Pokémon Blue Skies escrita por Mini Line


Capítulo 1
A Escolha Mais Importante x A Escolha Mais Difícil


Notas iniciais do capítulo

Bem vindos à Pokémon Blue Skies. Estou muito animada e espero que você, querido leitor, também esteja.



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As gotas impiedosas de uma terrível tempestade caíam por toda a pequena cidade de Wyefield, iluminando a noite tenebrosa vez ou outra com seus relâmpagos.

Da janela de seu quarto, Sora observava a chuva forte ritmar a coreografia compassada das árvores distantes, além dos campos de girassóis, que se dobravam ao poder dos ventos, enquanto levava a mão até a boca para roer o que restava de suas unhas. Os trovões que faziam tremer as vidraças não o assustavam mais, embora tirassem longos suspiros do garotinho de cabelos amarelos.

 

— Não consegue dormir? — A voz de seu irmão o tirou de seus pensamentos, fazendo-o voltar-se para a porta, onde o rapaz de traços orientais estava encostado, fitando-lhe com um sorriso gentil.

— Yuki! — Suspirou e desceu da cômoda que usava para alcançar a janela. — Se não parar de chover, não vamos conseguir chegar ao laboratório do professor Willow no horário.

— Não se preocupe. É só uma tempestade de verão. Elas são assustadoras, mas passam rápido. Amanhã não vai nem se lembrar dela. — explicou, ajudando o garoto a se cobrir depois que ele pulou para a cama. — Mas se você não dormir logo, você vai perder a hora e quando chegar lá, não vai sobrar mais nenhum Pokémon e vai ter que esperar por mais um ano!

— Mais um ano?! — Os olhos azuis de Sora se arregalaram de uma forma tão repentina que Yukimura quase não conseguiu manter-se sério.

— Pare de assustar o garoto, Yuki!

— Bella! — Sora sentou-se, jogando as cobertas que o irmão havia arrumado.

— O que você está fazendo com a minha camiseta, Bella? E onde estão… Suas calças? — Yukimura disfarçou seu constrangimento ao ver a garota vestida apenas em sua camiseta velha e larga, cobrindo novamente o irmãozinho.

— Eu esqueci meu pijama, então peguei qualquer coisa no seu armário. — Bella deu de ombros, subindo na cama de Sora. — E então, campeão, pronto para começar a nossa jornada?

— Nunca estive tão pronto! Quero ser o primeiro a chegar ao laboratório para garantir que meu Charmander não vai ser escolhido por mais ninguém!

— Não esquenta! O professor Willow deve ter uma máquina de fabricar Charmanders, Squirtles e Bulbassauros. — Ela sorriu, bagunçando os cabelos do menino. — Melhor deixar ele dormir, Yuki. Não queremos nosso membro mais forte da equipe cochilando pelo caminho.

— É claro. Boa noite, Sora.

— Boa noite, Yuki. Boa noite, Bella.

 

A garota espoleta deu um beijo na testa de Sora, antes de se levantar e seguir Yukimura. Acenou para o garotinho, fechando a porta lentamente.

 

— Depois de seis anos esperando o Sora chegar aos dez, vamos ter nossa aventura como quando a gente brincava nos campos de girassóis. — Bella estava animada, sorrindo sem parar.

— É! Mais como babás dele do que como treinadores. — Deslizou o dedo pelo nariz, ajeitando os óculos de armação escura. — Vai dormir também. Amanhã ele vai nos acordar bem antes da hora. Boa noite, Bella.

— Boa noite, Yuki! — Surpreendeu o garoto com um soco no braço e foi para a sala, onde passaria a noite.

 

E que noite! Talvez a mais longa até aquele ponto na vida dos três.

Yukimura se deitou, mas não conseguia pregar os olhos. Ficou lembrando de seus dezesseis anos de vida. Ou, pelo menos, os anos que conseguia se lembrar.

Pensou em sua adorável mãe, que se dedicou à família Mitarashi com amor e devoção. Lembrou de quando tinha  seis anos e seus pais lhe contaram que teriam outro bebê e que ele não sairia da barriga de sua mãe, mas de um lugar chamado “orfanato”, onde criancinhas que não tinham pais esperavam para receber outra família. Foi quando o pequeno garotinho que Yuki batizou de Sora tornou-se seu irmão.

