O dia fora… agradável. Ambos descreveriam aquele domingo com essa palavra, mesmo que ele também possuísse grande quantidade de frustrações. A primeira frustração de Kagami foi descobrir que a quadra do parque que combinaram uma partida ainda não estava pronta. Na segunda vez que fora desiludido, a culpa já era mais de si mesmo e de sua mente esperançosa: sentiu um “clima” no ar que aparentemente não existia e esperou uma atitude que não viera. Subiu na garupa da moto tentando disfarçar a careta de desgosto. Bem, pelo menos conseguira uma carona.

À sua frente, o jovem que colocava as luvas emborrachadas tentava não suspirar muito alto, o que estava sendo uma tarefa árdua. Enquanto Kagami tinha frustrações por o mundo não cumprir suas expectativas, as insatisfações de Kise eram consigo mesmo. Havia planejado tudo há semanas, desde fingir que não sabia que o parque novo ainda não tinha inaugurado a quadra até o que comprariam na feira de artesanato tradicional. Planejara piadas, trocadilhos e observações sugestivas para os mais diversos contextos. Vira uns vinte de seus planos caminharem ao sucesso, as conversas que ensaiara prosseguirem exatamente como havia imaginado. Porém travou na primeira vez, perdeu a coragem. A segunda vez não foi muito diferente, assim como todas as outras. Xingava-se internamente, havia perdido oportunidades únicas, mas não conseguia ficar de mau humor, pois passar um domingo no parque com a pessoa que habitava seus mais íntimos sonhos era algo que lhe passava nada além de paz.

Colocou o capacete e já ia ligar a moto, mas sentiu seu ombro ser cutucado. Kagami perguntava se precisava tirar seu colar, pois temia que ele se soltasse durante a corrida. Ao ter uma epifania, Kise sorriu sem pudor, pois sabia que o capacete cobria sua expressão. Disse para o jovem apenas fechar sua jaqueta por cima da corrente que já iria ser suficiente.

Com seus próprios pensamentos, ambos tomavam sérias decisões. Kagami decidia que convidaria o outro para entrar quando chegassem. Kise decidia jogar no lixo todos seus planos, dos mais ridículos aos mais geniais, dos realizados e fracassados aos futuros e certeiros. Ele bolava um totalmente novo, improvisado e imprudente, nada que combinasse com sua natureza cautelosa quando se tratava de amor. Tal plano não dependia de variáveis calculadas ou calculáveis, apenas de sua coragem que era alimentada a cada abraço forte recebido nas curvas.

Estacionou o veículo e tirou o capacete, observando Kagami descer antes e caminhar à sua frente, pedindo para ser seguido. Kise tinha apenas que esperar que o outro se virasse, coisa que faria com toda certeza, nem que fosse apenas para se despedir com um aceno de cabeça.

Após caminharem por meia quadra, Kagami apontou para algum andar do prédio à frente, provavelmente diria onde exatamente morava, mas foi calado assim que virou-se para dizê-lo. Os lábios tomados, o coração acelerado, a sensação única e indescritível da reciprocidade, Kagami não dava a mínima para o colar arrebentado caído no chão.