Sequestro de um coração escrita por EroDark


Capítulo 1
One-Shot


Notas iniciais do capítulo

Trabalho de escola de português (portanto, os nomes ñ asiáticos cof... cof... n fui eu q escolhi!)~~
Fico grandinho pra uma one-shot XD mas fiquei com preguiça de criar uma separação de cap... kkkk



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Era uma manhã nublada, quando decidi caminhar sozinho até a banca de jornal, com o objetivo de comprar o código mensal da Level Up, o que causa discórdia entre meus pais, que limitam meu lazer ao declarar que isso atrapalha meus estudos. Tendo um QI alto, eu claramente trago orgulho para minha família, mas é justamente este ambiente sufocado e limitado que me obrigou a amadurecer mentalmente. Crescendo sobre regras rígidas, onde falhar não é opção, fez com que eu procurasse soltar esta tensão e cansaço trazido pela pressão daqueles ao meu redor em distrações como jogos, livros, wuxias, etc. E também foi nessa manhã manchada pela melancolia dos céus que encontrei algo além do cotidiano sufocado de um garoto gênio.

“Ora se não é o menino gênio, P.C. Junior!”- exclamou a mulher da banca de jornal.

“Olá, senhora Fátima... como vai?” - cumprimentei em educação, com um sorriso forçado, algo que uma criança da minha idade nem deveria saber fazer.

“Haha! Além de bonito é educado! Sorte da mulher que conseguir te fisgar! Hehehe...”- elogiou Fátima.

“Ainda sou muito novo para tais coisas...” - corei com o comentário. Por mais madura que fosse minha mente, a diferença entre conhecimento e experiência não é algo que se preencha tão facilmente.

“Que nada! Hoje as moça já tão tudo namorando nessa idade! Como e bom ser jovem...”- Fátima ficou quieta de repente e olhou em meus olhos. - “Oh...! Pequeno gênio... vejo um grande perigo pela frente... você irá encontrar com seu maior desafio...”

Olhei admirado para a mulher que recitara a sentença. Não era muita surpresa das habilidades videntes de Fátima, mas, também não era algo que alguém levaria a sério, só que... meu maior desafio? Desde que nasci nunca houve algo que não pudesse realizar, não encontrei de fato nenhuma situação que merecesse o titulo de "desafio" para mim. Senti um calafrio e um leve sorriso surgiu entre meus lábios.

“Ora, ora, então o que será para hoje pequeno? Mais códigos é? Hehehe... Meu guri deu agora de ficar grudado no computador jogando essas coisas,  fica uma peste quando isso chega e não me larga até conseguir um...”- suspirou profundamente ao lembrar dos olhos de filhote do filho ao implorar pelos códigos.

“Haha, creio que o Pedro se torne bem irritante quando quer algo mesmo...”- lamentei. Fátima confirmou com um movimento da cabeça.

 Após comprar o código, me dirigi ao meu apartamento que não se encontrava muito longe. Mas, logo quando iria virar a esquina da minha rua, algo me chamou a atenção, no que eu fui virar, senti um pano úmido contra meu rosto e cai em uma escuridão profunda.

Ao acordar, estava deitado no chão frio, minhas mãos se encontravam amarradas, além de uma venda que me impedia de ver qualquer coisa. Foi nesse momento que deduzi ter sido sequestrado. Não me alarmei, até porque minha fama não era pequena, participei de diversos concursos e palestras importantes, algo como um sequestro não seria tão chocante assim.

“Há há! O pequeno diamante acordou!”- exclamou uma voz jovem e masculina.

 Alguém se aproximou e pude sentir mãos grandes passarem sobre meu cabelo, desatando a faixa que bloqueava minha visão. A luz do quarto vinha de uma vela na mesa ao canto, tornando difícil o reconhecimento daqueles presentes na sala. Contanto, era possível discernir três figuras masculinas, aquele que havia mantido minha guarda seria o homem  sentado perto da mesa, mas seu rosto se encontrava atrás da luz da vela e de minha posição seria impossível reconhece-lo, a voz jovem vinha do garoto, não mais de 18 anos que se encontrava na entrada da porta. Independente, o que mais me chamou atenção foi o homem em minha frente. Além de possuir um físico alto e não muito trabalhado, mas nem um pouco fraco, suas mãos eram gentis, e diferente do olhar predador dos outros dois, cegados pelo dinheiro que iriam conseguir comigo, seu olhar era calmo e sereno, era difícil enxergar seu rosto na vaga luz da vela, mas, seu olhar tão vasto quanto um oceano, seus cabelos longos e ondulados, além das mãos que haviam gentilmente acariciado minha face me deixavam calmo, retirando qualquer possibilidade de resistência que meus instintos pudessem mostrar.

