Uma vida feliz para Arlequina? escrita por Dani Tsubasa


Capítulo 23
Capítulo 23 - Skwad




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Capítulo 23 - Skwad

No começo da tarde o Batman voltava à mansão abandonada da Hera Venenosa acompanhado pelo grupo de criminosos em reabilitação, notando o número alarmante de gatos em torno do local. Eram tantos miados, alguns sinistros, que o morcego agradeceu por a mansão ainda ser supostamente abandonada e consequentemente afastar as pessoas, que a evitavam a todo custo.

— Os gatinhos também vieram pra festa? – Perguntou o Capitão Boomerang.

— Foram atraídos pela Mulher Gato.

— Mulher Gato... Então ela tá mesmo aqui – o Capitão continuou – Deve ser tão gata quanto o nome.

— Melhor não brincar com ela. Você pode não viver o suficiente para guardar alguma lembrança desse momento – o morcego respondeu como sempre sem expressar nada, conseguindo esconder muito bem sua irritação com aquelas palavras.

O grupo seguiu o morcego até que finalmente chegassem à porta, olhando em volta apreensivos com os gatos.

— Não façam nada, e eles farão o mesmo – o Batman advertiu.

O morcego tocou a campainha, que também estava supostamente quebrada. Sabia como abrir a porta, mas preferia que nem todos soubessem. Alguns minutos depois a porta se abriu devagar, e os olhos verdes da Hera Venenosa espiaram por ela. Pam abriu a porta por inteiro e saudou o grupo com um sorriso. Os cabelos laranja avermelhados cintilando ao sol e chamando a atenção do grupo.

— Sejam bem vindos. Só não mecham com as plantas, não toquem em nada e não tentem comer nada sem que eu diga que podem, pode ser sua última refeição.

A Hera abriu passagem e observou o grupo estranho seguir o morcego e observar a grande quantidade de plantas distribuídas pelo local e presas às paredes e teto. Todos eram aparentemente criminosos que ela conhecia de vista, mas apenas isso. Uma mulher asiática de cabelos negros, um homem negro, que pelo que Harley já havia comentado devia ser o Pistoleiro, um outro que parecia de longe ter o temperamento de um moleque e um muito esquisito com aparência de Crocodilo. Fechou a porta e os guiou pelos vários cômodos vazios da mansão, até chegar ao corredor que os levaria à parte utilizada.

— Vão com calma – ela os advertiu antes de abrir a porta do quarto de Harley. As crianças podem se assustar.

— É sério? Crianças? – Floyd perguntou com um sorriso enorme.

— Não contou a eles?

— Achei que gostariam de uma surpresa.

— Você tem filhos? – Boomerang perguntou.

A Hera sorriu já segurando a maçaneta.

— Observe bem e deduza você mesmo.

A Hera bateu na porta caso Harley ou Selina estivessem trocando de roupa, mas no mesmo instante Harley lhe disse para entrar e a Hera ficou menos desconfiada dos estranhos ao ver um brilho se acender em seus olhares quando ouviram a voz de Harley. Selina não estava visível. Harley estava sentada na cama com as costas apoiadas no travesseiro e as pernas estendidas, cobertas pelo lençol, usando um vestido leve azul claro, dos que usava para ficar em casa mesmo. Ela abriu um sorriso enorme ao ver os amigos, sendo retribuída por cada um deles. Floyd foi o primeiro a se adiantar em direção à amiga, sentando-se na beirada da cama para lhe dar um forte e demorado abraço, sendo igualmente retribuído por Harley. Depois ele se afastou quando Harley e Katana trocaram um sorriso. Com Boomerang e Crocodilo ela apenas trocou acenos, mas também grandes e sinceros sorrisos. Pam pegou cadeiras para todos e sentou-se ao lado de Harley, que observava Floyd e Katana notando mudanças. Floyd estava finalmente deixando o cabelo crescer e Katana tinha os cabelos negros mais curtos, penteados para o lado direito de sua cabeça.

— Você parada numa cama? Só pode estar doente – Floyd falou.

— Ainda estou ferida.

— Então é sério? O tempo todo eu desconfiei que fosse uma emboscada do morcego.

Lentamente o Batman lhe lançou um olhar sério e assustadoramente penetrante. Pam e Harley riram da cena.

— Fui baleada e não morri por muito pouco – ela falou repousando a mão sobre o ferimento – Mas a melhora está sendo rápida graças às ervas de Pam.

