Hooper escrita por Laís


Capítulo 1
Molly ensina algo a S.H


Notas iniciais do capítulo

Olá! Espero que tenha ficado legal :)



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St Bartholomew’s Hospital não era exatamente o lugar preferido de ninguém, mas Molly Hooper adorava a quietude e simplicidade de seu laboratório. Naquele lugar em específico, ela tinha controle de tudo que era importante e essa sensação de poderio era bem vinda diante do caos de sua vida pessoal – que ela preferia ignorar.

Mais cedo um corpo havia dado entrada no necrotério, encontrado nas margens do Tâmisa, em estado não muito avançado de decomposição, por isso não desviou o olhar das amostras à sua frente quando Sherlock Holmes apareceu, já o esperava.

—Recebi sua mensagem – anunciou, ignorando qualquer saudação trivial.

Molly sempre se preparava para reagir normalmente perto de Sherlock e, caso passasse muito tempo sem ver ou falar com ele, ­repreendia-se pela estupidez de sua atração pelo detetive, contudo, tudo isso ruía elegantemente como um castelo de cartas quando escutava sua voz. No entanto, repetia a si mesma, era uma adulta e poderia muito bem controlar seus pensamentos que eram, muitas vezes, devaneios juvenis – e ria da situação absurda em que se encontrava. Como agora.

—Algo engraçado? – Sherlock perguntou franzindo levemente o semblante em uma expressão mais de desconforto do que de confusão. Quase como se estivesse ofendido por ela estar rindo.

—Absolutamente nada – Molly distanciou o olhar do trabalho e sorriu, fazendo uma mesura na direção do local onde estavam os corpos. – Todo seu.

Sherlock retirou o cachecol azul e o sobretudo, pegou luvas plásticas da mesa onde Molly trabalhava e deu um sorriso de canto.

—Fresco? – questionou com o brilho no olhar de uma criança que tenta adivinhar qual seu presente de natal.

—Se você se apressar, talvez ainda consiga uns espasmos – brincou.

—Ah, Molly Hooper – proferiu, segurando-a pelos ombros – eu poderia beijar você.

E saiu apressado na direção indicada por ela.

~x~

—Sherlock! – chamou pela porta que separava o laboratório do necrotério em si. – Hora do almoço.

—Não estou com fome.

—Isso não realmente me interessa, eu preciso almoçar e não vou deixar você aqui sozinho.

—Por que não?

—Eu preciso realmente lembrar a última vez? – Molly levantou uma sobrancelha e Sherlock aquiesceu.

—Tudo bem, eu vou sentar lá fora até você voltar – rebateu em um tom lamurioso e contrariado.

—Ou... – Molly começou a falar e pareceu pensar duas vezes.

—Posso ficar? – questionou, já com aquele brilho de animação infantil no olhar novamente.

—Não! Já que você vai ter que me esperar de todas as formas, por que não almoçamos juntos?

—Eu acabei de dizer que não estou com fome, você não presta muita atenção nas coisas, presta?

Ela suspirou e sacudiu a cabeça impacientemente.

~x~

—Até que enfim! – levantou em um pulo só do banco no corredor em que a aguardava – Alguém que já não está mais tão jovem não deveria evitar esse sanduíche enorme aí?

—Como é?

—Você ficou fora por séculos! – protestou.

—Ah pelo o amor de deus, Sherlock, não é como se o cadáver tivesse um encontro mais tarde. Aqui, eu trouxe um sanduíche para você também. – Ele olhou para o embrulho como se fosse uma ameaça à vida no planeta Terra. – Sem almoço, sem cadáver.

Com um muxoxo, começou a comer e Molly sentou-se ao seu lado no banco.

—Ok, mãe.

—Para sua informação, eu também não sou fã de bancar a mãe.

—Deveria tentar já que não deu muito certo na profissão.

—O que? – Molly nem percebeu que estava berrando.

—Aquele homem não morreu afogado, havia água nos pulmões, é claro, mas não o suficiente. Ele já fora ferido mortalmente antes disso, porém sem marcas...

—Não, não, pode voltar para a parte em que eu deveria largar o trabalho para ser mãe.

—Você não está ficando mais jovem, está? É normal que na sua idade as mulheres comecem a surtar por...

Molly nem notou o que estava fazendo até já ter desferido o golpe. O soco atingira o nariz de Sherlock que instintivamente largara o sanduíche no chão e cobrira o rosto com as duas mãos enquanto proferia alguns palavrões mesclados com “ais”. Levantou-se e saltitou ao redor como se isso de alguma forma aliviasse a dor.

