The Very Thought of You escrita por Xokiihs


Capítulo 2
Sakura


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura :)



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Sakura caminhava pelas ruas do Queens com uma ansiedade crescente no peito. A cada passo que dava a caminho da casa de sua prima, Karin, seu coração batia mais forte, lembrando do momento em que ficara sozinha com Sasuke no parque. Há tempos esperava por um momento daqueles, só ele e ela, sozinhos, perdidos em seu próprio mundo. Geralmente Naruto estava sempre grudado a eles, sem dar nenhuma oportunidade de ficarem juntos, mesmo sabendo do sentimento que ela tinha pelo seu melhor amigo.

Já tinha brigado com o irmão mais velho diversas vezes por este motivo, mas Naruto sempre dizia que não deixaria os dois sozinhos, porque ainda estava muito novo para ser tio. Sakura, então, ficava vermelha e o mandava calar a boca, mas, no fundo, imaginava como seria ter um filho com Sasuke.

Ah, Sasuke. Seu primeiro amor, e, provavelmente, o último.

Suspirou, lembrando do moreno que tinha arrebatado o seu coração sem sequer se dar conta disso. Acontecera a anos atrás, quando Sakura ainda era uma criança boba que só queria saber de brincar na rua com seu irmão e o amigo, e não se importava nem um pouco com coisas relacionadas ao amor; de fato, toda vez que ouvia as meninas de sua sala suspirando por meninos, chamava-as internamente de idiotas.

Para ela, era estúpido se apaixonar. Achava isso pois, toda vez que assistia a algum filme romântico, percebia que os protagonistas ficavam bestas depois de se apaixonaram, cometendo erros idiotas e inconcebíveis, tudo em prol do tal do amor. Além disso, sabia que o amor não se tratava só de flores e músicas melosas; tinha um ótimo exemplo de que o amor também podia ser pancadas e gritos, como era com sua mãe e seu pai. Portanto, resolvera que jamais se apaixonaria ou amaria alguém que não fosse a si mesma ou a sua família. E por alguns anos, ela manteve esse pensamento.

Contudo, como tudo na vida, sua resolução de não se apaixonar caiu por terra quando começou a ver Sasuke com outros olhos. Lembrava-se bem do exato momento em que aquilo tinha acontecido, quando ainda era uma criança magriela e com os cabelos bagunçados.

Era uma tarde ensolarada de verão, com o sol escaldante e o vento abafado, o que fazia ficar em casa, entre quatro paredes e apenas uma janela, insuportável. Portanto, assim que o sol abaixou um pouco – e depois de Sakura e Naruto implorarem -, Kushina os deixou brincar no parque do bairro, mas se um deles voltasse machucado, iriam apanhar.

Sem se importar com o aviso da mãe, os irmãos mais bagunceiros que poderiam existir, saíram da casa apressadamente, prontos para um dia de diversão com as demais crianças que ali moravam. O parque estava repleto de gente - famílias com suas crianças, fazendo piqueniques, ou pessoas idosas caminhando, aproveitando o tempo quente. Quando chegaram, Naruto logo foi para o campo onde as crianças mais velhas jogavam baseball, deixando Sakura para trás, sozinha. A menina, todavia, não se importou. Aproveitou que o irmão tinha corrido para outro lugar e resolveu ir em direção a casa de Sasuke, que ficava relativamente longe do parque.

Como sabia que sua mãe ficaria furiosa se descobrisse que ela tinha ido sozinha até lá, foi o mais rápido que pode, não se importando em correr, o que lhe rendeu diversos esbarrões e alguns tropicões. Quando chegou ao conjunto de apartamentos onde Sasuke morava, estava quase cuspindo o coração pela boca. Ao invés de subir, pois estava muito cansada, gritou a plenos pulmões por Sasuke, mas quem aparecera fora sua mãe, Mikoto.

— Ora, Sakura, por que não sobe, querida? – A gentil senhora Uchiha perguntou, sorrindo.

— Estou cansada, vim correndo. – Foi o que ela respondeu, o que fez Mikoto rir e dizer que Sasuke já estava indo. E realmente não demorou muito para que ele aparecesse, usando shorts e um boné do Red Sox, o que fez Sakura torcer o nariz.

