Draco

       —...e passa a goles, que é interceptada no meio do passe e agora está sob posse da Grifinória! Mas a Sonserina continua sessenta pontos à frente da casa rival... Malfoy parece ter localizado o pomo! Ah, desta vez faltas não serão toleradas, é melhor o Potter se segurar... A disputa entre os apanhadores está acirrada, com Potter ligeiramente na frente. Malfoy dispara, para a surpresa de todos! Deixa Potter comendo poeira... Ele está quase lá! Quase... Sonserina vence o jogo!!! Vai, Sonserina!!

     Eu voo sobre os torcedores extasiados com a vitória. Todos comemoram, com gritos, abraços, cachecóis verdes e pretos jogados para o alto, brasões sendo erguidos. Pode parecer egocentrismo de minha parte, mas era bom saber que toda aquela comemoração era por minha causa, meu mérito.

    A Grifinória parecia decepcionada por ter perdido um jogo sobre o qual havia tanta expectativa. Mas acho que vi um sorrisinho de lado nos lábios rosados de Granger. Ou talvez fosse apenas impressão minha. Mas foi um pensamento feliz, ao menos. Especialmente no meio de tantos acontecimentos ruins.

    Só me restava uma coisa a fazer. Mas antes de tudo, havia a comemoração da Sonserina em nossa sala comunal. E eu não poderia perder.

    Assim que aterrisso minha vassoura no gramado, sou erguido por todo o time da Sonserina, e também por muitos torcedores que invadiam o gramado, ignorando os protestos dos professores, que logo desistiram de tentar contê-los.

     Na sala comunal da Sonserina, até mesmo o Barão Sangrento parece feliz. Há doces da Dedos de Mel e cerveja amanteigada, que eu não faço ideia de como chegou ali.

     Pansy sorri para mim e me abraça. Eu aceito o abraço de boa vontade, mas desvio do beijo que ela tenta me dar, resultando em um inocente beijo em uma de minhas bochechas. Eu sorrio, fingindo que nada acontecera, e volto à comemoração.

     A lareira, tochas e candelabros, estão todos acesos. Várias bandeiras, serpentinas e outros enfeites estão distribuídos por todo o cômodo, que está cheio. Todos os Sonserinos estão ali, juntos, sorrindo pelo mesmo motivo.

     Permaneço ali por pouco mais de uma hora, para não levantar suspeitas. Hoje é o dia em que cumprirei minha promessa. Eu a cumprirei de qualquer jeito, e isso exige mais coragem do que voar a toda velocidade atrás do pomo de ouro.

      Esse é o dia em que me declaro para Hermione Granger.

      Quando todos já me cumprimentaram com tapinhas nas costas e parecem distraídos com os doces, eu vou até o banheiro. Afinal, devo estar no mínimo limpo para o que preciso fazer.

      Depois de feito o que precisava ser feito, penteio o cabelo com os dedos para que fiquem mais ou menos arrumados. Me lembro de quando costumava penteá-los impecáveis para trás. Reparo em como me descuidei de minha aparência ultimamente. É o que as preocupações e os problemas fazem com as pessoas. No fundo eu sempre soube que fazer parte dos Comensais da Morte traria problemas para meus pais, mas como eu poderia mudar o modo como meus pais pensam e pensaram por toda a vida?

       Visto meus ombros com minha capa, e então estou pronto.

       Lá vou eu.

Hermione

      Cansada dos lamentos, desculpas e olhares desanimados de todos na sala comunal da Grifinória, resolvo aproveitar bem o meu tempo, e quem sabe achar algum livro interessante na biblioteca.

       Uma corrente de ar engraçada passava pelos corredores, gelada. Meus sapatos produziam um ruído que ecoava pelos corredores vazios, e a luz das velas e tochas não parecia mais tão forte quanto antes, quanto costumava ser.

       Toda a atmosfera me parece um tanto sombria, e eu seguro firme minha varinha ao lado do corpo, atenta à qualquer movimento ou ruído que denuncie que alguém se aproxima. Não quero admitir a mim mesma, mas estou um pouco assustada. Sinto, de alguma forma, que algo não está certo. Aperto meu casaco contra o corpo, para me proteger da corrente de ar.

