Six Feet Under escrita por Kaya Levesque


Capítulo 6
Crossroads


Notas iniciais do capítulo

Olá! Primeiramente, quero agradecer Catastrophe (melhor nome) e Julia Martins por comentarem no capítulo 5, muito obrigada, meninas!!! ♡
Este capítulo está saíndo um dia mais cedo por uma razão especial: a fic está com 41 leitores!!!! Eu fiquei pretérita quando vi, muito obrigada!! O único problema é que não faz sentido uma fic com 41 acompanhamentos e 12 comentários, né? Só pra reforçar, reviews são importantes porque me dão um ânimo a mais pra escrever, ok? Eu aceito os curtinhos também acho que o que importa é demonstrar que gosta da história.
Sem mais delongas, boa leitura!



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Daisy estava começando a perder a sensibilidade nas panturrilhas; a boa notícia era que logo não sentiria mais aquela queimação horrorosa ao andar. Seu taco balançava de um lado para o outro de onde estava, preso num puxador de seu jeans, se movendo no ritmo dos passos da ruiva enquanto ela caminhava bem atrás de Eugene e Tara, seguida por Abraham e Rosita, enquanto Glenn tomara a dianteira do grupo, como sempre. O Sol estava subindo à esquerda dos seis enquanto eles ouviam Porter tagarelar sobre dinossauros e videogames com Chambler, que parecia mortalmente desinteressada.

Com aquele que estava começando, fechavam-se quatro dias de estrada direto. O inverno chegara, e todo agora andavam bem agasalhados, à exceção de Daisy, que se mantinha aquecida apenas com a caminhada constante. Ela cedera seu suéter a Rosita e deixava o casaco amarrado a cintura para usá-lo somente durante a noite, numa tentativa de impedir os mosquitos de sugarem todo o sangue em seu corpo.

Menos de dois dias antes, haviam achado uma placa marcando o caminho para um lugar chamado Terminus, uma teia de trilhos de trem que se ligavam em rotas, todas indo dar lá. “Santuário para todos, comunidade para todos”, dizia o letreiro. “Aqueles que chegam, sobrevivem.” De pronto, Daisy começou a imaginar o que era aquele lugar. Ela já vivenciara o que seria uma comunidade no meio daquele caos, com um líder e diversas pessoas desempenhando diversos papéis para que tudo funcionasse. Na base que fora sua casa por um período considerável de tempo, seu pai atuava como guarda, enquanto sua mãe ensinava aos mais inexperientes a se defenderem. A russa tentou, mas não conseguiu parar de pensar: será que eles teriam algo assim no Terminus?

O grupo, por fim, decidira ir naquela direção. Eles se mantinham perto dos trilhos, supondo que seria um caminho seguro para se seguir, e dormiam por ali mesmo, aninhados à ferrovia. Abraham e Glenn pareciam terem chegado a um entendimento silencioso de que não tornariam a tentar se matar, o que foi bom, principalmente para o asiático, que ainda estava se recuperando; e Eugene começara a importunar Tara com seus falatórios incessantes sobre coisas totalmente aleatórias, mantendo quase um monólogo, pois Chambler respondia apenas com murmúrios e acenos de cabeça.

— Eu sou um sujeito meio regular — dizia Porter para a morena. O grupo voltara aos trilhos naquela manhã, e Daisy andava de cabeça baixa ao lado de Abraham, dividindo sua atenção nas bolsas e no rifle pesado que carregava, além dos próprios passos. — Se me ajudar a achar essas coisas, podemos dividir a bateria e qualquer energia que consigamos. Fechado?

Mas Tara não respondeu. Moore a ouviu acelerar o passo e pensou se a mulher estaria finalmente fugindo do cientista. Ela ergueu os olhos, porém o que viu foi ainda mais impressionante.

“Glenn, vá para o Terminus. Maggie, Sasha, Bob.”