— Essa garota travessa decidiu que iria lutar com o Espantalho e Charada ao invés de ficar quieta repousando. A trouxemos pra cá com uma febre terrível e ela dormiu por cinco dias.

Os demais ficaram em silêncio. Graças ao Batman sabiam onde aquela história terminava e falar dela machucaria Harley ainda mais, apesar do Coringa não fazer nenhuma falta para nenhum deles, como não faria para ninguém além de Harley.

— Quem é Pam? – Boomerang perguntou.

— É meu nome. Para os mais íntimos a Hera Venenosa pode ser simplesmente Pam.

O som de passos vindos de outro lugar chamou a atenção e Selina entrou no quarto vestindo seu uniforme felino de couro preto, destacando bem o batom vermelho e os olhos verdes. A gata estava carregando os dois bebês nos braços. As crianças olhavam curiosas para o grupo de estranhos, que por sua vez arregalaram os olhos em espanto e ficaram mudos com a visão.

— O que?! – Harley perguntou – Digam alguma coisa! – Ela emitiu um risinho.

— E-eles... São seus?! – Floyd perguntou.

— Deixa o Floyd segurar eles, gata – Harley sorriu

— Tudo bem.

Selina entregou os dois bebês a Floyd. As crianças o encararam enquanto ele sorria notando o quanto se pareciam com Harley.

— Faz tanto tempo que não seguro uma coisinha dessas – ele sorriu – A minha já tem mais de dez anos. Por que não contou naquele dia? Espera... Você queria dar um fim na sua vida tendo esses dois?!

— Isso é uma longa história... Eu achei que nunca mais os veria, não estavam comigo.

Katana, Boomerang e Croc assumiram olhares surpresos ao saberem que Harley pensara em se matar, provavelmente culpa do Coringa. A conversa foi interrompida quando Bud e Lou vieram corendo de outro cômodo, farejando os recém-chegados e olhando para Harley em busca de uma confirmação de confiança.

— São amigos da mamãe. Está tudo bem – ela sorriu para as hienas, que riram de volta e se esparramaram no chão entre a cama de Harley e os que estavam sentados.

— Você tem hienas! – Floyd parecia feliz como uma criança numa loja de brinquedos.

— Como se chamam todos? – O Crocodilo perguntou.

— As Hienas se chamam Bud e Lou – ela disse quando ambos mexeram as orelhas ao ouvirem seus nomes – Meus pequenos se chamam Lucy e Joe.

Katana arrancou risadas dos bebês, fazendo gracinhas para eles rirem. Harley, Pam e Selina se entreolharam surpresas, nunca imaginariam que a aquela asiática que parecia ser tão fria tinha jeito com crianças. De repente todos se alarmaram. A japonesa tinha os olhos marejados e abaixou o olhar ao perceber que todos a fitavam.

— Gomenasai – falou em japonês tentando evitar sem sucesso a alteração na voz.

— O que ela tem? Alguém aqui fala japonês? – Harley perguntou.

Katana e Batman se encaram e ela acenou positivamente com a cabeça. O morcego se dirigiu aos demais.

— Aquela espada não levou apenas a vida do marido dela. Levou os dois filhos gêmeos.

Um silêncio pesado se abateu sobre o grupo, sendo quebrado apenas pelos murmúrios dos dois bebês, que se olhavam e riam, parecendo conversar em algum idioma desconhecido. Todos inevitavelmente olhavam Katana.

— Eu sinto muito... – Selina falou baixinho e finalmente sentou-se junto a Harley e Pam.

— Floyd – Harley chamou baixo, automaticamente, como se a voz mais suave pudesse aliviar a dor da amiga ou velar a memória de sua família – Deixa ela pegar os dois.

O Pistoleiro cutucou a japonesa com o cotovelo, já que suas mãos seguravam os bebês, e ela o olhou. Floyd colocou as crianças em seu colo e a mulher os encarou com um sorriso, desabando em seguida, abraçando Joe e Lucy e começando a chorar discretamente. Ninguém se atreveu a falar, deixaram que ela aliviasse a dor que guardava. Harley pensava no quanto a vida era irônica. Depois de tanta dor, deviam ter um momento de felicidade. Seus amigos estavam ali para alegrá-la, mas agora a situação se invertera e ela e os demais observavam outra pessoa sofrer. Pam já pensava em oferecer algum chá calmante para a oriental quando ela tomou uma respiração profunda e se acalmou, secando os olhos com as mãos.

