Você já se imaginou sendo desprezada, humilhada? Vendo as pessoas zoarem com você por ser diferente, por ter algo de especial? Pois é, essa não era eu não.

Eu era zoada por ser feia mesmo. Sim, feia. Não daquele tipo que você fala: "Ah não, mas ela tem sua beleza". Não, essa palavra literalmente não se encaixava no meu vocabulário. "Beleza".

Claro que isso tinha seu lado ruim, eu não tinha amigos era sempre muito fechada no meu mundinho. Por mais estranho que pareça eu gostava de frequentar um bar, era meu lugar favorito. Parecia que as pessoas estavam sempre tão bêbadas que não paravam pra apreciar minha feiura.

Cabelo ruim, que não se decidia se ficava encaracolado ou liso, cheia de espinhas, nariguda. A única coisa que se salvava um pouco eram meus olhos verdes, o resto talvez só com cirurgia plástica. "Cirurgiã plástica" será que isso era pra mim?

Eu me intrigava com isso. Pensava enquanto olhava aquele bar lotado de homens cambaleando e sorrindo como se a vida fosse maravilhosa. Mulheres chorando e afogando as mágoas no álcool, ou apenas se deixando levar pelo charme, e cantadas de um cara qualquer com um terno simples.

Tantas pessoas passavam por aquele bar, tantas histórias não seriam gravadas ali, ou talvez só repetidas. No entanto um único homem me intrigava. Todo santo dia ele estava lá com uma aliança no dedo, enganando as mulheres, mentindo sobre ser casado e estar sofrendo com o casamento.

Cada dia era uma história "Minha mulher me maltrata" "Minha mulher me trai" e tantas outras que o cara de pau inventava, e a mulherada caia nas graças dele. Todos os dias eu o observava, cara de sorte esse.

Uma mulher mais linda que a outra. "Ah mas se eu pudesse fazer isso também.." Pensei comigo. Ter todas as mulheres gatas e gostosas nas minhas mãos quando eu quisesse, com um simples truque. Mas olha minha aparência?

Quer saber, não custa tentar!

Me dei conta que se eu quisesse mudar a minha vida pra melhor tinha que dar um passo adiante. E foi aí que tudo começou.
Usei a aliança e fiz todo aquele "Teatro" em que elas caiam. Depois de conseguir pegar a primeira garota, não parei mais.

Sempre aquele truque dava certo. Isso aumentou tanto minha auto estima que comecei a estudar que nem louca, me formei em medicina, automaticamente arrumei a batata gigante que era o meu nariz, me livrei das espinhas, arrumei o cabelo. E dez anos depois eu era outra mulher.

Forte, independente, linda e rica. Tudo o que eu almejava, consegui realizar na minha vida, graças aos meus esforços e o truque daquele cara no bar. Hoje tenho meu próprio consultório com minha fiel e amiga assistente, além de fazer o maior sucesso com a mulherada.

— Bom dia minha querida! - Passo pela recepção para entrar na minha sala e já cumprimento Regina, minha assistente, com um tom debochante, pois tínhamos uma intimidade forte. Com um sorriso ela retribui.

— Bom dia Doutora.. - Lança-me uma piscadela, se levantando da cadeira da recepção e me seguindo.

— O que temos pra hoje? - Pego uns papéis de cima da minha mesa e os leio.

— Humm.. Hoje tem a Sra. Morello.

— De novo? - Continuo analisando o papel, em seguida jogo na mesa e a fito.

— Sim, ela já esta pronta pra te receber. - Olho pra trás e dou de cara com a mulher. Já estava acostumada com algumas situações bizarras, mas aquilo era realmente engraçado. Voltei a olhar Regina que segurava o riso e sussurrou pra mim: - Seja boazinha!

— Então Sra. Morello.. - Ponho minhas luvas e me aproximo dela, que estava sentada.

— Olá Doutora Swan! - Abre um sorriso empolgado. Uma das sobrancelhas dela estava alevantada, quase encostando no cabelo.

— O que foi que a Sra fez dessa vez? Isso aqui já da até pra juntar tudo, formar uma trança. O que acha? - Faço piada dando uma risadinha.

— Doutora, eu tentei ajustar com outro Doutor, mas ele acabou só.. piorando a situação. - Revirou os olhos, levantando a sobrancelha deformada automaticamente.

— Oh meu Deus.. - Ouço Regina soltando uma risadinha atrás de mim. - Me desculpa.. - Colocou a mão na boca pra esconder o riso.

— Ah tudo bem, pelo menos faço as pessoas rirem.. - A mulher acabou sorrindo junto. Nisso eu já analisava seu rosto. Tentei abaixar a sobrancelha pra ficar igual a outra, mas assim que soltei ela voltou pra cima de novo. E ouve-se outra risada de Regina, mais alta dessa vez. Sra. Morello sorriu sem graça.

— Regina não faça essa maldade com a pobre Sra. Morello. Vem aqui, vem.. - Abracei a paciente, tentando acalma-la. Se eu ficasse mais um tempo ela me apalparia, então me afastei sorrindo.

— Mil perdões.. - Regina falava enquanto controlava o riso.

— Okay Sra. Morello. Podemos marcar sua cirurgia pra semana que vem já. - Digo a guiando pra fora da sala.

— Swaaaaannnn.. - Droga, eu conheço essa voz. Só pode ser Killian Invadindo meu consultório, com aquele rebolado e lenço ridículo no pescoço. - Miga, sua louca! Saudadiiii!

— Oi Killian.. - Reviro os olhos.

— Obrigada Doutora Swan. - Sra. Morello se despedi.

— Ui queridinha, ta precisando arrumar uma coisinha aqui em cima ó! - Falou num tom debochante indicando o dedo até sua sobrancelha. Killian é uma bicha abusada, mas era como irmão pra mim. Fomos criados juntos. - Melhor usar uma burca né meu bem, pra essa minhoca na sua cara não assustar as pessoas..

— Engraçadinho.. - Sra. Morello estreitou os olhos e saiu pela porta.

— Killian, chega de zoar meus pacientes, sua bicha louca!

— Ai para de drama, dá beijinho dá! - Deposita três beijos de cada lado das minhas bochechas sem ao menos tocar os lábios. - Soube da festa que o Rumple ta dando? Oii Gina!

— Já falei que não gosto que me chamem assim Killian. - Ela revira os olhos.

— Claro que eu soube! - Respondi a ele.

— Você vai né?

— Não sei, tenho umas coisas pra resolver. - Coço a cabeça, fazendo uma careta.

— Nem vem com essa, você merece um descanso, além disso ta ficando encalhada! Ele foi sua inspiração. -Mexeu no cabelo, deixando a outra mão caída. - Hoje as 20:00 horas. Nos vemos lá! - Me apontou, como se fosse o dono da razão e saiu rebolando de volta. - Tchausinho Gina!

— Eu não suporto essa bicha!

— Eu também não Gina.. - Dou uma risadinha e ela me dá um leve tapa.

— Cala a boca. - Ela volta a se sentar e eu fico a sua frente, vendo o próximo paciente chegar.

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