“Oh... você não vai resistir?” - perguntou o homem em minha frente com a voz grossa e suave, surpreso pela falta de resistência de minha parte.

“...” - não respondi.

“Contanto não irá falar...” - suspirou. “Bom, não e como se eu me importasse de qualquer maneira... Lucas! Mande o bilhete de resgate e Marco pode descansar, eu tomo a guarda aqui, os outros ainda vão demorar a chegar e o Lucas vai arranjar o bilhete, portanto eu fico com ele... podem ir!- declarou o homem. Os dois subordinados saíram rapidamente, deixando-me sozinho com aquele cara intrigante.

As mãos em minhas costas eram desconfortáveis e, portanto me revirava o tempo inteiro, até que o homem do qual não parecia nem um pouco interessado em minha acomodação perdeu a paciência e se aproximou, ajoelhou-se em minha frente e me pressionando em seu peitoral, desamarrou a corda de meus pulsos, chocado com a ação, eu nem tive tempo de atentar um escape falho e minhas mãos se encontravam prendidas novamente na frente de meu corpo, o homem voltara a cadeira que havia perto da mesa. Ainda congelado e de pulso acelerado, me concentrei na figura do homem, ainda em seus 20 anos lendo um livro sobre a luz da vela. Seus traços faciais lhe davam um ar jovem e fino, sem prejudicar sua masculinidade, pelo contrário, era tão atraente que poderia causar centenas de mulheres ricas caírem em seu charme. A maneira com que movimenta seus longos dedos e a concentração que demonstra ao apreciar a leitura mostravam que seu intelectual não era inferior. Isso me faz pensar: o que alguém como ele estaria fazendo nesse tipo de negócios...

“Ni Tian Xie Shen...”- reconheci o livro em suas mãos. Traduzido como: oposição do Deus negro.

“Oh... Você sabe chinês?”- perguntou em surpresa.

“Não... só reconheci os caracteres chineses da obra.”

“Então você conhece a obra, mas não consegue lê-la?”- se intrigou soltando um breve som, semelhante a riso.

“Não, eu não sei chinês, mas nem por isso não posso lê-la, há diversas traduções na internet, apesar de ser muito raro encontrar em português. No entanto eu sei Inglês, tornando-se mais fácil a leitura.”- expliquei irritado, o mandarim é uma língua que eu prefiro ficar longe, mas ao tempo me chateia por eu não poder ler as obras originais.

“Mesmo assim você fica sem entender os significados ocultos dentro de algumas frases, pois em obras do gênero wuxia e xianxia eles costumam colocar muitos trocadilhos de um significado profundo. E como deve saber, mesmo com sua idade, as mensagens com significados profundos e filosóficos nessas obras são a melhor parte...”- me repreendeu.

“...”-me irritei com a parte da idade, mas o que ele comentou me deixou sem palavras. De fato eu não tenho como entender muitos trocadilhos e no começo da minha aproximação dessa literatura profunda, eu perdi muito entendimento que eu poderia ter ganhado sobre essas obras e ainda perco. “Nhg—vocês está certo, o pior é que enquanto a obra original já publica mais de 1000 ou até 2000 capítulos, as traduções só possuem em média de 200 a 600 capítulos em andamento...”- confessei amargamente.

“há há! Isso sim que é diferença... se eu fosse você procuraria aprender a ler chinês o quanto antes, ainda mais nessa idade!”- brincou.

“Hunf! Posso até ser novo, mas meu conhecimento e intelecto passam longe daqueles em minha idade!”- declarei com arrogância.

“Um moleque que nunca encostou em uma garota, querendo dar uma de adulto... hahaha! Garoto a arrogância só irá te afastar das pessoas.”- repreendeu-me.

“Não faz diferença.”- dei de ombros. “Já não há ninguém para afastar mesmo... Meus pais só se preocupam com a própria imagem e aqueles que procuram se aproximar, são pessoas ainda mais arrogantes que eu, possuindo segundas intenções, seja com o dinheiro de meus pais ou minha fama...”- resmunguei com indiferença.

