Princesa dos Diamantes escrita por


Capítulo 1
Princesa dos Diamantes


Notas iniciais do capítulo

♛Aproveitem♛



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Em outra dimensão, o mundo era bem diferente. Não há histórias de lá, apenas relatos de algumas pessoas. E essas pessoas me concederam a honra de contar a vocês uma história.

O mundo era pequeno. Na verdade, não havia muito nesse mundo novo. Apenas um reino, em cima de uma ilha média, no meio do oceano. Era um reino circular, com uma densa floresta o rodeando, como uma muralha. Havia montanhas, lagos, rios e cavernas. No centro existia um grande castelo branco perolado, com grandes janelas que mostravam ao reino o que acontecia lá dentro.

O reino era administrado por quatro entidades. Fotiá, Gi, Neró e Aéras, respectivamente as entidades do fogo, da terra, da água e do ar. Eles controlavam o mundo com seus poderes, mantendo a Mãe Natureza em perfeita harmonia com os seres que viviam em seu mundo.

As entidades, porém, não eram reis e rainhas. Pois desde o primeiro dia de nascimento de Mitéra, havia uma princesa que reinaria sobre o mundo. Mas essa princesa estava desaparecida.

E eles precisavam dela, mais do que tudo.

E foi assim que nossa história começou.

Com a procura pela princesa dos diamantes.

♛♛♛

Entrei no consultório como fazia toda quarta-feira. Abri um sorriso de canto para a doutora e me joguei no “sofá do paciente”, onde eu ficaria pelos próximos cinquenta minutos conversando com minha psicóloga.

— Como está, princesa dos diamantes? — Ela começou como sempre. Rolei os olhos nas órbitas.

Eu ia ao psicólogo há dois anos. Foi quando minha vida mudou por completo.

Há dois anos, meus pais se separaram e eu passei a morar com meu pai apenas. Com meu pai e com Chama, meu gato. Há dois anos, em uma noite qualquer, tive um sonho sobre um mundo novo. E eles estavam morrendo. Há dois anos, meu pai me considerou louca.

Há dois anos eu quero encontrar esse mundo.

— Olá, doutora — Falei com sarcasmo contido. Eu odiava perder quase uma hora do meu dia, uma vez por semana, naquele mesmo consultório com as mesmas paredes brancas, a mesma porta azul clara e, é claro, com a mesma doutora de cabelos negros e olhos verdes de sempre.

Recostei-me no sofá e peguei um livro qualquer da mala. Eu não conversava mais com a Mariana por um grande motivo.

Minha psicóloga via o futuro ao tocar em alguém.

Descobri no primeiro dia. O único dia em que contei sobre tudo. Ela me olhou durante longos segundos e depois sorriu. Apertou minha mão e disse:

— Você encontrará esse mundo, princesa.

Eu gelei. Até que ela me explicou tudo. Ela era como eu. Conhecia esse mundo, e tinha poderes.

A partir daquele dia, nós não conversávamos. Eu achava perda de tempo, já que ela sabia o que eu queria. Por isso, comecei a levar livros para lá.

— Cartas de amor aos mortos? — Ouvi sua voz perguntando.

Acenei com a cabeça antes de virar a página. Era como passávamos nossos cinquenta minutos de consulta. Depois de algum tempo, que para mim passou de repente, ela se levantou.

— Adeus, princesa Torelly — Ela falou, abrindo a porta para mim. Estranhei.

— Adeus por que, Mari? — Perguntei com o coração acelerado. Mas ela sorriu.

— Só nos encontraremos agora no seu mundo, Torelly. — Ela falou — É chegada a hora da princesa retornar.

Eu sorri emocionada. E a abracei, um abraço apertado.

— Quando estará lá comigo?

Ela sorriu carinhosa para mim. Depois colocou uma mecha do meu cabelo atrás de minha orelha.

— Em breve.

O famoso nó na garganta voltou até mim. A abracei fortemente de novo, as lágrimas queimando meus olhos.

