Simplesmente escrita por Helly Nivoeh


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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— Eu não acredito nisso. — Thalia murmurou, cruzando os braços e encarando a porta trancada do quarto.

Nico respirou fundo, alcançando o celular sobre o criado-mudo, discando o primeiro número da lista de chamadas de emergência.

— Acho que você perdeu sua filha essa noite. — Foi a saudação de Jason quando ele atendeu.

— Layla está bem? — Nico perguntou sem olhar para Thalia.

— Por que não estaria?

— Não, nada. Pode dizer pra ela que amanhã conversaremos?

— Aconteceu alguma coisa? — Jason franziu a testa, olhando para sobrinha que sorria timidamente ao seu lado, as mãozinhas apertadas atrás das costas, uma expressão de pura inocência.

— Depois te conto, mas não se preocupe. Pode cuidar dela essa noite?

— Claro. Você sabe que eu adoro cuidar da minha sobrinha favorita! — Nico sorriu diante do tom animado do cunhado. — É só isso?

— Hum… Mantenha ela longe dos chocolates de Will.

— Não prometo nada — Jason riu, planejando fazer justamente o contrário. —, mas você sabe que ele não se importa quando é ela. Só que quando sou eu, ele me faz ficar uma semana inteira amaldiçoado falando em rimas…

— Eu sei que Will daria um fábrica de chocolate para Layla. — Nico confirmou, pensando em como Will moveria céus e terras só pra ver a menininha sorrir. — Por isso estou confiando em você pra não deixar ele entupir minha filha de chocolate.

— Farei o possível.

— Obrigado, Jay.

Nico desligou o celular e lançou um olhar na direção da esposa, esperando um xingamento ou qualquer outro sinal de raiva por tê-los deixados presos ali, sendo que ele poderia muito bem ter dito para Jason destrancá-los.

Thalia estava parada em frente ao guarda-roupa com as portas abertas, a procura de um pijama que não revelasse demais. Contudo, quando Nico desligou o celular, ela contou até dez várias vezes, batendo a porta do guarda-roupa e decidindo dormir com a roupa que estava: jeans e camiseta, mesmo que a calça e o sutiã a machucasse. Ela se enfiou debaixo dos cobertores, virada para o lado oposto ao marido, fechando os olhos com força.

— Achei que “dormir de calça jeans” era apenas uma expressão. — Nico a provocou, sentando-se na cama ao lado da esposa. Ela apenas suspirou e apertou as cobertas contra si. — O que vai ser agora? Vai me colocar pra dormir no sofá?!

Thalia levantou-se de uma vez, indo em direção a porta. Primeiro tentou abrir a maçaneta, mas, encontrando resistência, começou a empurrar e chutar a porta, como que para arrombá-la.

Nico pulou da cama, indo o mais rápido possível em direção a esposa, que batia na porta extravasando o que sentia. Felizmente, o apartamento era projetado para semideuses, o que significava que as portas e paredes possuíam uma resistência mais eficaz que o comum.

— Thalia! — Nico chamou, com receio de tocá-la. —Thalia! Para! Calma!

Pediu, nervoso. Aos poucos ela foi diminuindo a força e a velocidade, até parar com os punhos na porta, assim como a cabeça escorada ali, a face escondida pela cascata de cabelos negros. Nico aguardou alguns segundos, até ter certeza de que ela não o acertaria, e então a segurou pelos braços gentilmente, seu corpo colado ao dela de costas, a boca bem perto do ouvido da morena.

— Lia. — Chamou em um tom baixo, a apertando contra si. Ele esperou que ela conseguisse normalizar a respiração, para soltar-lhe os braços, mas manteve-se próximo. A Filha de Zeus virou-se para ele, mantendo a cabeça baixa.

Ele a tocou suavemente no pulso, ignorando a descarga elétrica que fazia sua frequência cardíaca acelerar, e segurou a mão dela na altura do coração.

