Poisoned escrita por Cherrylil2


Capítulo 1
(Des)Prazer em Conhecê-lo


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura e não esqueçam de dar sua opinião ao final do capítulo :)



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Para ser sincera comigo mesma, eu tinha que admitir que eu estava fisicamente e mentalmente cansada de tudo. Eu sempre fui uma pessoa consideravelmente monótona, com uma rotina mais monótona ainda. Mas eu nunca reclamava, sempre estava disposta a passar pela mesma coisa todos os dias. Ser professora sempre fora meu sonho, ter minha própria  vida, me casar e ter alguns filhos. Mas nada saía como eu planejava, parecia que eu era uma pessoa atrasada, aquela que estava sempre atrás, quando alguém já estava bem a frente de mim, com uma vida plenamente perfeita.

Uma parte eu tinha que admitir que havia conseguido, concluí minha faculdade de literatura e agora leciono aulas numa escola. Consegui um empréstimo que fizera eu comprar um apartamento confortável no centro da cidade, e agora eu viva bem apesar de tudo. Mas talvez eram essas coisas que fazia eu me sentir cansada. Eu estava cansada da monotonia. Pegar o ônibus até a escola, ensinar para alunos que estavam mais interessados em colar chiclete embaixo das carteiras do que obras interessantíssimas de Shakespeare, dormir e acordar com a certeza que tudo isso iria acontecer de novo. Mas como eu disse, eu não reclamava.

Acordei com um zunir abafado bem em meus ouvidos. Me desfiz do casulo de cobertas que eu estava reclusa, e ergui a cabeça para olhar. Eu havia esquecido a janela aberta, e as cortinas finas dançavam contra o vento forte que entrava pela brecha. Essa eram uma das parte ruins de morar no nono andar de um prédio, além dos pássaros que teimavam em bater contra as vidraças. Me sentei no colchão, me espreguiçando e afastando o emaranhado de cabelos loiros do meu rosto. Era como um ninho que acordava sobre minha face, mas eu não queria admitir que um dia eles acabariam me sufocando e eu teria que cortá-los. Afastei o pensamento, negando com a cabeça. Me levantei finalmente.

— Bom dia SnowBall.

Cumprimentei meu gato branco que acabara de se espreguiçar no tapete felpudo do meu quarto. Ele soltou um miado baixinho em retorno. Eu sorri. Entrei no banheiro analisando meu rosto pálido. Lavei com água gelada e passei uma leve camada de maquiagem. Penteei meus cabelos e me impressionei por eles estarem quase abaixo dos meus seios. Eu imaginaria o que minhas amigas iriam falar, elas eram do tipo que diziam para eu crescer e admitir para mim mesma que eu estava a beira do precipício da velhice, os 30 anos. Mas eu certamente ignorava tais comentários, idade para mim sempre fora irrelevante.

Tirei meu pijama e abri meu guarda roupa, tirando de lá um vestido justo e um blazer azul marinho. A escola onde ensino havia regras de conduta e aparência quanto para alunos quanto para professores, mas eu ficava imaginando mentalmente se eu pudesse eu iria comparecer com um blusa amarrotada e um short qualquer. Eu era aquela famosa mulher da frase ''jovens para sempre'', e sempre ouvia coisas para que eu fosse mais madura e fosse procurar um marido. E eu queria essas coisas, mas eu apenas não sabia onde encontrar. Todos os meus relacionamentos foram meros homens de barzinho ou de baladas, não duravam mais que uma semana. Eu não me consideraria uma mulher sensual nem nada do tipo. O primeiro homem que tentou burlar o tecido da minha saia acabou indo pra casa com a marca da minha mão no rosto.

Terminei de me arrumar, pegando minha bolsa e meus papéis da escola. Na noite anterior havia passado horas pesquisando assuntos literários divertidos para que pelo menos os meus alunos fincassem os olhos no quadro ou em mim. Me despedi de SnowBall e tranquei meu apartamento. Andei pelo corredor e tive a sorte de pegar o elevador vazio, coisa que agradeci muito interiormente. Eu não era do tipo sociável, e não gostava muito de jogar conversa fora com os vizinhos. Cheguei ao térreo e quase perdi o ônibus que já se mostrava estampado na parada. Corri e consegui pegá-lo. Estava cheio, mas um lugar estava vago ao lado de uma senhora que roncava engraçado. Me sentei, pondo minhas coisas no colo quando senti meu celular vibrar. 

— Alô?

— Oi Kris. — Ouvi a voz animada de Elizabeth, e já previa o que vinha a seguir — Tá indo pra escola?

Encostei a cabeça no vidro do ônibus.

— Sim. O que foi?

Ela riu do outro lado, e eu concluí minha certeza de que ela estava planejando algo.

— Hoje, de 20h, no barzinho do Lenni's, aparece lá. Quero te apresentar uma pessoa. Não vai se ocupar muito com coisas da escola viu? Beijo.

Ela desligou. Elizabeth era uma grande amiga de faculdade, e tinha a mania de marcar algo e nem esperar pela resposta da pessoa. Mas eu iria comparecer. Não tinha nada para fazer numa noite solitária em meu apartamento a não ser ver filmes e rir das respostas das provas de meus alunos. Parei no meu ponto, e desci, caminhando pela calçada da escola. Encontrei com Margareth, professora de espanhol. Ela sorriu para mim e desacelerou para que eu pudesse alcançá-la.

— Kristel. Bom dia.

— Bom dia. — Respondi — Novidades na escola?

Margareth era uma espécie de olhos e ouvidos da escola. Mesmo sendo uma simples professora, parecia saber de tudo que acontecia por aqui.

— Parece que hoje chega um aluno novo vindo de um internato do sul. É raro vir novatos pra cá, principalmente no meio do ano.

Assenti com a cabeça. A escola e a cidade eram realmente paradas, não havia novidade nenhuma. Abri um sorriso enquanto entrei na sala, estava animada em receber um aluno novato. Me sentei em minha mesa e pus minhas coisas por cima. Algumas garotas me cumprimentaram e alguns garotos lamentaram por ser o horário de literatura. Eles se sentaram e eu me levantei à frente do quadro, cumprimentando-os e avisando do aluno novo. Ouvi cochichos e conversas sobre o assunto imediatamente, a sala fora tomada por um furdúncio extremo.

— Pessoal, por favor — Pedi, levantando as mãos — Façam silencio, vamos receber o novato e pelo menos mostrar que somos disciplinados e...

A porta se abriu num movimento grosseiro, e todos olharam. Segui o olhar até lá e vi um garoto de pé, com um sorriso assustador no rosto. Seus braços eram repletos de tatuagens, usava uma regata branca rasgada que com certeza não havia passado nas regras de conduta de vestimento da escola. Seus cabelos castanhos escuros eram envoltos em ondas bagunçadas, e atrás da cabeça, raspados. Sua mochila estava sobre seus pés, completamente amassada e eu duvidava se havia algum material ali dentro. Ele limpou o nariz e colocou um palito entre os dentes, me olhando de cima a baixo, como se eu fosse um objeto a ser analisado.

— Não se preocupa não, dona. Gosto de indisciplina. 

E naquele momento eu tive a infelicidade de descobrir que aquele garoto seria meu novo aluno.

 


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Notas finais do capítulo

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