#Shirlei

Ela se sentia tão idiota, como poderia achar que Adônis um dia iria olhar pra ela? Como qualquer homem um dia poderia olhar para ela? Ela tinha uma deficiência na perna que fazia com que todos se afasta-sem dela e isso era tão injusto!

Agora ela ficava se perguntando como iria contar para a mãe que perdeu a sua bota ortopédica bem no primeiro dia que usara. Como? Ela estava se perguntando isso ao descer as escadas para tomar o café com a família. Assim que sua mãe a viu, correu para saber as novidades.

— E aí minha filha, como foi ontem o seu encontro com o Adônis? - ela perguntou toda animada e nessa hora Shirlei lembrou-se de tudo da noite anterior. Adônis falando que amava uma pessoa e do nada apareceu uma mulher ao seu lado e os dois começaram a se beijar. A chuva caindo em seu rosto. Sua bota prendendo no bueiro. O carro quase atropelando-a. Ela correndo para o ônibus.

— Não foi bem um encontro, mãe. Eu ganhei dois ingressos para um show e o Adônis me acompanhou, foi só isso. - disse ao sentar-se na mesa ao lado do seu irmão Giovanni.

— Mas só isso? Não aconteceu nada? - sua mãe insistiu.

— Não mãe, não aconteceu nada. A conversa parou quando Carmela chegou na mesa.

— Já contou para a mãe que você perdeu a sua bota? - Carmela disse antes que Shirlei pudesse falar algo. O clima ao redor da mesa ficou estranho. Sua mãe e seu irmão olharam para ela sem acreditar no que tinham ouvido e Carmela estava com um sorriso no rosto. Às vezes Shirlei desconfiava que sua irmã a odiava.

— COMO ASSIM VOCÊ PERDEU SUA BOTA? - Sua mãe e seu irmão falaram ao mesmo tempo.

— Eu saí apressada do show ontem para não perder o último ônibus e meu pé acabou ficando preso em um bueiro, quase fui atropelada tentando tirar a bota que ficou presa. Na hora eu não estava pensando muito bem mãe, desculpe. Vou voltar lá hoje para ver se consigo achar. - Falou rapidinho tentando aplacar a ira de sua mãe.

— Minha filha, que isso. Nem pense em voltar lá. Deixe para lá essa sua bota, não pense mais nisso. Você quase morreu. Quem sou eu para ficar me preocupando com uma bota, quando você quase foi atropelada. - Minha mãe falou. Ao dizer essas palavras, meus olhos se encheram de lágrimas. Minha mãe era muito bondosa comigo, ela tinha um carinho e um amor que me deixaram comovida.

— Eu posso até esquecer, mas vou te pagar pela bota. Além de te ajudar nas feiras vou arrumar um serviço de faxineira. - disse decidida.

— Mas você nem pense nisso! Onde já se viu me pagar? Claro que não!

— Já está decidido mãe, vou atrás de um emprego de faxineira.

— Tudo bem. Tudo bem. - disse sua mãe meio contrariada ainda.

Shirlei ficava se peguntando aonde ela iria conseguir um trabalho.

#Felipe

— Eu não estou acreditando que você ainda está com essa bota horrorosa, Felipe. - Jéssica disse ao entrar no carro.

— Bota ortopédica é cara, Jéssica. Você não viu que a menina entrou em um ônibus? Ela deve ser humilde. - disse tentando controlar a raiva que sentia quando a Jéssica ficava chata assim.

— E você acha que vamos encontrar essa garota do nada? Joga isso no lixo que é o lugar dela - Jéssica disse pegando a bota e abrindo o vidro do carro.

— Me dá isso aqui Jéssica. Você não vai jogar fora. Eu tenho esperanças de ainda encontrar a menina e devolver - falei tirando a bota de suas mãos e colocando no banco detrás do carro. Eu não fazia ideia do por quê tinha esse sentimento de que iria rever a garota da bota, mas eu tinha que guarda-la. 

— Você ainda vai acabar se dando mal por ter esse coração mole Felipe, agora vamos pra casa que ainda temos que fazer as entrevistas de emprego para a nova faxineira.

Eu ficava me perguntando como podia amar Jéssica se éramos tão diferentes um do outro. Às vezes eu queria encontrar uma pessoa legal e amorosa que me amasse e tivesse bondade no coração, diferente de Jéssica.

— Tudo bem.