P.O.V: Narradoras:  Hands Of Time 

Três anos, cinco meses, duas semanas e quatro dias. Esse era, exatamente, o tempo na qual Selaena Beauregard se encontrava no Feeling Sanatorium desde que as amigas de sua irmã a descobriram que ela era S e ela matou Bianca Di Ângelo.  Não que ela não esperasse por aquilo, afinal, ser internada novamente estava em seus planos.

   Mas ficar naquele maldito quarto era torturante.

   Como se não bastasse o estado do lugar, ela ainda tinha que aturar as visitas estressantes de sua mãe, Afrodite Beauregard e dos incontáveis médicos medíocres que aplicavam incontáveis substâncias no seu sangue.

   Se é que ela podia os chamar de médicos.

   Nada naquele lugar a ajudava a se curar. Os remédios principalmente, já que só serviam para deixá-la apagada por umas duas ou três horas. Na verdade, Selaena nunca soube ao certo do que ela precisava se curar. Esquizofrenia? Não, nunca. Bipolaridade? Seu comportamento é de longe causado por emoções elevadas. Dupla personalidade? Se algum dia ela fingiu ser quem não era, foi porque precisava, e ela devia isso a sua irmãzinha. Sociopatia? Okay, talvez.

   Mas ela sabia que nunca iria voltar a ser a Selaena de antes. Não quando ainda sentia rancor pelas consequências dos atos causados pela irmã e também pelo fato de ter amado, pelo menos uma vez na vida, estar no controle de tudo, como “S”.

   Ah, o jogo de S. Muitos podem achar que esse jogo é doentio, psicopata. Mas para ela, ia muito além disso. Era toda a sua vingança, juntada com sua criatividade e umas boas mentiras depositadas nesse jogo de “gato e rato”. Era interessante assistir as garotas assustadas e desesperadas por respostas enquanto ela podia mover os peões do jogo de xadrez que ela havia criado quando bem entendesse.

   Era a sua maneira de se divertir. E ela não pretendia desistir dessa diversão tão cedo.

   Desde que Silena a transformou num monstro que matou suas melhores amigas, Katherine e Miranda, as únicas na qual ela ainda sentia algo de bom, o único desejo de Selaena era acabar com a vida dela. Mas agora, lá estava ela, sentada num colchão de sua “cela”, esperando o primeiro passo para voltar de onde parou.

   Vez ou outra, como agora, ela recebia uma carta de Silena ou de Piper McLean, sua outra irmã, contando sobre como andam as coisas no mundo afora. Não que ela se importasse com isso, mas era melhor do que ficar olhando para o tempo contando os minutos passados. Quando recebeu a primeira carta, estranhou e achou inicialmente que era uma forma de mostrar que “seus planos de acabar com a vida delas havia acabado”. Mas não. Elas realmente estavam empenhadas em tentar fazer Selaena melhorar.

   Infelizmente, até mesmo Selaena lamentava às vezes por não sentir nada de bom em relação a elas. Só rancor e indiferença. Ela simplesmente não conseguia sentir nada além disso. Era como se a vontade de voltar a jogar aquele jogo fosse maior que qualquer coisa.

   Mas, mesmo que ela soubesse que, ao começar esse jogo, não teria mais volta, ela ainda assim, teria o feito. Mas no momento, só se importava em como sair dali. Afinal, ela já sabia o que fazer e o que não fazer para ganhar esse jogo. É com os erros que se aprende, não? Era exatamente isso o que estava fazendo.

   Fingia estar realmente melhorando, desta vez, se empenhando mais, mentindo mais, fingindo mais. Sorria constantemente, conversava animadamente com Afrodite e até mesmo respondia as cartas de suas irmãs. Se for uma garota alegre, contente e “curada” que eles queriam para ela poder sair daquele maldito manicômio, era uma Selaena desse jeito que eles iriam ter. Mentir nunca mais foi um problema para ela desde que ela entrou nesse sanatório de dar pesadelos. Mentir fazia parte da sua rotina.

   Agora ela sabia que não deveria confiar em ninguém, e que se fosse para matar ou resolver um problema, ela que o fizesse sozinha, sem cúmplices ou aliados. O ocorrido com Bianca foi um exemplo mais do que suficiente para ensiná-la disso. Ela estava sozinha nessa.

   Mas isso não importava.

   Ela sabia como retomar o jogo.

   Sabia por onde recomeçar.

   Sabia por onde deveria dar seu primeiro e grande passo.

   Foi um enorme erro delas terem pensado que foram deixadas em paz e que o jogo de S havia acabado por completo.

   Porque se depender dela, esse jogo apenas começou.