— Não importa o que digam, Riana. Você é minha melhor amiga, e eu sou muito grata por você ter entrado em minha vida.

Ela sorriu também. Despedimo-nos, e ela fez uma reverência. Eu ia reclamar, mas algo veio em minha mente.

— Como chegarei lá? — Perguntei.

Mariana sorriu. Seus olhos verdes estavam incrivelmente brilhantes. Um brilho de quem vê sua princesa retornar.

— Seu lugar é lá, princesa. Seu coração está conectado com o Diamante de Mitéra, o diamante mais antigo de todos os mundos. Basta você querer. Basta acreditar.

Sorri e peguei minha mochila, pendurando-a no ombro. Depois, sai do escritório, caminhando pelas ruas do calçadão aproveitando o sol de um dia de férias.

Cheguei em casa em quinze minutos. Vantagens de se morar perto da praia. Abri a porta com a chave e entrei direto para meu quarto.

— Chama? — Chamei. O gato preto com olhos esmeraldas correu até mim e bateu a cabeça na minha perna. Cocei sua cabeça e o peguei no colo.

— Vamos até o estádio, princesa? — Ele perguntou. E novamente, não, eu não sou louca. Eu só detinha o incrível poder de falar com os animais.

Além, é claro, de controlar os diamantes.

Concordei com a cabeça e o coloquei no chão. Tirei a calça de moletom e a blusa do Nirvana e peguei meu colam no armário. Ele era negro com desenhos de diamantes por ele. O vesti sem dificuldades, já que fazia isso há 15 anos, desde meus três anos.

Depois, coloquei a roupa novamente, e algo em minha mente fez com que eu levasse junto comigo uma mochila e deixar uma carta para meu pai. Como faltava apenas um dia para que eu me tornasse maior de idade, ele não poderia me impedir. Escrevi:

Papai.

Vou embora.

Não quero mais viver assim. Você continua achando que sou louca. Mamãe também...

Não se preocupe comigo. Estarei bem e te mando uma carta assim que der.

Passarei essa noite na casa da Natalie, e amanhã decido o que farei com minha vida nova.

Eu te amo,

Beijos

Torelly.

Na mala, coloquei algumas peças de roupa, meu celular e mais umas coisinhas pessoais. Não foi muito. Apenas uma mochila escolar. Algo em mim dizia que seria o necessário. Chama assentiu com a cabecinha, me encorajando.

— Você poderá manter contato, princesa. Mas hoje realmente será seu retorno.

Sorri. Depois pendurei a mala no ombro e deixei o bilhete na cozinha. Saí andando novamente até o Clube de Ginástica de Santos, que eu frequentava desde os três anos.

— Tory — Chico chamou assim que me viu. Seu nome na realidade era Carlos Alberto, mas ele preferia que o chamasse de Chico. Ele era super fofo comigo, trabalhava aqui quando entrei, e me adorava.

— Oi Chico. Eu posso... Treinar? — Pedi sem timidez. Ele revirou os olhos e nem respondeu. Apenas sorri para ele e me dirigi ate a sala de ginástica artística mais próxima. Ela não estava vazia.

Embora quarta fosse folga dos professores, sempre havia um ou dois alunos treinando. Nesse caso, eram duas. Eu e minha melhor amiga, Natalie.

Para minha sorte, Natalie era uma Strófi Kounéli. Ou, como ela mesma disse, o nome popular: Híbrida de coelho. Eu a achava fofa. Ainda mais quando eu ia até a casa dela, que ela dividia com o irmão, e ela se transformava, deixando o focinho, as orelhas e o rabo de coelho aparecendo.

— Natalie — Pulei praticamente em cima dela. Ela riu. Nós não nos víamos há dois dias, pois ela estava mal. — Tu quase me matou do coração! — Reclamei, com a típica mania dos santistas de colocar o “tu”, mas conjugar o verbo como “você”.

Ela gargalhou e abraçou minha cintura, me puxando para si. Nossos olhos se encontraram, os verde-escuros dela com os cinza-tempestuosos meu. Nossos corpos eram como um imã, atraindo o olhar uma da outra.

