Six Feet Under escrita por Kaya Levesque


Capítulo 10
Black Water Lilies


Notas iniciais do capítulo

Oi gente, que saudade rs.
Olha, não sei nem por onde começar isso aqui, mas desculpa mesmo pela demora. Esse ano foi bem louco e é isso, espero de verdade que todos vocês me perdoem. Um agradecimento especial às mensagens que eu recebi, porque todos os elogios, incentivos e ameaças de morte foram essenciais pra esse capítulo sair.
Quero pedir desculpa caso haja algum erro, minha escrita tá meio enferrujada e eu não pedi pra ninguém betar isso aqui mas depois vou revisar direitinho.
Quem foi no meu perfil e viu a mensagem que eu deixei lá, peço desculpas pelo susto, mas foi uma maneira que eu achei de não deixar geral nervoso com a demora. Feliz Natal, feliz ano novo, feliz oitava temporada e é isso aí, boa leitura.



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Daisy abriu os olhos e encarou o rosto acima de si para ver uma mulher de cabelos curtos avermelhados. Ela possuía um tom estranho de marrom em seu rosto, e seus olhos azuis e pescoço branco indicavam que aquela não era a cor verdadeira de sua pele. A desconhecida observava Moore com um semblante que misturava preocupação e desconfiança.

— Vamos — chamou a mulher novamente. — Levante-se.

— Não consigo — balbuciou Daisy fracamente.

A estranha pareceu só então perceber que a russa encontrava-se num estado mais sério do que pensava. Ela suspirou pesadamente, esquadrinhando o ambiente a sua volta, antes de colocar a arma de aparência cruel e familiar que portava no chão e começar a examinar os ferimentos da garota.

— O que está fazendo? — perguntou Moore, sentindo os nós da armadura que a protegera dos mordedores sendo desatados, e suas peças, retiradas. Por um momento, ela temeu que a mulher fosse roubá-la e deixá-la para morrer sozinha.

— Estou te ajudando — respondeu a outra, impaciente. — Vou levá-la até meu amigo e cuidaremos de você.

— Por quê? — indagou a garota, sentindo lágrimas subirem até seus olhos. Ela pensou em como não era digna de ajuda após ter deixado todos para trás, sem considerar as consequências.

A mulher parou por um momento, olhando o rosto de Daisy com atenção. Por um momento, pareceu que ela enxergava outro alguém ali.

— Qual o seu nome? — questionou, ignorando a pergunta de Moore.

— Ginger — respondeu a garota, sem pensar. — Ginger Volkina.

Aquele, obviamente, não era seu nome real. Entretanto, quando ela nascera, sua mãe recusara-se terminantemente a deixar que a garota herdasse somente o nome de seu pai, então em sua certidão de nascimento, ela era Daisy Anya Volkina-Moore. Assim, sendo Volkina o sobrenome de sua mãe, Daisy decidiu adotá-lo para a ocasião.

— Belo nome — elogiou a mulher, examinando o cotovelo da garota ruiva ainda com desconfiança. — Sou Carol Peletier. E você… Está congelando.

Moore sentiu os olhos azuis de Peletier sobre si, pensando quão estranha seria para ela encontrar uma garota magricela e sozinha naquela situação. Entretanto, após alguns instantes ela parou de encará-la e pôs-se ao trabalho.

Logo o ferimento no cotovelo de Daisy ganhara um torniquete improvisado, feito com um pedaço de seu cinto, e o corte em sua bochecha foi limpo com um trapo velho. Já o sangramento em sua testa foi um pouco mais difícil de ser contido; após conseguir tal feito, a mulher levou vários minutos até achar um tecido grande o suficiente para ser enrolado ao redor da cabeça da garota, optando por fim em tirar a blusa verde de Moore por dentro do suéter.

Assim, Carol pegou sua arma e tudo que Daisy levara consigo ao sair do terminal e levantou-se, tomando as cargas para si. Depois, virou-se para a menina quase inconsciente no chão e levantou-a, ajudando-a a seguir em direção à floresta. Ao apoiar-se na mulher, a menina não pode deixar de notar o cheiro pútrido que o poncho trajado por Peletier exalava, digno de um mordedor.

— Eca — reclamou a menina. — Você está fedendo, parceira.

— Cale a boca e comece a caminhar, parceira — retrucou Carol.

