5 Colours in Her Hair escrita por Marina Lupin, The Marauders


Capítulo 8
e que tudo está dando errado,


Notas iniciais do capítulo

Beijin beijin ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/706214/chapter/8

 

No dia do baile

A garota deixou que o pincel beijasse sua face enquanto colocava alguma cor em suas bochechas. Seus olhos grandes observavam cada detalhe, cada pequena imperfeição coberta, cada belo traço.

— Oh! Minha querida, você está linda! — a menina virou-se e viu a mãe parada na porta do quarto com as mãos no rosto e lágrimas nos olhos. — Você parece uma princesa!

— Eu me sinto como a Cinderella — a garota sorriu, alisando o vestido.

Havia trabalhado tanto nisso, havia construído cada pedaço dessa imagem, tinha dado tão duro para isso que agora estava começando a ficar aflita que tivesse esquecido alguma coisa, que tivesse deixado algo passar. Tudo tinha que ser perfeito, sua vida dependia disso.

— Estou pronta — construiu seu melhor sorriso e desceu as escadas. Sim, ela estava pronta.

 

58 dias antes

Em retrospecto Lily podia dizer que sua vida tinha dado uma guinada violenta. De solteira ela tinha passado a ter o garoto mais cobiçado da escola. Seu cabelo estava mais hidratado e com um bom corte, as cores sempre vivas. Sobrancelhas desenhadas, pele bem cuidada, unhas bem feitas, até seu corpo estava mais magro e forte. Não era incomum ela ficar em frente ao espelho do quarto e admirar sua nova aparência. Eu estou mudando, ela pensava. O pensamento nem sempre era bom.

Pegou o casaco e saiu. O céu estava aprontando uma chuva tremenda, e Lily sorriu um pouco, era quinta-feira, ela se lembrou de praticamente dois meses atrás, quando aquele casal estranho entrou na loja e propuseram um plano absurdo. Ela não estava arrependida de ter aceitado, já tinha cumprido metade do percurso, mais dois meses e estaria livre.

— Sinto muito, Evans — disse seu chefe quando ela entrou na loja e fez menção de pegar um avental.

— Como? — perguntou a garota do cabelo colorido, empertigando-se.

— Você está demitida, Lily — explicou ele, com um meio sorriso. — Você era legal, garota, mas agora só sabe se atrasar, faltar… Está tão cheia de si, é um saco.

Lily corou de raiva, fechando as mãos em punhos. Nem se deu ao trabalho de mendigar o emprego, estava tão brava. Por que ainda estava ali, afinal? Não precisava do dinheiro, não mais.

— Ótimo, faça bom proveito dessa espelunca, não preciso disso — ignorou o cheque que continha uma miséria do tanto que havia trabalhado aquele mês e saiu batendo a porta no caminho. Ela definitivamente não precisava daquilo.

Estava chovendo, Lily suspirou fundo, protegeu a bolsa com o casaco e marchou pela rua. Aquela semana só piorava e piorava...

 

***

Sirius desmarcou o encontro pela segunda vez, Lily estava começando a achar que o ritmo alucinante com que essa relação corria  teria a ver com a duração dela também. Estava morrendo de medo de que o namoro não chegasse ao baile.

Uma semana após dizer sim ao pedido inesperado de Sirius, ela foi levada para conhecer a família dele. Aquela com certeza estava entre as dez piores experiências de sua vida. A mãe de Sirius havia preparado — o que queria dizer que, na verdade, ela tinha mandado alguém preparar — frutos do mar. Lily era alérgica, o assunto com toda certeza tinha sido repassado em alguma conversa com o moreno. Então ela se serviu de sopa de tomate e passou a noite toda sob o olhar duro de Walburga como se fosse muito rude da parte de Lily ser alérgica ao prato principal. O pai de Sirius havia se mostrado uma pessoa extremamente silenciosa e alheio a tudo, surgindo na conversa apenas para concordar com a esposa. Regulus era um pedaço inconveniente de ser humano, que se alternava entre olhares de desprezo e olhares desejosos para a garota. Sirius havia se comportado tão bem que merecia um prêmio, realmente tinha se esforçado para que a família aceitasse Lily, não parando de tecer elogios sobre a garota. Quando ele lhe agradeceu pelo jantar, sorrindo aquele sorriso de menino, Lily quase pensou que a noite havia valido a pena.

Havia sido um mês de namoro enervante. Sirius não a tocava mais abertamente desde o ocorrido na casa abandonada, era um namoro quase casto, o que absolutamente não combinava com ele. Marlene dizia que isso era culpa de Lily e ela devia dar um jeito nisso antes que ele fosse procurar outra. Lily tinha achado isso um absurdo da primeira vez que ouviu, mas preferiu não discutir.