E então a gente se beijou.

Foi mágico como da primeira vez. E como todas às vezes seguidas. Nossos corpos se aproximavam mais, se é que isso é possível, e era como se mil borboletas batessem assas no meu estômago.

Melhor sensação do mundo!

Separei-me apenas para empurrá-la de leve. Eu adorava quando ela roubava beijos assim de mim, principalmente depois do último ano. Mas meu rosto se fechou em uma expressão séria.

— Mariana disse que eu devo voltar hoje para Mitéra...

Ela se aproximou novamente e me abraçou por trás, beijando minha bochecha.

— Eu sei disso, Tory! — Ela sussurrou. Virei-me e a abracei, escondendo meu rosto em seu ombro.

— Vai estar lá? — Perguntei. Se Natalie não estivesse lá, eu não conseguiria me encontrar. Ela me abraçou mais forte.

— Estarei com você até o fim, minha rainha.

Suspirei aliviada. E a beijei. De novo. Ela riu no meio do beijo me atrapalhando. Coloquei uma mecha do seu cabelo rosa atrás de sua orelha e sorri também.

— Vamos logo, rosada. Vamos treinar.

Chama se sentou ao lado de minha mochila. Eu e Natalie tiramos nossas roupas ficando apenas de colam. Posicionamo-nos uma ao lado da outra. Ergui meus baços ao mesmo tempo que ela.

A música começou a soar. O instrumental de Beauty and the Beast. Agradeci mentalmente ao Chico por isso. Como eu amava aquele ursinho porteiro. Olhei para Natalie.

— Um... Dois... Três! — Contamos baixinho e iniciamos nossa apresentação.

O estrado em que estávamos era o olímpico, de 12 por 12 metros. Peguei impulso com uma leve corrida em diagonal e saltei, dando uma pirueta no ar e caindo com os braços erguidos sem perder o equilíbrio. Natalie me olhou e sorriu maliciosamente.

Ela iria se exibir de novo.

Ela correu e fez uma parada de mão, descendo depois em um espacate. Corri e saltei sobre ela com um mortal, como raramente fazia, pois Natalie raramente ficava parada por muito tempo. Ela riu alto e acabamos interrompendo a apresentação.

— Desse jeito eu não cresço nunca, Torelly — Ela comentou rindo.

— Ei, nem vem. Tu sabe que a gente vai ficar esse tamanho pra sempre. — Ri. Ela riu também.

E então algo estranho aconteceu. Quando estávamos nos apresentando de novo, uma forte luz branca envolveu á mim, á Natalie e ao Chama. Senti meu corpo subindo no ar, e estiquei a mão em busca de Natalie. Seus dedos tocaram os meus e se entrelaçaram. Puxei Chama contra mim enquanto o clube se desfazia em luz diante de meus olhos.

Não fiquei com medo. De alguma forma, sabia que aquela energia era parte de mim. E do Diamante de Mitéra.

Eu não sabia muito sobre o Diamante. Apenas sabia que ele regia o meu mundo, e que minha energia estava diretamente ligada á energia dele.

  Caímos em uma floresta. Levantei-me e rapidamente eu e Natalie colocamos nossas roupas. Chama sorriu, mostrando pressinhas, se levantou e começou a correr entre nós duas. Natalie sorriu e se aproximou de mim.

— A princesa retornou á seu lar e trono de direito. — Ela falou e me beijou novamente. Sorrimos juntas durante o beijo, mas eu sentia que algo estava errado. Quando nos distanciamos, ergui as mãos.

— Esse mundo está morrendo, não está? — Perguntei, sentindo a energia do lugar fraca. Natalie retirou meu cabelo da frente de meus olhos e beijou delicadamente minha testa.

— Você vai nos salvar, Tory.

— Não sei se sou capaz, Natie... — Sussurrei. Ela me abraçou novamente, acariciando minhas costas.

