Fantasmas escrita por Laís


Capítulo 1
I - Zeus


Notas iniciais do capítulo

Eu fico mesclando entre imaginar o Sherlock dessa história como o dos livros ou como o do Benedict (o dos livros é um pouco mais risonho), mas de todas formas, imagem um young benedict.
O ator que fico imaginando como Victor é o Javier Beltran por causa do papel dele em Little Ashes.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/706598/chapter/1

(...) e um verdadeiro elo passou a nos unir quando descobri que ele também não tinha amigos.

De todos os fantasmas, os dos velhos amores são os piores.

Sir Arthur Conan Doyle

1875

Sherlock Holmes andava a passadas largas, apressado. Não tinha nenhum compromisso importante, desejava apenas estar de volta em seus aposentos para testar algumas experiências químicas. Somente notou que estava sendo seguido quando sentiu uma dor lancinante em seu tornozelo. Instintivamente, abaixou-se para tocar a área a machucada, derrubando o caderno de anotações, repleto de papéis soltos que segurava em seus braços, deparando-se de frente com um cão de língua de fora que jogava baforadas quentes em seu rosto. Não satisfeito, seu novo admirador peludo tentou agarrar-lhe o braço e sua forte patada atingiu o peito de Sherlock. Estava completamente subjugado pelo animal quando ouviu um assobiar próximo.

—Zeus! – uma voz ofegante chamou e só então Sherlock viu-se livre do peso. Ainda atônito e com medo de levantar-se, ergueu um pouco a cabeça e pôde ver um rapaz de mangas arregaçadas, com a respiração alterada que colocava a coleira de volta no cachorro. – Péssimo cachorro, cachorro feio. Está completamente proibido de dormir na minha cama hoje.

Sherlock, vendo que estava seguro, rolou para o lado com um grunhido.

—Eu não sei nem como me desculpar – o rapaz dirigiu-se ao estudante largado no chão. –Você está machucado? Gostaria de poder ajudar, mas preciso controlar o Zeus. Ele parece ter gostado bastante de você. Sério, ele não estava atacando nem nada, só é acostumado a brincadeiras pesadas desse tipo, pode ver pelo rabinho dele – o cão realmente abanava o rabo freneticamente – Ele se soltou e eu corri...

O tom do dono de Zeus era suplicante e seus olhos designavam o mais puro remorso. Estava, na verdade, com medo de que o outro rapaz quisesse prestar queixa e fosse obrigado a deixar seu amigo na casa do pai. Zeus, o peludo de compleição forte e patas altas, era sua única companhia mediante a solidão universitária.

—Tudo bem, tudo bem – Sherlock conseguiu dizer, já recuperado do susto, levantou-se e prontamente parecia novo em folha – Não vamos culpar o animal por seguir seus instintos, ficar o tempo todo preso deve ser terrível.

Sherlock fez menção de abaixar-se para juntar seus papéis e o outro viu que seu tornozelo estava sangrando.

—Por favor, por favor. Me deixe ajudar. Sente-se enquanto eu recolho tudo. Meu apartamento é muito perto daqui, vamos até lá pra cuidar do seu machucado.

Sherlock protestou dizendo que não havia necessidade, mas ele insistiu. Os dois recolheram as anotações e em instantes viam-se andando na direção oposta.  

—Seu tornozelo parece estar bem lesionado. Você quer se apoiar em mim?

—Estou bem – seu tom tinha um quê de irritação, mas era na verdade uma forma de esconder que as pontadas estavam realmente doendo.

—Me desculpe pelo Zeus. Meu nome é Victor Trevor.

Victor segurava a coleira em uma das mãos e a outra estendeu para o companheiro que nem ao menos pareceu notar.

—Sherlock Holmes.

~x~

Chegando ao flat, Trevor indicou uma poltrona para Sherlock e soltou Zeus, que facilmente se acomodou no sofá.

—Nem sei como dizer o quanto eu me sinto mal pelo o que aconteceu.

—Por favor, pode parar de se desculpar.

Victor deu de ombros displicentemente, estava mais tranquilo agora que sabia que Sherlock não prestaria nenhuma queixa para a universidade. Tirou do bolso um isqueiro, acendeu um cigarro e ofereceu outro para o visitante.