“Isso sim que é uma mente pesada para uma criança...”- se surpreendeu o maior. “De qualquer maneira... isso não tem nada a ver comigo, depois de receber o dinheiro nós vamos te mandar de volta para sua jaula”- se levantou e dirigiu-se até a porta. “Hey Lucas!”- sem resposta. “Marcos! Cadê o Lucas?!”- se dirigiu para fora do quarto, me deixando sozinho novamente.

Pouco tempo depois o homem chamado Marcos entrou no quarto e trouxe comida. “Tome garoto, você ficou desacordado o dia inteiro...”- pôs a comida na mesa rudemente e saiu. Eu me levantei até a mesa, mas havia um problema... Minhas mãos estavam atadas. Fiquei um tempo encarando a comida sem poder de fato come-la, até que decidi chamar alguém pra me desamarrar pelo menos para comer, até porque, eu não estava preso, o que significa que eles têm confiança de que não irei escapar.

Saindo do quarto havia um corredor sem saída á esquerda, segui a direita e passando por duas portas fechadas, avistei uma aberta e segui em sua direção. Dentro do quarto iluminado havia prateleiras e estantes repletas de livros, como uma minibiblioteca, não tão grande quanto a minha, mas havia uma diversidade maior de linguagens. No centro, se encontravam duas poltronas e uma mesa de café. E de pé perto de uma estante pegando alguns livros estava o homem irritante.

“O que o gatinho acha que está fazendo, andando por ai como se não fosse um refém?”- perguntou o homem fechando o livro e se virando em minha direção. Cabelos negros e longos, membros longos e nem um pouco fracos. Olhos negros e intensos, capazes de destruir a concentração de qualquer um sugando sua atenção como buracos negros. A pele pálida em contraste á roupa completamente negra, era como ter a visão da solidificação de um ser fictício saído de livros com romances góticos.

“Você é humano?...”- perguntei admirado, de tantos cosplays que já vi até hoje, este homem em minha frente poderia se tornar a encarnação do próprio personagem em si.

Ele arregalou os olhos, surpreso com a pergunta, mas, logo começou a gargalhar. “Pff... essa foi a pergunta mais bizarra que já ouvi! E lhe devolvo a mesma, duvido que me questionariam se eu lhe colocasse asas e dissesse que és um anjo de verdade! Há há há...”- corei. Ele foi chegando mais perto de mim, tentei me afastar, mas logo dei de encontro com a parede do corredor. Ele sorriu em conta da minha reação e pousou as mãos sobre meus pulsos, o que me arrepiou e esquentou meu rosto, me obrigando a vira-lo de vergonha. O que diabos ele vai fazer?!

 Senti uma leveza nos pulsos. “Pronto! Como aquele idiota pode não ter percebido que seria impossível comer com as mãos atadas... hahaha!”- olhei para meus braços e corei mais ainda percebendo que não era o que eu estava pensando. “O que foi? Hey, você está vermelho... ficou com febre?”- encostou a mão em minha testa para medir a temperatura. Fiquei mais vermelho ainda.

“Eu estou bem!”- gritei e corri para o quarto escuro sem dar chance que visse meu estado. Engoli rapidamente a comida e me deitei na cama que havia ali. Alguns minutos se passaram, mas eu não conseguia acalmar as batidas fortes que meu coração fazia. Eu não conseguia dormir!

Levantei e me dirigi novamente àquela sala. “Oh...”- se surpreendeu o homem que já se encontrava sentado e lendo o mesmo livro de antes.

“Como eu posso lhe chamar?”- perguntei envergonhado.

“Rai... pode me chamar de Rai, não tem porque eu lhe dar meu nome inteiro, quem sabe se não irão lhe forçar a prestar depoimento...”- falou sem interesse.

“Esse livro...”- hesitei. “Ele me lembra ‘Batalha sobre os céus’, apesar de eu nunca ter lido a novela, pelo menos o manhwa é bem parecido.”- me acalmei tendo agora algo em que concentrar meu raciocínio.

“Batalha sobre os céus não é a única novela onde o herói usa uma espada pesada... Além disso, ele é levemente melhor que oposição do Deus Negro.”- comentou levemente incomodado com meu comentário.