Foi uma caminhada lenta, já que Moore mal movia suas pernas e Carol praticamente a carregava, mas elas conseguiram chegar às árvores sem atrair nenhum andarilho pelo caminho. Daisy sentia sua cabeça latejar, suas articulações queimarem e seu queixo tremer mais a cada passo que dava. O Sol, embora não tão forte, queimava cada centímetro de sua pele exposta, causando-lhe calafrios ocasionais. E o cheiro de Carol não era de nenhuma ajuda para sua náusea.

Quando Moore não aguentou mais, sua vista escureceu completamente, seus joelhos cederam e o vômito escorregou por sua garganta, caindo direto nas folhas mortas no chão. Um pano preto parecia ter coberto seus olhos, poupando-a de sua visão, mas a garota pôde sentir seu corpo fraco ser arrastado até que suas costas tocassem uma árvore.

Presa numa espécie de torpor, Daisy só abriu os olhos ao sentir um líquido entrando-lhe goela abaixo. A garota tossiu e piscou com força, tomando o cantil de Carol em suas mãos e bebendo mais água, sedenta. Ela supôs que devia ter passado vários minutos desacordada, pois viu que Peletier havia se livrado do poncho e da cor estranha em seu rosto e cabelos, revelando uma pele clara e fios grisalhos; com um estalo, a garota percebeu que aquilo na pele da mulher tratava-se de sangue de mordedor seco. Seu estômago revirou novamente e ela devolveu toda a água que bebera, estragando seu suéter novo.

— Meu Deus, garota! — exclamou Peletier, esquivando-se do jato que saiu da boca de Moore. — O que foi que fizeram com você?

— Eles atiraram em mim — respondeu Moore, num sussurro, após alguma hesitação. — E quando eu feri uma deles, me trancaram num freezer; queriam que eu congelasse lá…

Lágrimas caíram pelas bochechas sardentas da menina, abrindo caminho em meio à sujeira enquanto a verdade a atingia: eles a teriam matado congelada. Seu coração pararia de bater, seus membros necrosariam e logo ela seria somente mais um mordedor.

— Estamos chegando perto — disse Peletier, sem parecer saber como consolar a garota. — Vamos encontrar meu amigo e você vai ficar bem.

Nesse exato momento, ambas ouviram passos e vozes ao longe. Carol virou o rosto em direção ao som, ao mesmo tempo em que Daisy cravou os olhos molhados na bolsa com munição na qual vira a mulher grisalha guardar sua Glock.

— Eu vou ver o que foi isso — anunciou Peletier em voz baixa. Ela abriu a bolsa que a garota encarava e retirou sua arma, estendendo-a para a ruiva. — Você fica aqui e me espera…

— Não. — Interrompeu Moore, os olhos arregalados, agarrando o braço de Carol de repente, com firmeza. — Quem quer que seja, está vindo nessa direção e está em boa companhia. Podem ser sobreviventes do Terminus. Vá embora; vá encontrar seu amigo, e fujam desse lugar.

A mulher grisalha puxou seu pulso com violência e olhou para Daisy, descrente.

— Eu não vou deixar você — disse, soando extremamente ofendida. — Pegue isto e me espere aqui.

Sem opção, Moore estendeu a mão para a Glock e fechou os olhos.

— Não vou a lugar algum — prometeu, sarcástica.

Ela ouviu os passos de Carol se afastarem furtivamente e desejou seriamente que a mulher estivesse fugindo. Ela não sabia que destino tiveram Abraham, Rosita e os outros, mas não queria que ninguém mais se prejudicasse por sua causa.

Antes que pudesse ficar mais preocupada, porém, Daisy sentiu que sua consciência lhe escapava. O aperto de suas mãos na arma afrouxou, e sua cabeça pendeu para um lado. Ela sentiu o frio envolvê-la novamente, como no freezer, e todas as suas dores se intensificaram, cada uma tentando superar a anterior. Logo, a garota foi engolida pela escuridão.

 

❄ ❄ ❄

 

Em seu sonho, Daisy afunda em um lago de águas escuras e profundas. O céu acima da superfície é enfeitado com o brilho de mil estrelas, mas sua luz não é suficiente para iluminar o ambiente ao redor da menina.

Suas dores cessaram e Moore sente apenas uma dormência agradável que se espalha por seu corpo todo. Ela sabe que seus ferimentos se fecharam, e não sente nenhum incômodo emanar deles. Ali, dentro do lago, há apenas o movimento das correntes que balançam seus cabelos ao redor do rosto, e o esforço que há para inspirar e expirar a água negra. Ela apenas cai lentamente, ansiosa pelo momento em que encontrará a areia depositada no fundo.