— Você foi capaz de aceitar a separação de seus pais. Foi capaz de enfrentar ele e o pessoal da escola para ficar comigo. Foi capaz de nunca desistir da ginástica, mesmo depois de ter se machucado muito. E foi capaz de me amar mesmo com todos os meus problemas.

Quando ela terminou de falar, também acariciei suas costas. Eu sabia que ela sentia muita falta da irmã e dos pais, mas tentava esconder. Passei a mão por seu cabelo, e ela se transformou em Kounéli. Ri ao ver as orelhas e o rabinho brancos aparecendo.

— Já disse que minha namorada é muito fofa? — Perguntei baixinho. Ela gargalhou.

— Hoje não, princesa.

— Então quero que saiba. Você é muito fofa. E eu te amo.

— Eu também te amo.

Nos beijamos novamente, mais rápido dessa vez. Apenas um selinho. E depois, Natalie me conduziu pela mão por dentro da floresta.  Enquanto passávamos, eu percebia que até as árvores mais altas se curvavam.

— Elas se curvam para você, Torelly. Para a princesa dos diamantes.

Respirei fundo e sorri para a floresta em volta de nós. Conforme nos aproximávamos do Centro do reino, minha energia ficava mais forte, e não demorou para que diamantes começassem a nascer atrás de mim, deixando uma trilha. Natalie gargalhou alto com isso, enquanto Chama apenas balançava o rabo.

Saímos da floresta e rapidamente o chão sobre nós criou outras cores. Haviam ruas, estradas, casas, parques, escolas e hospitais. Era como uma cidade pequena, mas era o meu reino. E eu já o amava.

— Bem vinda á Mitéra Fýsi, minha rainha. Bem vinda ao seu mundo — Ouvi a voz de Natalie e sorri emocionada.

Continuamos andando, e percebi que minhas roupas se transformavam. A blusa larga do Nirvana e a calca de moletom foram substituídos por um vestido na altura dos joelhos, meio rose, e o tênis All-Star com a bandeira do Reino Unido foi substituída por uma sapatilha rosa clara. Olhei para Natalie e a vi também de vestido, um vestido florido, com alças finas. Sorri quando ela me olhou. Ambas estávamos com os colares de borboleta, que simbolizavam nossa união. Ela tinha as asas esquerdas. Eu as asas direitas. E juntas nós nos completávamos.

— Você está linda — Falamos ao mesmo tempo. E rimos alto, atraindo a atenção de algumas pessoas que passavam por ali. Elas pararam quando passei, e as ouvi sussurrar sobre a Princesa dos Diamantes.

Fui guiada por Natalie até o castelo. Ele era totalmente magnífico e alto. Era de um branco perolado lindo, com janelas imensas. Subimos os primeiros degraus e Natalie bateu na porta de madeira.

Uma menina abriu a porta para a gente. Cabelos cinza, olhos verdes. Ela olhou primeiro para Natalie, e depois seu olhar recaiu sobre mim. E sobre os diamantes á meus pés. E um sorriso percorreu seu rosto. Ela me prostrou uma reverência. Segurei-me para não revirar os olhos. Natalie riu ao perceber isso.

E então, uma dor atingiu meu peito. Arquejei fortemente e meus joelhos cederam enquanto em minha mente via a imagem de uma mulher com cabelos negros em frente á um enorme diamante. Ela apoiou a mão nele, e uma mancha negra começou a cobrir o diamante, assim como á minha visão. Senti os braços de Natalie em volta de mim, me apoiando, mas a dor era muito grande. Abri os olhos e tentei falar:

— Alguém está roubando os poderes do Diamante.

Eu sentia meus poderes me deixando. Natalie se ergueu e me pegou no colo. Sorri fracamente enquanto tentava respirar, e apoiei a cabeça em seu ombro. Ela olhou para a menina de cabelos cinza.