— Por que está usando esse boné?

— É o meu time, ué.

— Mas você está em Nova Iorque. – Ela disse como se fosse obvio que, já que ele vivia em Nova Iorque, deveria torcer pelos Yankees, não pelo Red Sox.

— E daí? Eu gosto do Red Sox. – Ele respondeu, e então passaram o resto do caminho discutindo qual time era melhor.

Quando chegaram ao parque, Sakura suspirou aliviada por Naruto não ter percebido sua ausência, e, esquecendo da discussão anterior com Sasuke, chamou-o para brincar com as outras crianças.

Logo, ambos estavam correndo pelo parque como loucos, tentando se esconder da menina que estava contando até cinquenta. A tarde passou rapidamente, e, quando era quase hora de voltar para casa para o jantar, Sakura e Sasuke estavam sujos e suados. As demais crianças iam se dispersando, cada uma indo para casa, até que apenas alguns sobraram. Entre eles, ficara um menino da classe de Sakura que não gostava muito dela – apesar de sua mãe viver dizendo que, na verdade, ele gostava dela, mas não sabia expressar -, e ela retribuía o sentimento. Seu nome era Kimimaru, ele era magrelo e alto, parecia uma vara, e tinha cabelos claríssimos, quase brancos de tão louros.

Ele, ao perceber que Sakura estava lá com seu inseparável amigo, igualmente magricela, mas que Naruto não estava por perto, resolveu ir importuna-los junto com seus próprios amigos.

— Ei, testuda. Não sabia que estava por aqui. – O garoto chegou dizendo, dando um daqueles sorrisos maldosos, que Sakura geralmente ignorava.

Mas aquele dia ela resolveu rebater.

— Vai embora, Kimimaru.

Não gostava de ver aquele moleque perto dela e de Sasuke. Um, por ele ser insuportável; dois, pois não queria que ele implicasse com Sasuke. Seu problema era consigo, não com ele.

— O parque é público, posso ficar aqui o quanto eu quiser. – Ela suspirou, voltando-se para Sasuke e pegando sua mão. Estava suada.

— Vamos embora, Sasuke.

O moreninho se levantou, sem deixar sua mão, e eles se viraram para ir embora, mas Kimimaru não os deixaria ir tão facilmente.

— Isso, vai embora com o seu namoradinho.

— Ele não é meu namoradinho. É meu amigo. – Sakura rebateu, franzindo o cenho e apertando a mão de Sasuke.

Kimimaru riu, mas era uma risada falsa e muito mal ensaiada.

— Claro que não é. Quem iria querer namorar uma menina esquisita como você?

Após tantos anos convivendo juntos, morando no mesmo bairro e estudando na mesma classe, Kimimaru sabia facilmente o que dizer para atingir Sakura; aprendera que, apesar dela não se intimidar e se fazer de forte, tinha suas inseguranças. Uma delas era sua aparência. Sentia-se horrível com seus cabelos de cor esquisita – não eram nem loiros, como os de seu pai, nem vermelhos, como os de sua mãe. Eram uma mistura malfeita dos dois. Ela também tinha uma testa protuberante, que, além de tudo, tinha uma pinta estranha bem no meio. Toda essa mistura lhe dera fama de feia pela escola e bairro, e, quando seu irmão não estava por perto, as pessoas a atingiam com isso.

Ela mordeu o lábio, apertando a mão de Sasuke ainda mais. Ia mandar Kimimaru calar a boca, mas se surpreendeu ao ouvir a voz de seu melhor amigo.

— Esquisito é você.

Depois de Sasuke – que era sempre quieto e frequentemente precisava de ajuda para enfrentar seus próprios valentões – tê-la defendido, apesar de ser um fracote, Sakura sentiu seu coração pequeno esquentar.

Kimimaru empurrou Sasuke, o que lhe rendeu um chute na canela vindo de Sakura, mas antes que ele e seus amigos pudessem fazer qualquer coisa, Naruto apareceu. E, então, eles saíram correndo com medo do menino mais velho, que tinha nada menos do que um taco de baseball em mãos.

