A vida segundo um pai. escrita por Isabela


Capítulo 1
Amor fati.


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas mais lindas do universo!
Essa oneshot foi feita para o Desafio de dia dos pais da página Ficwriter Facts.
Eu espero do fundo do meu coraçãozinho que vocês gostem ♥
Lembrando que eu também participei de um desafio do mês de Julho da página, vou deixar o link aqui embaixo caso vocês queiram dar uma olhadinha.
Também vou deixar o link da minha fic que está em andamento e que, após um loguissimo período de problemas e bloqueio criativo, vai sair capítulo novo no próximo sábado!
A tatuagem da contorcionista - https://fanfiction.com.br/historia/700323/A_tatuagem_da_contorcionista/
Lust - https://fanfiction.com.br/historia/691614/Lust/
Agora sem mais enrolação, vamos a one!
Boa leitura a todos ♥



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Amor fati.¹

O que é a vida?

De acordo com o dicionário, Vida é um conceito muito amplo e que admite diversas definições. Pode referir-se a um processo em curso do qual os seres vivos fazem parte; ao espaço de tempo entre a concepção e a morte de um organismo; a condição de uma entidade que nasceu e ainda não morreu; aquilo que faz com que um ser esteja vivo. Metafisicamente, a vida é um processo contínuo de relacionamentos.²

Eu nunca havia realmente me importado com isso até receber a notícia.

Eu estou grávida— ela disse – você vai ser pai.Então ela sorriu enquanto meu mundo parou.

Ela olhava em meus olhos com expectativa enquanto esperava minha reação e tudo o que eu queria era me lembrar de como respirar. Eu sorri de volta para ela mesma não sabendo o motivo. Era um sorriso de felicidade? Surpresa? Nervosismo? Medo?

Talvez fosse tudo ao mesmo tempo.

Notei que minha reação à fez dar um suspiro como se relaxasse. Foi nesse momento que eu percebi que não era o único que estava assustado com a novidade.

Nós estávamos juntos há pouco tempo, seis meses talvez? E já estávamos prestes a começar uma família sem ao menos ter conhecido os pais um do outro. Era óbvio que nenhum dos dois estava preparado para esta situação.

Nós nos olhamos tentando descobrir o que fazer em um momento como aquele e decidimos fazer o melhor para o bebê. Mas, o que era o melhor para o bebê? Nós não fazíamos ideia, nunca havíamos tido um afinal.

Nós não sabíamos absolutamente nada sobre filhos, desde as coisas mais simples como trocar uma frauda ou como fazer uma mamadeira, até as mais difíceis, como, nós deveríamos ficar juntos? Casar-nos? E se não desse certo? Com quem o bebê iria morar?

Depois de muito conversar, resolvemos tentar manter nosso relacionamento, afinal, nós já estávamos juntos antes disso, certo? Mas dessa vez seria um relacionamento de verdade, com direito a apresentação à família, aliança de compromisso, mudança no status das redes sociais e todo o resto. Se não desse certo, bem, pelo menos nós tentamos.

Quanto as dúvidas mais simples, como trocar fraudas, fazer mamadeiras, dar banho e todas as outras coisas que é necessário fazer para este serumaninho totalmente dependente, nós decidimos que aprenderíamos com o tempo.

Nós logo conhecemos os pais um do outro, mas foi apenas no meio do segundo mês de gravidez que ambos decidimos estar psicologicamente preparados para contar a novidade as nossas famílias. Se nós soubéssemos que nossas mães fariam tanto drama, nós teríamos nos preparado um pouco mais.

— Como assim você engravidou essa moça, Gabriel? Vocês mal começaram a namorar! Como pode, aos vinte e seis anos, ser tão irresponsável desse jeito?

— Você perdeu o juízo Maria Clara? Um filho antes do casamento, ótimo! Sua vó vai ter um ataque cardíaco quando souber e você vai ser a responsável por isso!