Fora escrito em cima de um dos mapas, com algo que parecia sangue seco. Tara olhou para o asiático, que encarou as letras por alguns instantes antes de começar a correr pelos trilhos. Rosita e Abraham se entreolharam, mas Daisy não conseguiu tirar os olhos da mensagem por vários minutos até dar um pequeno sorriso, surpresa. Glenn estava certo em continuar a procurá-la, afinal.

— Vamos — ela chamou os outros. Logo, os cinco estavam indo para onde o mapa apontava ser a direção que a esposa de Glenn seguira.

Eles não o alcançaram por mais uma meia hora, quando o rapaz finalmente desistiu de correr e voltou a andar na velocidade normal; antes disso, porém, tudo o que podiam ver era uma silhueta de armadura movendo-se constantemente na mesma direção. Mesmo no final do grupo, Daisy pôde notar que ele caminhava olhando de um lado para o outro, como se esperasse que Maggie fosse saltar de trás de uma das árvores altas que ladeavam a estrada gritando “surpresa!”.

A menina percebeu que Eugene finalmente calara a boca e agora caminhava sozinho no meio do grupo parecendo pensativo. Ela se aproximou, apertando o passo até estar lado a lado com ele.

— Você viu? — perguntou, animada. — O outro mapa?

— Pode crer que sim — respondeu o homem.

— E o que você achou?

Eugene ergueu uma sobrancelha, olhando-a com certa desconfiança.

— Por que a pergunta?

— Porque você é a pessoa mais inteligente que eu conheço — rebateu Daisy, impaciente. Porter a olhou, ligeiramente admirado, e então tornou a encarar os trilhos que se estendiam à frente.

— Acho que a ideia de recriar civilização no meio do surto é muito fascinante — respondeu ele, após refletir por alguns instantes. — Imagino no que essa sociedade seria baseada... afinal, não é esperto ter uma moeda, já que nós sabemos agora o estrago que dinheiro pode causar. Imagino que escambo seria uma opção útil, mas isso, claro, dependeria do tamanho do lugar. E segurança também é um tópico importante, suponho então que esse Terminus deva ser cercado e cheio de guardas...

— Você acha que é uma boa ideia ir para lá, então? — questionou Moore, interessada na conversa de Eugene como raramente acontecia. Ele hesitou antes de responder.

— Acho — disse, por fim.

— Pode ser um lugar onde um novo começo nos espera.

— Depois de Washington? — indagou a ruiva.

— Depois de Washington — concordou Porter, muito sério. — Imagino que consegui convencer você sobre a natureza de nossa missão, Ginger?

Daisy sorriu sem graça, mas balançou a cabeça, assentindo.

— Foi — respondeu. Achando que talvez não fosse o suficiente, a menina decidiu acrescentar: — É bom voltar a acreditar em algo.

Eugene a olhou e então sorriu, um gesto que combinou mais com seu rosto do que o esperado, mesmo que parecesse um pouco triste. O grupo agora se aproximava de uma construção estranha a Moore, que podia ser um posto de vigia noturna ou uma caixa d'água gigante; a russa não saberia dizer. Estava com a pintura totalmente desgastada, se é que um dia tivera uma, e fora vandalizada, tendo pichações de cima a baixo com letras garrafais e mãos fazendo gestos obcenos. Glenn passou direto, caminhando a passos largos como se estivesse tentando andar em areia movediça, mas Abraham o impediu de que se afastasse mais.

— Espere aí! — gritou, sobressaltando inclusive Daisy, que estava muito próxima do sargento. Ele começou a dobrar em direção à construção, sendo seguido por Rosita, Eugene e Tara, enquanto Glenn voltava alguns passos.

— Vamos parar aqui. Cansado é lento; lento é morto.

O rapaz olhou para o céu parecendo querer se localizar e então voltou-se para Ford.

— Mas não é nem meio-dia ainda — argumentou.