— Maia... Precisamos levá-la até o Diamante. — Sua voz saia um pouco tremida. Abri a boca para tentar respirar mais fundo, sentindo minha garganta apertar. Não ouvi o resto da conversa das duas, apenas senti Natalie correndo comigo em seus braços — Fica acordada, Tory. Tudo bem? Fica acordada para mim, Torelly — Ela repetia sem parar, enquanto corria, e eu tentava fazer o que ela me pedia, embora meu desejo fosse fechar os olhos.

Então senti o aperto na garganta passar aos poucos, e suguei o máximo de ar que podia para dentro de meus pulmões. Permaneci assim por um minuto, enquanto sentia meus poderes ficarem mais fortes. Natalie me colocou no chão.

— Não podemos passar daqui. Vá lá, princesa!

Estávamos na frente de uma escada antiga, bem antiga, que levava direto para baixo. De alguma maneira, me vi com uma espada de pura energia em mãos. Respirei fundo e comecei a descer os degraus. E era como se o Diamante de Mitéra me puxasse para baixo, me pedindo ajuda.

Ao chegar lá, desfiz a espada. Foi irracional. Metade do Diamante estava negro e, ao olhar para minhas mãos, elas também ficavam negras. Olhei em volta. Quem quer que tenha enfeitiçado o diamante tinha ido embora.

Aproximei-me dele. Sentia uma quentura diferente. Ela uma ardência em meu peito, mas uma ardência boa. Era como um calor maternal. Fechei os olhos e me concentrei em minha energia. Eu conseguia vê-la agora. Ela era branca e pura, e eu a moldava em pensamento. Cobri o diamante com minha magia, e me concentrei bastante. Senti-me fraca, mas ao mesmo tempo feliz. O diamante estava curado. Meu reino estava salvo.

Com dificuldades, subi as escadas. Avistei Natalie e sorri. Ela abriu a boca para falar algo, mas minhas pernas cederam. Dessa vez, não resisti e fechei meus olhos.

♛♛♛

Alguém passava uma mão em meu cabelo. Eu sentia isso. Também sentia que estava deitada em uma cama macia. Abri meus olhos e não me surpreendi em ver Natalie. Ela sorriu para mim e me beijou. Não falamos nada. Puxei-a pela mão, fazendo-a cair na cama ao meu lado, e me aconcheguei em seu peio, que subia e descia lentamente.

— Finalmente Mitéra está a salvo, assim como sua rainha — Ela proferiu as palavras com um misto de orgulho e tristeza em sua voz. E essa tristeza não me passou despercebida.

— Estais triste, Natalie? — Perguntei, com formalidade. Foi automático. Era como se me ajustasse á linguagem real. Natalie e abraçou mais fortemente.

— Minha rainha. Minha princesa. Minha Torelly. Não poderemos mais ficar juntas. Não mais, principalmente agora que será coroada. Os ministros não aceitarão isso... — Ela teria continuado a falar se eu não tivesse me virado e depositado um dedo em seus lábios, em um gesto de silêncio.

— Nada vai me separar de você, Natalie Clark. Nada mesmo. Eu te amo, sempre te amei e sempre te amarei. Tu és minha joia mais preciosa... E se alguém tentar nos impedir de ficarmos juntas, nós iremos embora. Passei por muita coisa para ter-te ao meu lado, e passaria por tudo isso novamente.

Nós duas estávamos chorando. Por que sabíamos o quanto aquelas palavras eram verdadeiras. Natalie me puxou para si, e nós nos beijamos. Depois, ela me abraçou e eu deitei novamente a cabeça em seu peito. Adormecemos dentro de nosso novo lar...

♛♛♛

Era noite de lua nova. A noite perfeita, seguindo as entidades, para a coroação de uma rainha. Eu me olhava no espelho.

Meus cabelos azuis estavam presos em um coque, com alguns fios levemente cacheados soltos. O vestido, de um tom claro de roxo, era comprido, mas não exagerado. Criadas ajeitavam amassados invisíveis á meus olhos, e Natalie sorria para mim, sentada em nossa cama.

