho medo de que ela seja mais uma pra atrapalhar a vida dele.

Como gêmeos, eu e Armin nunca tivemos certeza sobre quem nasceu primeiro. Mas esse... peso... essa parcela de culpa que cresce nas minhas costas a cada vez que eu não consigo evitar que algo ruim aconteça à ele não pode ser coincidência. É cômico dizer isso de um cara de um metro e oitenta que definitivamente não precisa de mim para nada, mas me sinto no dever de protegê-lo. Tenho essa sensação persistente de que sou o irmão mais velho e estou começando a achar que nunca vou me livrar dela.

—Ele não se apaixonou por mais ninguém desde aquela coisa toda. Aliás, nem sei se ele se recuperou de tudo o que passou, ele não conversa mais comigo.—Eu respirei fundo.—Não é como se ele fosse obrigado a gostar de alguém, entende? Ele sabe se virar muito bem sozinho. Ele adora passar o dia na faculdade, se diverte à própria maneira com os jogos e todos aqueles livros que ele tem, ainda mantêm a amizade com o pessoal da escola, logo vai conquistar o próprio espaço morando sozinho, mas... toda vez que o assunto "amor" vem à tona eu consigo ver a indiferença nos olhos dele. E ele não era assim... na primeira vez que saiu com a Rachel, ele praticamente me descreveu o look inteiro que ela estava vestindo, sem poupar detalhes. Caramba, era a roupa dela, Rosalya! Você sabe como ele é desatento com esse tipo de coisa.

—Eu me lembro. Ele era mesmo um fofo.—Rosa se deitou ao meu lado e esticou meu braço sob sua cabeça para servir de apoio.—Mas acho que ele continua sendo o mesmo, Alexy. Talvez só não esteja pronto para voltar à gostar de alguém ainda, mas, quando estiver, tenho certeza que vai voltar à agir dessa forma, atencioso como sempre. Tadinho, ele passou por muita coisa... ele não merecia nada daquilo.

—É.—Murmurei, simplesmente. Rosa se pôs em silêncio por alguns segundos, provavelmente também relembrando aquela época horrível.

—Às vezes tenho vontade de esganar Rachel e aquela outra louca.—Resmungou.

—Eu também.—Concordei.—Rachel era uma... uma...

—Olha a língua...

—...uma boboca.

Eu e Rosalya nos entreolhamos e começamos a rir. Se eu levasse esse assunto muito a sério a cada vez que ele surgisse em minha mente, eu enlouqueceria. Só de pensar um pouco mais a fundo por um segundo, já senti uma pontada de desânimo. Por fim, deixei escapar um longo suspiro. Rosa esbarrou seu ombro em mim, propositalmente.

—Pode ficar tranquilo, Alexy. O que tiver que dar certo, vai dar. A propósito... quando você o pediu para buscá-la na faculdade... não notou nada estranho?

—Ele nem questionou, não é?

—Exatamente!—Rosa riu.—Eu pensei o mesmo, ele nem mesmo hesitou. Talvez ele já até esteja interessado nela.

Eu entrelacei as mãos atrás da cabeça e sorri. Seria legal. Tenho certeza que faria bem à ele. Sinto falta de ver o meu irmão empolgado por alguém.

—Mas eles realmente estão demorando, não é?—Ela disse, depois de um tempo.—Ele já deveria ter chegado.

—Hum... talvez já estejam fazendo algo mais interessante.—Sorri diabolicamente para Rosa, mesmo sabendo que Armin jamais mergulharia em outro romance tão fácil assim.

Ela se sentou na cama, exasperada, balançando a cabeça.

—Credo, Lexy! Eles ainda são apenas amigos!—Ela pensou bem e então ergueu os ombros.—Bem, pelo menos por enquanto.

—Amizade colorida existe, Rosa.

—Você é ridículo.—Sibilou, entre risos.—Espera! Acho que ouvi um barulho na porta.

Ficamos ambos em silêncio até escutarmos o típico som das chaves do carro sendo jogadas sobre o sofá. Quase descemos a escada ombro a ombro, correndo para encontrar um Armin completamente encharcado.

—Oi! E aí? Como foi?—Perguntei, despretensiosamente apoiando-me na bancada da cozinha.

—Como foi o quê?—Ele me encara, quase arisco.

—Deu tudo certo?

—Não, o...

