Es ist aus. escrita por dieKholer


Capítulo 1
Oneshot


Notas iniciais do capítulo

Spoilers. Spoilers por toda parte.



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“Eu jurei a ele.”

O sangue das criaturas bestiais queimavam-lhe a face. O cheiro repulsivo de podridão, sangue e morte faziam com que o ambiente se tornasse insuportável.

“Tenho que matar o Titã Macaco. Eu jurei a Erwin que o faria.”

Assoviou por muitas vezes, mas nenhum cavalo veio ao seu encontro. Provavelmente também estavam mortos, assim como quase toda Tropas de Exploração, ou foram inteligentes o bastante para deixarem a lealdade de lado e se afastarem do local.

Mais titãs se aproximavam, entretanto eram pequenos e não apresentavam anormalidades. Certamente o Titã Macaco que os chamara para tentar liquidar aquele soldado mais veloz e sanguinário, o mais forte da humanidade. Levi limpou o sangue quente que lhe obstruía a visão com a manga do uniforme, tinha pouco tempo para escapar dali, o líder já havia fugido, não havia chances de matá-lo agora.

“Devo tentar me reunir com Erwin e os sobreviv-”

De repente lembrou-se do plano suicida do comandante, o mesmo estava liderando os soldados que corajosamente encararam o Titã Macaco de frente, mesmo sabendo que seriam liquidados. Havia chances de estarem vivos? O mais importante – embora soasse egoísta- estaria Erwin vivo? Não havia tempo para sentimentalismo. Desde que passou a dividir as mesmas ambições e mais tempo com o comandante das Tropas de Exploração, Levi tornou-se mais prático e focado em seus objetivos, se perdessem tempo e deixassem se levar por emoções não teriam chegado até ali.

Trocou as lâminas do seu equipamento. Usaria os titãs como transporte até o local, visto que não havia árvores ou construções por perto para prender os arpões do 3DMG, já havia feito isso várias vezes em situações extremas, não iria falhar agora.

Eliminou três titãs pelo caminho, deixando alguns tão lerdos e estúpidos para trás, pois não apresentavam perigo e estava com pressa. No entanto, os titãs o forçaram a tomar uma rota diferente e não conseguiu localizar o pelotão que Erwin liderava.

—Não quero que vá nessa missão. Você é um soldado mutilado e a missão é de alto risco. –disse sem expressar emoção, encarando o seu superior.

Erwin não o encarava de volta, seus olhos estavam fixados no chão, mas seus lábios repuxavam-se em um sorriso leve.

—Está preocupado comigo? Pensei que me odiasse e só me tolerasse por causa dos nossos objetivos em comum.

—Estou preocupado com o futuro das Tropas de Exploração e da humanidade. Estão todos em suas mãos, ou melhor, sua mão, e não quero assistir anos de trabalho irem por água a baixo por causa de sua teimosia.

Erwin riu, uma risada vazia, irritando Levi que cruzou os braços.

—Seria demasiada prepotência e egocentrismo de minha parte achar que eu sou responsável pelo futuro da vida de toda população de dentro da muralha e de uma organização centenária. Caso algo aconteça comigo, a vida dos civis continuará a mesma, exceto pelo fato de que terão uma descrença maior ainda nas Tropas de Exploração e esta será liderada pela Hanji. E nas Tropas de Exploração que está o futuro da humanidade, não em mim.

—O que?! A Hanji seria a comandante? – Levi não duvidava das capacidades da mulher, mas ela tinha o humor tão instável e a oratória nem um pouco convincente que provavelmente ninguém a levaria a sério, apenas aqueles que já a conheciam. Na verdade, não conseguia imaginar nenhum ser humano tão capaz quanto Erwin para liderar, no entanto jamais admitiria isso para alguém.

—Conheço Hanji desde que entrei nessa divisão do exército, ela-

—Não interessa. Você, que gosta tanto de colocar as coisas sobre uma balança, medir os pós e contras de uma decisão, me diga: sua presença na missão tem alguma utilidade? Já sabemos onde queremos chegar, o que iremos enfrentar e o quanto estamos dispostos a pagar por isso. Você estaria arriscando sua vida por nada.

