Oito Dias no Hospital Psiquiátrico escrita por Poetisa ruim


Capítulo 1
Capítulo 1




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Pleonasmo Redundante

E quando amanheceu o dia
Eu tive que encarar de frente
E então criei minha nova criação
Eis aqui minha conclusão final
Eis aqui fatos verídicos
Eis aqui fatos reais
Eis aqui fatos verdadeiros
Eis aqui verdades verdadeiras

Quero uma surpresa inesperada
Quero uma água molhada
Quero mergulhar no mar salgado
Quero comparecer pessoalmente
Para ver o pássaro alado

Quero descer para baixo
Quero subir para cima
E mesmo sem rima
Quero entrar para dentro
E também sair para fora

Quero decaptar a cabeça
Quero uma hemorragia de sangue
Quero suicidar a mim mesma
E nesse meu salto eu vou gritar alto

Eu quero bater palmas com as mãos
Eu quero cheirar com o nariz
Eu quero lamber com a língua
Eu quero morder com os dentes
Eu quero comer com a boca
Eu quero olhar com os olhos
Mas eu sou cega dos olhos

Quero ganhar de graça
Porque eu quero mais e mais melhor
É o que eu prefiro mais

Eu não vou adiar para depois
Há um elo de ligação
Nessa dupla de dois
Dois eus, uma abstração

Em meio a todos os meus espasmos
Eu só quero engolir todo o pleonasmo
Que ele desça rasgando o nó da garganta
E que queime essa medíocre manta ardendo em chamas

Na minha própria autobiografia
Porcaria fantasiada de fantasia
Tenho certeza absoluta
Que aqui fica meu acabamento final
De uma total demente mental

Morgana escrevia como respirava, e respirava rápido como quem vive com pressa de morrer. Com passadas largas e destrambelhadas ia vivendo, sentindo toda a amargura da vida por ser doce demais. Morgana, nome de bruxa e alma de anjo. Tinha dezesseis anos, cerca de um metro e meio, cabelo médio, vermelho escarlate, se via de longe as madeixas despenteadas ao vento sempre a contrariando, assim como todas as coisas que conhecia.
Seus cílios faziam curvas como ondas rebeldes do mar, com seus olhos castanhos escuros para acompanhar tamanha beleza. Unhas desleixadas, sempre desiguais com o esmalte preto carcomido. Apesar de tal encanto, tinha o andar assustado e o corpo machucado em todos os cantos que se pode imaginar.
Fumava diariamente, tanto fumou que agora o Marlboro vermelho tem o gosto dela, o cheiro dela e a marca da bela jovem perdida. Seu piercing no septo, seus brincos e roupas rasgadas e desbotadas, tudo tão ela. Exclusiva e unicamente ela.
Espírito livre, agora preso em um hospital psiquiátrico.