E então, de repente, ela para.

Congelada, no meio do lago, Daisy torna a sentir pontadas em sua testa e cotovelo, e faz caretas de dor, até que elas cessam também. O brilho no céu aumenta, cegando-a, e ela pisca com força. A garota sente seu corpo ser balançado às pressas e pisca novamente, tentando entender o que está acontecendo.

Ao abrir os olhos, seu estômago afunda imediatamente com o que Moore vê.

Flutuando acima de si, há uma garota de cabelos negros e longos. Seus olhos são azuis e a pele pálida do rosto é coberta por sardas, sendo estas suas únicas semelhanças com Daisy. Quando ela sorri, os olhos da menina ruiva ardem com as lágrimas que ali brotam.

— Venha, Anya — chama ela. — Ainda não é sua vez.

 

❄ ❄ ❄

 

— Acham que ela está perto de acordar? — perguntou uma voz feminina conhecida, soando abafada.

— Não sabemos se ela vai acordar, Tara — respondeu outra pessoa. Era Rosita, com certeza.

Daisy abriu os olhos lentamente, encarando o para-brisa sujo do carro no qual se encontrava. Sua cabeça girava, mas o enjoo havia passado e a garota sentia o calor do Sol atravessar as janelas de vidro do banco do carona para aquecê-la. Ela sentiu algo apertando seu cotovelo na altura em que fora atingida, e tentou ver além das manchas no vidro à sua frente. Ali, havia uma cabana feita de madeira, com a aparência velha e malcuidada, cheia de tranqueiras nas laterais e cercada por árvores altas, porém finas.

— Ela vai — afirmou fervorosamente outra mulher. Maggie. — Ela precisa.

Moore olhou em volta para a paisagem desconhecida, tentando entender o que estava acontecendo. Por que estava ouvindo as vozes de Tara, Rosita e Maggie? Onde estava? E o que acontecera com Carol? Ela registrou mais conversas que não provinham das três por envolverem vozes masculinas e ficou mais confusa ainda.

Com a cabeça cheia de perguntas, a garota ergueu a mão para o espelho do carro, posicionando-o de forma que pudesse ver a si mesma, e surpreendeu-se. Estava melhor do que estivera em dias, parecendo mais limpa e com os cabelos presos para trás. Embora tivesse um curativo na testa, um lábio partido e alguns hematomas no rosto, incluindo a marca do soco que Glenn lhe dera, todo o sangue e a sujeira que já tingiram suas faces haviam sumido dali, permitindo que suas sardas pudessem ser vistas, mesmo de longe.

Suas roupas também haviam mudado. Alguém havia lhe livrado de suéter preto que ela roubara da mulher no terminal e agora Daisy trajava uma blusa xadrez azul de botões muito grande para ela. Seus sapatos haviam sumido, deixando-a apenas com um par de grossas meias azul-marinho, e mesmo essas eram novas. Pareciam mais limpas e estavam menos rasgadas que as que a menina usava antes.  

Daisy ouviu passos se aproximarem da traseira do carro, para onde ela não tivera coragem de olhar, pois sabia que era onde o trio de mulheres se encontrava. Logo, viu pelo espelho que duas pessoas haviam se juntado a elas, e reconheceu Carol quando esta começou a falar em voz baixa com Rosita, Maggie e Tara.

Após respirar fundo algumas vezes, buscando tomar coragem, a menina ruiva estendeu a mão trêmula para a maçaneta do carro, abrindo-a após usar uma boa parcela de força. A porta destravou, abrindo-se vagarosamente e causando um arquejo surpreso em alguém atrás do carro. Passos apressados levaram Tara ao encontro da garota, e Chambler sorriu, parecendo imensamente aliviada por vê-la acordada.

— Ginger! — Exclamou animada, tão alto que causou um apito nos ouvidos de Daisy. A mulher virou-se para os outros e anunciou: — Ela está acordada!

— Percebemos pela porta se abrindo inexplicavelmente, mas obrigada Tara — retrucou Rosita, ironicamente. — Meu serviço aqui acabou.

Daisy ouviu os passos da mulher latina de afastarem do carro e baixou os olhos para suas mãos; Rosita não estava nem um pouco contente. Sua reação não passou batida por Tara, que se ajoelhou à porta.

