Memórias escrita por Lady Nara


Capítulo 2
Born to Die




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Hospital de Konoha – 20 de Novembro, 17h40min.

Era uma pergunta retórica e com duplo sentido e continuou rondando meus pensamentos.
Eu havia gravado cada segundo das últimas horas em minha memória e sei que elas me perseguirão eternamente. Contudo, o que eu realmente desejava era entender e mudar as situações que nos levaram até ali.
Como havia dito, Gaara voltou ao hospital poucas horas depois. Sua expressão ainda era cansada, provavelmente devido à preocupação. Eu nem ao menos imaginava a minha.
Minhas roupas, que eu usara no escritório no dia anterior, estavam manchadas pelo sangue dela. E o sentimento de culpa e perda só aumentou depois de vê-la.

– O quê aconteceu? - ele perguntou notando que minha apatia piorara. Eu me pus de pé para falar com ele.

– Eles me deixaram vê-la. - disse baixo e ele suspirou, sabendo onde eu iria chegar. - Ela está muito machucada... Eu...

– Vá para casa e descanse um pouco. - ele me interrompeu. - Eu mantenho você informado sobre tudo.

– Eu não quero deixa-la. - Eu implorava para que ele entendesse.

– Ela não vai estar aqui sozinha. – ele sentou onde eu estava anteriormente. - E você volta mais tarde.

Eu sabia que não adiantaria muita coisa ficar ali. Eu estava esgotado, em todos os sentidos. Então, apesar de querer permanecer no hospital eu concordei com Gaara.

– Nos vemos mais tarde.

– Shikamaru, espere. - ele voltou a ficar de pé. - Você avisou aos nossos amigos? - ele tinha a expressão neutra, mas eu sabia com quem ele estava preocupado.

– Sakura estava no hospital quando demos entrada. Eu não falei com mais ninguém fora vocês.

Se nossos amigos já estivessem sabendo, o mais provável era que todos teriam vindo para cá. E infelizmente era a pior situação agora.

– E como está...? - ele foi direto desta vez.

– Não sabe ao certo, mas, sente sua falta. - ele assentiu como se dissesse eu também, pus minhas mãos nos bolsos e sai sem dizer – lhe mais nada.

Peguei um táxi em frente ao hospital e disse o endereço de minha casa. Não queria ir para lá sem ela, mas estava sem muitas opções, não queria falar com ninguém agora.

Residência dos Nara, 20 de Novembro – 17h58min.

Minha carteira ainda estava no bolso da calça. Paguei o táxi e me dirigi até a entrada da casa. Os vizinhos me olhavam curiosos, mas nenhum falou nada.

Entrei sentindo um nó apertar minha garganta. Olhei ao redor e o silêncio da casa me causou arrepios. Até quando permaneceria daquele modo? Eu ficaria como aquela casa? Vazio.

Fitei a porta do escritório aberta, entretanto, não desejei ir até lá. Segui caminho para a escada e dela, para nosso quarto. Meu terno exatamente no mesmo lugar. O cheiro do perfume dela ainda pairava no ar, eu o havia ignorado ontem.

Sentei na cama e peguei o retrato que ficava sobre a mesa de cabeceira dela. Era uma foto de quando nos conhecemos. Sempre me perguntei por que ela guardou essa foto. Naquela época tudo era diferente. Foi por isso. – respondeu uma voz em minha cabeça.

– Shikamaru. - a voz de Ino irrompeu o silêncio devastador no qual estava absorto. Ela tinha os olhos vermelhos, havia chorado. - Eu sinto muito. - Sakura a contou afinal. - Assim que soube vim aqui. - Ela passou os olhos pelo quarto. – Com quem ela está?

– Gaara. - Ela entreabriu um pouco a boca, porém segurou o pequeno sorriso que se seguiu a surpresa. - Ele chegou de manhã.

Eu voltei a ficar calado e mais uma vez voltei minha atenção para aquela foto.
Ela por sua vez, sentou – se ao meu lado.

– No fundo eu sempre soube que vocês iriam ficar juntos. - Ela sorriu com a revelação. - Todos nós sabíamos. Contudo, vocês eram racionais demais para perceber isso também.

