Uma vida feliz para Arlequina? escrita por Dani Tsubasa


Capítulo 1
Capítulo 1 - A princesa se foi




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Capítulo 1 – A princesa se foi

                Uma Gotham vazia escutou um grito ecoar pela madrugada. Todos escondidos, bem trancados em suas casas após mais um ataque do príncipe palhaço. Depois de explodir e assaltar um banco, e matar guardas do banco e policiais, o “Batsy” havia finalmente aparecido, e com tal distração atrapalhando a única saída inteira entre as paredes que ainda desmoronavam, mais policiais apareceram do lado de fora. E quando por fim saíram, o Coringa ria loucamente e atirava nos policiais e no Batman ao mesmo tempo quando ouviu o grito dela. Nem todos os tiras estavam mortos, um deles surgiu dos escombros do banco e disparou enquanto ela atirava nos policiais restantes.

                Por um segundo o som do taco de baseball caindo e rolando pelo chão foi o único ouvido junto à chuva forte que caía. O rei de Gotham se virou com o olhar mais cheio de ódio que já se vira em seu rosto, finalizando em um milésimo de segundo a vida do infeliz que ferira sua palhacinha, antes de deixar o Batman totalmente de lado e correr até Harley caída no chão frio. Ela choramingou e gemeu de dor apertando seu estômago com as mãos. Uma enorme mancha de sangue se formou ali e logo o líquido vermelho se misturava à chuva e se espalhava pelo chão. O Batman observou a cena de longe quando o palhaço puxou a mulher ferida para seu colo e ela gritou com a dor causada pelo movimento, ainda que tivesse sido suave.

                - Harley!!

                - Isso dói muito, Pudinzinho!! – Ela chorou.

                - Harley!! Aguente!! Vamos pedir ajuda à Hera Venenosa!! Ela pode cuidar de você depois que removermos a bala!!

                - Não! Não vai dar tempo – ela disse baixinho – Dói demais me mover. Só me escute – ela falava enquanto suas lágrimas se misturavam com a chuva – Por que está preocupado comigo agora? Não estava quando me bateu até eu desmaiar algumas vezes, quando gritou comigo e até já me empurrou pra morrer... Me resgatou duas vezes depois que nos enviaram como Esquadrão Suicida, mas o tempo passou e você continua sendo frio e perverso... Até comigo. Mesmo que não tenha mais me batido tanto. Só os seus gritos... Me machucam muito. Muito. Meu amor por você me causa mais dor do que essa bala no meu estômago. Às vezes me pergunto se eu deveria ter ido embora com eles dois... E apesar de tudo... Eu não sei porque, mas ainda amo você, meu Pudinzinho – sua voz começava a enfraquecer – Me desculpe por não entender a piada...

                Os olhos azuis se fecharam e as mãos dela enfraqueceram debaixo da dele. O príncipe havia perdido sua princesa. E uma sensação horrível o tomou pela segunda vez na vida ao ver alguém morrendo. Somente ao presenciar a morte de sua mãe havia sentido tal coisa, como se levasse um soco no estômago e um buraco negro se abrisse no lugar de seu coração, como se a terra o puxasse para baixo querendo engoli-lo. O Coringa gritou. Riu por alguns poucos segundos, mas depois se permitiu chorar.

                - Harley! Arlequina! Você não pode ir! Eu não permito que você vá!

                - A morte não pede permissão. Ela simplesmente vem e leva.

                O Batman finalmente havia se aproximado.

                - Deveria cuidar melhor se ela era sua propriedade como está escrito nas costas desse casaco... Ainda que não esteja entendendo isso, todos aqueles que conheciam cada um dos que vocês já mataram, sentiram. E entenderam. Por isso a dor deles foi ainda maior que a que você está sentindo agora. Ainda assim eu sinto por ela. Pode ser louca e criminosa, mas foi a única pessoa do mundo que você realmente teve ao seu lado, e jamais valorizou. Ela amava você de verdade, amou até o fim.

                - CALA A BOCA, BATSY!! – Gritou para o morcego, se levantando com o taco de baseball numa mão e Arlequina no colo, dando passos para trás.

                Correu até chegar ao seu carro, deitando o corpo sem vida de Harley no banco de trás, junto ao taco, e arrancando dali o mais rápido que podia, disparando tiros contra o Batman até conseguir despistá-lo. Dirigiu como um louco na direção da casa da Hera Venenosa. E se as ruas não estivessem vazias ele teria dirigido loucamente do mesmo jeito. Ou roubaria outro helicóptero.

Por que?! Por que perdê-la doía tanto se cada palavra do que ela tinha dito era verdade? Por que aquelas palavras e aquela tristeza naqueles olhos azuis tão sinceros causavam aquele redemoinho irritantemente inexplicável dentro dele? Poderia até dizer que vira Harleen Quinzel outra vez naquele último olhar, mas não... Aqueles olhos não pertenciam mais àquela médica ingênua, bondosa e indefesa. Era um olhar tão louco quanto o dele, ela era como ele. Sua Arlequina. Mas ainda era um olhar sincero, e que guardava algo que ele sequer lembrava de um dia ter sentido após a morte de sua mãe, algo que sequer conseguia lembrar qual era a sensação, o que Arlequina costumava chamar de amor verdadeiro. Como alguém como ele poderia ser amado por alguém? Era isso que pensava todas as vezes em que Harley insistia em dizer “Eu te amo, Pudinzinho!”, e muitas vezes simplesmente ignorava ou gritava com ela. Ninguém em sã consciência conseguiria sentir uma gota de amor pelo rei de Gotham, só mesmo uma louca. Uma louca como Arlequina. Uma louca que parecia ter arrancado um pedaço dele, embora logicamente ela não devesse lhe fazer nenhuma falta. Não entender aquilo o frustrava, o deixava com ódio! Era inadmissível que o Coringa não entendesse a piada!

— O que está fazendo aqui? Pensei que só viriam buscar as hienas amanhã de manhã, até que foi divertido ser babá delas por uma noite, ficaram super calmas somente com o aroma do chá... Que cara é essa? – A Hera perguntou séria e apreensiva ao ver a expressão totalmente alterada no rosto do Coringa – Onde está Harley?!! O que aconteceu com Harley?! Por que não está com você?! Não me diga que deixou o Batman levá-la de novo!! Fale alguma coisa!! – Ela implorou sem pouco se importar com a chuva encharcando seu cabelo e suas roupas.

A resposta fez o chão quase sumir debaixo de seus pés. A Hera Venenosa soltou um grito de desespero ao ver a amiga ferida quando o Coringa abriu a porta do banco de trás do carro. Harley já havia se ferido muitas vezes, mas nunca daquele jeito. Suas roupas estavam encharcadas de chuva e de sangue, ela estava pálida como um fantasma, ainda que naturalmente sua pele fosse bastante clara, o bastão de baseball Good Night caído no chão.

— Leve-a pra dentro, depressa!! Tenho que fazer alguma coisa rápido!!

O Coringa nem se mexeu, apenas a olhava com uma expressão entre o vazio o choque.

— Por que não faz nada?!! – Ainda de joelhos Pam o sacudiu agarrando em seu sobretudo – Ela vai morrer!!

Ele continuou a olhá-la até que finalmente entendesse, e os olhos verdes da mulher se inundaram de lágrimas. Outro grito deixou seus lábios, mas dessa vez de dor. Pâmela sentou-se ao lado de Harley no banco, abraçando a amiga enquanto deixava suas lágrimas molharem os cabelos brancos e coloridos de rosa e azul.


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