Love Station escrita por wukindly


Capítulo 1
Love Station


Notas iniciais do capítulo

Já faz uns meses que estava escrevendo essa fanfic, mas fiquei procrastinando para terminar (como eu sempre faço) hehehe Enfim... Espero que gostem!



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Normalmente, o dia começa da mesma maneira que irá acabar. Quando se amanhece ruim, geralmente, o dia continuará ruim até os últimos minutos. A mesma coisa vale para os dias bons. Alice teve a sorte de ter acordado em um dia bom, pelo menos o que parecia ser bom no início da manhã. Ao chegar a sua escola as coisas começaram a mudar, talvez por já ter chegado levando um tombo na entrada ou por ter se envergonhado na frente de toda a sua sala ao esquecer o discurso que estivera praticando durante um mês. Não, aquele definitivamente não era um dia bom.

No caminho de volta pra casa, enquanto pegava o trem de costume, ficou de olho nos seus pés. Ela sabia que a qualquer momento, seguindo pela vibração que o dia estava tendo, escorregaria e se envergonharia de novo. Ou talvez ela não devesse focar tanto nisso, quanto mais concentrada ela ficava em seus pés, mais se sentia zonza e prestes a cair. Então mudou a direção de seu olhar para as pessoas que estavam a sua volta, sendo que seus olhos congelaram em uma pessoa. Um garoto, que estava em meio a um grupo.

As pessoas que estavam ao redor do garoto, duas meninas e um menino, conversavam animadamente sobre algo enquanto o moreno olhava distraidamente para fora da janela; em uma parada brusca em uma estação o garoto perdeu o equilíbrio e quase caiu, fazendo com que Alice soltasse uma risada, atraindo a atenção dele. A garota desviou o olhar rapidamente, tentando disfarçar que esteve olhando para ele durante todo o percurso. Desculpas começaram a rodear sua mente; e se ele fosse tirar alguma satisfação com ela? Tinha que estar pronta, pelo menos para dizer qualquer bobagem e ir embora.

Quando retornou o seu olhar para o moreno ele ainda estava encarando-a. Ela tinha o assustado, ótimo. Desviou os olhos mais uma vez, mas continuou a encara-lo pelo seu reflexo produzido no vidro do trem. Ele era alto, não tão alto quanto o amigo a seu lado, porém mais alto que Alice; seu cabelo moreno era tão escuro quanto seus olhos negros; bonito, definitivamente. Os olhos da garota se voltaram as roupas do garoto. Um uniforme escolar que era familiar para ela, lembrava-se de ter visto seu irmão usando as mesmas roupas no ano anterior.

Alice deve ter ficado um longo tempo encarando o vidro, o suficiente para que o moreno notasse e a flagrasse encarando-o novamente. A garota sentiu suas bochechas começarem a esquentar e encarou o chão. Já era a terceira vez. Nenhuma desculpa lhe veio a cabeça para acobertar seus comportamentos.

Ela não teve coragem de voltar a levantar o olhar. Talvez nunca devesse ter tirado os olhos de seus pés. Não sabia se ele continuava a olhando e preferia não saber. Os olhos da garota só deixaram seus sapatos quando a sua parada chegou. Olhou ao redor e procurou pelo moreno. Nada. Provavelmente havia saído antes dela.

Alice se sentiu aliviada. Havia sido apenas um incidente isolado com um estranho que ela nunca mais veria.

Ou pelo menos foi o que achou.

As duas semanas seguintes foram normais, começando a mudar no início da terceira semana. Ela havia o notado antes mesmo que a porta do vagão se abrisse. Seu estômago se contorceu e seu rosto ficou avermelhado. Talvez pudesse andar mais um pouco para pegar o vagão mais distante possível daquele que se abria em sua frente. Não. Tenha coragem. Uma onda de bravura a atingiu, levando seus pés até o interior do trem, porém sua coragem se perdeu no momento que percebeu que o garoto também havia a notado. A porta se fechou. Sem volta.

A loira manteve o olhar longe do moreno a maior parte da viagem, mas podia sentir os olhos negros queimando a parte lateral de seu rosto. E assim se passou mais uma semana, até decidir retribuir o olhar. De vez em quando ele desviava o olhar e parecia sorrir para si mesmo. Em alguns dias, ela podia sentir que recebia olhares furtivos das pessoas que sempre estavam a acompanhar o garoto. Talvez eles não tivessem deixado a troca de olhares passar despercebido.