A menina se jogou na cama e perguntou-se o que diabos estava acontecendo que sua relação parecia decair a cada dia, parecia que cada dia eles se entendiam um pouco menos. Ela gostava um pouquinho de Sirius, às vezes; e o garoto parecia gostar dela, realmente. Ela podia ver o quanto ele estava arrependido por tudo e se esforçava para fazer aquele relacionamento dar certo. Mas então, do nada, Lily pisava na bola e pareciam regredir semanas no relacionamento. Alguém lá em cima simplesmente não estava querendo que as coisas dessem certo.

— Não, chega, Sirius — disse Lily em uma das noites em que estavam deitados no quarto dele, assistindo um filme. — Eu aceito que o filme seja de ação e tudo mais, mas o carro explode de cinco em cinco minutos, e ele continua vivo! Preciso de algo mais realista, me desculpe.

Sirius riu enquanto desligava a TV, ficou de joelhos na cama e passou os braços ao redor de Lily.

— Não precisa se desculpar — sorriu ele.

— Você deveria namorar uma garota com gostos mais simples — brincou a menina, passando os braços ao redor do pescoço dele, ambos de joelho no meio da cama.

— Nunca. Essa é uma das coisas que eu adoro em você — ele pontuou a afirmação com um beijo na bochecha corada dela. Se você soubesse, pensou Lily, se soubesse que namora uma garota de plástico.

Lily aproveitou o momento para roubar um beijo dele, direto nos lábios.

— Uma das coisas? Tem mais? — sondou ela. Sirius gostava dessas brincadeiras de sedução, mesmo que estivesse firmemente disposto a manter suas mãos acima da cintura.

— Sim, senhorita Evans — sorriu ele, aquele ofuscante sorriso. — Uma coleção infinita delas.

Parte de Lily se sentia vitoriosa com aquilo. Sentia-se poderosa. Parte dela queria consertar as coisas com Sirius.

— Eu posso pensar em um par delas, senhor Black — ela enroscou uma das mãos no cabelo dele enquanto a outra percorria suas costas com a longa unha pintada de azul.

— Que criaturinha esperta é você, senhorita Evans — Sirius fechou os olhos e percorreu a mandíbula dela com os dentes. Lily estremeceu. Aquilo era bom… — Que filme você quer assistir agora?

E ali estava o Sirius contido novamente, deitado na cama, relaxando sobre os travesseiros. Oh! Droga… Lily tinha muito trabalho a fazer.

 

***

— Sexo, Lily — disse Marlene empoleirada em uma pia do banheiro da escola naquela sexta.

— Sexo não é a resposta para tudo, Marlene — resmungou Lily, reaplicando pó no rosto.

— Nesse caso é — respondeu a morena, firmemente. — Até quando acha que Sirius Black vai aguentar brincar de casinha?

— Não vou transar com ele, Marlene!

— Como se fosse um grande esforço dormir com um cara super gostoso que te adora.

— Não vou transar com Sirius apenas para manter esse relacionamento — disse Lily firmemente, estava aprendendo a imitar o olhar duro de Marlene.

— Você não seria a primeira, meu bem. Essa na verdade é a maior causa do sexo na adolescência  — Marlene revirou os olhos.

Nossa, aquilo era verdade. Uma verdade deprimente. Tantas garotas com uma autoestima tão frágil, sentindo-se tão excluídas quanto possível na selva que é o ensino médio.

— Não devia ser assim — Lily suspirou —, sexo devia ser algo bom, algo que você se sinta segura sobre. Deveríamos ter palestras  e discussões sobre isso — ela jogou o pó na bolsa irritada. — Saúde, bem-estar, maquiagem, que seja, como nos sentimos e o que fazemos com isso… Sobre isso que eles deviam falar e nos ajudar a lidar.

— Para isso existe a internet, Evans — Marlene rolou os olhos, e Lily murchou, perdendo a animação de poucos segundos atrás. — Mas até que não é uma ideia ruim.

— Ideia? Que ideia?

— Nós podemos fazer isso, Lily. Um tipo de workshop falando sobre tudo isso e muito mais — Marlene estava animada agora, com aquele brilho demoníaco no olhar. — Não consigo nem pensar no benefício que isso pode ter na sua campanha!

— O que você tem em mente?

A campanha de Lily realmente precisava de alguma ajuda.

Os posters tinha saído há umas duas semanas, e Marlene quase tinha chorado quando abriram a embalagem. Tinham contratado um fotógrafo profissional, e as fotos passavam o ar de garota legal, e estaria tudo okay, se não fosse o grande M sobrando nos cartazes. Lily Evams. Não Evans. Evams. Marlene havia gritado tanto com a gráfica, que os novos cartazes ficaram prontos na metade do tempo previsto, mas ainda não sabiam dizer o que tinha acontecido. Erro humano, provavelmente.