—Não? Ai, meu Deus. O que houve?

—...o carro deu defeito.

Rosa se sentou nas costas do sofá, animada. Seus pés não alcançavam o chão e ela os balançava no ar, como uma criança.

—Então você foi na casa dela?—Supôs, esperançosa.

—Não. Eu desci e consertei, ué.—Respondeu, simplesmente.—Aliás, consertar é uma palavra muito forte, eu dei um jeito.—Ele deu uma risadinha para si mesmo.

—Ah...—Eu e ela suspiramos, notavelmente decepcionados. Percebendo que continuávamos encarando-o, seu olhar passou a alternar entre mim e Rosalya, completamente confuso.

—O que vocês estão aprontando, hein?

—Nada!—Negamos juntos, fazendo com que ele se confundisse ainda mais. Ele balançou a cabeça e caminhou até à lavanderia, se livrando da camisa molhada no caminho. Quando percebeu que estava sendo seguido, se virou.

—Sério? Não vão me dizer o que está acontecendo?

—Não.—Respondemos em uníssom outra vez. Ele ergueu as sobrancelhas e assobiou.

—Tudo bem... Já entendi. Sem perguntas.

—Só ficamos preocupados, você demorou a voltar.—Rosalya completou com um olhar realmente de dar pena. Olha só quem também conseguia ser levemente dramática quando queria.

—Foi mal, não queria esquentar a cabeça de vocês.—Se desculpou. Ele não notou a atuação da Rosa. Meu irmão era tão ingênuo... É disso que eu falo: ele precisa ser protegido.—Meu carro não queria colaborar e a avenida principal estava totalmente parada, aí precisei pegar outro caminho, levei um pouco mais de tempo. A chuva realmente não está dando trégua hoje.—Ele esticou sua blusa e a estendeu.—Olha só o estado da minha camisa. Só não estou pior do que Annya. A coitada estava de vestido.

Eu e Rosalya nos olhamos no mesmo segundo. Armin saiu do cômodo e automaticamente apagou a luz atrás de si, sem olhar para o interruptor. Eu pigarreei e encostei a porta, voltando a segui-lo.

—Vestido?

—Sim, foi o que eu disse.

—Como era o vestido?—Minha amiga perguntou, enrolando uma mecha do cabelo ao redor do dedo indicador.—O que foi? É mania de estilista, sou refém desse tipo de detalhes.—Ela se defendeu quando Armin lhe lançou uma olhada.

Ele parou ao pé da escada com um meio sorriso para Rosa, aceitando sua justificativa.

—Era verde-escuro, sem mangas. Tinha gola redonda. Terminava um pouco acima dos joelhos. Não era muito justo mas também não folgava demais.

Meu queixo caiu. Se antes eu achava que não deveria incentivar uma aproximação entre os dois, agora qualquer dúvida estava enterrada a sete palmos debaixo da terra. O que é isso? Ele nem mesmo precisou buscar na memória para relembrar como era a droga da roupa! Meu irmão muito mal lembrava das próprias roupas e de repente havia incorporado o próprio Karl Lagerfeld para descrever um vestido!

—Está bom para vocês?

—...Está perfeito.—Falei, tentando não deixar transparecer a minha expressão embasbacada. Ele sorriu, orgulhoso de si mesmo.

—Acho que estou pegando o jeito, estão vendo? Já até consigo sentir os deuses da moda me abençoando.

"Deuses da moda". Sei. Está mais para Afrodite.

—Ah! A propósito! Alexy, você sabe onde é a casa dela?—Ele perguntou, já subindo os degraus.

Eu não pude conter o sorriso.

—Claro, levo Annya em casa todos os dias.—Tentei dizer calmamente.—É no mesmo prédio que você vai alugar o seu apartamento.

—Exatamente. Que coincidência, não é?—Ele passou a mão pelos cabelos e sorriu distraído quando alcançou o topo da escada.—Depois vou perguntar à ela como é morar lá e...

Aproveitei quando ele seguiu até o seu quarto, falando sozinho, para dar uma olhada em Rosalya. O pior é que realmente foi uma coincidência. Quando descobri fiquei tão feliz que perdi o ar. Annya ficou desesperada, achou que eu estivesse passando mal.

De qualquer forma, eu mal podia esperar pela mudança do meu irmão... seria, no mínimo, divertido.


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