“Não acho. Até a outra obra do mesmo autor ‘O grande governador’ é melhor que Batalha sobre os céus... ele focou muito em lutas e os poderes são exagerados, o principal e fraco e geralmente escapa por sorte, além de ficar muito dependente do mestre dele, sério, depender dos outros é algo que eu odeio ver e me tirou qualquer vontade de continuar acompanhando essa série. Prefiro personagens que conseguem se virar sozinhos, Nie Li de ‘Contos de Deuses e Demônios’ é um exemplo, essa obra também, apesar de ter sido uma das primeiras que eu li, foi muito inspiradora. O raciocínio necessário é leve, mas a maneira como tratam o perdão e o arrependimento me surpreendeu. Ele me fez perceber que por pior uma pessoa possa ser, sempre há certa bondade por trás que pode ser cultivada. Claro, ainda há aqueles que seus atos se tornam tão imperdoáveis que nem mesmo uma terceira chance é suficiente...”- acabei me empolgando, tanto que já me encontrava na outra poltrona. O homem me olhava com atenção, intrigado.

“Há há! Imagino o que alguém pensaria ao ouvir isso de uma criança de 12 anos... não é a toa que você é um pequeno gênio para eles.”- sorriu o maior.

Corei. “Comparado aos gênios que criaram essas obras de arte eu não sou nada... é triste ver como, só por eu ler um pouquinho, considerando que eu nem posso ler as obras originais, pela falta de meu conhecimento na linguagem eu já sou tratado como em um nível diferente deles...”- lamentei. “Essas obras são tão lindas e interessantes que não posso me impedir de compara-las com a realidade e perceber que nem um pingo daquilo sobre lealdade, confiança, pureza, amizade e amor existem na vida real, mas tudo aquilo de podre, até muitas vezes pior do que nos livros, desde que ali pelo menos ao fim eles recebem a punição e vergonha sobre suas ações... já na realidade, inocentes morrem, culpados ficam impunes, somos governados por seres mais repudiantes que assassinos impiedosos e continuamos cegos e surdos para todo esse sistema. Lutamos por poder, pisando uns nos outros, não confiamos em ninguém e não recebemos o que de fato merecemos. Na ficção a regra do mais forte se aplica de maneira com que, sem importar sua situação econômica ou seu talento natural, contanto que trabalhe duro você pode se tornar um herói admirado e respeitado por todos. Agora na realidade, aqueles que nascem sem chances continuarão sem chances por toda a vida, vivendo em um dilema onde o mais impiedoso prevalece.”- desabafei. O que me deixou de certa maneira leve. Ele entendendo ou não, poder falar isso para fora havia me libertado de um peso enorme na mente.

“...”- o maior ficou me olhando, como se eu fosse um pequeno diamante descoberto. Mas logo começou a rir.

“Não sabe fazer nada além de rir?”- me irritei.

“É só que... você tem mesmo 12 anos? De fato eu concordo que ler obras wuxias e xianxia é capaz de lhe mostrar um pensamento totalmente diferente sobre o mundo, mas, mesmo assim, você só tem 12 anos! Quando eu comecei a ler esse tipo de livro eu tinha pelo menos 16 anos... E apesar de eu ter compreendido maior parte do raciocínio dessas obras naquela época, eu já tinha cerca de 6 a 7 anos de estudo oriental e familiaridade com a cultura e religião deles!”- se levantou. “E mesmo assim, você já possui essa mentalidade com 12 anos... Se estivéssemos na realidade de um xianxia, você seria um completo monstro em cultivação... há há há!”- Foi até a estante e pegou um livro grosso. “Agora. Considerando que você já deve ter lido certa quantidade de novelas chinesas... qual sua favorita?”- perguntou enquanto procurava outro livro na estante com títulos em diversas línguas.

“Hmm... difícil. Contos de Deuses e demônios tem uma história bem desenvolvida, é fácil de se entender, não tem muito exagero em efeitos como Batalha sobre os céus... mas tem ‘Transcendendo os nove paraísos’, onde o principal é bem mais manipulador e o raciocínio utilizado é bem complicado e interessante, a comédia também é hilária e principalmente a amizade, essa obra me comoveu com uma visão tão linda dos laços fortes entre os personagens. Mostrando até os antagonistas sofrendo com a perda de seus companheiros e lhe fazendo ter piedade deles também, apesar de seus atos moribundos.”- franzi as sobrancelhas. “Mas esse da revolta do Deus negro... apesar de eu estar no começo ainda ele já possui um impacto tão grande... ele é tão equilibrado e a mentalidade dele apesar de ser mais pesada que os outros dois, ela é mais empolgante, fora que o raciocínio dessa novela me impressiona a cada capítulo, o autor simplesmente abusa das habilidades de manipulação da história, lhe fazendo acreditar que a situação não possa ficar pior e deixando ela dezenas de vezes mais dolorida de se ler, ou quando tu te surpreendes com a força tanto espiritual, quanto física do personagem, quebrando barreiras de lógica, até mesmo a fictícia, fazendo com que a gente se envolva em níveis inteiramente superiores...”- parei ao perceber que havia me empolgado e corei levemente.