No começo da quinta semana, quando o moreno desceu do trem, ele a encarou pelo vidro e lançou um aceno para ela. A primeira vez que direcionou algum gesto para a garota. Alice sorriu e acenou de volta, recebendo um sorriso dele, antes de sair correndo atrás de seus amigos. Nas duas semanas seguintes eles passaram a sorrir um para o outro enquanto se encaravam, chamando ainda mais atenção dos companheiros de viagem do moreno. As horas em que Alice os pegava olhando para ela, os três lhe ofereciam sorrisos tão calorosos quanto o do garoto.

No meio da sétima semana, ao contrário dos outros dias, a loira já havia amanhecido do jeito errado, seu dia apenas piorando com o passar das horas. Suas roupas estavam completamente molhadas pela chuva, que havia a pegado de surpresa, e seus trabalhos de escola estavam escapando de suas mãos enquanto tropeçava em seus próprios pés. Então quando entrou no vagão teve certeza de que todos a estavam encarando, mas ela pouco se importava com aquilo.

Enquanto fazia o máximo para se manter em pé no balanço do trem, seu olhar buscou involuntariamente pelo garoto, não o encontrando em pé, mas sim sentado ao lado de seus amigos. Os olhos dele estavam presos nela, a analisando. Quando reparou que ela o encarava, se levantou rapidamente, oferecendo seu lugar. Um sorriso se espalhou pelos lábios da garota. Ele era gentil.

Alice esperou que o trem parasse na estação seguinte para que andasse cambaleando até o garoto, que a encontrou no meio do caminho, parecendo disposto a ajuda-la com os trabalhos que estavam criando vida própria em suas mãos. Ela pôde ouvir uma risada que lhe chamara atenção. O garoto loiro ria enquanto olhava para o moreno, que olhava para seu antigo lugar, o que oferecera a Alice, e que agora estava sendo utilizado por outra pessoa. Os olhos negros se voltaram para ela, fazendo com que sentisse um frio na barriga, nunca estiveram tão perto um do outro. O garoto parecia não saber o que fazer, um tanto envergonhado, o que fez com que a garota deixasse uma risada baixa escapar.

O trem voltou a andar e Alice cambaleou para trás, o moreno tentara lhe segurar, mas como não tinha nada em que se apoiar, acabou sendo levado junto com ela até que conseguisse segurar em uma barra. Ele parecia um pouco incerto do que fazer, mas não a soltara até ter certeza que ela conseguiria ficar em pé por si mesma.

— Posso levar alguns desses, se for te ajudar. – ele disse se referindo aos trabalhos dela. O coração de Alice deu um salto ao ouvir a voz do garoto.

Ela estendeu alguns de seus papéis para ele, tornando mais fácil de se manter pé. Agora conseguindo segurar com firmeza na barra do trem. Os dois continuaram se encarando por um tempo.

— Sou Edmundo.

Edmundo. Outro sorriso se espalhou no rosto de Alice. Edmundo. Forte, porém sutil e gentil. Talvez assim como ele.

— Sou Alice.

Alguns segundos se seguiram com um silêncio desconfortável, os dois se entreolhavam tentando pensar em algo para dizer.

— O que... – ele começou, limpando a garganta – O que aconteceu contigo?

— Não sabia que ia chover. – deu de ombros, começando a sentir um pouco de vergonha pelo seu estado – Amanheci num dia ruim, só isso.

— Todos temos nossos dias ruins. – ele murmurou – Nada que não possa melhorar.

Rapidamente os pensamentos de Alice sobre como o dia só tinha como piorar se passaram por sua cabeça, porém não pôde evitar se sentir melhor após ouvir aquelas palavras. Um sorriso automático surgiu nos lábios da moça, que assentiu.

— Acho que tenho que começar a andar com um guarda chuva para me esconder dos meus problemas. – a garota comentou tentando quebrar a tensão que ainda restava entre os dois.

O que realmente funcionou, já que a conversa se tornou mais fácil após a leve risada que o rapaz soltou. Os assuntos começaram a fluir naturalmente, embora Alice se sentisse de certa forma intimidada pelos olhares que os amigos de Edmundo lhe lançavam durante o caminho, que se tornavam ainda mais intensos quando o rapaz se animava ao comentar algo ou ria de alguma coisa que ela havia dito.

O amigo de Edmundo lhe encarava com um sorriso malicioso enfeitando seus lábios, a garota mais velha lhe mandava um olhar de aprovação, e a mais nova sorria abertamente para Alice. Olhares simpáticos que não desgrudavam dela, o que a deixou desconfortável. Sentiu-se congelar em seu lugar quando os três começaram a andar em sua direção. Edmundo pareceu perceber o desconforto da garota, virando-se para encarar os seus companheiros que pararam ao seu lado.

