Start escrita por Queen Of The Clouds


Capítulo 37
A última chave




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Anastasia

Eu não queria sorrir.

Aliás, eu não podia sorrir. 

Mas é claro que eu não aguentei.

Acho que nunca fiquei tão feliz por ver alguém em toda a minha vida. Ver Armin parado na soleira da minha porta com os braços cruzados e uma cara de poucos amigos direcionada totalmente para Lily? Eu me sentia num sonho!

—Eu não queria interrompê-la, querida, por favor, pode continuar seu discurso.—Armin falou cheio de sarcasmo.

Lily estava pálida. Sua pele havia esquecido totalmente o que era cor. Ela corria os olhos de mim para Armin, desesperada e eu jurava que ela iria desmaiar, mas ela fez pior. Ela começou a chorar.

—Armin, não é o que você está pensando! Eu vim a-aqui para ver se você estava e...

Armin entrou no meu apartamento e bateu a porta.

—Lily, se for mentir pelo menos minta bem, porque eu acabei de sair do seu apartamento.

—Meu amor, eu não estou mentindo... eu não fiz nada! Foi ela quem me atacou! Olhe o meu rosto!—Ela virou a cabeça, mostrando a bochecha ainda mais avermelhada.

—Eu estou mais preocupada com a mão dela do que com o seu rosto.

Lily engoliu em seco, surpresa.

—Você mentiu para mim durante todo esse tempo.—Ele se aproximava dela, repleto de rancor.—Uma  pobre garota que perdeu o irmão caçula e mudou de cidade para ficar perto do cara que amava... você inventou uma personagem só para estragar a minha vida.

Lily limpou as lágrimas falsas e sustentou seu olhar. Eu apenas assistia a cena, mais empolgada do que deveria.

—Eu nunca mais quero vê-la na minha frente.—Falou, entre dentes. Ele parecia confiante, mas eu conseguia perceber que havia algo de errado. Sua voz estava levemente trêmula, como se estivesse sentindo dor.

Então, ele... realmente gostava dela.

—E avise à Rachel que é melhor ela não se aproximar de quem eu amo outra vez ou...

—Ou...?

Ele sorriu, cínico e levou o dedo aos lábios.

É segredo.

—Você...—Lily começou a falar, mas Armin a interrompeu com apenas um gesticular de mãos.

—Vá embora daqui.

Ela ajeitou o cabelo e mudou sua expressão. Seus olhos perscrutavam Armin como se ele fosse sua presa. Ela delineou os próprios lábios vermelhos com o polegar e sibilou:

—Ah, meu bem... eu não mereço nem um beijo de despedida?

Armin a fitou, com um olhar de puro ódio. Eu tinha noção da paciência de ouro que Armin tinha, mas aquilo era demais. Eu a agarrei pelo cotovelo e a escoltei até o corredor.

—Adeus, Lilith.—Me despedi, com um sorriso no rosto e bati a porta. Acabou. Minha cabeça rodava, eufórica, com o monte de pensamentos e emoções que viajavam pela minha mente, mas quando olhei para Armin, tudo parou. Senti meu sorriso se desmanchar.

Ele se sentou na frente do sofá, passando as mãos pelos cabelos. Parecia desolado. A máscara de confiança que usava alguns segundos atrás havia se partido em milhões de pedacinhos. Ele cruzou os braços sobre o joelho e abaixou a cabeça. Eu me sentei ao seu lado, hesitante.

Eu não tinha ideia do que estava passando pela sua cabeça. Ele parecia triste pelo que aconteceu enquanto eu me sentia totalmente aliviada.

Suas costas se moveram, devagar, quando ele respirou fundo. Eu esperei um pouco antes de falar:

—Armin, eu... não sabia.

Ele fungou e se virou para mim. Seus olhos estavam vermelhos. 

—O que disse?

Eu suspirei.

—Eu... não sabia que gostava tanto dela.

—Eu não gostava tanto dela.—Retrucou, impaciente, e fechou os olhos.—Eu apenas estava me obrigando a gostar.

Eu franzi o cenho.

—Por quê?

Ele me fitou, sem desviar o olhar por um segundo sequer. Meu coração deu um salto. O mar em seus olhos parecia frio, perigoso.

—Eu ouvi.

—Ouviu... o quê?

—No chalé, com o Alexy, você disse que não sentia nada por mim.

—E... por que está lembrando disso agora?

—Porque... droga, porque eu estou apaixonado por você, Annya!

Eu gelei, sem conseguir tirar os olhos dos seus. Aquilo estava acontecendo de verdade? Talvez eu realmente estivesse num sonho. 

—E eu sou o cara mais covarde do mundo, porque tive um ano inteiro para te dizer isso e estou dizendo agora que você vai embora! Eu queria ter falado antes, eu queria que aquele despertador nunca tivesse tocado, eu queria ter demonstrado o que eu sentia por você na primeira vez que te dei carona até em casa.

Ele tirou o cabelo dos olhos, exasperado.

—Eu sei que parece loucura, mas... você me deixa assim. Eu nunca havia me sentido dessa forma por ninguém! Eu estou apaixonado pelo seu sorriso, pelos seus olhos, pela sua voz... tudo em você me atrai, Annya.