Sua visão começou a se embaçar, não pela falta das lentes dos óculos, mas pelas lágrimas que insistiam em ultrapassar a barreira quase impenetrável do rapaz inteligente e sério que todos conheciam, ao lembrar do fatídico dia em que sua mãe derrubou a travessa de arroz que ele mesmo preparou para o jantar. O dia em que viu sua mãe dar seu último suspiro, ainda com um sorriso nos lábios ao pedir para que ele cuidasse de Sora como ela cuidou de seu filho amado.

Foi nesse dia que Yukimura desistiu de seu sonho de ser um Mestre Pokémon para dedicar-se integralmente em ajudar seu pai a criar o pequeno garotinho.

Cerrou os punhos com força, pensando em Martha, tia de sua melhor amiga, Isabella.

Desde que aquela mulher entrara em sua vida, tudo virou um pesadelo. Em pouco tempo, ela ocupou todo o espaço reservado à sua mãe no coração de Aizen, seu pai.

Depois, foi tirando da casa tudo o que pudesse lembrar a japonesa de sorriso gentil, preenchendo os espaços com sua presença marcante e imponente, deixando Yukimura cada vez menos à vontade em sua própria casa.

Tudo poderia parecer apenas implicância de um garoto que se depara com uma nova mulher dentro de casa, fazendo o que sua mãe costumava fazer, mas do modo dela. Afinal, não são todos que se dão bem com madrastas. Mas a realidade é bem diferente.

Martha era uma mulher sedutora e dissimulada. O anjo perto de Aizen, mas o monstro dos piores pesadelos do pequeno Yuki.

Ele esforçou-se para afastar aquelas lembranças dolorosas, focando na nova vida que levaria ao lado de Sora e Bella, onde estaria livre de uma vez por todas da madrasta, deixando seu irmão em segurança também.

E foi com esse sentimento de esperança e renovação que Yukimura finalmente adormeceu.

 

Isabella já estava apelando para os carneirinhos incontáveis de sua imaginação. Mesmo que o sofá fosse mais confortável do que sua própria cama, não conseguia encontrar uma posição para dormir.

Já havia decorado todos os itens da geladeira dos Mitarashi, de tantas vezes em que foi até a cozinha para beliscar alguma coisa.

Mais a vez conferiu seus pertences na mochila que levaria em sua jornada, sentindo falta apenas de seu pijama amarelo favorito, com desenho de um Pichu e um furo na manga esquerda. Teria que se acostumar a ficar sem ele e a usar as roupas velhas de Yuki.

Precisou segurar o riso ao imaginar a reação do “primo” ao vê-la em suas roupas. Ele odiava isso, mas não era como se Isabella se importasse. Irritá-lo era muito divertido.

 

Sora fitava o teto, já que seus olhos se adaptaram à escuridão de seu quarto.

Não conseguia parar de pensar no dia seguinte, onde realizaria, não só o seu maior sonho, como o de Yukimura e Isabella. Ele podia ser apenas uma criança que completara dez anos há poucos meses, mas tinha plena consciência de tudo o que os dois abriram mão para ficarem ao seu lado.

Tudo o que o garoto mais queria era retribuir todo esse amor, fazendo os próximos anos da vida deles, os mais incríveis que alguém poderia ter.

 

***

 

Assim como Yukimura havia previsto, Sora levantou quase uma hora mais cedo e foi direto para sala, onde se jogou sobre a garota que estava dormindo de bruços e babando no travesseiro.

A animação do menino não permitiu que Bella voltasse a dormir, então resolveram fazer o mesmo com Yuki, mesmo sabendo que ele ficaria uma fera.

Entraram no quarto do rapaz na ponta dos pés, tentando não fazer barulho. Ao sinal de Sora, os dois pularam sobre o garoto, acordando-o com o susto.

E nada melhor do que um bom susto para deixá-lo de mau humor logo pela manhã. Não que ele já não fosse rabugento por natureza, mas aquilo com certeza o deixou ainda mais irritado. Mesmo assim, sorriu para o irmão, bagunçando seus cabelos.

Estava na hora! Finalmente havia chegado o dia de por os pés na estrada e começar sua jornada como mestres Pokémons.

Yuki vestiu uma calça escura, tênis preto e uma camiseta cinza de manga longa por baixo de uma camiseta azul. Vestiu luvas pretas sem dedo e pôs a mochila nas costas. Estava pronto.