— Hontou ni... Gomensai.

Apenas o Batman assentiu positivamente com a cabeça, por ser o único a compreender o que ela dizia.

— Shinpai suná. Daijobu – o morcego lhe disse suavemente – Anata no tomodachi desu.

Katana assentiu.

— Assim não vale, Batsy – Harley resmungou.

A interação da palhaça com o morcego não foi adiante. Todos tornaram a observar Katana. Agora ela sorria e conversava com os bebês.

— Kirei no kodomo – ela dizia baixinho.

Harley sorriu. Talvez fosse o primeiro momento depois de tudo que ela conseguia manter seus pensamentos totalmente longe do que acontecera ao Coringa ou da culpa que sentia.

— Espero que apreciem comida vegetariana – Pam falou se levantando e seguindo até a cozinha junto com Selina.

A gata passou ao lado do Capitão Boomerang, que a olhou da cabeça aos pés sem nenhuma discrição, sorrindo de canto. Apenas Harley viu, pois FLoyd, Katana e Croc estavam distraídos com as crianças e as hienas, mas o Batman fuzilou o louro com o olhar. Não querendo chamar atenção ela conteve uma risada e apenas sorriu. Mas gargalhou sem pensar quando Lucy e Joe emitiram um som repulsivo para que Croc não se aproximasse.

— Você continua sendo bem feia por dentro, não é? Achei que as crianças pudessem ter te mudado.

— Eu? Não sou eu que fico colocando os olhos no que não é meu – falou triunfantemente, sentindo a satisfação de ter encurralado Boomerang.

Harley observou com um sorriso glorioso nos lábios o louro arregalar os olhos desconfiado, o Batman fingir que não sabia do que estavam falando, e os demais olharem sem entender de Boomerang para Harley e vice-versa.

Pam chamou todos para a cozinha e colocou os bebês no carinho junto com Katana. Em seguida ela e Floyd seguiram até Harley.

— Gente, eu não tô tão mal. Posso andar – Harley insistiu empurrando o lençol de cima de suas pernas e sentando na cama.

Ela emitiu um grito baixo ao levantar e se curvou para a frente segurando o ferimento. Estava bem melhor, mas ainda doía muito com alguns movimentos. Sentiu as mãos de Pam e Floyd segurarem seus braços e abriu os olhos, inspirando profundamente e se levantando, vendo que todos a olhavam preocupados.

— Eu tô bem.

Pam apenas a olhou ironicamente, revirando os olhos e a guiando para a cozinha enquanto Floyd empurrava o carrinho de Lucy e Joe, com Bud e Lou correndo sorridentes atrás dele. Passaram cerca de uma hora conversando e aproveitando a comida vegetariana de Pam. Batman e Croc foram os únicos que preferiram se abster, mesmo porque não sentiam fome. Mesmo em condicional, Croc pedira para permanecer em Arkham e por precaução dos funcionários sempre era muito bem alimentado antes de sair. E o Batman nunca se alimentava em serviço.

— Mande lembranças a Zoe – Harley falava para Floyd quando notaram a falta de Selina que havia sumido alguns minutos atrás.

— Pra onde a gatinha foi? – Boomerang perguntou.

— Talvez me protegendo de olhos curiosos demais – ouviram a voz se espalhar pelo lugar, embora Selina não estivesse visível.

Olharam em volta sem encontrá-la quando a gata soltou as plantas às quais se agarrava para engatinhar no teto e pulou para o chão, caindo em pé atrás do Batman e olhando penetrantemente para Boomerang, ficando satisfeita ao perceber que o havia intimidado. Dessa vez Pam e Harley se entreolharam e riram discretamente. Ficaram mais algum tempo conversando e logo a noite começaria a cair. Apesar de terem evitado o assunto por toda a tarde e de nenhum deles gostar do Coringa não puderam deixar de consolar Harley pelo ocorrido, ao que ela apenas agradeceu e tentou afastar tais lembranças.

— Foi muito bom ver você de novo, maluquinha – Floyd falou quando se abraçaram.

— Podia visitar Arkham de vez em quando – Croc falou.

— Esse assunto ainda está pendente – o Batman respondeu.

— Eles são lindos – Boomerang sorriu olhando os gêmeos nos braços de Pam – Cuida bem deles, doidinha – acenou se despedindo de Harley – Me liga, gatinha – Disse para Selina.