— Não ligue pra ela — pediu em voz baixa enquanto os outros terminavam sua conversa aos sussurros. — Rosita só está irritada.

— Não diga — grunhiu Daisy, soando rouca. Chambler riu.

— Tara — elas ouviram Maggie chamar. — Venha.

A mulher sorriu novamente para Moore.

— Estou feliz por vê-la bem, Ginger — disse antes de se afastar, seguindo a esposa de Glenn para longe do carro.

Assim que ela estava longe, Carol se aproximou com outra pessoa em seus calcanhares, ambos caminhando em direção à menina russa. Quando chegaram perto o suficiente para serem vistos, Daisy notou que quem acompanhava Peletier era um homem mais ou menos da idade de Abraham, com cabelos castanhos, cacheados, e barba espessa; a menina sentiu que o conhecia, porém não soube dizer de onde.

A dupla parou a seu lado, e Moore encarou-os, acanhada, esperando que dissessem algo. Ela tentou não focar nas armas que ambos portavam, principalmente porque se encontrava indefesa.

— Bem — começou Carol. — Ginger, este é Rick Grimes. Rick, Ginger Volkina.

O homem assentiu para Moore, os olhos apertados, e ela soube de onde o conhecia. Ele estava com os outros que invadiram o Terminus, e o garoto de cabelos longos que atirou na janela.

— Vejo que sobreviveu — observou o homem.

— Por pouco — balbuciou Daisy fracamente. Grimes deu um pequeno sorriso.

— Aquilo que fez no Terminus... Você teve muita coragem, se arriscando daquela maneira — disse ele. — Obrigado.

— A qualquer hora — respondeu Moore, sentindo suas bochechas arderem de vergonha. Ele não estaria lhe agradecendo se soubesse o que a garota fizera antes.

Carol abriu a porta do banco traseiro, tirando algo de lá e então se voltando para Daisy.

— Aqui estão seus sapatos — disse, estendendo o par para a menina.

Moore tentou se abaixar para calçá-los, mas foi impedida por uma dor aguda que subiu por seu abdômen, e fez uma careta instantânea. Peletier avançou para ela, e logo estava devolvendo as botas aos pés da ruiva e amarrando os cadarços, fazendo com que as bochechas de Daisy ardessem com uma vergonha ainda maior.

— Convenci Carl a te emprestar essa blusa quando Carol contou que você estragou seu suéter — informou Grimes.

— Quem é... Coral? — a menina perguntou hesitante, sem saber a maneira correta de pronunciar o nome. A língua inglesa tinha sons que por vezes ela não era capaz de reproduzir; quando isso acontecia, seu sotaque vinha à tona. Mas Rick apenas riu, sem registrar nada estranho na fala da russa.

Carl — repetiu. — Meu filho. Você irá conhecê-lo, junto com o resto do grupo. — prometeu. — Acha que consegue andar?

— Eu resolvo isso — encarregou-se Carol. — Pode ir dizer aos outros que se preparem para ir.

O homem assentiu e deu a volta, afastando-se do carro. De pronto, Carol assumiu uma expressão exasperada e levantou-se. Ela tornou a abrir o banco traseiro, colocando um kit de primeiros socorros no colo de Daisy ao retornar.

— Nós costuramos seus ferimentos, incluindo aquele no seu cotovelo — informou. — Boa parte do trabalho foi feito por Rosita, então talvez você sinta os pontos um pouco mais apertados do que devem ser. Agora, sobre o congelamento, eu não contei a nenhum deles e acho que nenhum saberá como tratar.

— Eu sei — declarou Moore. — Aspirina, Nifedipina e exposição a temperaturas mais altas, mas evitando os extremos. Não será um problema tão grande, já que esse inverno de vocês não deve passar dos 20 graus.

— Aspirina? — indagou Carol, incrédula.

— Ela mantém o sangue num estado menos espesso — explicou Daisy. — Assim, ele volta a circular normalmente. Daqui a algumas semanas, se eu der sorte, estarei pronta pra outra.

— E se não der? — perguntou a mulher grisalha, remexendo a caixinha branca. Moore deu de ombros.

— Terei alguns membros inchados que devem ficar inutilizados — respondeu. — No máximo, algumas bolhas nas mãos. Mas eu vou ficar dormente por uns dias, isso é certeza.

— Como sabe tudo isso? — indagou Peletier. Daisy hesitou antes de responder.

— Eu conheci uma médica — foi tudo o que disse por fim.