— E eu não podia ligar menos pra isso — retrucou Abraham, exasperado. — Nenhum de nós dormiu mais que algumas horas direto desde que demos uma de Casey Jones. Vamos ficar aqui e descansar.

Ao ver a expressão exasperada de Glenn, o ruivo respirou fundo.

— Olhe, eu entendo que você precisa encontrá-la — disse. — Bom, Rosita, Ginger e eu, nós temos uma missão também — ele indicou Eugene. — Levar esse homem pra Washington e salvar a porra do mundo todo! Portanto, vamos subir nessa torre, e vamos subir agora!

Entretanto, naquele momento, todos ouviram um som que bem conheciam: o som dos mordedores. Daisy olhou ao redor, preocupada, buscando a fonte do barulho, e arregalou os olhos ao ouvir Eugene murmurar:

— Ah, merda.

— Ei, cuidado! — exclamou Glenn, correndo em direção aos outros, ao mesmo tempo que Abraham se jogava contra Porter.

— Vai! — mandou, empurrando o cientista em cima de Tara, que caiu no chão.

A menina olhou para cima bem a tempo de ver um mordedor despencar da torre com tudo e se espatifar no chão à sua frente; quando ela tentou se afastar do cadáver, assustada, tropeçou nos trilhos e teve de ser amparada por Rosita. Espinosa segurou seu cotovelo por mais alguns segundos até ter certeza de que estava firme no chão antes de se virar para Tara, que agarrava o joelho com uma careta.

— Você está bem? — perguntou, preocupada.

— Estou — garantiu Chambler, muito embora seu tom de voz sugerisse exatamente o contrário; Espinosa notou a mesma coisa.

— Precisamos ficar aqui, quem é que vai me ajudar a levá-la pra cima? — perguntou.

Levá-la pra cima? — repetiu Daisy num tom agudo. — Foi um mordedor que acabou de cair dali, parceira.

Glenn avançou para Tara, ajudando-a a se pôr de pé e a olhando com preocupação.

— Tudo bem? — perguntou.

— Sim — respondeu a morena, ofegante.

— Tem certeza? — insistiu ele. — Quer parar ou continuar?

— Continuar — assegurou Chambler. — Estou bem.

Glenn então virou-se para Abraham, olhando-o resignado.

— Se ela consegue, nós conseguimos — disse. — Ou... vocês podem ficar aqui. Tudo bem, não precisamos uns dos outros, eu entendo.

— Nossa — comentou Rosita. — Você é um cretino. Ela — a hispânica indicou Tara, que olhou para os próprios pés parecendo constrangida — vai fazer o que quer que você diga, só porque acha que te deve uma. Só fique aqui por algumas horas, qual o problema?

O asiático nem mesmo pareceu refletir sobre o assunto. Aparentemente, perder o tempo que ele poderia usar procurando por sua esposa era algo fora de cogitação, porque Glenn se virou para Abraham quase que em seguida.

— Você só quer saber de manter Eugene seguro, não é? — perguntou. — Então vamos fazer um acordo: eu dou meu traje de proteção pra ele, e nós seguimos até o pôr do Sol; todo mundo ganha, que tal?

— Todo mundo ganha menos ela — reclamou Rosita, referindo-se Chambler.

— Você não é mãe dela — cortou Abraham. — Se ela diz que pode andar, é porque pode andar. — Ele voltou-se para Glenn, e então assentiu. — Fechado.

 

● ● ●

 

Cerca de uma hora depois, eles haviam voltado a se mover e acabaram cobrindo uma distância considerável nesse período. Daisy se mantivera ao lado de Tara durante o tempo inteiro, preocupada que a mulher escorregasse no chão cheio de folhas em decomposição com sua perna machucada, ajudando-a ocasionalmente. Ninguém se preocupou em conversar durante o trajeto, mas Moore podia praticamente sentir a animação de Glenn à medida que avançavam; o rapaz continuava olhando em volta, porém com mais vontade agora, e parecia bem mais alegre, talvez porque estavam seguindo em frente até o anoitecer.