Bella foi a mais rápida em se aprontar. Vestiu uma regata amarela que combinava com seu All Star da mesma cor, uma jardineira preta e meias até metade da canela. Colocou um boné preto virado para trás, com o desenho de uma pokebola amarela. Foi o presente que Yuki lhe deu em seu aniversário de quinze anos e, certamente, o que ela mais gostou.

Sora vestiu uma calça jeans e uma camiseta com capuz vermelha. Amarrou o cadarço do tênis preto e pegou sua mochila, correndo para a porta, onde Isabella e Yukimura o aguardavam.

Fitaram-se em silêncio por um instante, sem conter o sorriso.

O pequeno garoto abriu a porta, sorrindo para o dia ensolarado. Como Yukimura havia dito, a tempestade passou, dando lugar para um dia lindo, onde as gotas sobre as folhas refletiam a luz do sol.

 

— Esperem!  

 

Bella tirou de sua bolsa um espelho pequenino e um batom, passando-o em seus lábios em seguida e dando uma ajeitada nos cabelos loiros que caiam sobre seus seios. Guardou tudo rapidinho e, só então, reparou na expressão de indignação dos garotos.

 

— O que foi? Ainda sou uma menina vaidosa.

— Você não está indo namorar, Bella. Anda logo — Yuki reclamou, cruzando os braços.

— Nunca se sabe, priminho — Sorriu de canto, segurando o queixo do garoto, enquanto passava por ele.

— Já disse que não somos primos.

— Ela é sobrinha da Martha. A Martha é mulher do papai, então, tecnicamente, ela é nossa prima. — Sora calculou o grau de parentesco com a ajuda dos dedos, caminhando na frente.

— A Martha não é nada nossa, então a Bella também não é! — concluiu o rapaz, ajeitando os óculos.

— É nossa amiga!

— Melhor amiga! — Ela corrigiu, rindo baixinho.

 

A caminhada até o laboratório foi tão animada que nem perceberam o quanto andaram em tão pouco tempo.

Assim como Sora tanto desejou, foram os primeiros a chegar.

 

— Bom dia, garotos. — Uma atenciosa mulher de cabelos cor de rosa os atendeu. — Me chamo Joy e vou acompanhá-los até a sala do professor Willow. Por aqui.

 

Animados, seguiram a mulher vestida de enfermeira até uma sala enorme, com mesas cheias de pokebolas abertas, computadores e alguns Rattatas correndo de um lado para o outro.

 

— Professor, os primeiros chegaram. — Ela anunciou, saindo em seguida. — Boa sorte.

— Olha só! Eu estava esperando por vocês mesmo! — O homem alto de cabelos grisalhos e um grande sorriso os cumprimentou, apertando a mão de cada um. — Vocês dois estão bem grandinhos, não é? — Riu do constrangimento deles, colocando a mão sobre o ombro de Yukimura. — Você é um rapaz admirável, Yuki. Sei que será um grande mestre, já que amor e paciência você tem de sobra.

— Só ele? — Isabella provocou, cruzando os braços.

— Você também, Bella! E esse rapaz aqui — Bagunçou os cabelos de Sora. —, vai ser o maior de todos!

— Mas para isso, preciso do meu Charmander! Onde ele está? — Sora olhou para os lados, procurando os Pokémons.

— Por aqui. — Willow não segurou a risada, guiando os três até a mesa no centro da sala.

Nela havia três pokebolas vermelhas sobre uma base azul, vermelha e verde, respectivamente.

 

— Pode pegar, Sora.

 

O garotinho levou a mão trêmula até a pokebola de base vermelha, sorrindo sem parar. — Charmander, eu escolho você! — Disse alto, jogando a pokebola no chão e revelando o réptil de fogo. — Oi, Charmander! Meu nome é Sora e a partir de hoje, viveremos uma grande aventura!

 

O bichinho também ficou animado, correspondendo ao olhar amigável do garoto.

Com a permissão do professor, Sora pegou a pokebola na base azul, chamando seu Squirtle para fora.

Ele repetia seu nome de forma engraçada e Sora imaginou que ele estivesse cumprimentando a todos em sua linguagem. Poderia até dizer que o entendia.