Erwin se levantou e caminhou até a mesa, analisando os documentos onde havia as fichas completas de Bertholdt Fubar e Rainer Braum, o que se sabia deles como humanos e como titãs.

—Eu quebro as suas pernas.

—Como? – ergueu o olhar, olhando confusamente para Levi.

—Se continuar nessa teimosia irracional de participar da missão, eu quebro as suas pernas. E se eu estiver de mau humor quebro o seu braço também. Você realmente não vai querer ter alguém para te alimentar e limpar a sua bunda todo santo dia.

O comandante riu, mas dessa vez era uma risada enérgica. Em uma vida regrada por privações, mortes e isolamento, era difícil encontrar motivos para rir. Isso fez com que Levi se acalmasse, pensando ter convencido Erwin. A risada morreu aos poucos e o ambiente voltou a ficar silencioso e pesado.

—Eu apenas quero ver. – disse o comandante após uma breve pausa.

—Ver o que?

—O que tem no porão. –o olhar voltou a ser frio e fixo. - Eu passei a minha vida toda tentando provar que conhecimentos sobre os titãs e sobre o que tem fora da muralha têm sido escondidos pelo exército, pela família real, pelos religiosos e agora, pelos próprios civis. Esses conhecimentos, o porquê de terem sido escondidos, o motivo pelo qual fomos confinados a vivermos humilhados dentro de uma gaiola podem estar naquele porão, Levi. Eu perdi minha família, perdi meus companheiros, perdi minha própria humanidade por causa disso, não posso deixar a ausência de um braço me impedir de saber o que está acontecendo. Por favor, entenda o meu lado.

Levi descruzou os braços, respirou fundo e sentiu sua enxaqueca diária dar o ar da graça. Entendia o lado do Erwin, entendia desde o dia que jurou lealdade às Tropas de Exploração, depois de tudo o que ele passou ninguém tinha o direito de lhe tirar a oportunidade de saber os segredos da humanidade. O que não conseguia entender é o porquê disso lhe causar um desespero que nunca havia sentido antes. Talvez porque Erwin tenha se tornado sua família, e Levi sabia que sempre que encontrava uma nunca acabava bem.

—Você quem sabe, espero que esteja ciente do que está fazendo.

—Eu estou. Eu quero estar lá. – Erwin sorriu, assinando os documentos, autorizando a missão.

Quando tudo parecia perdido, eis que surge uma saída. Não se lembrava de muitas coisas que sua mãe lhe dizia, mal se lembrava de seus traços, mas nunca iria se esquecer de que ela sempre falava que por mais que as coisas estivessem ruins, se você estivesse vivo conseguiria dar um jeito. Mesmo quando ela estava prestes a morrer, até o seu último suspiro, ela deu um jeito para mantê-lo vivo e a salvo. Não iria se entregar e desonrar o sacrifício de sua mãe.

—Você está louco?! Você tem que dar o soro ao Armin! – berrou o jovem, em sua forma humana, mas com partes titãs ainda presas a sua pele. – Armin se sacrificou! Armin é mais jovem! Ele é inteligente e tão capaz quanto o Comandante Smith! Ele não merece morrer!

Eren vociferava de um lado, mas Levi não escutava mais o que dizia. Sua mão trêmula segurava a seringa que continha o soro titã, o soro que poderia salvar o pobre menino carbonizado, mas ainda vivo. Mas também...

—... o soro que pode salvar Erwin. – seus olhos ardiam, sentiu as bochechas queimarem e umedecerem, não sabia se eram lágrimas ou o seu próprio sangue escorrendo, talvez fossem os dois, mas nada disso importava agora. Erwin ainda respirava, mesmo com parte de seu abdômen destruído, ele ainda resistia, ele ainda queria viver. – Ele quer ver o que tem no porão. É isso que o mantém vivo.

— O comandante não está vivo, você irá desperdiçar o soro que pode salvar o Armin! Ainda há tempo!

Levi engoliu seco, teria que usar a razão, se acalmar e explicar a Eren e Mikasa porque a vida de um homem de quase quarenta anos e que havia sido responsável por inúmeras mortes, valia mais que a do seu amigo de infância. Gaguejou. As palavras não saíam. Olhou Mikasa, que segurava suas lâminas firmemente, no entanto possuía o olhar tão perdido quanto o dele. Pela primeira vez Eren tinha razão e tinha bons motivos, além do laço fraternal, para que o jovem Armin sobrevivesse no lugar de Erwin.