Após muito andar pelas mesmas paisagens de folhas secas e ar cinzento, os seis finalmente alcançaram um túnel de aparência assustadora, com barrancos de terra vermelha em ambos os lados e uma vegetação pesada cor de esmeralda crescendo por cima. Todas as árvores e arbustos ali eram completamente verdes e não tinham o aspecto pálido das que já haviam passado.

Glenn tornou a correr e foi direto para uma das paredes, onde outra pichação de Maggie e quem quer que fossem Sasha e Bob o esperava. Ele tocou as palavras e se virou, animado.

— Estamos alcançando-os — informou. — Ainda está molhado.

À frente de Daisy, Abraham parou de caminhar e examinou o ambiente com os olhos apertados.

— Com certeza não dá pra passar por cima — disse. — Que tal contornar?

Glenn, que continuava parado à beira do túnel, balançou a cabeça negativamente.

— Não — respondeu. — Vai demorar um dia, talvez mais. Se Maggie foi por dentro, eu vou por dentro. Estamos perto.

— Cale a boca por um momento — pediu Ford educadamente. Assim, todos puderam ouvir o barulho que emanava daquele espaço escuro, que era o som inconfundível de vários mordedores reunidos. — Este aí é um túnel longo e escuro cheio de cadáveres reanimados, e eu não tenho certeza de que consigo passar Eugene pro outro lado vivo. Eu recomendaria o retorno e apostar na segurança, mas sei que você não vai fazer isso, então... creio que é aqui que nos separamos.

Moore sentiu seu estômago afundar, desapontada. Parte dela pensava que, se conseguissem encontrar a esposa de Glenn, talvez todos acabassem num grupo só; aparentemente, aquilo não aconteceria. Abraham se aproximou do asiático, tirando a mochila pesada das costas e começando a remexer nela.

— Sinto muito — continuou. — Você está sozinho.

— Não, não está — contrariou Tara, indo ficar ao lado do rapaz, que lhe sorriu.

Da bolsa, Ford tirou uma lanterna e duas latas de comida, estendo-as em direção a Glenn, que balançou a cabeça.

— Não posso aceitar — disse após pegar a lanterna. — São suas, vocês precisam para a viagem.

— Vocês também — argumentou o sargento.

Tara pegou as latas de qualquer forma, fazendo com que o asiático assentisse. Abraham devolveu sua mochila ao ombro e sorriu amigavelmente para Glenn, que devolveu o gesto.

— Sinto muito por ter batido na sua cara — pediu.

— Desculpas aceitas — intrometeu-se Daisy falando com seriedade, mesmo sabendo que o rapaz não se referia a ela. Abraham riu.

— Eu não sinto — disse, dando de ombros. — Gosto de brigar.

Ele se afastou, ao passo que Rosita deu alguns passos à frente para abraçar a dupla.

— Boa sorte — desejou ela a Glenn. — Tente não ser um cretino muito grande.

E então foi a vez de Daisy, que começou a ficar seriamente triste com a partida dos dois. Não estavam juntos há muito tempo, mas ela era humana afinal de contas, e humanos são criaturas que se apegam.

— Não sou muito fã de despedidas — informou —, então vou tratar isso aqui como um “até logo”. Ah, e caso você e Maggie um dia cheguem a ter uma filha — acrescentou, sorrindo travessamente. — Deviam seriamente pensar em chamá-la de Ginger.

Glenn soltou uma risada curta e assentiu positivamente.

— Vou dizer isso a ela — prometeu.

Ela se afastou, indo então se colocar ao lado de Abraham e Eugene, que ficara de olhos baixos durante todo aquele tempo, ergueu a cabeça.

— Vocês dois são boas pessoas — disse. Ele se calou por alguns instantes como se estivesse pensando sobre o que diria a seguir. — Eu tenho que falar, Tara, você é seriamente gostosa.