—Eu não fumo – respondeu Sherlock.

Victor ergueu uma sobrancelha inquisitiva.

—Tudo bem, então, vamos cuidar desse tornozelo – anunciou enquanto jogava o isqueiro sem nenhum cuidado em nenhuma direção específica.

—Deveria ter mais cuidado com presentes que seu pai te dá.

Trevor congelou sua expressão por um instante, em seguida olhou para Sherlock com um ar conspiratório.

—O que você disse?

—O isqueiro que você ganhou de presente do seu pai, deveria ter mais zelo, foi caro. Além de todas essas coisas espalhadas no seu apartamento.

—Como descobriu isso?

—Da forma mais banal possível. Observando. O isqueiro tem a inscrição de um clube de cavalheiros muito seleto, como não tem idade para entrar em associações assim, só pode ser sido presente. Algo tão caro assim, somente algum familiar próximo daria de recordação. Ele também manda presentes mensais e você só os joga em qualquer canto.

Trevor gargalhou.

—Incrível! Você consegue fazer isso com outras coisas? – perguntou estupefato.

—O que? Observar? Obviamente que sim – Sherlock retrucou impacientemente. A dor somada com a raridade de suas interações sociais o tornava um tanto grosseiro, todavia não era algo intencional.

O humor leve de Trevor foi inibido com a resposta dura. Recordou-se do tornozelo e foi até cozinha buscar materiais de primeiro socorro.

—Pode deixar aqui, por favor – Sherlock pediu, ao ver uma bacia e panos. Levantou a bainha da calça, lavou o pé, pressionou levemente com a toalha até limpar completamente e amarrou o pano no tornozelo. –Isso é tudo. Obrigado.

Levantou, parcialmente mancando, fez um meneio com a cabeça e indicou que iria embora.

—Só um instante – Trevor interceptou a passagem. – Onde você mora? Queria poder checar pra saber se está tudo bem.

—Não há necessidade – respondeu Sherlock, com um sorriso que fazia tentativas de tentar ser simpático. – Adeus, Zeus. Espero que não haja ressentimento entre nós.

Recolheu seu caderno e saiu, deixando para trás Victor Trevor que não conseguia esboçar nada além de assombro pela aspereza de seu novo conhecido.

~x~

O tornozelo de Sherlock assumira uma aparência infecciosa depois de dois dias, causando febre e o forçando a ficar de cama, o que o deixava extremamente irritado. Tinha repulsa ao monótono passar do dia, sem poder realizar seus experimentos, entregava-se ao marasmo dos dias cinzentos. Em uma tarde chuvosa, ouviu uma batida na porta.

Aquilo era inesperado, Sherlock não recebia visitas. Não tinha amigos.

Levantou com dificuldade, resmungando e abriu a porta para encontrar Victor e Zeus – ambos encharcados.

Zeus latiu, abanou o rabo e saltou em Sherlock, que habilmente desviou.

—Não estou em condições de ser perseguido hoje.

—Você não disse onde morava, então eu tive que sair perguntando por aí. Ninguém conhecia você, até que eu resolvi procurar nessas acomodações baseado na direção que você estava indo naquele dia e a senhoria me indicou seu quarto.

Sherlock franziu o sobrolho e não disse nada.

—Podemos entrar?

—Se você insiste...

Zeus se sacudiu no meio do cômodo e Trevor nem ao menos pareceu notar. Tinha uma postura menos comedida do que antes. Sentou-se na cama de Sherlock, o único lugar que havia para isso e acendeu um cigarro. Ofereceu um para Sherlock que, dessa vez, não recusou.

Aquela foi a primeira de muitas visitas de Victor que Sherlock recebeu, ambos tornaram-se bons amigos logo que perceberam que os dois eram almas insociáveis.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Gente, um espacinho pra uma leve teoria da conspiração aqui: o quote dos fantasmas de velhos amores é do pai do Trevor quando o Sherlock fala da tatuagem com as iniciais do antigo nome dele. Então Mr. Trevor fala isso, mas o caso dele não tem NADA a ver com amores passados e você fica pensando........ O que Sir Arthur queria dizer com isso hein
Desculpa, minha imaginação é muito fértil.
Até o próximo!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Fantasmas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.