Não era mais segredo á ninguém que Natalie e eu nos amávamos, e que passaríamos todos os dias de nossas vidas juntas. Ela era frequentemente vista á meu lado, enquanto passeávamos no quintal ao lado de Ellen, uma rainha incrivelmente bondosa, com cabelos ruivos e olhos dourados, que tinha feito amizade comigo e com Natalie rapidamente. Natalie também era vista caminhando comigo pelas ruas de Mitéra. Todos a amavam, mas ela dizia que não.

Mas isso não importava. Por que ambas sabíamos que nos amávamos, e isso era o mais importante.

— Senhorita Torelly, está me ouvindo? — Maia, uma das servas de Neró, a entidade das águas, me trouxe á realidade. Ela acompanhava toda a preparação, e era uma de minhas damas de companhia. Balancei a cabeça e respirei fundo.

— Perdoe-me Maia. Perdi-me em pensamentos. O que você dizia?

Maia e Natalie riram, o que faziam quando eu me desligava. Algumas criadas também soltaram risinhos nervosos, hesitantes, com medo que eu as repreendesse.

— Estamos com tudo pronto. Assim que a senhorita estiver pronta iremos.

Acenei afirmativamente com a cabeça. E olhei para minhas criadas.

— Agradeço a ajuda, meninas. Mas agora preciso ficar sozinha com minhas damas de companhia.

Isso significava Maia e Natalie. Elas se entreolharam e depois me olharam, perguntando-me em silêncio o que eu queria. Era estranho, pois raramente eu falava com Maia e Natalie ao mesmo tempo. As criadas me prostraram uma reverência –a qual eu tentei ignorar e não retrucar- e as meninas me ajudaram a descer do bloco em que estava.

— Obrigada por ficarem. Quero fazer algo antes de ser coroada, e precisava de uma testemunha — Falei, e me abaixei no chão, recolhendo um diamante com tonalidades rosa que eu acabara de criar. Respirei fundo e me virei para Natalie, arremessando o diamante para ela.

Era uma tradição. Os gregos arremessavam maçãs para seus futuros noivos. Em Mitéra, arremessávamos diamantes para quem queríamos que vivessem todos os dias ao nosso lado.

Natalie agarrou o diamante. E correu para mim. Nós duas abraçamos, enquanto escutávamos Maia comemorar.

— Aceita ser minha princesa consorte? — Perguntei. Ela me abraçou mais forte.

— Não recusaria um pedido de minha rainha. Então sim.

E, embora estivéssemos relativamente atrasadas para a coroação, nós ficamos um pouco mais no quarto. E estava feito. Natalie era oficialmente minha noiva. E, com, ela do meu lado, eu sentia que poderia reinar alegremente.

Saímos do quarto. Natalie encaixou seus dedos nos meus. Eu daria o anuncio oficial para as televisões logo após a coroação. E assim foi feito.

Quando estava coroada e em meu trono, ergui os braços. Todos os presentes silenciaram-se. Sorri e levei minha mão á frente de meu corpo.

— Natalie Clark. Pode vir aqui?

Ela subiu com o rosto corado. Nossos dedos se entrelaçaram novamente. Puxei sua cintura para perto de mim e a beijei. Depois, abraçada á sua cintura, ergui a voz e anunciei:

— Estamos noivas. Natalie Clark será minha princesa consorte!

Os aplausos irromperam da multidão que estava ali. Eu e Natalie nos beijamos de novo, e nossas testas se encontraram. Quando nos soltamos, novamente nossos olhares se cruzaram. Tempestade e floresta. Cinza e verde.

O diamante estava á salvo. Eu estava bem, e agora noiva. Tudo estava perfeitamente bem.


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Notas finais do capítulo

♛Espero que tenham gostado

♛Lembrei totalmente da música da Rihanna/Sia quando reli, por isso coloquei ela como nome do capítulo

♛Espero que tenham se apaixonado por Natalie e pela Torelly assim como eu

♛Repetindo: Ellen é de autoria da Temperana, e a uso com total autorização da autora.