– Você lembra-se desse dia? – perguntei com a voz embargada. - O noivado de Sasuke e Sakura.

– Você sabe, não importa o que aconteça comigo, Sakura nunca me deixaria esquecer esse dia. - Ela riu fraco. - Foi tudo tão lindo.

Era a primeira vez que estaríamos todos reunidos. Eu não conhecia Gaara muito bem e me surpreendi quando a irmã dele chegou à festa a sua procura.
Ela já conhecia Ino e Tenten, apesar de não se dar muito bem com Ino na época, irônico que hoje elas sejam tão amigas. Eu nunca entendi isso.

Aquela pose de durona, o orgulho característico dela. Ela me prendeu desde o primeiro olhar. Ela estava linda. Não foi difícil manter uma conversa com ela. Nós ficamos amigos facilmente.

– Tudo começou nesse dia para nós. - ela tinha a voz saudosista. - Nossa amizade. Nossos relacionamentos.

– Eu pensei que Naruto casaria com Hinata antes que Sasuke se acertasse com Sakura. – era o mais provável tendo em vista a situação de Sasuke na época.

– Não. - Ino foi convicta. - Sakura nunca desistiu dele realmente. Eventualmente isso aconteceria. - Ela apontou para a foto em minhas mãos. - Assim como vocês. - Ela voltou ao assunto.

– Eu errei tanto com ela. - confessei e Ino me envolveu em um meio abraço.

– Todos nós cometemos erros. - Ela disse com a voz baixa. Era irônico que ela dissesse isso também, contraditoriamente não cabia a mim lhe dizer.

– Jamais vou me perdoar pelo o que houve. - Eu sempre carregaria aquela culpa.

– Não foi você. - Ela virou – me o suficiente para que olhássemos um para o outro. - Nada do que houve foi sua culpa.

– Se eu tivesse...

– Não havia nada que você pudesse fazer. - Ela queria me convencer daquilo. - Já faz tanto tempo.

– Eu deixei que estragássemos tudo. – infelizmente era a verdade.

Bar Mitashi, 20 de Novembro – 18h15min.

– Você vai acabar como todas elas. – eu resmunguei guardando os últimos copos.
– É o que você acha? - seu tom de voz era debochado.
Eu estava limpando o bar, e ele chegou a princípio para me ajudar com o serviço pesado, que ele fez realmente, depois para me fazer companhia. Como sempre acabamos falando sobre os relacionamentos dele, que eram muitos.
Virei – me para ele que tinha uma sobrancelha arqueada. - E como seria isso? - ele voltou a perguntar.
– Sozinho. – respondi irritada. Ele não conseguia ver? - Sofrendo, com o coração partido, e sem chance alguma de mudar isso. - Ele riu alto e bebeu todo o conteúdo de seu copo de uma só vez.
– Eu já estive assim. - a confirmação amarga veio em tom de brincadeira. - Não vai acontecer mais. - continuou dando de ombros. Sustentava o copo vazio no ar, e então por um breve momento preocupação cruzou seus olhos. Parecia finalmente ter me entendido. – Você me deixaria sozinho?
Desviei meus olhos dos seus. Aquela pergunta nunca teria o mesmo significado para nós dois. Para ele eu era apenas uma amiga, eu seria sempre a amiga.
– Não. - Respondi cabisbaixa e voltei a olhar para ele, apenas para vê-lo caminhando em minha direção. Sua expressão era seria como de costume, contraditoriamente esbanjava uma leveza que eu não possuía.
Devagar ele pôs a mão em minha bochecha, puxando por sobre o balcão e beijou – me a testa.
– Tenha uma boa noite Tenten. - Ele me entregou o dinheiro da bebida de outrora. - Passo aqui a mais tarde.
Suspirei vencida assistindo - o sair. De nada valia alertar a ele, alguém como Neji nunca perceberia até que fosse muito tarde para tal e ele não pudesse mais voltar atrás. Ele nunca enxergaria a verdade.
Meus pensamentos foram interrompidos quando ele entrou bruscamente no bar. Tinha uma expressão de pesar no rosto.
– O que houve? - perguntei.
– Fique calma, está bem?!- Ele pediu. - Ino acabou de me ligar... Temari sofreu um acidente ontem.
E tudo apagou.