“Pff! Acho que já da para se perceber qual seu favorito”- sorriu. “Aqui!”- me entregou dois livros. “Um dicionário de mandarim e um livro em inglês sobre a filosofia implantada em wuxias e xianxias, a filosofia do Dao.”- me explicou e voltou a sua poltrona.

Eu comecei a folhar os dois e em certo momento já estava mergulhado em concentração, sem perceber que por todo o tempo em que estive lendo-os, ele ficou me observando o tempo inteiro. Estava tão submerso na leitura que nem percebi quando cai no sono e já estava dentro de meu próprio mundo.

Quando acordei, estava naquele quarto, deitado na cama. Rai deve ter me trazido depois de eu cair no sono enquanto lia... aaah! Que vergonha!

“Ah! O pequeno diamante acordou!”- exclamou uma voz jovem. O garoto ruivo se encontrava escorado na porta. “Hey pivete! Levanta logo que teu leitinho já vem!”- zuo o jovem. Olhei feio para ele, discutir com uma escória dessas não tem sentido! “Que foi moleque! Ta se achando quem? Quem manda aqui sou eu! Hunf!”- exclamou, arrogantemente.

“Você não acha que a criança aqui é você discutindo com alguém quase uma dezena mais novo?”- repreendeu uma voz no corredor. Meu coração palpitou.

“Chefe!”

“Rai!”

Eu e o ruivo nos encaramos mortalmente. “Wow! Acalma a atmosfera, fazendo um favor?”- brincou Rai. “Lucas pode ir embora, eu assumo daqui.”- ordenou. O garoto hesitou, mas logo se retirou. “Aqui. Você deve estar com fome...”- colocou um prato com panquecas e achocolatado em cima da mesa.

“Eu não sou uma criança!”- franzi vendo o líquido.

“Esqueça esse pensamento, você pode não pensar como criança, mas você ainda tem o corpo de uma.”- me repreendeu. Eu bufei, mas logo estava me deliciando no café da manhã.

“...Hm...Rai...”- chamei hesitante, com medo de que estivesse bravo.

“Hum?”

“Não sei se eu poderia estar perguntando isso... mas, por que você vive nesse tipo de coisas?”- não conseguia olhar em seus olhos e perguntei fingindo falta de interesse ao me concentrar na comida.

“Que tipo de coisa?”- sentou-se na cama.

“Sequestrando pivetes mimados de famílias ricas?”- Rai começou a rir.

“Há há há! Você se considera um? Pff!”- virei em sua direção com raiva.

“Eu sou diferente!”- exclamei.

“Por quê?”- me olhou cínico.

“...Não te interessa!”- declarei. “Além disso não é como se toda criança rica e arrogante seja mimada, pra começo, uma criança mimada é aquela que ganha toda a atenção do mundo! Alguém que mal viu os próprios pais, imagine ganhar atenção deles não é uma criança mimada! Pelo contrário, a arrogância que nasce nessas pessoas é justamente pela falta de atenção e carinho!”- sai correndo.

Lágrimas ameaçavam escorrer, mas eu as segurei. Nunca chorei na frente de ninguém, nem de meus pais, como eu poderia me permitir isso na frente de um total estranho. Segui pelo corredor e desci as escadas para o primeiro andar, avistei a porta e sai sem me importar se alguém havia visto. Corri, corri com raiva, corri com medo, corri... até que entrei em uma floresta e continuei, parando em uma clareira.

Choquei-me com a visão que presenciava e não pude continuar. Uma mulher se encontrava no chão, gritando e gemendo ao mesmo tempo, dois homens a seguravam enquanto um terceiro se movia como uma besta sobre ela.