Sakura explicou o que tinha acontecido, o que deixou Naruto bem bravo e com vontade de ir atrás dos “malditos moleques” que tinham falado mal de sua irmãzinha, mas Sakura disse que tinham que voltar para casa.

O sol já estava se pondo quando os amigos se despediram, indo cada um para sua própria casa; Sakura, no entanto, deu uma última olhada para Sasuke e sua figura franzina, lembrando-se como ele tinha a defendido momentos atrás.

A partir daquele dia, o que fora uma paixão infantil, crescera para um amor verdadeiro. Sasuke, além de seu melhor amigo, tornara-se seu amor. Contudo, nunca tivera coragem de se declarar para ele, por medo de acabar com sua amizade, caso não desse certo entre os dois. Sabia, também, que Sasuke nutria um certo sentimento por si; percebia na forma na qual ele a olhava, com aqueles olhos negros demonstrando tudo o que seus lábios não diziam. Mas, como Sasuke também nunca dissera nada, percebera que, talvez, fosse melhor continuarem apenas como amigos.

Novamente, a vida lhe mostrara que não era tão simples assim. Sasuke resolvera se alistar, assim como ela, e logo eles estariam longe um do outro. Saber que não poderá vê-lo ou falar com ele com tanta frequência lhe deram a coragem que precisava para, finalmente, relatar seus sentimentos. Tinha que lhe contar, precisava contar; não viveria em paz sem saber o desfecho que seu amor levaria. E faria isso naquela noite, quando fossem dançar.

~

Quando chegou até o prédio onde Karin vivia, seu coração já tinha se acalmado, mas a animação de sair para dançar com Sasuke ainda se fazia presente. Subiu correndo o lance de escadas e, assim que a prima abriu a porta, despejou tudo sobre ela.

— Vou sair com Sasuke! Hoje! Preciso de roupas novas! Agora!

Karin, que levara um susto com o rompante da prima, além de, claro, sua ilustre presença, franziu o cenho.

— Que susto, Sakura! – Abriu espaço para ela entrar, fechando a porta atrás de si. — Se acalme e me explique isso direito.

— Bom, primeiro de tudo, Sasuke se alistou.

— Que novidade. – Karin resmungou, sentando-se em seu sofá, enquanto Sakura sentava na poltrona. — Todos os homens de Nova Iorque estão se alistando. De repente, todo mundo é corajoso.

— Enfim, logo ele partirá. Hoje, eu, ele e Naruto nos encontramos no Jerry’s para almoçarmos, e, depois, fomos ao parque. Só eu e ele!

Karin, dessa vez, sorriu. — Até que enfim Naruto deixou de ser um babaca e deu espaço para vocês.

— Sim! – Sakura também sorriu, seus olhos verdes brilhando. — Karin, nós ficamos sentados, conversando, e ele até mesmo emprestou o casaco para mim.

— Percebi.

Sakura franziu o cenho, sem entender o sorriso malicioso no rosto da prima. Karin, percebendo, revirou os olhos.

— Você está o vestindo agora, Sakura.

E era verdade. Em sua pressa para comprar roupas, tinha se esquecido completamente de devolver o casaco a Sasuke. O coitado devia estar morrendo de frio agora.

— Droga. Sai tão apressada que esqueci de devolver. – Suspirou, mas sorriu ao passar a mão sobre a manga escura do casaco. — Ah, eu nem acredito que isso finalmente vai acontecer!

— E os anjos cantam “Aleluia”. – Karin disse sarcasticamente, o que lhe rendeu um olhar nada amigável de Sakura. — Estou brincando, priminha. Fico muito feliz por você.

E realmente estava. Era uma das testemunhas de que Sakura e Sasuke já devia ter acontecido há anos, mas nenhum dos dois era corajoso o suficiente para dar o primeiro passo; era frustrante vê-los dançando ao redor um do outro, sempre mandando indiretas e olhando um para o outro como se nada mais existisse além deles.

— Obrigada. – Sakura sorriu. — Mas, não vim aqui apenas para lhe dizer isso; como já disse, preciso de roupas novas.

— Agora sim você falou a minha língua. Sorte sua que já trabalhei no turno da manhã hoje e agora estou de folga.

— Ótimo.