       Passo perto da escada que desce para as masmorras. Posso ouvir de longe a comemoração dos Sonserinos. Há gritos e risadas altas vindo de lá. Fico parada ali por alguns instantes. Em dias normais eu ficaria triste pela Grifinória ter perdido. E principalmente por Harry. Mas, ultimamente eu estava muito irritada com Harry. Eu fiquei feliz por Draco ter ganhado. Ele merecia, considerando os problemas que estava passando.

       Ouço passos subindo a escada, mas por algum motivo resolvo não me mexer. Permaneço onde estou, esperando. Conforme os passos se aproximam, começo a sentir o pânico me invadir, e percebo que mesmo se eu quisesse, não poderia me mover.

      Naquele momento de terror, sinto minha pele gelar. Quando sei que seja lá quem for que está subindo pode aparecer a qualquer momento, finalmente ergo minha varinha a minha frente, em ameaça.

      Entretanto, para minha surpresa, quem surge, boquiaberto e espantado, é Draco Malfoy.

      Ele se assusta com minha varinha apontada para seu peito, e sei que eu provavelmente pareço estar bem assustada também. Tento suavizar minha expressão, e ele faz o mesmo, esboçando um sorriso.

    —Oi, Hermione! — ele diz, como se nada tivesse acontecido. Eu me surpreendo por ele me chamar pelo primeiro nome. Ele sempre me chamava de Granger. Isso quando não estava com seus amigos Sonserinos, que sempre me chamavam se sangue-ruim. — Que engraçado te ver aqui, eu estava te procurando mesmo.

      Olho para ele confusa por alguns instantes. Então me lembro de minha educação.

      —Ah... Certo. Legal. Ãn... E o que você queria comigo? —pergunto, só percebendo depois que fui ríspida demais. Me repreendo mentalmente por isso.

     —Conversar. — ele diz, simplesmente. Seu sorriso diminui, e eu tento ser mais simpática.

     —Ah, parabéns pelo jogo. Você foi muito bem! — digo, e percebo que agora estou soando um pouco melhor. Draco sorri novamente.

      Começamos a andar pelos corredores. O clima estranho e sombrio continua, mas eu me sinto melhor agora. Mais segura, de certa forma. Duas varinhas são melhores que uma, certo?

        —E para onde você estava indo? — Draco pergunta, curioso.

        —Para a biblioteca. —respondo. —A sala comunal da Grifinória está deprimente depois da derrota que vocês nos deram. — eu digo e dou risada, deixando claro que não é um assunto que eu levo a sério.

        —Acho que devo me desculpar então... Vou tentar não ser tão bom da próxima vez.

        Dou risada. Eu nunca tinha imaginado que Draco escondia esse lado irônico e piadista por baixo do escudo de arrogância que ele costumava exibir.

        —Mas me diga, então — eu começo a dizer —Havia algo específico que você queria me dizer?

        Draco parece um pouco hesitante. Seu semblante fica sério por um momento.

        —Na verdade sim. — ele diz, parando e se virando para mim. Dessa forma, posso olhar diretamente no fundo de seus olhos acinzentados. Por um momento sinto algo estranho em meu peito. Um... calor. — Já faz tempo que eu queria te dizer, mas...

       —Ah! Aí estão vocês! —uma voz feminina é ouvida—Que bom que estão juntos, assim facilitam meu trabalho!

       Nós dois nos viramos bruscamente em direção à voz. Era Luna, segurando uma carta. Percebo Draco com as faces coradas e acho estranho, mas tenho vontade de rir.

       —Dumbledore me mandou entregar isso a vocês.

       Luna me entrega uma carta, me olhando de um jeito estranho. Olha para Draco com o canto dos olhos e sorri para mim. Já sei que o que ela está pensando. Reviro meus olhos antes de pegar a carta.

        Venham à minha sala o mais rápido possível.

    E é apenas o que a carta diz. Nos entreolhamos e seguimos o caminho para a sala, sem saber o que esperar.