— A única ligação que existirá entre nós serão minhas garras na sua cara – respondeu friamente vendo Boomerang se assustar ao observar as unhas metálicas de gato em seu uniforme.

— Shiawase ni da, Harley – Katana falou baixinho com um pequeno sorriso e surpreendeu a palhacinha ao abraçá-la.

Harley não entendeu nada, mas sorriu e retribuiu o abraço.

— Ela desejou que você seja feliz – o Batman lhe disse.

— Obrigada, Batsy – falou sinceramente sorrindo para o morcego – Por tudo.

O morcego assentiu e os quatro visitantes se despediram dos gêmeos e das hienas, que abanavam a cauda felizes ao lado da dona, agradeceram a hospitalidade e acenaram para Harley uma última vez antes de saírem da mansão junto com o Batman. As três mulheres observaram os cinco desaparecerem na esquina e fecharam a porta, voltando para o quarto.

Horas mais tarde os gêmeos dormiam em seus berços e Selina esparramada na cama. Pam riu baixinho ao notar que de fato parecia um gato dormindo, mesmo sem seu uniforme. Olhou as duas crianças e se atentou a um detalhe, dois objetos que não estavam ali. No berço de Lucy havia um unicórnio de pelúcia cor-de-rosa e no de Joe, um idêntico, porém azul. Selina devia ter pensado que ela ou Harley haviam deixado ali enquanto ela não estava. Pegou os dois brinquedos e entrou no quarto onde Harley estava e a viu séria e triste falando ao telefone. A ruiva fechou a porta e sentou-se ao seu lado.

— Tá bom. Obrigada, Jonny – disse desligando e deixando o celular de lado.

— O que houve, docinho? – Pam perguntou diante do silêncio e do olhar triste da amiga.

— Jonny me ligou. Perguntou como estou, perguntou pelas crianças e as hienas.

— Isso é bom, não é? Por que essa cara?

— Ele perguntou se estou em condições de resolver tudo amanhã de manhã. Disse que é melhor não deixar o tempo passar tanto.

— Querida, ele pode ter razão. Ficar adiando isso só vai te machucar mais. É melhor resolver tudo de uma vez pra que enfim possa recomeçar. Vai doer amanhã ou depois... Estarei lá com você.

— Obrigada, Ruiva... – ela respondeu ainda triste – Onde achou isso?

— Eu ia te perguntar o mesmo. Estavam nos berços.

— O rosa eu reconheço. É do Boomerang.

— Então foi isso que ele quis dizer mais cedo com um presente de boas vindas pra os gêmeos – Pam sorriu – Vou devolver pra eles. Tente dormir agora, esqueça isso, deixe pra se preocupar amanhã.

— Você também devia descansar. E eu não quero dormir sozinha hoje.

— Não vai, só vou colocar os bichinhos de volta nos berços. O que acha de dormir perto dos seus pequenos hoje?

Harley finalmente pareceu mais feliz. Pam devolveu os brinquedos aos gêmeos e voltou para ajudar Harley a levantar. Ela já conseguia andar perfeitamente, só levantar ou sentar doía. O quarto onde Selina e os gêmeos vinham dormindo era um dos maiores da mansão e tinha quatro camas, além de um grande guarda roupa, cômoda, criados mudos e uma pequena mesa com quatros cadeiras. Os berços dos bebês estavam perto do guarda-roupa e da cama onde Selina dormia, a mais distante da porta. Harley caminhou até os bebês, observando os dois longamente e lhes desejando boa noite, fazendo o mesmo com Bud e Lou, que dormiam em duas caminhas ao lado dos berços. Depois Pam a fez se deitar na cama ao lado de Selina.

— Esqueça tudo agora, só descanse – a Hera disse baixinho, beijando a testa da amiga e a vendo fechar os olhos.

Quando teve certeza que Harley dormia se acomodou na cama ao lado e também adormeceu cansada.


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Notas finais do capítulo

Peço perdão por não ter traduzido ontem o que Katana e Batsy conversaram. Pra mim é tão normal que acabei esquecendo. xD

Gomenasai = Me desculpe(m).
Hontou ni. Gomenasai. = Realmente. Me desculpe(m).
Shinpai suná. Daijobu. Anata no tomodachi desu. = Não se preocupe. Está tudo bem. São seus amigos.
Kirei no kodomo. = Lindas crianças.
Shiawase ni da. = Seja feliz.