O Assassino escrita por Shirayuuki


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Listener e Sithis são termos retirados do jogo Elder Scrolls V: Skyrim que foi usado como inspiração para essa história.



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A escuridão úmida da cela possuía um cheiro forte de fezes e podridão, as instalações precárias só se mantinham de pé por causa das grossas barras de ferro fundido que cruzavam as paredes do chão ao teto formando a caixa de metal em que os prisioneiros eram mantidos dentro. Mas nem mesmo o cheiro desagradável poderia tirar o sorriso satisfeito do meu rosto quando reconheci a voz do meu alvo vindo pelo corredor, como o planejado, ele estava na masmorra e tinha vindo ver com seus próprios olhos incrédulos o “Irmão” que fora capturado pelos guardas, mal sabendo que tudo isso era apenas um plano.

Tão escorregadio quanto uma lesma, eu vinha perseguindo esse homem durante quase duas semanas, o contrato pela sua cabeça pagaria bem o suficiente para compensar o esforço e ainda mostraria para a “Listener” que sou capaz de executar as missões tão bem quanto qualquer outro assassino na Irmandade.

E eu sou uma pessoa paciente, não me incomoda ficar ouvindo insultos enquanto aquele verme se arrasta pelos corredores, suas mãos tão sujas de sangue inocente quanto qualquer uma de meus irmãos. Seria rápido para ele, Sithis aplicaria a sua punição no inferno e este mundo estaria livre de mais um verme.

Ah, aqui está. Tão arrogante e ignóbil quanto qualquer engomadinho da realeza. Venha, olhe para mim e se convença de qualquer mentira que possa estar passando pela sua mente enquanto eu estou aqui “preso”, desfrute dos seus últimos segundos.

Ele mal percebeu o que aconteceu, minha velocidade superior a qualquer humano, as garras afiadas da minha mão direita afundaram na carne macia do peito, quebrou ossos e seguiu em frente até que pude sentir o coração pulsar na minha palma por uma fração de segundo antes de esmagá-lo, desfrutando a satisfação de saber que aquele estuprador nunca mais faria outra vítima.

O guarda que o acompanhava gritou em pânico, consegui alcançá-lo no último segundo antes que se afastasse para longe das grades e com um único impulso violento fiz com que batesse a cabeça nas barras e caísse inconsciente, afinal, não havia necessidade de derramar sangue inocente. Rapidamente busquei as chaves no corpo inerte e me libertei, a essa hora todo o andar deveria estar vazio já que os guardas tiravam essa hora específica para almoçar, por isso não tive muita pressa em chegar á sala do guarda e recuperar minhas armas calmamente antes de fazer meu caminho para fora sem que ninguém me notasse. Já estava do lado de fora quando os sinos finalmente foram tocados, alertando a todos que alguma coisa estava errada.

Rindo discretamente, satisfeito com o resultado da minha caçada saltei pela amurada, usando o galho estendido de uma arvore como apoio me balancei por cima do fosso e soltei caindo com um ruído abafado na grama do outro lado rolando para os arbustos no momento em que um soldado espiou pela borda de pedra vasculhando os arredores abaixo do muro por qualquer sinal do prisioneiro.

Escondido nas sombras eu não ousei me mover até que o homem prosseguisse sua busca, só então, me esgueirei lentamente para as profundezas da floresta que protegia o majestoso castelo, longe o suficiente da estrada para que nenhum cavaleiro em seu garanhão de batalha pudesse me seguir tão facilmente.

Depois disso foi fácil caminhar pela sombra fresca das árvores protegido do sol do meio dia em direção ao poente. Matei a sede num riacho que encontrei pelo caminho, estava quase anoitecendo quando resolvi que era melhor parar e acampar do que seguir viagem, pois logo teria que atravessar a estrada principal e os soldados do rei ainda estavam me caçando, irritados demais para que a noite pudesse impedi-los.

De fato, enquanto esfolava um coelho para assar na fogueira vi a luz de suas tochas passando pela linha das árvores. Do ponto elevado onde eu estava na encosta a estrada ficava vários metros abaixo me dando um amplo ponto de observação e com a fogueira escondida por detrás das pedras eu estava tranquilo de que nenhum daqueles homens poderia me ver em sua busca frenética.

Segui viagem antes do amanhecer, fui rápido para atravessar a estrada de terra batida antes que a patrulha voltasse na manhã seguinte e logo estava livre para seguir na minha própria velocidade por entre a floresta até o ponto de encontro onde meus irmãos estariam esperando. Na verdade o esconderijo de nossa irmandade não era muito mais longe daqui, por isso mantínhamos alguns irmãos em pontos estratégicos da floresta, assim caso algum inimigo fosse longe demais na direção certa teríamos a cabeça dele antes que batesse em nossa porta.

Como eu não tinha pressa para chegar cacei quando o sol atingiu o meio dia, montei minha fogueira perto das margens de um córrego para assar a carne e aproveitei para descansar e matar minha sede antes de voltar ao meu caminho.

Encontrei com o primeiro irmão algumas horas depois com seu cumprimento costumeiro. "Salve Sithis!" Respondi com um meneio de cabeça e continuei andando até o acampamento deles no fundo de uma depressão no terreno acidentado, lá me inteirei das novidades, meu sucesso na missão já era conhecido por todos, e só depois continuei a decida rumo ao fundo do vale onde ficava nossa casa.

Nosso esconderijo ficava na parte mais profunda do vale, um lugar ermo e esquecido protegido por pinheiros centenários e uma névoa densa provocada pela baixa temperatura e alta umidade do ar. Ali era preciso tomar cuidado com cada passo, o lodo negro que encobria o solo era venenoso e penetrava no couro macio das botas tão rápido quanto se fossem feitas de pano. Nós, os assassinos da irmandade éramos os únicos que sabiam o caminho para passar por ali sem morrer, mas mesmo assim o menor descuido era fatal.

Prossegui devagar, achando as rochas escondidas que compunham o caminho com a pericia de quem já passou por aqui centenas de vezes, até que o lodo negro ficou para trás e na área de terra firme surgiu a porta de pedra esculpida com a forma de ossos humanos e com um crânio reluzente fixado na altura dos olhos. A coisa amaldiçoada abriu a mandíbula destruída e pronunciou lentamente com sua voz do além túmulo:

"Bem vindo de volta Irmão." E eu sabia que finalmente estava em casa.


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