— Thalia, — A voz do Di Angelo soou baixa, deslizando o dedo sobre a mão, um carinho que buscava acalmá-la. — Por favor, fale comigo.
    A garota mordeu o lábio inferior nervosa, questionando-se se teria “psicológico o suficiente” para aguentar aquela discussão, e só ergueu o rosto quando os dedos ásperos dele a tocaram no queixo.
    Nico mais uma vez se impressionou na maneira como os olhos de Thalia eram de um azul surpreendente, como se houvessem cargas elétricas (ele não se surpreenderia houvessem raios ali) e em como ele nunca aprendia a captar os sinais sutis dela. Mesmo depois de tantos anos, ele tinha dificuldade de distinguir quando Thalia estava com raiva e quando estava magoada.
    Ele acabara de perceber que, mais uma vez, se enganara: Thalia não estava com raiva dele, não o estava evitando por rancor, mas porque estava machucada.
    — Lia, — Ele sussurrou com a voz trêmula, sentindo-se o pior dos homens. A morena o encarava nos olhos, apertando os lábios, e, quando ele soltou seu pulso para tocar-lhe na face, ela deixou o braço cair e virou o rosto, fechando os olhos para esconder os machucados da alma. – Lia, meu amor, fale comigo.
    Ele pediu suavemente, acariciando-a na lateral do rosto, com toda a paciência do mundo.
    — Pra que? — Ele ouviu a voz de Thalia soar seca e baixa, a sentiu como uma faca que lhe cortava o coração. — Pra que vou falar novamente se você sempre faz o mesmo?
    — O que aconteceu? — Ele perguntou confuso, tentando pensar em qualquer ofensa que poderia deixá-la tão magoada. Sinceramente, ele não se lembrava de nada que pudesse ter feito para ela se afastar dele por duas semanas. — O que eu fiz?
    Thalia engoliu em seco e o tocou no peito. Mesmo que não pudesse sentir sobre a camiseta de malha filha todas as cicatriz que ele possuía, bastava fechar os olhos para vê-las em sua mente, como as marcas que ele trazia da luta com Lícaon, ou a cicatriz que ele possuía sobre o coração, de diâmetro similar a outra nas costas em um ponto paralelo.

A Filha de Zeus percorreu os dedos pelo tórax do marido, ela deveria conseguir sentir a pele dele quente por baixo do tecido fino, mas havia mais camadas de pano por baixo da camisa no ponto pouco abaixo das costelas e, quando ela apertou suavemente, Nico fez uma careta de dor, rangendo os dentes para evitar uma exclamação.
    — Isso? — Perguntou, com a voz baixa. — Por isso está triste? Por que eu me machuquei?
    — Porque você quase morreu. — Ela retrucou, respirando fundo, sem conseguir olhá-lo nos olhos.

— Você não pode estar com raiva de mim por isso...

— Achei que tivéssemos concordado com isso: — Thalia continuou, ignorando o comentário dele. Os olhos azuis agora o encaravam sérios, mantendo uma expressão quase raivosa. — se fossemos atacados, iríamos deixar nossa filha em segurança e depois lutaríamos juntos.

Nico mordeu o lábio, lembrando-se do episódio que aconteceu há duas semanas, quando a família deixava o Acampamento Meio-Sangue para ir pra casa.

— Mas o que você fez?! — Thalia continuo, a voz começando a tomar um tom embargado, com vontade de chorar diante das terríveis memórias. — Me deixou segurando Layla enquanto ela gritava e esperneava. Me deixou vendo você lutar sozinho, abusando das sombras como Will disse mil vezes pra você não fazer. Você lutou sozinho com uma quimera, Nico.

— Eu já tinha usado muito do meu poder, — Ele se justificou com um gosto amargo na boca. — se saísse dali, não ia conseguir voltar.
    — E então lutou com o resto de energia?! — Thalia falou sarcástica, pensando em como aprendera na pele porque Will Solace sempre foi extremamente metódico sobre o Di Angelo usar os poderes. — Eu vi você quase sumir nas sombras, Nico. Eu vi você ser atingido e quase morrer. — Ela respirou fundo, tentando suprir a dor que surgia no seu peito como se estivesse revivendo a cena. — Eu tive que segurar nossa filha pra ela não te ver se afogando em sangue, tive que segurá-la e gritar por ajuda até Will aparecer. Como acha que eu me senti?
    — Eu só queria vocês duas seguras, Lia…
    — Eu não suporto te perder, Nico. — Thalia soluçou, percebendo que estava chorando. Ela odiava chorar. — Eu não suportaria viver sem você. Nem eu, nem Layla.
    — Lia… — Ele tentou abraçá-la, mas Thalia o parou com suas palavras:

— Não me diga que vai mudar, porque você sempre faz isso. Você nunca muda.
    – Eu sei, mia vita. — Ele falou suavemente, chamando-a pelo seu apelido favorito. Minha vida. Não havia um nome melhor para ele chamá-la. — Mas, entenda, eu também não consigo viver sem você. Io ti amo.

— Não adianta falar em italiano! — Ela reclamou e Nico soltou um pequeno riso, pensando em quantas vezes ele usou sua língua materna para conquistar um sorriso dela.

— Adianta sim. E você sabe muito bem disso.

    Por um segundo, a carranca de Thalia se desfez e ela se viu sorrir, antes de fechar a cara e revirar os olhos, uma mania roubada pelos anos de convivência.

— Odeio quando você faz isso. — Ela murmurou, apesar de não ser verdade.

— Não odeia não, você me ama. — Nico abriu o sorriso pelo qual Thalia se apaixonou, os dedos passando pelas bochechas dela, secando-lhe as lágrimas. — Me ama, me ama e me ama. — Ele cantarolou a abraçando, mesmo que ela permanecesse de braços cruzados.