“He he... cuidado para não quebrar ela idiota! Eu também quero brincar...”- se interrompeu avistando-me chegar na clareira. “Oh! O que temos aqui...”- largou a mulher fazendo o outro capanga amaldiçoar o homem e se aproximou. Eu não conseguia me mexer, já não havia forças em minhas pernas para fugir e estávamos numa floresta, ninguém viria ao meu socorro. Comecei a tremer, minhas pernas já se encontravam bambas e as lágrimas que ameaçavam cair já haviam sumido, somente terror se encontrava em meus olhos. “Então garoto... você atrapalhou minha diversão ... quem sabe eu não te use para substituir aquela vadia?”- sorriu de maneira assustadora e me segurou pelo pescoço.

“N-não... não, não! Rai!”- gritei enquanto me esperneava, mas já estava levantado no ar sem fazer diferença o quanto me mexesse. “Rai! Rai! Me ajuda!”- ele era a única pessoa que vinha em minha mente. Fechei os olhos e parei de lutar sem forçar para me revoltar sobrando.

“Hehe... seja lá quem for esse Rai, ele não vai te salvar garoto, não há ninguém nessa floresta! Agora, seja bonzinho e me divirta! Há há...”

“BOOM!”- a força que me erguia de repente me largou e eu caio no chão.

“POW!”- eu abro meus olhos e vejo dois dos homens caídos no chão, sangue escorrendo da boca daquele que me segurava antes em minha frente e outro, a besta que se encontrava em cima da pobre mulher gritava de dor, e partindo para socar o terceiro se encontrava Rai! Em carne e osso!

“Crack”- foi-se ouvido o som de ossos quebrando no momento que o punho de Rai encontrou o maxilar do homem.

“Rai! Rai, você...”- corri em sua direção e me agarrei a sua cintura. “Rai eu... desculpa... eu não queria correr... por favor, não me deixa sozinho!”- as lágrimas que por anos segurei sem mostrar nem para as pessoas próximas de mim desabaram de uma só vez e afundado em seu peito comecei a soluçar violentamente.

“Hey! Calma, já acabou eu já estou aqui pequeno, ninguém mais vai te machucar...”- acariciou meus cabelos e me enrolou em seus braços, me afundei mais ainda em seu aconchego e sem segurar nada chorei que nem uma criança pela primeira vez na minha vida. Até que adormeci ali mesmo, sonhando com um lugar quente e macio, meu coração estava calmo e minha mente quieta, pela primeira vez eu não ouvia meus pensamentos, era aconchegante, me fazendo nunca mais querer acordar...

Quando acordei, já me encontrava naquela casa, no quarto escuro. Me lembrei da cena na noite anterior e meu corpo inteiro tremeu, comecei a suar e fiquei brevemente sem ar. “Rai... Rai!”- chamei em desespero, sem nem perceber que o maior que encontrava na cadeira ao lado da mesa. Logo veio ao meu encontro.

“Que foi pequenino?...”- agarrei seu braço e puxei-o pra cama, fazendo-o cair sentado na mesma e logo me agarrei nele, acalmando-me com o aconchego de seu corpo. “...”- Rai se surpreendeu com o ataque do menor, querendo rir da situação quando caíra sentado na cama, mas logo que viu o estado do garoto se calou. “Xiiih... Não tem ninguém aqui pequeno... eu já lidei com aquelas escórias...”- me acariciou.

Agora já calmo, mas ainda agarrado em seu corpo olhei em seus olhos. “Como se você fosse muito diferente...”- debochei.

“Hunf! Meu negócio é algo passado de pai para filho! A diferença de uma máfia que lida com negócios profissionalmente e essa escória que não passam de bestas é como a diferença entre o céu e a terra!”- declarou com raiva fingida, soltando um leve sorriso após.

“Mafia?!”- me surpreendi. Uma máfia no Brasil não é algo que se vê todo dia, qualquer um ficaria surpreso.

“Uhum! Apesar de eu ter vindo só por um breve tempo para lidar com negócios do meu pai, eu sou da Itália... além disso, descendente direto da linhagem principal e mais antiga da máfia italiana! Essa gente não passa de lixo para mim!”- declarou empolgado.

“Então... meu sequestro tem algo a ver com meu pai?...”- segui o fluxo da conversa. O motivo por ele se abrir assim era incerto e eu também não tinha muito interesse, mas a máfia é uma figura que nem mesmo o governo pode encostar e encontrar um mestre da máfia é algo de ficção!