Carol assentiu, retirando uma cartela de comprimidos de dentro do kit.

— Já que você diz — ela estendeu a cartela. — Aspirina. Não sei quanto falta para a validade expirar, mas deve servir de qualquer modo.

— Espero — murmurou Daisy, aceitando o cantil de água que a mulher lhe estendeu e engolindo dois comprimidos.

Alguns instantes depois que Carol guardou tudo o que achou de útil no carro dentro de sua mochila, ela ajudou Moore a se erguer do banco e a garota deu alguns passos vacilantes, sentindo suas juntas latejarem por todo o corpo. Ela respirou o ar com cheiro de chuva e olhou em volta, constatando que ali havia mais pessoas do que ela imaginava; uma dúzia ou mais.

Ela reconheceu a arma que Carol carregava consigo nas mãos de um homem de cabelos longos e aparência assustadora que conversava com Rick. Abraham e Rosita encontravam-se ali perto com Eugene; o sargento acenou com a cabeça para Moore, mas Espinosa torceu o nariz e deu-lhe as costas, encarando as árvores. Daisy desviou os olhos e viu Sasha e Bob conversando com um homem grande, negro, que devia ser o irmão perdido da mulher. E ali, ao lado deles, sentado nos degraus da escada que levava à varanda da cabana, o garoto de chapéu que Moore havia visto no terminal mais cedo segurando um bebê gordinho e muito branco em seus braços.

O garoto ergueu o olhar para encontrar Daisy observando-o, e ela desviou os olhos da cena prontamente. A garota virou-se na direção oposta, caminhando mais um pouco para testar o equilíbrio de seus passos, e encarou o Sol pálido que brilhava acima de si, percebendo em seguida uma mancha negra ao sul.

— “Terminus” — disse alguém, aproximando-se da garota. Era Glenn, que também encarava a fumaça subir ao céu. Ele foi seguido por Maggie, que olhava para Moore como se a visse pela primeira vez. — “Santuário para todos, comunidade para todos. Aqueles que chegam...” — Ele se interrompeu, parando de falar por alguns segundos e então balançando a cabeça.

— Sinto muito — desculpou-se Daisy com um fio de voz. O rapaz asiático a olhou, assentindo.

— Tudo bem — disse. — De verdade. Você estava assustada, todos entenderam.

— Não todos — discordou a menina.

— Ela não tem o direito — declarou Maggie com firmeza, entendendo que Moore referia-se a Rosita. — De todos nós, ela devia entender... Foram eles que te encontraram sozinha, afinal.

— Tara contou? — perguntou Daisy, incrédula.

— Não fique com raiva dela — pediu Glenn. — Eles disseram que tinham te matado, trouxeram uns fios do seu cabelo cheios de sangue pra provar.

Moore tocou as madeixas cor de cobre, notando só então que estavam desiguais. O corte poderia ser avaliado melhor quando o rabo de cavalo fosse desfeito.

— Eu arrumo pra você, se quiser — ofereceu Maggie.

— Obrigada — disse Daisy.

Glenn deu um pequeno sorriso.

— E tem mais uma coisa... — disse ele, indo em direção ao porta-malas do carro, que se encontrava entreaberto. O rapaz puxou dali algo e tornou a andar na direção de Daisy, que olhava o objeto, atônita.

Era seu taco de baseball. Ela reconheceu a madeira clara e os desenhos de margarida, embora estes tivessem sido apagados até a base do bastão, de onde o tecido colocado lá por Moore fora desenrolado. Entretanto, a coisa a qual Glenn se referia estava bem no topo, onde alguém martelara pelo menos uma dúzia de pregos.

— Não foi ideia nossa, nós o encontramos desse jeito — disse o asiático. — Só estou lhe devolvendo porque Tara disse que você ia gostar.

Daisy pegou seu taco das mãos do esposo de Maggie e o observou de cima a baixo. Ela experimentou girá-lo algumas vezes, e então balançou a cabeça.

— Poxa vida...


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Notas finais do capítulo

Espero que vocês tenham gostado. Comentem aí dizendo o que acharam e me xingando bem muito. Eu não sei quando vou postar novamente, e peço desculpas por isso, mas o bloqueio criativo aqui é real.
Só pra avisar que eu mudei a atriz da Daisy e a capa nova foi feita pela Amante Adorável, que me deu a maior força pra escrever isso aqui. Alguém mais pegou a referência a Stranger Things?
Beijinhos e até o próximo capítulo!