—Eu tive compaixão e desejei matá-lo quando o vi dessa forma. Mas pensei: por que ele resistia tanto?! Cheguei à conclusão que nem o próprio inferno está pronto para receber Erwin Smith. – berrou o soldado, com os olhos arregalados e com sangue escorrendo pelas narinas e pelos ouvidos. Era ele quem havia carregado o comandante naquele estado do campo de batalha até o local.

—Capitão, Armin deverá receber o soro. Acho que Eren foi claro o suficiente e estamos perdendo tempo. – disse Mikasa, empunhando as lâminas a altura dos ombros. Levi sabia que ela estaria disposta a matá-lo se fosse necessário, ele estava em desvantagem devido ao cansaço e aos ferimentos, sua cabeça latejava e sua visão oscilava. A garota acabaria com ele num piscar de olhos.

Um piscar de olhos.

Olhou para Hanji, que também estava ferida, mas em uma posição vantajosa, atrás de Mikasa. Piscou os olhos e a mulher rapidamente compreendeu o que deveria ser feito. Em poucos segundos conseguiu desarmar e conter a garota, que antes quieta e contida, começara a gritar, a chorar e a se debater. Apenas ela representava perigo, Eren não estava em condições de enfrentar Levi e caso o fizesse teria os membros decepados sem qualquer dificuldade, os outros poucos soldados restantes ou também desejavam ter o comandante de volta ou estavam assustados demais para reagir àquilo tudo.

—Mikasa, me escute, por favor. – Hanji apertou a garota, que agora mais chorava do que se debatia. – Eu também perdi muitas pessoas importantes, centenas de pessoas importantes, se eu pudesse ressuscitaria cada uma delas. Eu... – as lágrimas começaram a cair, mas não podia parar agora.-... eu queria todos vivos. Queria que tudo isso acabasse. Erwin pode terminar com esse sofrimento todo, sob a liderança dele somos mais fortes.

A jovem não resistia mais, apenas chorava e balbuciava o nome do amigo mais novo. O olhar de Hanji se dirigiu a Levi, que agora estava ajoelhado junto ao corpo ensanguentado do comandante. Palpou e encontrou a veia no braço esquerdo de Erwin, a pulsação era fraca, mais ainda existente, os olhos semicerrados possuíam algum brilho. Ele estava vivo, mortalmente ferido, mas ainda vivo.

—Espero que quando disse que estava ciente do que poderia acontecer, também estava ciente de que poderia se tornar um deles. – a seringa penetrou na veia, no entanto o homem se remexeu e murmurou, utilizando o pouco de energia que lhe restava para afastar o braço de Levi. - Erwin?!

—Não... já fiz... a minha parte. – falava com dificuldade, seus dentes estavam sujos de sangue. – Pai, eu... fiz... o que deveria...o que pude...

Apesar das palavras serem quase inaudíveis, Levi compreendeu o desejo de Erwin. Seus dedos passearam pela testa fria e afastaram algumas mechas loiras. Em todas as missões tinha consciência de que isso poderia acontecer, mas como apesar de todas casualidades, inclusive a perda do braço direito, Erwin sempre saía vivo, Levi acabou criando a ideia em seu imaginário de que o comandante era um ser humano anormal ou talvez, como o soldado dissera, o inferno não estaria pronto para recebê-lo. Sentia as lágrimas – sim, agora tinha certeza que eram lágrimas – escorrerem sem o mínimo pudor. 

—Quando comandar o inferno guarde um lugar para mim ao seu lado, como seu fiel companheiro.

Afastou-se de Erwin. Ainda respirava baixo, mas seus olhos se fecharam. Não havia mais o que lamentar, em breve seria apenas um cadáver. Dirigiu-se ao corpo de Armin Alert, sentindo o cheiro de carne queimada... não carne de titã e sim carne humana. Os outros olhavam o capitão confusamente, Hanji gritou alguma coisa, mas ele nem prestou atenção.