~

O sol já estava abaixando quando Sakura chegou em seu pequeno apartamento, segurando duas sacolas em mãos. Tinha um enorme sorriso no rosto, tamanha alegria e animação que sentia naquele momento. Andara com Karin por todas as lojas possíveis, procurando pelo vestido de sua vida, até que finalmente achara um belo o suficiente, que, segundo Karin, tiraria o folego de Sasuke.

Após largar as sacolas em cima do sofá, foi até a cozinha pegar um copo de água. O relógio marcava 17h30min, e, apesar de ainda ser cedo, resolveu começar a se arrumar. Primeiro, tomou um longo banho de banheira com seus sais preferidos. Enquanto estava submersa, pensou no que seu futuro reservava.

Era engraçado como as coisas acontecem sem serem programadas. Há um ano, planejava ir para uma faculdade de medicina, ou até mesmo enfermagem, com o dinheiro que tinha juntado de seu trabalho como garçonete. E, então, seu país resolve entrar na guerra que acontecia na Europa, mudando a vida de todos, inclusive a sua. Teve que postergar a faculdade para entrar no treinamento militar para enfermeiras, que o governo estava providenciando. Pelo menos, não tinha que pagar nada; quer dizer, não literalmente, já que sua vida estará em cheque. Além disso, finalmente tomara coragem para dizer a Sasuke os seus sentimentos, o que nunca achara que conseguiria. Há males que vem para o bem, como diz o ditado.

Após alguns minutos, saiu da banheira, indo se arrumar em seu quarto. O processo não foi rápido, e ela deu graças por ter começado cedo; primeiro, arrumou os cabelos, deixando-os soltos e com cachos caindo sobre os ombros, terminando com o broche em forma de flor que tinha comprado mais cedo. Depois, passou delineador nos olhos, junto com o rímel para destaca-los ainda mais. Sempre ouvira que seus olhos eram lindos, e concordava. Nos lábios, passou o batom vermelho que tanto adorava, e, para não ficar tão pálida, um pouco de blush rosado nas bochechas completou o visual. Não era nada demais, mas, no fim, se sentiu realmente linda.

Finalmente, chegara a hora de colocar o vestido. Era de um verde musgo, com mangas que chegavam aos seus cotovelos, e um decote quadrado que deixava a quantidade de pele suficiente amostra; o vestido parecia ter sido feito para si, abraçando suas curvas nos lugares certos, até um pouco antes de seus joelhos. Sorriu com satisfação ao olhar-se no espelho, terminando o visual com os sapatos pretos e um conjunto de colar e brincos de perola que sua mãe lhe dera.

Quando acabou de se arrumar, era quase hora de sair. Resolveu ler uma revista enquanto esperava, mas descobriu ser impossível. A animação de antes transformou-se em nervosismo, e Sakura começou a pensar no momento em que encontraria Sasuke. Sequer lembrou-se de que seu irmão estaria junto; tudo o que pensava era nos dois juntos, dançando a noite inteira. Seu coração bateu forte, antes de mesmo de vê-lo. Apenas a prospectiva de estar com ele já a deixava nervosa e com uma sensação estranha no estômago. Resolveu beber um pouco de água para se acalmar.

Assim que deixou o copo sobre a pia, ouviu batidas em sua porta. Sobressaltada, já que achava que encontraria com os meninos lá, foi atender. O que viu atrás da porta, ou melhor, quem viu, a deixou sem folego por alguns segundos.

Sasuke, segurando um buque de rosas vermelhas, com um sorriso discreto em seu belo rosto. Sakura engoliu em seco, vendo como ele estava lindo em seu terno acinzentado, os cabelos longos – aos quais ela tanto amava – soltos e brilhantes, emoldurando seu rosto. Teve uma vontade enorme de se jogar em seus braços, mas, ao invés disso, respirou em fundo e abriu o melhor sorriso que poderia dar.

— Sasuke! Achei que fossemos nos encontrar lá.

— Mudança de planos. Naruto disse que não poderá ir, então resolvi vir te buscar.

Naruto não irá? ela pensou, com o coração já acelerado.

— Por que não?

