Porcelana (Hiato) escrita por Lupe


Capítulo 3
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Oooopaaaaa, demorei né? Desculpa
Por causa das provas e trabalhos de fim de ano eu acabei tendo que me afastar da escrita, ontem eu sentei pra escrever o capítulo e perdi, tive que fazer de novo hoje -.-
Enfim, chega de enrolação! Espero que gostem.



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Eu ouço quando o despertador toca, no quarto dos meus pais. Ouço quando papai calça as pantufas de sola áspera, arrasta os pés até o banheiro, escova os dentes, puxa a descarga do vaso e toma um banho rápido.

Ouço, também, meu irmão abrindo e fechando as portas do armário enquanto se arruma. Ouço quando mamãe bota uma chaleira no fogão para ferver água para o café.
As paredes dessa casa são finas. Talvez finas demais.

Eu jogo os farelos de biscoito no lixo, e deixo a bandeja com o jogo de chá bem escondida em um canto (mamãe gritaria comigo e quebraria tudo se eu descesse agora com a louça suja nas mãos). Vou lavar mais tarde, quando eu voltar da escola. Eu pego Teddy pelo braço e desço as escadas com cuidado, volto para meu quarto e paro em frente a minha penteadeira.

Sinto um arrepio percorrendo minha espinha, o mesmo de todos os dias. Aperto Teddy conta o meu peito, estendo a mão e pego minha Máscara. Eu a odeio. Faz com que eu pareça algo que não sou. Quando toca meu rosto, Ela não é mais um pedaço de porcelana ornada. E meu rosto não é mais meu. Tudo se funde em um só sorriso falso, bochechas coradas e olhos mortos. Assim como todos nessa cidade. É doentio.

Eu não sei como funciona. Talvez seja magia, mas eu realmente não sei. Uma vez, tentei pedir a mamãe. Riram de mim. Quando voltamos para casa, ela me bateu e gritou comigo, e disse pra eu nunca mais faze-la passar vergonha daquele jeito. Ela me deu uma mamadeira amarga e eu dormi por um dia inteiro.
Nunca mais pedi sobre as Máscaras.

Arrumo meu cabelo e pego minha bolsa da escola. Deito Teddy lá dentro, ao lado da minha caixa de lápis de cor.

— Já vou te tirar daí, Teddy. Espere só um pouquinho.
Desço as escadas para encontrar uma cozinha cheirando a panquecas. Papai está sentado em sua cadeira, tomando café enquanto lê o jornal dessa manhã.

Meu irmão estava preparado nosso lanche. Eu gosto do meu irmão. Mesmo que ele não brinque mais comigo, pelo menos ele cuida de mim quando não está completamente chapado.
Ou talvez cuide de mim estando chapado também, seus movimentos estão um pouco em câmera lenta e seus olhos parecem meio vermelhos  hoje pela manhã (embora seja difícil dizer por causa da Máscara).

Mamãe me faz sentar no cadeirão, me dá leite puro em uma mamadeira e me obriga a comer a panqueca cortada em pedaços minúsculos. Ela me trata como um bebê. Eu tenho sete anos, oras, não sou um bebê! A única coisa no meu café da manhã que não se aplica a regra é a calda de panqueca. Eu não posso comer minhas panquecas com calda. "Você vai engordar" ela diz "E garotos não gostam de garotas gordas".

Papai leva a mim e meu irmão de carro para a escola todo dia, mas nós não temos permissão pra falar nem tocar em nada além do estritamente necessário. Não sei papai gosta muito do carro ou pouco de nós. Talvez seja um pouco dos dois.

Eu estou no jardim de infância, o que significa que não tenho conteúdos complicados e tarefa de casa. A professora nos dá livros com figuras para pintar e nos ensina a escrever os seus nomes e nos dá livros com histórias fofas pra ler. Eu odeio. Prefiro ficar sentada com Teddy, fazendo meus próprios desenhos para colorir.

Cheguei na minha sala, tirei Teddy da minha mochila e pendurei ela no gancho com meu nome, na parede ao lado da porta. Fui até o canto e me sentei em um banquinho, com Teddy no meu colo, e fiquei observando as outras crianças chegarem.

Eu me distraio com Teddy, e de repente percebo alguém ao meu lado.

Levanto os olhos. Era Josie. Josie é uma menina estranha. Assim como eu, ela não tem muitos amigos. Para ser sincera, acho que a única pessoa que já vi conversando com ela, sem fazer piadas ou a insultar, foi Jhonny. No começo, quando ela começou a estudar aqui, aquelas vadias plastificadas ficavam cheias de raiva, e bateram nela várias vezes por causa disso. Hoje em dia, elas só riem com desdém quando vêem eles conversando.

Eu nunca a tratei mal, ao contrário das outras meninas da turma. Pensando bem, acho que nunca falei com ela.

Sempre fui simpática e educada com ela, mas de longe.

Entendo bem o que é ser "estranha" no meio desses filhos da puta.

Sempre pensei que ela me achasse louca.

— Bom dia, Josie.

— Bom dia, Cr... - ela para de repente, e cora. Ela deve pensar que vou me aborrecer.

— Tudo bem. É meu nome, não é?

— Sim, desculpe. Então, hm, Cry Baby... Eu queria saber se, talvez, você gostaria de vir a minha casa hoje à tarde, para tomar chá.

Eu pisco repetidas vezes, assimilando a informação. Ninguém nunca me convidou para tomar chá antes.

— Chá?

Ela fica ruborizada novamente, e começava a parecer acuada. Como se tivesse medo de mim, e se arrependesse de ter vindo até aqui.

— Quero dizer, sim. Sim, eu gostaria. É só que... Eu não sou acostumada a receber pedidos deste tipo, sabe.

O clima parece ficar mais leve entre nós. Ela ri baixinho.

— Sei, sei bem. Jhonny também vai, se você não se incomoda.
Isso me surpreende, mas nem tanto.

— Tudo bem. Posso levar Teddy? - digo, erguendo a patinha dele e acenando para ela.

— Sim, claro! Ele pode sentar junto com Jack, meu coelhinho de estimação.

Eu tento fazer uma careta ao ouvir o insulto que Teddy solta sobre o animalzinho, mas a Máscara me obriga a manter o sorriso suave, então eu dou um beliscão nele.

Eu escorrego para o lado no banco e convido Josie a se sentar comigo. Ela parece pensar por um segundo, então segura a saia do vestido e se senta ao meu lado.

Eu e ela temos algumas coisas em comum, como o gosto pra roupas. Vestidos delicados e de saias volumosas, cabelos presos com dois laços na mesma cor que o vestido, sapatilhas e meias com renda. "Roupas de bebê" diriam as vadias. Pois que digam. Posso ser tratada como bebê, mas não sou. Longe disso.

— Você tem algum bichinho de estimação? - pediu Josie. Ela é do meu tamanho, mas parecia pequena com seu jeito tímido. Será que eu também pareço assim, ou a metade rosa do meu cabelo me faz parecer louca demais para que alguém se importe em notar?

— Não. Mamãe não deixa, ela não gosta de animais. Nem mesmo de Teddy ela gosta.

— Que pena.

Acabamos conversando durante a aula toda, e eu descobri que Josie também gosta de desenhar as próprias figuras para colorir. Eu desenho um peixe para ela, e ela me desenha um ganso. Nós rimos dos desenhos, e ela me deixa usar seu lápis com cheiro de rosas para pintar o laço no pescoço do ganso.
Eu gosto de Josie.
Vou levar alguns biscoitos para o nosso chá.


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