—É o garoto quem receberá o soro. Afastem-se, não sabemos o que ocorrerá logo depois.- Apesar de ninguém entender o que estava acontecendo, todos obedeceram sua ordem e foram para o teto das construções mais próximas. O soldado que havia resgatado Erwin colocou-o novamente sobre suas costas e se afastou. Levi agradeceu silenciosamente pela atitude dele.

Armin era apenas um resto de carne queimada, mas que ainda resistia. O capitão ficou admirado pela coragem e vontade de viver daquele menino que julgava que seria o primeiro novato a ser eliminado pelos titãs quando entrou nas Tropas de Exploração. Ee mal conseguia usar o 3DMG, preferindo se locomover a cavalo e atuar como sinalizador. Hoje reconhecia que o jovem é mais inteligente que todos seus companheiros juntos, mais corajoso que a metade deles e quem sabe um dia alcançaria o mesmo status de Erwin.

—Espero não estar fazendo um erro, moleque, você sabe o que fazer. O alvo aquele cara ali, seu ex-companheiro, Bertholdt Fubar, também conhecido como Titã Colossal. Responsável pela destruição da muralha Maria e pela morte de todos que você conhecia e amava. Devore-o e se torne mais forte.

Levi pressionou o êmbolo da seringa, injetando o conteúdo completo. O corpo do jovem não reagiu, causando-lhe um pouco de ansiedade, mas então os espasmos musculares surgiram e Armin começou a grunhir, querendo gritar, mas sem condições para isso. O homem compreendeu que era hora de se afastar e, usando o equipamento, juntou-se aos seus companheiros.

Um vapor cinza emanou do corpo de Armin, que se contorcia cada vez mais violentamente, e por fim ficou impossível de ver o que acontecia. Um grunhido rouco e alto fez as paredes tremerem e quando a fumaça dispersou, podia-se ver um titã um pouco menor que a forma titã do Eren, de cabelos loiros e magro surgir apoiando-se nos destroços para se levantar.

Bertholdt que despertara e começava lentamente a ficar a par do que acontecia entrou em desespero e gritou por ajuda. Gritou até sentir dor. Sabia que ele fora responsável por milhares de mortes, mas não era culpa dele, queria que tudo tivesse sido diferentes. Queria Rainer, queria Annie, queria matar Zeke... Seus gritos e choro chamaram a atenção de Armin, que mostrou os dentes, e agarrou o rapaz com ambas as mãos, arrancando-lhe a cabeça com os dentes e devorando o restante do corpo.

Levi preferiu não presenciar essa cena. Se a ideia de estar matando humanos aprisionados em forma titã já lhe era repulsiva, assistir humanos-titãs devorando outros humanos-titãs de forma consciente lhe era intragável.  Um soldado arrumou o braço de Erwin com os punhos fechados no centro do peito, fazendo a saudação militar, ao notar Levi e Hanji se aproximando, se afastou, chorando baixo.

—Ele já não está entre nós. – disse Hanji, levantando as pálpebras do cadáver e verificando as órbitas opacas.- Um dia iremos nos reencontrar, Erwin.

A tenente tirou sua capa verde onde havia as asas da liberdade bordadas e cobriu o corpo de comandante. Levi já não prestava atenção, a pressão que sentia na cabeça estava insuportável e sabia que a morte dele ainda não o afetou completamente, a ficha demoraria cair, a pior dor ainda viria.

—Eu jurei a ele que iria matar aquele desgraçado. Mas por enquanto isso terá que ser adiado. Sinto muito, Erwin.

—Temos que pensar no agora... no nosso próximo passo. – disse a tenente, verificando as bandagens de seu olho.

—Nós já sabemos no nosso próximo passo. A morte de Erwin e daquele esquadrão não foram em vão.

Hanji retribuiu o olhar, assentindo com a cabeça.

Armin caíra no chão e começara a se debater, provavelmente absorvendo os poderes do Titã Colossal. Uma nova arma a favor da humanidade acabara de nascer.


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Notas finais do capítulo

Nem preciso dizer como a morte de Erwin me destruiu por dentro, ele é meu personagem favorito e eu o shippava horrores com o Levi. A relação dos dois, como comandante e subordinado, como amigos e inimigos, sempre me atraiu e sinto que será um personagem que deixará saudades (mesmo para aqueles que o odeiam). Descanse em paz, Comandante.



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