— Ah, - Ele começou, e Sakura percebeu que ele tinha ficado sem jeito pela forma como ele desviou o olhar e passou uma mão pelos cabelos. O porquê ela não sabia. — Ele disse que está com dor de barriga.

Teve que prender a risada, sem acreditar nem um segundo naquela desculpa esfarrapada, mas agradecendo mentalmente pelo esforço de deixá-los sozinhos. Faria um bolo de presente para ele depois.  

— Entendi. Bom, seremos só eu e você então, hn?

Não soube porque disse isso de forma tão sugestiva, mas aquilo resultou nos dois ficando vermelhos. Seria cômico, se não fosse tão vergonhoso.

Sasuke limpou a garganta. — Sim, hn, podemos ir?

— Claro, deixe eu pegar minha bolsa. — Quando virou, aproveitou para respirar fundo. — Vamos.

Ela já ia saindo, quando Sasuke pareceu perceber que ainda segurava o buquê de rosas, que deveria ser para ela.

— Ah, são para você. – Novamente ele estava sem jeito, mas Sakura apenas achou-o muito fofo.

Pegou as flores, cheirou-as e sorriu. — Obrigada. Amo rosas.

Ele também sorriu, e, então, os dois ficaram se encarando por alguns segundos. Os olhos de Sasuke sempre foram negros como o céu de uma noite sem estrelas; e, tal como um céu, pareciam um infinito de emoções e sentimentos, que passavam como flashes por dentro de suas írises. Ela o conhecia com a palma de sua mão, e sabia que ele estava tão nervoso quanto ela naquele momento; saber isso lhe deu um conforto imenso.

Infelizmente, o momento foi quebrado por ela; virou-se para colocar as flores em um vaso com água, e, só após fazer isso, foram em direção ao Ballzz.

Ao lado de fora de seu prédio, um táxi estava à espera.

— Oh, achei que iriamos de bonde.

Ele sorriu. — Não, hoje a noite será toda especial.

Ele abriu a porta para si, e ela entrou. O caminho para o clube foi dividido entre conversas leves sobre a vida e um silêncio confortável. Ao lado de fora, o Queens funcionava a toda força, com pessoas e automóveis transitando pelas ruas. Após alguns minutos, finalmente chegaram.

Ballzz era um dos clubes mais famosos de todo Queens; era um lugar grande, conhecido principalmente por ter apresentações de bandas e grupos de Jazz e Blues que tentavam se lançar, e fora palco para muitos artistas famosos em Nova Iorque. Naquela noite em especial, uma cantora chamada Billie Holiday se apresentaria, e o clube estava lotado, ainda mais que o normal, apesar de ser meio da semana.

Sasuke a guiou para o clube, empurrando algumas pessoas para que saíssem do meio do caminho. Estava difícil transitar, portanto, para não se perderem um do outro, deram as mãos. Era engraçado vê-los andar como um casal, pois os dois eram o completo oposto um do outro. Enquanto Sasuke era alto, com cabelos e olhos escuros, Sakura era mais baixa, com cabelos e olhos claros. Até mesmo suas personalidades eram opostas, Sasuke sendo mais soturno e quieto, e Sakura sendo mais falante e animada. Contudo, até suas diferenças pareciam se combinar; como se o que faltasse em Sasuke, Sakura completasse, e vice-versa.

Sakura, que não ia a boate há um bom tempo, ficou feliz por ter tido a chance de dançar. Era uma das coisas que mais gostava de fazer, e, quando era mais nova e tinha mais tempo, frequentemente ia a clubes com o intuito de dançar a noite inteira. Na maioria das vezes, Sasuke e Naruto estavam juntos; só não iam quando ela ia com as amigas. Naquele dia, apenas ela e Sasuke estavam ali, juntos. De repente, a ficha caiu.

É um encontro! Pensou, mordendo o lábio, ficando insegura por um instante. Mas logo deixou de lado, decidindo aproveitar todo o tempo que tinha com ele.

— Por aqui. – Sasuke falou alto, apontando para uma mesa em um lugar mais reservado, com menos pessoa que o resto do clube.

Foi sorte deles ter encontrado uma mesa vazia; Sasuke afastou a cadeira para ela, sendo mais cavalheiro do que nunca, e Sakura se sentiu feliz. Definitivamente estavam em um encontro.