— Odeio ter que atrapalhar a conversa de vocês. – o garoto mais velho falou, o sorriso nunca deixando seu rosto – Mas aqui é a nossa parada.

Edmundo encarou o loiro, como se tentasse definir se aquilo seria verdade ou não. O trem parou. As portas se abriram, revelando a estação em que os quatro amigos sempre desciam. Pessoas começaram a sair e o moreno parecia estar tendo uma batalha interna, tentando se decidir sobre algo. Ele deu uma rápida olhada na bolsa que segurava, assentindo, confirmando algo para si mesmo.

— Eu vou depois. – ele disse – Alice pode precisar de ajuda pra levar essas coisas pra casa dela nessa chuva.

O sorriso no rosto do loiro pareceu apenas aumentar, lançando um olhar significativo para a garota mais velha, que apenas revirou os olhos para ele antes de saírem do trem. A mais nova saltitou para fora do vagão, seu olhar nunca deixando os dois que estava ainda segurando a barra de ferro. As portas se fecharam, Alice virou-se para Edmundo com um olhar questionador.

— Você não precisava ficar para me ajudar. – murmurou, um sorriso inevitavelmente tomando conta de sua face.

— Eu tenho um guarda chuva. – disse ele sorrindo - Podemos nos esconder juntos.

Os sorrisos não deixaram os rostos de nenhum dos dois durante todo o trajeto do trem. Alice estava feliz que Edmundo tinha decidido acompanha-la até sua casa, embora isso fosse render uma boa hora a mais de viagem para ele. A companhia do garoto a deixara alegre mesmo em um clima chuvoso e ruim. E essa era a única coisa que conseguia pensar enquanto caminhavam pelas ruas encharcadas de seu bairro, espremidos debaixo do guarda chuva de Edmundo, os dois se enrolando para que não deixassem cair nenhuma folha que seguravam.

— Eles ficavam me encarando, achei que iam me atacar a qualquer momento. – Alice disse. A garota tinha comentado sobre seu irmão ter frequentado a mesma escola que o garoto e logo eles estavam falando sobre suas famílias. O que levou ela a descobrir que as três pessoas que sempre estavam com o rapaz eram, na verdade, os irmãos dele. Ela se sentiu um pouco burra por não ter desconfiado disso em momento algum. – Mas eles parecem ser legais.

— Eu notei. – ele riu – Só faltou você se jogar pela janela.

Alice tentou empurrar Edmundo de leve, o que quase resultou nos dois escorregando e caindo no chão. Embora todo o seu esforço e tempo que haviam sido gastos nos trabalhos feitos, que iriam ser perdidos e estragados se entrassem em contato com o chão úmido, a garota não pôde deixar de soltar uma leve risada imaginando os dois caídos no chão no meio da chuva. O garoto parecia ter pensado a mesma coisa, já que logo os dois estavam rindo enquanto caminhavam encolhidos.

— Ah. – Alice disse, parando de rir e de andar, fazendo com que o rapaz parasse com ela – É a minha casa.

Edmundo encarou o lugar, assentindo levemente, uma sombra de tristeza passando pelos seus olhos. Ele estendeu os papéis, deixando-os no braço da moça, que sentiu seu coração apertar com o sorriso triste que o garoto lhe mandara. Respirou fundo. É agora. Ela sentiu o estômago se embrulhar quando se inclinou para o rosto do rapaz, depositando um pequeno beijo em sua bochecha.

— Não se preocupe. – sorriu docemente – Vamos nos ver novamente.

O garoto estava com as bochechas vermelhas e a tristeza agora não podia mais ser encontrada em canto algum de sua face. Ele assentiu, um sorriso surgindo em seu rosto.

— Vamos nos ver novamente. – ele repetiu, antes de acenar com a cabeça e seguir seu caminho de volta para a estação.

Alice entrou em sua casa, largando as folhas no primeiro lugar que conseguiu e observou Edmundo pela janela. Viu o rapaz dar algumas rápidas olhadas para sua direção antes de desaparecer no horizonte. A garota então se jogou no sofá, pensando que talvez um dia ruim pudesse afinal se tornar fantástico.


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Notas finais do capítulo

Vamos todos comprar um guarda chuva depois de ler, né nom amigos? Enfim, o que acharam? Espero que tenham gostado! ♥



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