Residência dos Yamanaka, 20 de Novembro - 18h30min.

Minha cabeça doía e eu estava ficando irritada e um pouco tonta também. Era algo com o qual eu já estava me acostumando, mas que ainda me incomodava. As dores de cabeça já viravam rotina.
Desde aquele dia.
Eu fui ao médico várias vezes, mas, aparentemente isso era normal para o que havia acontecido comigo. Para o que estava acontecendo.
Era tão surreal que estivéssemos passando algo tão parecido agora ao que eu passei. E em pouquíssimo tempo. Eu não imagino o que o Shikamaru está sentindo. Ele já passou por tantas provações.
A dor de cabeça ficou um pouco mais forte, devia ser a preocupação. Por sorte, já estava perto de casa. O carro estacionado em frente me fez soltar um suspiro involuntário.
Eu gostaria de poder conversar com um de meus amigos sobre tudo isso. No entanto, nenhum de nós estava no momento adequado para algo assim. Pelo menos, alguns de nós estávamos felizes verdadeiramente.
– Onde você estava? - A voz tranquila de Sai me sobressaltou;
– Fui à casa de Shikamaru. – baixei os olhos pela dor de repetir as palavras de Sakura ao telefone. - Temari sofreu um acidente muito grave ontem.
– Como ela está? - Ele perguntou se aproximando de mim rapidamente e me puxando para um abraço.
– Ainda não sabemos realmente. Temos que esperar até que ela acorde... - Ele afagou meus cabelos.
– Eu sinto muito. - Ele disse baixo.
– O que faz em casa essa hora? – Nós éramos rígidos quanto aos nossos horários.
– Eu sair antes do horário do trabalho. – ele afastou – se um pouco para me olhar. - Estive preocupado com você.
Eu sorri. Sai me amava realmente. Era reconfortante ter alguém com esse tipo de sentimento tão forte por mim. Eu queria sentir esse amor na mesma intensidade. Algo que me fizesse nunca mais querer larga – lo. Mas, não sentia.
E não me lembrava de já haver sentido. Paixão? Eu sabia que sim. Amor? Não. Como é possível sentir saudade de algo do qual não lembra?
Uma parcela de culpa me invadiu, eu deveria contar a ele. Eu iria, é claro. Contudo, não agora. Talvez quando Temari acordasse e todos nós estivéssemos bem novamente.
– Eu estou com dor de cabeça de novo. Acho melhor descansar um pouco. - ele assentiu e eu fui para nosso quarto. Na parede, um quadro feito por ele, do dia em que nos casamos.
Eu estava bem. Eu me sentia bem. Queria poder sentir aquela felicidade outra vez. O que de tão importante eu havia esquecido?
Lembrei mais uma vez do noivado de Sakura. Eu invejei a sorte dela de encontrar alguém que a amava assim como ela o amava. Invejei-a por amar alguém tão profundamente.
Meu coração apertou – se numa profunda agonia. Eu já havia amado alguém assim? Suspirei. Eu havia encontrado alguém para mim que me amava. Mas não era recíproco. E essa realidade estava me matando por dentro.
Eu sabia que nunca chegaria a amar Sai como ele me amava. Contudo, nós tínhamos um sentimento que nos ligava. Maldito acidente.
Foi há dois meses. E apagou seis meses da minha vida.

Floricultura Yamanaka - 15 de Setembro, 16h21mim.

Não lembro como aconteceu. Existem várias hipóteses para o desenvolvimento das coisas até o momento do acidente. Era a segunda floricultura que eu abria e eu havia ido organizar meu escritório; devido a minha demora foram me procurar.
Quando me encontraram eu estava próxima de uma das estantes em que colocava meus vasos preferidos e um deles estava em pedaços ao meu lado. Disseram que eu tentava alcança-lo. Entretanto, não o alcancei. Ele caiu sobre mim, atingindo minha cabeça.
Esse incidente me fez perder as memórias mais recentes que tinha.

Residência dos Yamanaka, 20 de Novembro - 18h40min.

Os médicos disseram que com o tempo eu me recuperaria, porém, isso não havia acontecido. Sai estava mais próximo de mim que nunca. E agora eu estava ligada a ele para sempre.


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