Lily não tinha tido cara para pedir para Sirius ser seu par de campanha, queria esperar pelo menos os números do jornal escolar dissessem que ela estava na frente de Mary MacDonnald. Dorcas continuava no topo, embora Marlene e James estivessem tendo uma grande aceitação. Lily tirou as fotos dos posters do casal, onde James estava sexy como o inferno em uma jaqueta de couro preta, e Marlene tinha uma, muito conveniente, tiara com chifrinhos.

Naquele dia, depois de Marlene e James quase se comerem com os olhos nas fotos, tinha tido coragem de perguntar uma coisa que a assombrava.

— Marlene? Existe alguma coisa entre você e James?

— James? — Marlene fez uma careta. — Está louca? Não.

— Mas já teve — sondou ela.

— Já — admitiu a morena. — Mas faz bastante tempo, Lily.

— Bastante tempo quanto? — pressionou a garota do cabelo colorido.

— Bastante tempo tipo eu era uma completa idiota — resmungou Marlene. — Eu gostava de Sirius, acredita? Na noite do acidente do James, nós estávamos em uma festa, e a idiota aqui se jogou para cima do seu namorado idiota. Ele me tratou como lixo e foi embora — ela franziu a testa, como se não pensasse naquilo há muito tempo. — Eu estava tão bêbada, falei um bando de merda para James, pensando que ele era Sirius. Mas então, um tempo depois eu acabei ficando com o James. Depois percebi que ele só tinha feito aquilo para esfregar na cara do Black.

— E o que você fez? — Lily estava um tanto arrependida de ter insistido. Aquilo não soava nada bem.

— Nada, Lily — respondeu ela, simplesmente. — Nem tudo merece uma vingança épica.

Naquela noite, após dar uns amassos realmente quentes com James no carro, perguntou se era verdade que Marlene tinha sido apaixonada por Sirius.

—  Sim, ela corria atrás dele para todo lado, como um cachorrinho — riu James, desenhando padrões em sua cintura, com os dedos.

A cada dia ela se preocupava mais sobre onde tinha se metido.

 

***

— Nunca pensei que nos encontraríamos aqui, Remus Lupin — sorriu Lily enquanto empurrava o carrinho de compras lado a lado com Remus. Tinha vindo fazer as compras de casa e encontrado o amigo. — Como vai a vida? E Dorcas?

— A vida segue — sorriu Remus, mas meio para baixo. — Não tenho visto ela.

— Por que não? — quis saber a menina, enquanto os dois procuravam molho de tomate nas prateleiras. — Achei que vocês tinham se dado bem.

— Nos demos — confirmou ele, e pareceu relutante em continuar. — Mas não sou a pessoa certa para ela.

— Para com isso, você é ótimo! — sorriu Lily.

— Não, Lily… Os pais da Dorcas proibiram-nos de nos encontrar— explicou ele e a expressão de Lily murchou um pouco.

— O quê? Por quê?

— Eu sou soro positivo, Lily.

Por um minuto a garota do cabelo colorido não soube o que responder. Puta merda, como assim?

— Bom — Lily tentou recompor a expressão. — Nós não estamos mais no século 19, tem como evitar a transmissão e ter uma vida normal…

— Não, Lily — cortou Remus. — Eles estão certos. Quem poderia querer a filha com alguém assim? Um doente. Nem filhos posso ter… Ah! Dorcas está melhor sem mim.

 

***

Lily estava deitada na cama pensando na vida. Tinha gasto seu dia entre escola, academia, supermercado, exercícios de física e reclamações de Marlene. Parecia que sua vida estava sendo regida pela lei de Murphy: se alguma coisa pode dar errado, dará. E mais, dará errado da pior maneira, no pior momento e de modo que cause o maior dano possível.

De alguma forma, o boato de que Lily tinha contraído herpes surgiu na escola, um absurdo e Lily teve que lidar com isso a manhã toda. Os novos posters da campanha apareceram rabiscados, sendo que o maior, que ficava no mural de anúncios tinha sido pichado com a pergunta: quem é ela?

Então começaram a especular porque Lily tinha redes sociais tão recentes, porque tinha mudado tão depressa, como estava namorando Sirius Black.

A garota do cabelo colorido cometeu o erro de dizer que achava que Mary estava sabotando sua campanha, só para ter o boato espalhado pela escola, de que ela estava difamando Mary. E mais uma lista de problemas que só levavam sua frágil campanha para o buraco. Claro que Marlene estava uma pilha de nervos, mas parecia estar se divertindo bastante em salientar que Lily era uma inútil. Quando reclamava para James ele só dizia “sinto muito” e garantia que logo aquilo ia passar. Lily não via a hora.