Daisy disfarçou uma crise de riso com um acesso de tosse falso e percebeu que Glenn olhara para o outro lado tentando esconder seu sorriso.

— É — disse Chambler. — Eu gosto de garotas.

— Eu sei muito bem disso — respondeu Porter.

A tosse não funcionava mais, então a ruiva apenas parou de fingir e passou a tentar rir em silêncio enquanto seguia Rosita para o caminho por onde vieram.

— Se encontrarem problemas aí, voltem — recomendou Abraham. — Estamos indo para a primeira estrada que cruzamos, talvez você nos achem antes de acharmos o veículo certo.

Moore se virou a tempo de ver Glenn assentir.

— Obrigado.

Ela lhe lançou um último sorriso e então começou a seguir o sargento, que já se afastava. Antes de se virar, porém, teve o vislumbre do asiático e sua companheira de costas para o quarteto, encarando a escuridão que se estendia no túnel à sua frente.

— Acha que eles estarão seguros lá? — indagou a garota a Eugene quando já haviam tomado uma distância considerável. — No Terminus?

— Provavelmente — respondeu o homem.

— Eu acho — comentou a russa, sinceramente. — Talvez eles possam ficar por lá até você curar essa coisa. Quer dizer, pode acontecer, não pode?

Porter assentiu, sério, porém não disse mais nada. No entanto, Daisy continuou pensando no assunto. Talvez fosse possível que, depois de fazerem o que quer que o cientista teria de fazer para acabar com a epidemia, pudessem voltar à Geórgia e encontrar Glenn e Maggie naquela comunidade, cercados de pessoas das quais gostavam, até mesmo prestes a começarem uma família; era um pensamento reconfortante.

Os quatro levaram um tempo relativamente curto para chegarem até a primeira estrada, e tiveram a sorte de cruzar com poucos mordedores no caminho; os que se aventuravam a aparecer eram rapidamente eliminados por Abraham, privando Moore de estrear seu novo taco. Ao alcançarem seu destino, deram de cara com diversas placas sinalizando para qualquer veículo que porventura passasse que era preciso tomar cuidado, uma vez que linha férrea estava instalada ali e o trem passava regularmente.

Seguiram pela esquerda no cruzamento, parando ao finalmente encontrarem três carros abandonados bloqueando a passagem.

— Ginger, estou deixando Eugene com você — informou Abraham, indo em direção ao primeiro veículo.

— Achei que não fosse deixar a vida dele em minhas mãos — comentou a garota. Ford sorriu.

— É, mas eu e Rosita estamos aqui perto.

Daisy rolou os olhos e sacou seu taco, observando enquanto o ruivo e a hispânica vasculhavam os dois primeiros carros, sem encontrarem nada que valesse à pena. Eugene, porém, sentou-se no banco do carona do segundo, provavelmente querendo descansar por causa das longas caminhadas, enquanto Moore se acomodou no capô.

— Acho que devíamos ficar com a perua — comentou ela para Ford. O homem assentiu, concordando e avançou em direção à van. Ele esticou a mão para abrir a maçaneta quando um som dentro do carro o sobressaltou, fazendo-o recuar. Havia um andarilho preso e a russa franziu o nariz apenas de imaginar como estaria o cheiro dentro do veículo.

— Vocês estão com ele? — perguntou o homem, referindo-se a Eugene. — Então eu cuido dela.

O sargento eliminou o mordedor rapidamente, puxando seu corpo para fora com aspereza e sentou-se no banco do motorista, ligando o carro e abrindo as janelas. Daisy se aproximou com Eugene e Rosita.

— Precisaremos ventilar isso aqui — comentou Abraham.

— Bom, nos dará tempo de decidir como voltaremos à trilha — disse Rosita. Ela tirou a mochila das costas e de lá sacou um mapa, que Eugene tentou tirar de sua mão. — Não, de jeito nenhum.

