Andei pelo corredor rodeado de macas até chegar a maca em que Ron estava. Ele parecia abatido e confuso, o que já era de se esperar. Me sentei na cadeira ao lado da maca e fiquei em silêncio por uns 2 minutos, percebi que ele me olhava como se esperasse que eu dissesse algo, ou como quem queria me dizer algo. Decidi quebrar toda aquela tensão que estava pairando no ar.

— Então, se sente melhor? - perguntei tentando parecer descontraída.

— Estou sim - ele franziu a testa - Por que disse que era minha namorada? - ele manteve o mesmo semblante confuso indignado.

— Não é nada, foi confusão minha, coisa da minha cabeça - eu disse balançando a cabeça negativamente.

Antes que ele pudesse dizer algo a mais, a porta da enfermaria se abriu provocando um pequeno ruído. Harry e Gina vinham de mãos dadas pelo corredor, andando a passos largos e apressados. Se aproximaram da maca e Gina se apressou a abraçar o irmão.

— Não precisa disso tudo, Gina - ele disse dando um tapinha nas costas da irmã- Foi só uma febre.

— Madame Pomfrey nos contou o que aconteceu - Harry cochichou no meu ouvido e eu apenas assenti com um balançar de cabeça.

— Já que está bem acompanhado, eu vou para a torre. Preciso descansar um pouco - eu disse forçando um sorriso e Harry tocou meu ombro.

— Até mais tarde, Mione - Ron disse com um largo sorriso.

Dei as costas a eles e fui andando pelo corredor, na metade do mesmo, algumas lágrimas começaram a rolar pelo meu rosto, e no momento, eu só queria que meu peito não estivesse apertado e que meu coração não estivesse em caquinhos.

Chorei o caminho todo até a torre da Grifinória, até a mulher gorda que nunca se importa com nada acabou me perguntando o que estava acontecendo, não me dei ao luxo de responde-lá. Entrei pelo buraco e vi que a sala comunal estava vazia, preferia assim, a essa altura as pessoas já estariam sabendo do ocorrido com Ron, só não queria ter que explicar mais e acabar parecendo fraca.

Subi até o dormitório e fui direto tomar um banho, estava a fim de ficar sozinha, e o lugar perfeito para isso era a biblioteca, quase ninguém vai la aos domingos. Tomei banho,me vesti e minha barriga roncou ferozmente, implorando para que eu colocasse algo nela. Fui até a cozinha e os elfos preparam uma bandeja com algumas torradas e suco de abóbora para mim, acabei por comer ali mesmo, recebendo toda a atenção das criaturinhas.

Terminei de comer meu café e fui escoltada pelos elfos até o buraco do retrato, eles repetiam coisas como "Volte sempre senhorita" e "Adoramos servir você" , apenas acenei e segui para a biblioteca. Madame Pince estava de ótimo humor (e isso quer dizer que ela não estava resmungando como louca) arrumando alguns livros, não me dei ao trabalho de pegar nem um livro, apenas me dirigi até uma das mesas que fica entre as estantes de livros. Sentei-me e fiquei com o queixo posto sob minhas mãos e viajando por uma galáxia que com certeza não era a via-láctea. Estava tentando me concentrar em coisas que não se relacionassem a Ron, mas era impossível, tudo me lembrava ele, talvez porque o que eu queria era não lembrar. Quando me dei em conta, já estava chorando novamente, tentando entender como isso podia ter acontecido por um motivo tão idiota.

— Sei que está arrependida por não dançar comigo, mas não é para tanto - vi apenas uma mão apoiada sob a mesa, antes que eu pudesse dizer algo a pessoa já estava sentada ao meu lado.

— Vê se não enche, Malfoy - eu disse tentando secar as lágrimas com a manga da blusa.

— Acordou estressada hoje, Granger? - ele perguntou tentando não ser tão rude.

— Eu já disse, não enche - olhei para ele com a feição mais furiosa que pude, logo ele ficou sério também.

— Qual é? Estou tentando ser gentil - ele disse áspero.

— Eu não pedi sua gentileza, ta bom - eu disse franzindo a testa.

— Tudo bem então - ele me encarou por um segundo e se levantou.

Quando Malfoy já estava quase desaparecendo pelo corredor de livros eu me levantei e decidi dizer algo.

— Ele se esqueceu - eu disse já de pé, e senti uma formigar estranho no meu estômago, afinal, por que eu contaria isso a Draco Malfoy

— Como é? - ele disse se virando para mim, se eu tivesse uma câmera adoraria registrar a cara confusa dele.

— Ele se esqueceu que namoramos - eu disse me sentando novamente e soltei um longo suspiro.

— Weasleyzinho se esqueceu da própria namorada? - ele sorriu debochadamente - Não achei que ele fosse tão tapado assim - o encarei com ódio e o sorriso dele logo se fechou - Digo, isso é horrível, Granger - ele disse tentando concertar  o erro que cometeu.

O encarei por alguns segundos e balancei a cabeça negativamente, ele nunca seria capaz de entender o que estou sentindo, aliás, nem sei se ele realmente tem sentimentos. Me apoiei sob minhas mãos novamente e vi que ele se sentou ao meu lado.

— Olha, ele vai se lembrar, se ele não se esqueceu de tudo, é reversível - ele disse com uma naturalidade incrível.

— Você é algum tipo de vidente agora? - perguntei incrédula.

— Se eu fosse, teria previsto que o Weasley ia perder a memória- ele disse rabiscando em um pedaço de pergaminho que achou em cima da mesa ao lado - Digo, se esquecer de vocês, sabe, o namoro - ele continuava a rabiscar o pergaminho.

— Você não está ajudando em absolutamente nada - eu disse displicente.

— Nunca fui bom em ajudar as pessoas - encarei-o e percebi que ainda riscava o pergaminho, mas agora portava um meio sorriso no rosto.

Ficamos em silêncio por alguns minutos, até que ele decidiu se pronunciar.

— O que acha de irmos até o campo de quadribol? Pode tentar se quebrar voando - ele arqueou a sobrancelha

— Me quebrar talvez seja uma boa ideia- não pude conter o sorriso que se formou em meus lábios- Ainda mais se tiver muitos espectadores.

— Credo, Granger, você já não é boa inteira, imagina quebrada- ele riu - Não vai ter ninguém, hoje é o primeiro passeio a Hogsmeade.

Nunca havia visto Malfoy sorrir de verdade, com os dentes amostra. Seus dentes eram de um branco impressionante, que nem mesmo eu, com pais dentistas, tive algum dia. Era de algum modo um belo sorriso.

— O que acha de eu quebrar você então, essa ideia é melhor? - eu disse tentando o desafiar.

— Eu duvido até mesmo que você vá conseguir subir na vassoura - ele se levantou e foi andando até o fim do corredor.

Revirei os olhos e apenas o segui. Voar com Draco Malfoy nunca esteve nos meus planos, na verdade, ter uma conversa civilizada com ele também não. Cheguei ao campo de quadribol e Malfoy estava lá no meio com duas vassouras.

— Chegou a hora de ser arrasada, Granger - ele me entregou uma delas e montou na outra, logo já estava no ar, e eu não fazia ideia do que podia acontecer se eu montasse na que me foi entregue.

Eu só conseguia pensar em coisas tipo "Não morra" e "Mantenha a calma, não pode ser tão difícil". Era mais difícil do que imaginei.