— Já disse que você é irritante?

— Uma infinidade de vezes. E sempre significa “eu amo você”.

— Convencido? Nem um pouco. — Ela revirou novamente os olhos, apesar de concordar plenamente.

— Uma das poucas coisas que eu tenho certeza na vida, é que amo você. Se eu não tiver esperanças que você sinta o mesmo, que seja um pouquinho, não tem porque não ceder a loucura.  

Ele falou em um tom baixo, olhando-a nos olhos. Thalia sentiu um arrepio diante as palavras dele, e não se afastou quando Nico aproximou seu rosto do dela, deixando um beijo leve em seus lábios, e outros pela face, até chegar na orelha.

— É difícil brigar com você quando você fala esse tipo de coisa. — Ela resmungou e Nico riu no seu ouvido.

— Então não brigue, mio amore. — Ele voltou seu rosto para o dela, deu-lhe um “selinho” nos lábios e encostou suas testas, de modo a fitá-la nos olhos. — Você sabe que eu faria tudo por você. Se quiser voltar pro Acampamento Meio Sangue e jamais deixar as barreiras, eu ficarei com você. Se quiser ir pra Nova Roma, sei que Hazel adoraria nos ter como vizinhos. Se quiser ir pra outra cidade, outro país, eu vou. Bom, desde que não seja na Albânia.

— Você nunca me conta da Albânia.

Nico riu, apesar de ainda se sentir constrangido ao lembrar do seu primeiro ponto de parada quando carregou a Athena Parthenus. O pouso no país fora terrível, e a história ainda era mantida em segredo por ele, Reyna e Hedger.

— Me desculpe, Thalia. Mas alguns segredos precisam ser mantidos para preservar um casamento.

Thalia revirou os olhos novamente, se dando por vencida e descruzando os braços, abraçando Nico pela cintura e descolando as testa, apoiando a cabeça no ombro dele.

— Eu sei que está chateada, Lia. — Ele falou suavemente, embalando-a nos braços. — Eu também estaria no seu lugar, eu nem consigo imaginar como deve ter disso ruim. Mas eu amo você, e amo Layla também, e não vou me desculpar por me arriscar a salvar a vida de vocês duas. Você teria feito diferente se estivesse no meu lugar? Se Layla estivesse no meu colo, não seria você quem iria lutar sozinha?

— Acha que eu não conseguiria? — Ela perguntou, apesar de já saber a resposta.

— É claro que conseguiria, Lia. Eu conheço sua coragem e sua força, por isso sei que você entende o meu lado. Eu sei que ficou assustada, mas eu estou aqui, em carne e osso, te abraçando e louco pra te beijar. Qual o sentido de me punir por isso tudo?

Thalia não respondeu, apenas o apertou mais no abraço. Eles eram um casal estranho: Primeiro haviam aprendido a se beijar, só depois sobre o que um abraço pode fazer por você.

— Que tal fazermos assim? — Nico sugeriu, apesar de seu coração doer naquela possibilidade. — Se isso acontecer novamente, se não houver como colocar a Lay em segurança, eu prometo que deixo você lutar. Posso até jurar pelo Estige.

— Não jure. — Thalia ralhou. — Foi por ficar ensinando sobre juramentos sagrados que acabamos presos aqui. Layla já aprendeu demais pro meu gosto.

Nico riu do tom que Thalia usou, a apertando mais, antes de afastar seu rosto e a fitá-la nos olhos.

— Além do mais, — A morena disse. — Acho que não estarei em condição de fazer isso pelo próximo ano.

— Por que?

— Nada. — Ela balançou a cabeça com um sorriso, pensando em como os filhos dos três grandes poderiam ser tão tolos.

— Eu amo você. — Nico disse do nada, com a expressão séria, e Thalia se viu sorrir e aproximar-se para beijá-lo, de forma lenta e suave. — Sempre vou amar, — Sussurrou entre beijos, suas mãos deslizando pelas costas dela. —  sempre vou voltar pra você e por você. Nem o mundo inferior pode me impedir de estar com você. E você sabe disso, Thalia Grace-Di Angelo.


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Notas finais do capítulo

Oi gente!
Essa semana, por conta da minha prova de cálculo, não deu pra escrever o capítulo de EMNSC (e, admito, estou com bloqueio criativo pra escrever as cenas), nem responder os comentários. Mas que tal um pouco de drama?
Provavelmente, Simplesmente só terá mais uns dois capítulos (se não menos) e no próximo prometo que vai estar bem amorzinho ♥
Enfim, eu realmente adoraria saber o que acharam!
E se você não sabe o que é o Team Pipopinha, me mande uma MP que te explico!
Enfim, nos vemos nos comentários?
Beijinhoskisskiss!