— Eu sou o navegador — contrariou Porter.

— Então aprenda a navegar — disse Espinosa. — Lembra-se do Thompson?

— Quem é Thompson? — indagou Daisy, sendo ignorada.

— Estou formalmente pedindo uma segunda chance nisso — falou Eugene. — Viemos de Houston ao norte da Geórgia sem incidentes.

— Não sem incidentes — disse Abraham.

— Incidentes mínimos — reformulou Porter. — Pelo menos no que diz respeito a navegação. Por favor? — pediu ele, ao ver a expressão indisposta no rosto de Rosita.

— Não consigo aceitar que você seria a navegadora escolhida em detrimento de um filho do Sul, que já negociou com sucesso as vitórias e derrotas de várias jornadas, tanto virtuais quanto reais.

Daisy franziu a testa, sem realmente entender do que Eugene estava falando, mas Rosita deu um pequeno sorriso.

— Tudo bem — disse. — Estamos indo pro Norte, entendeu?

O homem assentiu, pegando o mapa e começando a estudá-lo enquanto a hispânica se aproximava para conversar com Abraham. Moore se encostou no carro, de olho nas árvores, e foi a primeira a ver quando um mordedor que uma vez fora uma mulher baixinha de cabelos curtos saiu do meio das árvores, avançando lentamente em direção a eles.

— Eu pego ela — disse a garota.

Daisy caminhou de encontro ao cadáver, girando o bastão algumas vezes para dar algum efeito à tacada e bateu com tudo na cabeça da mulher, que desabou imediatamente, tendo um grande pedaço de seu crânio se desprendido. Uma poça de sangue começou a se formar ao redor da cabeça dela enquanto a ruiva lhe dava as costas, os rosto franzido com a mancha em seu taco.

— Bela tacada — elogiou Abraham à porta do carro.

— É o que me dizem — respondeu Moore, sacando o trapo que usara para secar o sangue de seu queixo e esfregando a ponta do bastão.

— Tudo bem, já sei — disse Eugene. — Podemos ir.

— Ótimo — comemorou Ford, indo para o banco do motorista.

— Acho que você devia descansar — sugeriu Porter para o homem ruivo. — E deixar a srta. Espinosa no volante. Não seria bonito caso dormisse na direção.

O sargento refletiu por alguns instantes, mas assentiu por fim e fez sinal para que Rosita se aproximasse. Daisy deu a volta neles sem ouvir sua conversa e entrou no carro, franzindo o rosto numa careta de nojo logo em seguida; se túmulos pudessem vomitar, aquele definitivamente seria o cheiro.

A garota se acomodou no fundo da perua, enquanto Abraham deitou-se no banco à sua frente e Rosita e Eugene foram para o banco do motorista e carona, respectivamente. Moore abriu todas as janelas em seu alcance e tratou de enfiar o nariz na mais próxima, tentando não pensar no odor infeliz que impregnava o veículo.

— Isso não pode ser bom — disse Porter, olhando-a pelo espelho retrovisor. — Se deixarmos as janelas fechadas, otimizaremos nosso tempo, e, consequentemente, economizaremos gasolina.

Daisy o olhou com raiva, gesto repetido por Rosita, enquanto Abraham parecia já estar ferrado no sono.

— Eu não entendi direito o que você falou, mas de jeito nenhum eu vou fechar essas janelas — disse a menina.

O cientista deu de ombros e Rosita fechou sua porta, ligando o carro em seguida. Eugene a orientou por vários minutos, mas as palavras exatas não foram ouvidas por Moore, que estava muito concentrada em não respirar o ar dentro do carro. O vento em seus ouvidos a impedia de escutar o que Porter e Espinosa conversavam na frente, mas ela soube que havia algo errado quando dobraram à esquerda pela segunda vez.