— Você quer algo para beber?

— Uma coca com gim.

Ele assentiu e disse que já voltaria, indo em direção ao bar. Enquanto estava sozinha, Sakura resolveu observar o ambiente. O Ballzz tinha dois andares, a parte de baixo, onde ficava a pista de dança, o palco, o bar e uma área onde os fregueses podiam sentar – onde ela estava -, e a parte de cima, onde a maioria das mesas ficavam. Sakura preferia ficar na parte de baixo, pois poderia dançar e ver a cantora com mais facilidade. Por falar nela, pode ter apenas um vislumbre de Billie Holiday, mas sua bela voz preenchia todo o lugar, em conjunto com o teclado e os instrumentos de sopro.

Era relaxante ouvi-la cantar, Sakura poderia ficar ali por horas, apenas aproveitando a música. Contudo, não pretendia ficar tanto tempo. Tinha outros planos com um certo moreno, que, a propósito, vinha em sua direção, segurando a bebida que ela tinha pedido, mais uma pequena cesta com batatas-fritas.

— Ah, Sasuke, você pensa em tudo mesmo. – Sorriu, sentindo a barriga roncar. Com toda a correria, tivera tempo apenas para comer um cachorro-quente com Karin. Enfiou um punhado de batatas na boca.

— De nada. – Ele sorriu, se sentando em frente a ela. — Então, o que fez depois que saiu correndo do parque?

 — Bem, sinto muito por aquilo. – Ela disse, sorrindo. — Fui até a casa de Karin, e juntas fomos até o centro para comprar minhas roupas novas.

Ele sorriu, mastigando as batatas. — É esse o vestido?

— Sim.

— É muito bonito. – Sakura, que bebericava um gole de sua coca com gim, quase engasgou. Sasuke, ao perceber, sorriu de canto.

— Obrigada. O seu terno é bem bonito também. É novo?

— Não, Itachi me emprestou.

— Ah, sim. Faz muito tempo que não o vejo. Como ele está?

Sasuke, ao lembrar do irmão mais velho, sorriu. — Bem. Louise está para descobrir o sexo do neném.

— Sério? Nossa, passou muito rápido.

— Sim. – O sorriso que ele tinha alargou, de forma que poucas vezes fazia, mas que sempre a deixava com um calor no peito. — Ainda não acredito que serei tio. Dá para imaginar?

Ela riu. — Definitivamente não. Você, com essa seriedade toda, vai assustar a criança.

— Ei!

— Brincadeira. – Sasuke estirou a língua na direção dela, o que a fez fazer uma careta, como quando faziam quando eram mais novos e brigavam.

Eles riram por um tempo, antes de caírem em um silêncio amistoso. Sakura olhou-o por um longo tempo, observando cada aspecto do rosto de Sasuke. Ele parecia fazer o mesmo consigo, e, ao perceber, ela ficou vermelha.

Limpando a garganta, continuou a falar. — Mas, sério, você será um ótimo tio.

— Eu sei.

— Humilde como sempre.

Nos minutos seguintes, eles conversaram e riram, como sempre faziam quando estavam juntos. Quando terminaram suas bebidas, Sasuke resolveu chama-la para dançar, ao que ela aceitou alegremente. Afinal, eles tinham ido até lá para dançar.

Juntos, foram até a pista de dança, que já estava repleta de casais; foi até difícil achar um canto vazio que coubesse os dois. Uma música animada tinha acabado de começar, e Sasuke não perdeu tempo ao enlaçar sua cintura e trazê-la mais para perto de seu corpo esguio. Ela lhe deu as mãos, e, juntos, começaram a dançar no ritmo. Era difícil dançar uma música animada como aquelas, que precisavam de muitos movimentos, em pouco espaço, mas os dois conseguiram se sair muito bem. Sakura era uma ótima dançarina, e Sasuke, tendo aprendido com ela, não ficava atrás. Ele conseguia acompanhar todos os movimentos que ela fazia, em perfeita sincronia.