—Qual é o seu problema? – gritou.

—Qual é o seu problema? Você vem no meu laboratório, insulta o meu trabalho, a minha idade e ainda sugere que eu deveria estar procurando uma atividade mais condizente com o meu gênero? - Molly deu um tapa nos ombros dele.

—Ok, ok, já entendi, eu estava só brincando. Não foi minha intenção.

—E se você quer mesmo saber, aquele homem morreu de overdose, quando começou a convulsionar, alguém deve ter entrado em pânico e o atirado no rio. Eu já sabia disso porque sou boa no que faço. E você não sabe o quanto é difícil ter que provar isso o tempo inteiro.

Sherlock, ainda com as mãos no rosto, sentou ao lado de uma Molly mais calma que havia voltado a almoçar.

—E realmente importa se as pessoas acham você inteligente ou não? – questionou com uma expressão que poderia ser de genuíno interesse, porém Molly não saberia dizer com certeza absoluta.

—Talvez para você não importe, mas quando ninguém espera muita coisa de você, é importante sim.

—Não acho que deveria ser e o que você quis dizer com “quando ninguém espera muita coisa de você?”.

—Bom... Ninguém espera. Só isso. Quando eu fui pra faculdade, parecia algo normal a ser fazer, o que mais as pessoas fazem quando são jovens assim? Mas depois que decidi me dedicar inteiramente ao meu trabalho, subitamente isso pareceu ser falta de algo significativo na vida— Ela dava de ombros enquanto falava e mantinha a expressão vaga, mas seu tom de voz era soturno.

—Eu não entendo... – Sherlock parecia legitimamente confuso.

—Claro que você não entende. Se você é um homem solteiro que se dedica ao trabalho na sua idade, você está aproveitando a vida. Se você é uma mulher nessas mesmas condições, você é patética.

—Mas isso é tão...

—Ultrajante? Ridículo? Ultrapassado? Claro que é.

Sherlock absteve-se de uma reposta e caiu em um humor contemplativo, ainda pressionando o nariz machucado.

—Desculpa ter sido um pouco rude. Hoje só não está sendo um dia muito bom e com certeza a sua constante diminuição do meu trabalho não ajuda nisso. – Molly quase atropelou as palavras, não era muito boa naquelas coisas, sempre acaba dizendo algo que a constrangia. Era muito socialmente esquisita e conversar com alguém tão inteligente como Sherlock sempre parecia uma emboscada.

O detetive consultor perdurou em seu silêncio.

—Sinto muito, Molly – disse por fim – Não posso prometer nunca mais fazer isso, é quase involuntário. Eu provavelmente direi que alguma ideia sua é ridícula três vezes por dia se tiver a oportunidade, mas você é mais estúpida do que eu imaginava se não sabe que é a mulher mais inteligente que já conheci.

Molly o perscrutou pelo canto do olho e sorriu levemente.

—Obrigada. – esticou o braço e retirou o cachecol de Sherlock – use isso. Seu nariz está sangrando um pouco e eu nem vou me desculpar por isso, você mereceu.

—Quando você aprendeu a causar dor a outro ser humano dessa forma?

—Eu tive irmãos – sorriu superficialmente.

—Agora, por favor, não espere que eu vá alimentar sua autoestima elogiando seu trabalho o tempo todo. E também não pense que “três” é o limite máximo de vezes que eu vou ridicularizar suas ideias – zombou.

—Claro que não e, para ser bem sincera, eu nem me importo tanto com as críticas, elas sempre são uma forma de fazer alguém melhorar. Por mais que me doa admitir, você tem razão muitas vezes.

—Sempre – corrigiu, com uma petulância simulada no tom.

—Nem sempre.

—Ok, quase sempre. 98% das vezes.

—Setenta e cinco – rebateu Molly, contudo o olhar indignado de Sherlock a fez completar – Tudo bem, oitenta.

Dizendo isso, recolheu os restos do almoço, jogou na lixeira e levantou. Abriu a porta do laboratório, convidando-o entrar também.

—Já sabemos que você também é péssima em matemática – murmurou enquanto passava pela porta.

Molly o fuzilou com o olhar e Sherlock teve alguns segundos antes de começar a correr pelo laboratório com ela em seu encalço.

—Você não deveria irritar uma pessoa que tem uma coleção de bisturis, Sherlock.


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Notas finais do capítulo

Qualquer comentário faz meu dia mais feliz.
Que a Força esteja com vocês. Milhões de bjokas de luz.



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