— Onde estamos indo? — perguntou ela, imaginando se estariam procurando algum lugar para passar a noite. Faria sentido, se não estivesse tão cedo, uma vez que o Sol nem mesmo se pusera ainda.

— Segundo Eugene, para Washington — respondeu Rosita, soando muito zangada.

— Vire à esquerda aqui — orientou o homem. A hispânica balançou a cabeça.

— Essa é a terceira virada à esquerda que fazemos nos últimos cinco minutos — informou ela. — Você está perdido.

— Não estou — contrariou Porter. — Vire à esquerda.

— Se estiver perdido, só me diga — pediu a mulher. — A gasolina é mais valiosa que seu ego.

— Se quer falar sobre economia de combustível... — começou Eugene, sendo interrompido por Daisy.

— Se quiser sentir cheiro de cadáver daqui até Washington, esteja à vontade — disse ela. — Só não me arraste junto com você.

Não vamos fechar as janelas — enfatizou Rosita.

— Pare a van! — mandou Eugene em voz alta.

Espinosa parou e Moore olhou em volta, franzindo a testa ao constatar que estavam em um trecho da ferrovia diferente do qual haviam passado antes.

— Por que estamos parados? — perguntou Rosita, exasperada. Ela balançou a cabeça, olhando por sua janela e murmurou alguma coisa em espanhol. — Seu mentiroso! — explodiu para Eugene.

— Não — contrariou o homem.

— Ah, então esse não era o seu plano? — perguntou ela. — O motivo de você ter insistido em navegar e dito a ele para ir dormir?

— Não, eu nunca falei que não era — disse Eugene. — Que tal você retirar a calúnia e ficamos quites?

— Por que nós paramos aqui? — perguntou Daisy, inclinando-se no banco onde Abraham continuava dormindo. Ela não queria nem pensar na reação dele quando acordasse e visse onde estavam.

— Se Glenn e Tara continuassem andando numa velocidade de 5 milhas por hora e não houvesse nenhum atraso significativo em sua rota, eles estariam por aqui — respondeu Porter.

— Aqueles dois não são a prioridade — ralhou Rosita, cada vez mais zangada. — A única prioridade é te levar pra Washington.

— Depois que eu salvar o mundo, ainda terei que viver com minha consciência — declarou Eugene. — Não vou deixá-los para trás.

Ele começou a preparar para sair, mas o banco velho acabou esticando-se para trás e chocou-se contra o rosto de Ford, que gritou um palavrão, bateu com os pés contra a janela oposta e se sentou olhando de um lado para o outro, confuso.

— Por que foi que nós paramos?

— Se eles saíram daquele túnel, estariam em algum lugar por aqui — explicou Porter.

Então, para a confusão de Daisy, Abraham virou-se para Rosita.

— É brincadeira, não é? — perguntou. — Qual é o seu problema?

— O meu problema? — repetiu ela.

— É você que está no banco do motorista, foi você quem freou o carro!

Moore se recostou no banco, balançando a cabeça com plena consciência de que aquilo muito provavelmente causaria uma briga generalizada na qual ela preferia não tomar partido.

O gritos zangados de Ford e Espinosa tornaram-se cada vez mais altos até que foram interrompidos por um brado mais alto ainda de Eugene:

— Pessoal!

O quê?! — perguntaram os dois ao mesmo tempo.

Porter olhava para algo além de sua janela, que logo prendeu a vista da hispânica e do sargento também. Daisy ficou com medo de imediato; e se fosse uma horda que vinha em sua direção? Ela se inclinou por cima do banco, apoiando-se com as mãos em busca do que surpreendera seus companheiros, mas o que viu não era nada do que esperava.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Tivemos várias cenas da série nesse capítulo, e você já sabem o que vem no próximo, certo? Ah, e pras fãs de plantão do sr. Grimes, ele está próximo!
Por favor, não se esqueçam de comentar! Beijinhos e até o próximo capítulo! ♥