Qualquer pessoa que os visse imaginaria que eles eram um casal. Sakura sorria abertamente, assim como Sasuke, e a felicidade dos dois era tanta que alguns casais pararam para os observar. Eles, no entanto, nem perceberam; estavam perdidos em seu próprio mundo. Quando a música estava quase no fim, Sasuke segurou Sakura e mergulhou seu corpo, enquanto Sakura ria.

— Uau, isso foi demais. – Ela disse, sem folego e sem conseguir parar de sorrir.

Quando Sasuke trouxe-a de volta, outra música começou, mas dessa vez era uma lenta, especialmente tocada para casais. Sakura e Sasuke já tinham dançado muitas vezes antes, até mesmo músicas lentas, mas, daquela vez, Sakura ficou envergonhada. Talvez fosse pelo significado daquele encontro, ou por saber o que sentiam um pelo outro. Sasuke também pareceu tímido, mas isso não o impediu de, novamente, pegar a mão pequena dela e traze-la para mais perto de si.

Os passos eram mais calmos e comedidos, e seus corpos estavam mais unidos. As mãos de Sasuke estavam sobre a cintura de Sakura, enquanto as dela estavam em torno de seu pescoço. A proximidade deixou a ambos nervosos. Sakura respirou fundo, sentindo o coração bater acelerado.

Seus olhos estavam fixos nos olhos negros de Sasuke, que pareciam ainda mais escuros com a pouca iluminação do clube; alguns fios de seu cabelo igualmente escuro caiam sobre a face alva, mas ele mal parecia notar. Ela, no entanto, resolveu estender a mão e passar os dedos pelos fios.

Ele era tão lindo. Cada centímetro de seu rosto, desde o queixo quadrado, os lábios finos e avermelhados, o nariz reto, até os olhos e as sobrancelhas grossas. O conjunto de tudo o fazia ser um dos homens mais bonitos ao qual ela tivera o prazer de conhecer em sua vida.

— Sakura. – Piscou, saindo de seus pensamentos e o encarando novamente. Estava tão absorta que sequer tinha percebido que fizera uma verdadeira inspeção no rosto dele.

— Hn?

— Você está linda.

A forma como ele falou aquilo, tão sério e honesto, fizeram arrepios subirem por seu corpo. Engoliu em seco, deixando que seus olhos caíssem para os lábios finos por um milésimo de segundo. Aquele seria o momento perfeito.

— Eu te amo.

Apenas depois de proferir as palavras, percebeu que tinha dito-as alto e em bom som. E Sasuke ouvira, pois seus olhos arregalaram por um momento, tomado de surpresa. Ela continuou o encarando, agora com um sorriso nos lábios, e as mãos ao redor de seu rosto.

— Amo de verdade.

Sasuke, parecendo sair de seu transe, se aproximou ainda mais dela, e apertou sua cintura levemente.

— Eu também te amo. Muito. Muito. – Ela riu, e ele também.

Era um momento mágico, por mais clichê que soe. Sakura sentia como se estivesse em uma cena de filme, e sabia qual seria o próximo passo. Há tempos desejava que aquilo acontecesse.

Sua mão trouxe o rosto do moreno para mais perto de si, ao mesmo tempo em que seus pés levantavam e ele se abaixava. Logo, com um último olhar, os lábios se encontraram.   

A princípio, o beijo era tímido, envergonhado; mas, foi a confirmação que precisavam de que, de fato, pertenciam um ao outro. E, passado o primeiro momento, o beijo foi aprofundado, e todos os sentimentos presos dentro dos respectivos corpos foram passados através do selar dos lábios.

A música acabou e eles continuaram, e continuaram, e continuaram.

~

Quando decidiram ir embora, já era tarde da noite e o clube estava vazio. Sakura estava tão feliz que jurava que poderia explodir a qualquer momento; após o primeiro – e tão esperado -, beijo, muitos outros se seguiram, na pista de dança e fora dela. No fim das contas, dançar foi o que eles menos fizeram. Apesar disso, aquela tinha sido, de longe, uma das melhores noites de sua vida. Todavia, ainda estava longe de acabar.

Tinham se declarado um ao outro, sim. Mas ainda tinham muitas coisas que Sakura desejava dizer a Sasuke, coisas que estavam guardadas há muito tempo e precisavam ser ditas. Portanto, sem medo do que poderiam pensar dela, chamou-o para ir a sua casa.