Quando Isabella levou a mão à última pokebola, o professor Willow a impediu, com um sorriso travesso nos lábios.

 

— Preparei algo especial para você!

 

Ela semicerrou os olhos, observando o homem tirar uma pokebola do bolso de seu jaleco branco.

 

— Isso é um lendário, não é? Ou é um Snorlax? Nossa! Sempre quis um Snorlax! — perguntou, animada.

 

Willow apenas negou, balançando a cabeça. Deixou a bolinha branca e vermelha rolar até os pés da menina, libertando seu Pokémon.

 

— Eu ganhei ele de um amigo, mas não tive tempo de treiná-lo devidamente. Acredito que você fará um bom trabalho.

 

Bella ficou boquiaberta, observando seu monstrinho.

 

— É um Emolga! Eu… eu não acredito que ganhei um Emolga lindo e fofo! — Abraçou o Pokémon, acariciando sua bochecha com o rosto. — Ele é tão fofinho!

— Pensei que esse tipo de Pokémon não vivesse nessa região, professor. — Yuki falou, analisando-o.

— E não vive. Como disse, ganhei ele de um amigo que mora muito longe — explicou. — Agora venham até a próxima sala, onde farão a escolha mais difícil.

— Pensei que escolher os iniciais era a escolha mais difícil. — Bella falou, brincando com seu novo amigo.

— Essa foi a escolha mais importante. Essa é a escolha mais difícil. — Abriu a porta que levava a outra sala, apontando para três pessoas que estavam ali.

 

Uma moça negra, de cabelos curtos e castanhos fazia flexões, enquanto um rapaz bonito ria alto, sentado em suas costas. Uma outra moça estava sentada em um canto mais afastado, digitando algo em seu notebook.

 

Willow pigarreou, chamando a atenção dos três líderes dos times Mystic, Valor e Instinct. Eles rapidamente se levantaram, parando em frente aos novos treinadores.

 

— Bem, agora cada líder vai se apresentar e dizer o porquê de querer entrar para o time deles.

— Não precisa, professor. Nós já decidimos. — Sora interrompeu antes que a moça de longos cabelos brancos, amarrados em um rabo de cavalo baixo, começasse a falar.

— Aposto que vão escolher o meu time! — Candela, a moça de cabelos castanhos falou, sorrindo para os garotos. — Eles não tem jeito de que vão para o Mystic, Blanche.

— Se eles já decidiram, é porquê calcularam as vantagens de cada time com antecedência. Claro que serão do Mystic. — Blanche cruzou os braços, analisando os garotos.

— Vejo nos olhos deles que vão seguir sua intuição e escolher o Instinct ou não me chamo Spark! — Foi a vez do rapaz falar, fazendo sinal de positivo para eles.

— Na verdade, cada um vai para um time. — Isabella riu fraco, colocando as mãos nos bolsos.

— Como?! — Perguntaram em uníssono, os três líderes.

— Não podem fazer isso!

— Vocês são tão amigos, times diferentes não é uma boa escolha! — Blanche argumentou, mantendo sua expressão séria.

— Ela tem razão, crianças. Sair em uma jornada com times separados só vai trazer desunião para vocês.

— Não se preocupe, professor Willow. Não podemos separar a coragem, a sabedoria e o instinto, pois é disso que se faz um mestre Pokémon. — Sora disse firme, fitando os três líderes.

 

Aquela era uma lição que Candela, Blanche e Spark precisavam se lembrar.

O registro de cada um foi rápido e logo os três ganharam suas pokedex e mais alguns itens essenciais de cada líder.

Spark presenteou cada um com um ovo, instruindo-os várias vezes de como deveriam cuidar até chocar cada um.

E assim começou a jornada dos três jovens rumo a um futuro cheio de aventuras e surpresas.

 

— Esses três me fizeram lembrar de quando começamos — Spark comentou, puxando Candela e Blanche para um abraço. — Até parece que foi há treze anos!

— Foi há treze anos!

— Eu sei, Blanche. Eu sei.


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Notas finais do capítulo

E então, seus lindos, prontos para essa aventura? Gostaram? Não? Me deixem sabem pelos comentários. Adoraria conhecer vocês e receber sugestões de como melhorar.
Beijos da Mini e até o próximo =*

Ps: Não vou dar uma data para o retorno. Vida pessoal chata e corrida é um problema :(