“Hmm... eu não devia contar isso, mas... sim, seu pai se meteu em problemas com meu pai e ficou devendo dinheiro para ele, mas como aqui não é a Itália, o poder dele não é tão forte e por isso me mandou para extrair a força o dinheiro de seu pai... mas eu não sou tão insensível que nem aquela raposa, por isso procurei uma maneira de fazer isso sem consequências fatais...”- explicou, me desgrudando gentilmente. Se levantou e dirigiu-se a porta. “Agora, seu pai vai depositar o dinheiro no local marcado e você vai para casa, assim que confirmarmos o valor...”- me chamou com movimentos das mãos e eu o segui.

Eu vou ter que ir embora? Terei que voltar para aquele lugar?... Eu não quero... Mas eu não posso ficar também... Rai não é daqui e provavelmente vai embora para a Itália logo depois... Mas eu não quero ir...

Segurei a barra de seu casaco negro, causando um leve susto em Rai, mas como não disse nada ele continuou até o andar de baixo.

“Oh! Jovem mestre!”- gritaram em couro os oito homens que se encontravam reunidos na sala, logo levantaram esperando a ordem do líder.

“Está na hora. Já checaram se a maleta está no local?”- perguntou Rai.

“Afirmativo!”- respondeu o jovem ruivo que se encontrava com um notebook nas mãos e logo mostrou a câmera hackeada que filmava exatamente o local da banca de Fátima.

“Ótimo! Então vamos!”- foi se encaminhando á porta, mas eu me puxei para trás e congelei no local.

“A-agora?...Eu... Eu não quero ir!”- exclamei aterrorizado. Eu não queria voltar, não quero ir para aquele local frio. Não quero mais ficar sozinho, não quero mais fingir, quero ficar aqui! Quero ficar com Rai!

Sai correndo de volta para o quarto escuro. “P.C.Júnior!”- chamou Rai meu nome. Eu parei de repente, mas logo me recuperei e voltei a correr e me sentei no canto do quarto abraçando minhas pernas. Rai entrou correndo no quarto e me avistou no canto, se aproximando devagar. “Hey pequeno...”- chamou baixinho.

“Eu... não... quero... ir”- declarei em meio á soluços. Lágrimas escorriam como uma cachoeira, meus olhos ardiam e eu tremia loucamente. “Não... quero... voltar...”- apertei meus braços. “Por... favor... Rai...”- olhei para ele implorando com os olhos. Ele hesitou por um longo período, mas logo me cercou em seus braços. Aprofundei-me em seu calor e desaguei mais ainda.

“Pequenino... eu já disse, eu sou da máfia, um garoto cheio de conquistas futuras não deve largar tantas chances para entrar em uma família criminosa...”- me consolou.

“Não! Eu não ligo! Não me importo com essas pessoas, não me importa quem você seja! Eu quero ficar com você! Rai! E-eu... eu te amo! Por favor! Eu te amo Rai!”- o maior congelou de surpresa e demorou alguns minutos para que seu cérebro voltasse.

“...Pequeno... você é muito novo... isso é só afeto por eu ter te ouvido e te entendido, isso não é amor... você é muito, muito jovem para entender...”- me afastou e levantou-me.

“Não... eu... eu...”- Rai me silenciou e carregou-me de volta para o andar de baixo.

“Há há! Que aconteceu com o garoto? Decidiu ficar é? O mundo do crime é realmente atraente para jovens e crianças, há há há!”- brincou um homem alto e forte, capaz de causar qualquer criança mijar nas calças só de aparecer diante delas e dar medo em qualquer adulto. Rai o olhou ameaçadoramente e logo ninguém mais ousou comentar alguma coisa.

Chorei baixinho o caminho inteiro até o local, aonde iriam me deixar. Um homem coberto por um casaco grande de um tom preto azulado se encontrava esperando.

“Você é Dorisgleison Silva? O ex-policial trabalhando no caso do sequestro do garoto, P.C.Júnior como detetive particular?”- perguntou aquela mesma pessoa que Rai havia silenciado com o olhar, apesar dele ser o dobro do tamanho. O tal detetive afirmou com a cabeça.

“Pronto, agora vá até lá e diga que lhe soltamos em algum local aleatório e o Steeve te achou... claro, se quiser revelar quem somos, fique a vontade, mas aquele homem vai morrer...”- falou Rai de maneira fria. Acenei com a cabeça, sem me importar com o modo dele, provavelmente querendo me assustar, mas nesse ponto já não importa quantas pessoas você mate Rai... eu sempre vou te amar. Corri até o local e cumpri com as instruções dadas a mim. Logo fui levado para casa e o detetive ganhou uma enorme recompensa, apesar de não ter feito nada. Meus pais nem me olharam na cara e simplesmente me tranquei em meu quarto.