O caminho de volta, diferente da vinda, foi silencioso. Ambos se preparavam para o que diriam quando chegassem ao apartamento. O primeiro passo da relação tinha sido dado, mas muitos outros estavam por vir. E Sakura estava feliz de admitir que não estava com medo de nenhum deles; Sasuke agora estava consigo, como imaginara desde aquele dia em que ele a defendeu. A sensação era incrível, como a de um sonho realizado.

Assim que chegaram ao velho conjunto onde ela morava, Sasuke pagou o taxista e juntos subiram.

— Quer alguma coisa? – ela perguntou, indo em direção a cozinha para beber um pouco de água. Ele negou, tirando seu palitó e se sentando no pequeno sofá de sua sala.

Na cozinha, Sakura respirou bem fundo, se preparando para o que estava por vir.

Vamos lá. Pensou, passando a mão por sobre o vestido e ajeitando os cabelos.

Sentou-se ao lado dele, que a encarou e pegou sua mão. Ficaram se olhando por um tempo, até que ele tomou coragem para começar a falar.

— Essa noite foi maravilhosa. – Ela sorriu, sentindo o coração aquecer.

 — Sim. Mas ainda não acabou.

Uma das mãos dele veio em direção a seu rosto, colocando uma mexa de cabelo atrás de sua orelha.

— Eu planejei te dizer que eu te amava de todas as formas possíveis. Ano passado, quando fomos ao parque juntos; mês retrasado, quando estávamos na casa de Naruto e ele tinha caído no sono. No seu aniversário de quinze anos... enfim, por muito tempo tenho pensado em uma forma para lhe dizer isso.

“Sakura, você é o amor da minha vida. Eu sei disso, e acho que você também sabe. Quando eu te vi pela primeira vez, uma menina gorducha e bochechuda, que, apesar da falta de tamanho, me defendeu e enfrentou três valentões com o dobro da sua altura, imaginei que você fosse um pequeno anjo, que aparecera no momento em que eu mais precisei. Eu nunca tive a oportunidade de agradecer a você por todo o tempo em que passou comigo, que me incentivou, que ouviu minhas reclamações.”

— Não precisa agradecer. – Ela interrompeu, sorrindo como uma boba.

— Tsc, lógico que preciso. Se não fosse você e Naruto, minha vida poderia ter tomado um rumo bem diferente. De qualquer forma, obrigado. Agora, continuando. Eu só quero dizer que você é uma das pessoas mais importantes em minha vida, e eu quero muito ficar com você para sempre. Isso, claro, se você aceitar sair em mais encontros comigo.

— Vou pensar no seu caso. – Brincou, contrariando suas palavras ao se lançar sobre ele e beijá-lo novamente. Ele riu no beijo, segurando o corpo dela contra o seu.  — Agora é minha vez.

— Sou todo ouvidos.

— Bem, eu também amo você, mas você já sabe disso. Também faz muito tempo desde que comecei a te amar; você foi o meu primeiro amor. Não sei porque demorou tanto tempo para dizermos isso um para o outro, agora sinto como se tivéssemos perdendo tempo precioso, que jamais poderá voltar. Muitas vezes eu também pensei em me declarar, mas algo sempre me impedia.

“Agora, penso que talvez estivesse com medo do que poderia acontecer. Ainda assim, você sempre teve um lugar enorme em meu coração. No fundo, sempre pensei que terminaríamos juntos, com Naruto na nossa cola, morando de favor no porão da nossa casa. Não sei como terminaremos, mas sei que quero começar agora, com você, uma nova vida. Quero aproveitar nosso tempo juntos, quero poder amá-lo da forma que sempre quis, mas nunca pude. Quero ficar com você, Sasuke.”

Ele sorriu, puxando-a novamente para si e beijando-a sem medo de ser feliz. Agora, finalmente Sakura sentia-se livre, leve e solta. Era como se as coisas se encaixassem em sua vida. Estava decidida a viver ao máximo, aproveitar todo o seu tempo com Sasuke. E sabia que ele pensava o mesmo.

 


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