Dia 1
Levantou-se daquela cama, dura como pedra, dos lençóis, fronha e cobertores brancos, tipicamente hospitalares. Sete e meia da manhã, o horário do café da manhã da clínica psiquiátrica de Santa Mônica.
Arrancou os cabelos desgrenhados do rosto e abriu os olhos lenta e custosamente. Era seu primeiro dia, não sabia o que vinha pela frente, muito menos queria que viesse algo.
Havia um pão seco e um café aguado a sua espera na mesinha acabada do quarto. Morgana foi engolido aos poucos pedaços do pão e os molhando na boca com o café que para ela era água suja. Quando terminou, pôs-se a deitar novamente quando uma enfermeira entrou no quarto.
— É o seu remédio matinal. - Disse a moça de cabelos negros compridos que parecia ter uns vinte e poucos anos.
Ela tomou o comprimido da moça juntamente com um copo de água e o engoliu.
— Abra a boca e depois levante a lingua por favor mocinha. - Disse a enfermeira que depois completou. - Precisamos ter certeza que os pacientes estão tomando as medicações corretamente.
Morgana não relutou e o fez. Se sentiu completamente invadida e não pensara em ludibriar o remédio, mas refletiu que era muito inteligente da parte do hospital, pois depois daquilo já passava-se pela mente da garota inúmeros incidentes com a manipulação de remédios por paciente.
A jovem voltou para a cama, sentia uma tristeza imensurável, só queria sair logo daquele lugar que de imediato já era maldito para ela. Ficou pensando como usual na morte e logo veio a ideia, que já tentara há alguns meses, de fazer uma overdose com os remédios, se obviamente não fosse pela vistoria das infermeiras. Se não fosse... estaria livre, talvez em outro lugar, sabe-se lá para aonde a morte nos leva, mas livre de alguma forma daquilo tudo.
Algum tempo se passou e a garota decidiu sair do quarto, acompanhada da avó. Já que era menor de idade ficaria acompanhada o tempo todo de sua avó, e quando digo o tempo todo é no sentido mais literal que se pode ter. Não se podia tomar banho, tomar água e nem fazer necessidades fisiológicas sem que fosse vigiada, eram as normas do hospital.
Outras jovens que lá também estavam internadas recepcionaram Morgana.
— Olá, você é a garota nova não é? - Disse uma garota com cabelos pretos até o ombro.
— Sou sim, me chamo Morgana, quem são vocês? - Falou Morgana.
— Eu sou Olívia e essa é Marília - Disse a jovem de cabelos negros apontando em seguida para uma outra, que por sua vez tinha o cabélo curtíssimo num tom de castanho claro.
— Vamos para a sala comum conversar. - Convidou Marília.
Morgana aceitou o convite e foram as três a sala comum da ala psiquiátrica de jovens. A sala era simples, dotada de uma mesa de ping-pong, sofás, mesas e uma televisão. Elas se sentaram no sofá e Olívia curiosa indagou:
— Por que você está aqui?
Mas que pergunta indelicada, pensou Morgana que rapidamente respondeu:
— Não sei. - E como impulso acrescentou. - E vocês?
— Eu sou borderline. - Disse Olívia.
— Eu tenho depressão. - Falou Marília.
Morgana estava totalmente desinteressada, só queria ir embora. Na sua cabeça remoia a frase "Quero ir embora!" repetidamente.
— Tem mais alguém aqui? - Perguntou a garota do cabelo escarlate.
— Tem a Aléxia, mas acho que ela não vai sair do quarto hoje... Houve um incidente... - retrucou Marília.
Morgana nem queria saber de fato se havia e não quis saber mais sobre o tal incidente citado. Levantou-se apática e saiu andando, sua avó estava na porta da sala comum titubeando com o que aparentava ser a avó de uma das meninas internadas. A avó a acompanhou até o quarto e a garota botou-se a ler.

A louca - Augusto dos Anjos

A Dias Paredes

Quando ela passa: - a veste desgrenhada,
O cabelo revolto em desalinho,
No seu olhar feroz eu adivinho
O mistério da dor que a traz penada.

Moça, tão moça e já desventurada;
Da desdita ferida pelo espinho,
Vai morta em vida assim pelo caminho,
No sudário de mágoa sepultada.

Eu sei a sua história. - Em seu passado
Houve um drama d’amor misterioso
— O segredo d’um peito torturado -

E hoje, para guardar a mágoa oculta,
Canta, soluça - coração saudoso,
Chora, gargalha, a desgraçada estulta.

Depois de tanto ler estava cansada da monotonia, a única coisa que despertava algum movimento era o surto de algum dos pacientes, só se ouvia gritos que coisas como "Tragam a contenção!". Morgana estava tentando se conformar com o fato de que teria que passar alguns dias no hospital e nesse meio tempo se alimentava de poesia. Uma atrás da outra, ia lendo, escrevendo e lendo.
No horário de almoço comeu, e no horário da janta, jantou.
Queria seu celular, seu computador, sua cama, sua casa, sua comida, suas coisas. Não tinha nada, só seu velho caderninho e alguns livros, que era o permitido pelo hospital. A caneta qual possuia era clandestina, não se podia portar canetas, eram classificadas como objetos pontiagudos. Não sabia como mas a avó havia entrado com uma caneta na bolsa, e lá ela valia ouro.
Sua cabeça hora estava um turbilhão de ódio, raiva, tristeza e afins, hora monótona, entediava e tremendamente vazia. Um vazio doloroso que proporcionou tal poema:

O Não-sentimento

Eu sinto a ausência de sentimento
Se há alguma coisa aí
Que ela por favor se manifeste
E até mesmo proteste
Contra minha falta de sentir

Espero que aquela alma ambulante
Não se espante e me abrace
Que ela me pegue no laço
E que não me de espaço
Para que eu possa me frustrar

Estou em coma profundo
Neste eu lírico imundo
E não me restam palpites
Do que possa me acordar

E agora, não me restam nem palavras

E depois de seu remédio noturno, qual ela podia jurar que abatia leões, dormiu.


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Notas finais do capítulo

Essa é minha primeira fanfic, que na realidade é parte da minha biografia misturada com elementos da imaginação e criação. Espero que gostem, deixem comentários e sugestões se possível! Até mais ♥



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