Eu esperei tanto tempo por esse momento e agora eu... não sabia a mínima ideia do que dizer. De repente, eu conseguia sentir a sua tristeza. Eu queria acalmá-lo, dizer que ele estava se precipitando, que era bobagem... mas como eu poderia dizer qualquer uma dessas coisas se eu me sentia da mesma forma?

Eu havia falhado miseravelmente na minha missão de me apaixonar por Armin. Todos os meus esforços e tentativas de afastá-lo, de mantê-lo como um simples amigo foram em vão.

Depois de tudo que aconteceu comigo, eu tranquei meu coração a sete chaves e jurei a mim mesma que jamais o abriria outra vez para alguém, mas a cada dia Armin parecia se reinventar. A cada toque, a cada palavra, a cada olhar, a cada risada... eu sentia que estava entregando-o uma nova chave.

Mas eu ainda tinha uma.

—Annya.—Ele segurou minhas mãos e as apertou levemente.—Você se sente como eu? Diga que sim...

Ele não sabia se o seu sentimento era recíproco. Eu ainda podia pegar as minhas chaves e ir embora... e talvez isso fosse o correto a se fazer.

Nós brigamos e nos desentendemos tantas vezes, não tinha condições de aquilo dar certo. Não éramos compatíveis. Eu precisava aceitar isso, mas era difícil para mim. Minha mente ordenava que eu recuasse mas meu corpo implorava pelo seu toque.

—Diga que sim, por favor.—Seus olhos examinavam os meus, ansiosos. Suas pupilas estavam dilatadas. Eu umedeci os lábios e desviei o olhar.

Eu só precisava dizer uma palavra.

—Não.

Eu quase conseguia ouvir o seu coração se partir. Ou talvez fosse o meu. Suas mãos deslizaram das minhas. Eu senti minha garganta queimar pela verdade que escondi. As lágrimas lutavam para chegar aos meus olhos, mas eu não podia ceder.

Ele se levantou, incerto, e demorou alguns segundos até chegar à porta. Eu sabia que ele não iria insistir. Além de orgulhoso, ele era doce e educado demais para me pressionar a algo.

—Tudo bem.—Murmurou, sem nenhuma emoção.—Adeus, Annya.

A porta se fechou. Eu estava sozinha outra vez no meu apartamento silencioso e vazio. Era como a minha primeira noite de volta à frança, mas dessa vez não havia uma festa de aniversário no fim do corredor. Tudo que eu conseguia ouvir era o último pedaço do meu coração martelando dentro do peito à medida que os passos de Armin se afastavam.

As lágrimas começaram a descer pelo meu rosto e eu continuava dizendo a mim mesma que jamais daria certo. Eu e Armin não funcionávamos juntos. Sophie tinha razão, até mesmo Lily tinha razão.

Mas, de repente, minhas próprias palavras surgiram em minha mente, num lampejo:

"Posso estar exagerando, mas quando estamos sozinhos, sem ninguém por perto... eu sinto que funcionamos como uma só pessoa. Mas quando há mais alguém envolvido, tudo desanda."

Senti algo queimar dentro de mim. Não era exagero. Foi Rachel quem fez tudo desandar. Eu e Armin éramos mais do que compatíveis. Eu o amava. Eu o amava tanto que doía não tê-lo por perto e eu queria gritar isso para o mundo inteiro ouvir. Eu ia ficar com ele independente de qualquer pessoa que tentasse nos separar.

Eu não podia ir embora.

Corri para fora do meu apartamento, procurando-o. Minhas pernas estremeceram quando o vi no elevador. 

—Armin!

Seus olhos azuis encontraram os meus, mas as portas se fecharam. Eu senti uma dor no peito e minha garganta secou. Caí de joelhos no meio do corredor, sentindo meus pulmãos arderem.

Se fosse para dar certo, seria como nos filmes. Eu teria o alcançado, ele me tomaria em seus braços e nos beijaríamos, mas... não foi como nos filmes. Deveria ser, mas não foi. Eu havia perdido-o.

Eu estava começando a hiperventilar. Limpei as lágrimas e me forcei a engolir o choro. Estava tudo acabado, chorar era uma perda de tempo. Depois de alguns segundos respirando fundo eu me levantei, ainda trêmula. Quando toquei a maçaneta do meu apartamento, escutei passos pesados ecoarem pela escadaria do prédio.

O oceano inteiro me fitava, com seus olhos azuis brilhantes. Sua respiração estava pesada e ele parecia cansado. Ele abriu os braços, numa falsa impaciência. Eu conseguia ver um sorriso prestes a escorregar em seus lábios.

—Caramba, Annya! Sim ou não?

Eu sorri e corri até Armin, pulando em seu colo sem medo algum de cair. Suas mãos me seguraram firmemente e nossos lábios se encontraram. Eu não conseguia acreditar que ele estava ali. Eu não conseguia acreditar que nós estávamos juntos!

Eu deslizei minhas mãos até o seu cabelo e enrosquei meus braços ao redor do seu pescoço. Sua pele era quente. Nosso beijo ultrapassou todas as etapas. Não houve timidez, não houve troca de olhares ansiosos, não houve qualquer vestígio de hesitação. Nós nos desejávamos há tanto tempo que não podíamos perder nem mais um segundo.

Eu me sentia viva. Meu coração estava inteiro.


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Notas finais do capítulo

Milagres também acontecem.



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