Golpes de luz acertavam seus olhos a cada vez que o sol refletia sobre a armadura de Aiolos. O som metálico sobre os degraus de pedra e o suave vento que soprava suas capas eram os únicos ruídos que os acompanhavam. Subiam em silêncio as escadarias até o templo do Grande Mestre, ambos entretidos com seus próprios pensamentos.

Eles sabiam o que os aguardava, o porquê de Shion tê-los convocado. O mestre havia decidido seu sucessor, e o anúncio seria feito primeiramente aos dois concorrentes e, dentro de alguns dias, a todo Santuário.

Saga cerrou os punhos e percebeu que suas mãos suavam. Não lembrava de ter dormido naquela noite. O lobo faminto da loucura tinha roído-lhe os ossos sobre a cama. E ainda sentia a nítida impressão de ter visto os olhos brilhantes da criatura observando sua agonia toda a madrugada. Ao raiar do sol a voz raivosa que naqueles dias gritava em seus ouvidos cada vez mais alto fez-se completamente quieta.

E para ele nada podia ser mais assustador.

Encarou as costas do amigo que caminhava dois passos à sua frente. Saga sabia qual havia sido a decisão de Shion. O mestre havia percebido a criatura que o atormentava. Tinha certeza. Estava cercado. Aiolos seria incubido de exterminá-lo como novo Grande Mestre. Seu amigo o estava traindo. Ele tinha certeza. Caminhava rumo à própria execução. Por que não trocaram palavra aquela manhã? Aiolos meramente acenou com a cabeça quando Saga chegou a Sagitário, caminhando pesaroso em sua companhia pelas casas restantes. Estaria envergonhado de sua missão? Não lhe concederia um último adeus?

A voz sempre esteve certa. Saga estava sozinho.

Ao chegarem ao platô do templo principal o vento sibilou mais forte. Ouviu seu nome num sussurro, virou-se, mas não havia ninguém lá além dele mesmo e Aiolos. Quando voltou-se novamente Aiolos o encarava com um olhar enigmático. E então, como se lembrasse de súbito seu papel ali, voltou à expressão séria que levava a manhã inteira e continuou a caminhar em direção à entrada do templo, onde dois guardas os esperavam à distância.

Ao atravessar um grande corredor chegaram ao salão principal, entraram e as grandes portas fecharam-se às suas costas. Levantou os olhos até o mestre. Estava sem máscara, havia um sorriso, seus lábios se moveram numa saudação, mas Saga não escutou som algum. Prontamente ajoelharam-se. E então ele viu. Estava lá! Shion movia seus lábios novamente, mas Saga não escutava. Shion não percebia? Não havia nada diferente em seu comportamento... Notou Aiolos inabalável à sua esquerda, tão quieto e solene quanto esteve durante toda a curta jornada até o templo. Por acaso também não estava vendo? Bem ali! Ao lado do mestre!

Dois olhos brilhantes o encararam. E a voz gritou novamente.