Seis anos se passaram desde então, eu já tinha 18 anos e trabalhava em um projeto de bioquímica que me convocaram a participar quando tinha 16 anos e já havia terminado meu doutorado. Depois de dois anos o projeto terminou e meu nome se espalhou pelo mundo inteiro como o jovem mais novo a descobrir uma maneira de acelerar as células regenerativas do ser humano, assim como uma maneira de repor estas células. Com 18 anos já tinha mais dinheiro que meus próprios pais e minha independência, já não havia regras para seguir, o que eu podia fazer pela humanidade já fiz, e agora, a única coisa que eu desejo é vê-lo novamente. A pessoa que mudou minha vida e me deu um motivo para seguir em frente. Desde o dia em que ele me afastou eu me decidi que assim que eu pudesse obter minha independência eu iria mostrar o quão serio eu estou. Por longos seis anos eu me esforcei e aguentei, por seis anos tive de viver sem o calor de seus braços...

Sede da máfia Italiana.

“Hey garoto! Onde pensa que está indo?!”- um homem alto e robusto, capaz de assustar qualquer pessoa me parou no caminho da recepção do hotel, que de acordo com minhas pesquisas era a atual sede da linhagem principal da máfia.

“Ou Steeve! Como pode não me reconhecer mais? E eu achando que meu rosto é conhecido no mundo inteiro!”- exclamei brincando. O homem congelou no local e me olhou horrorizado. “Oi, oi! Quem deveria estar horrorizado aqui sou eu!”- sorri calorosamente.

“O...o garoto gênio!”- se alarmou.

“Yep! E estou aqui para ver o Rai... sabe onde ele está?”- perguntei timidamente.

“O... jovem... jovem mestre está lidando com negócios urgentes... se quiser eu posso leva-lo até o andar dele...”- sugeriu ainda nervoso. Acenei com a cabeça e logo fui guiado até um elevador que me levou ao penúltimo andar, onde havia uma porta bem em frente á ele, mostrando que o andar inteiro era um só quarto. O homem robusto me deixou ali e por algumas horas esperei em frente à porta pela chegada de Rai e acabei adormecendo.

Quando acordei, estava em um quarto escuro, deitado em uma cama enorme. Levantei rapidamente e comecei a gritai. “Rai! Rai! Rai! Rai!”

“Eita, calma!”- respondeu de longe. “Estou fazendo algo quente para você comer... aquele Steeve desgraçado nem para abrir a porta! E você! Como pode ter dormido ali fora nesse frio!”- me repreendeu. Eu somente sorri e sai correndo para fora do quarto, me encontrando com a visão daquele que por seis anos estive aguentando a tortura do mundo real.

“Rai!”- me agarrei em seu peito. Durante esse tempo todo eu ainda não alcançava sua altura, o que não me chateia pois posso me aconchegar perfeitamente em seu peito e sentir seu calor que por tantos anos sonhei em reencontrar! “Eu te amo! Rai! Eu te amo mais que tudo! Esperei por seis anos e nunca consegui te esquecer! Agora já sou grande Rai! Já sou independente e ainda tenho completa clareza que te amo!”- declarei alarmado, me apertando mais e mais em seu corpo.

“...”- fechou seus braços em mim. “Aff....” suspirou. “E eu achando que estava enlouquecendo de vez quando percebi que sentia o mesmo... imagine, um velhote de quase 30 anos apaixonado por um moleque de 12!”- me afagou e ergueu meu queixo. “É bom você não se arrepender... por que uma vez que um lobo se apaixona por alguém é para a vida inteira!”- declarou selando seus lábios nos meus. Tomei um choque de início, mas logo deixei que me guiasse.

“Eu... arff... juro... arff...”- prometi sem fôlego e novamente fui puxado pelo maior.


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Notas finais do capítulo

Eu fico com muita vergonha usando onomatopeias... sério, é muito constrangedor usar isso você mesmo, tipo, quando to lendo eu até acho bacana, mas quando tu para e pensa...
Como foi um trabalho de escola, não fiz o lemon~~ haha e fiquei com preguiça de por depois... então q fique no shounen-ai XD
E claro, como deve ter ficado óbvio... recomendo muito a leitura de novels chinesas! MDS como são divinas! Não tem muitas em português... mas vale muito aprender inglês pra ler! Sem contar os yaoi é claro! haha
E esse título... se esconde*



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