— Está tudo bem, querida? — perguntou a mãe da garota, entrando pela porta aberta. Ela parecia mais velha uns dez anos, com olheiras e um cansaço contagiante.

— Tudo okay — sorriu Lily, sentando-se na cama. — E a senhora?

— Tudo — suspirou Christine, indo em direção à cama e deitando a cabeça no colo da filha.

— O que foi, mamãe? — quis saber Lily, acariciando os cabelos loiros da mais velha.

— Petunia. E esse casamento. O hospital. Esse sentimento de impotência — desabafou ela. — Não posso acreditar que tudo isso estava acontecendo com minha filha, e eu não soube de nada.

Lily sentiu um nó na garganta e um sentimento extremo de culpa se apoderou dela. Não estava sendo melhor que Petunia em nada.

— Não foi sua culpa, mãe. A senhora fez o melhor que pode, a escolha foi de Tuney — garantiu a menina.

— Eu devia ter visto isso — suspirou ela novamente. — Sinto-me como a mãe daquela adolescente que foi parar no hospital, nós a advertimos que a criança poderia estar sofrendo de algum transtorno alimentar, emagrecendo a olhos vistos, e ela insistia que havia sido apenas uma queda de pressão. Nós pais temos o dever de ver os problemas que os nossos filhos estão passando, como podemos ser tão negligentes?

— Qual garota? — perguntou Lily, para abafar a sensação esmagadora de culpa.

— Dorcas Meadowes. Ela desmaiou e foi levada ao hospital. Os exames acusaram anemia, e todos que conhecem a menina, das visitas que ela faz aos pacientes do hospital, conseguem ver o quanto ela emagreceu. A suspeita é bulimia. Isso é tão grave, ela pode desenvolver sérios problemas estomacais, úlceras e muito mais. Uma menina tão bonita…

Puta merda, Lily pensou.

— A senhora tem certeza? — perguntou Lily, parando com o carinho. — Digo, Dorcas é líder de torcida, e você sabe, existem essas dietas malucas — uma dessas que Lily estava fazendo — e tal, talvez a mãe dela esteja certa.

— Nós vemos isso no hospital o tempo todo, meu amor. Essa pressão por ser aceito, ser popular…

Então uma memória surgiu na cabeça de Lily. Uma menina vomitando horrores no banheiro da escola.

 

A porta da última cabine foi aberta e uma Dorcas muito pálida e de olhos lacrimejantes saiu da lá.

— Tudo bem com você, Dorcas? — perguntou Lily, vendo a menina lavar o rosto e a boca, um pouco trêmula.

— Hey, Lily. Tudo sim, foi apenas algo que eu comi — sorriu ela, esforçando-se visivelmente para não soar tão abatida.

— Melhoras. Não seria melhor procurar a enfermaria? — sugeriu a menina, ignorando as mensagens de Marlene.

— Não é necessário, logo devo estar melhor — respondeu ela, com um sorriso, já recuperando parte da cor. “

— Puta que pariu! — xingou Lily. Era verdade então. E também confirmava a história de Lene, sobre a mãe de Dorcas. E a proibição do namoro com Remus... O que mais a Meadows poderia estar escondendo?

— Lily Evans! — ralhou a mãe da garota.

— Desculpa, mãe — pediu Lily, levantando-se da cama e calçando os sapatos. — Eu tenho que sair agora… Volto logo!

Tinha uma pessoa que devia saber disso.

 

31 de janeiro, no baile

Ela agarrou as saias do vestido e subiu a escada estreita, tomando cuidado com os saltos, segurando firme no corrimão.

Havia trilhado um caminho longo até ali, não poderia olhar para trás, senão estava perdida.

— Tem tudo o que precisa? — perguntou ela ao garoto parado à sua frente, tremendo como uma vara verde.

— Si-sim — gaguejou o rapaz, torcendo as mãos e olhando para os lados.

— Vejo que sim — disse ela ao espiar ao redor, sorriu quando seus olhos focaram-se em algo aos pés do garoto.

— Você tem certeza disso?

— Sim — garantiu a menina —, todos precisamos de um plano B, esse é o meu.

— Mas… Mas…

— Mas nada! — cortou ela, inclinando-se aos pés dele, direcionando-lhe seu olhar mais gélido. — Quando, ou melhor, se ela for coroada rainha e você receber o meu sinal é a hora.

Ela estendeu o dedo indicador, decorado com flores azuis e remexeu a gosma verde no balde, na beirada da plataforma suspensa, bem em cima do palco.

— Vamos animar um pouco essa festa.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Teorias? Opiniões? Não tão curtindo?