Foi assim que um advogado e uma publicitaria, dois adultos independentes, voltaram a ouvir sermões de suas mães como se fossem dois adolescentes irresponsáveis que voltaram bêbados para casa pela primeira vez.

Toda essa coisa de tentar colocar juízo na cabeça dos filhos acabou aproximando nossas mães e elas acabaram se tornando grandes amigas.

No terceiro mês nossas mães saíram da fase “bronca nos filhos irresponsáveis” e entraram de cabeça na fase “eles não sabem nada sobre ter filhos e precisam de nós para tudo”.

Não se esqueçam da consulta médica na semana que vem.

Vocês precisam começar a montar o quarto do bebê.

Vocês já deveriam ter começado a comprar as roupinhas.

Quando você vai começar a organizar o chá de bebê Maria Clara?

Vocês estão deixando tudo para ultima hora!

Era tanta coisa que nós estávamos à beira de um colapso nervoso, principalmente Maria Clara. Embora coisas as relacionadas ao bebê fossem responsabilidade de nós dois, era perceptível que todos esperavam que minha namorada sempre fizesse mais do que eu.

Ninguém entendia que ela estava cheia de hormônios, tendo diversas oscilações de humor e sentindo enjoo por qualquer coisa. Ninguém via que ela estava cansada e estressada por causa do trabalho e que mesmo assim precisava encontrar horários em sua agenda para compromissos sem importância, como o ‘Bingo Para Mães de Primeira Viagem’, que nossas mães faziam questão que ela fosse. Ninguém percebia que ela ainda estava um pouco assustada pela entrada repentina de um filho nas nossas vidas.  Essas coisas estavam acabando com ela e ninguém mais além de mim via isso.

Então resolvi eu mesmo dar um jeito nesta situação. Chamei minha amada mãe e minha querida sogra para conversar e disse a ela que eu e minha namorada precisávamos de mais espaço. Usei todas as artimanhas de persuasão que aprendi ao longo da minha carreira como advogado para convencê-las de que se elas não nos deixassem fazer isso sozinhos, do nosso jeito, nós nunca aprenderíamos a ser pais bons e responsáveis. Depois de muita resistência da parte delas e uma promessa de que se nós precisássemos de ajuda em qualquer coisa elas seriam as primeiras a saber, eu finalmente consegui um pouco de sossego para nós, e principalmente, descanso para Maria Clara.

No quinto mês nós resolvemos morar juntos. Seria mais fácil para os dois, eu poderia participar mais da rotina dela e ela não precisaria se preocupar com tudo sozinha.

Também foi o mês em que sentimos o bebê mexer pela primeira vez. Foi um dos dias mais emocionantes da minha vida e eu nunca vou esquecer o que senti naquele momento.

Nós estávamos no quarto, ela comendo os chocolates que eu havia lhe dado e eu ao seu lado fazendo algumas anotações sobre meu próximo caso. Então eu ouvi um soluço, olhei para o lado e ela estava chorando. Eu entrei em desespero.

— O que foi Clara? Você esta sentindo alguma coisa? Esta doendo?tudo o que ela conseguia fazer era me olhar e balançar a cabeça em negativaPor favor, me diga o que esta acontecendo!

 Vem aqui Gabriel.

Ela pegou minha mão e colocou sobre sua barriga. E então eu senti. Eu senti. Eu senti meu bebê, nosso bebê, se mexendo pela primeira vez!

Eu olhei para ela e ela estava com o sorriso mais radiante que eu já havia visto em seu rosto. Eu sorri de volta para ela e dessa vez eu tinha certeza que era um sorriso de felicidade.

Nós passamos o resto da noite abraçados na cama, conversando, falando com o nosso bebê e sentindo ele se mexer ate pegarmos no sono.

No sétimo mês nós estávamos ansiosos para fazer mais um ultrassom e descobrir o sexo do bebê. Já havíamos feito cinco ultrassons no total, dois deles tinham sido feitos no mês anterior com a intenção de saber se era um menino ou uma menina, mas nosso bebê aparentemente gostava de brincar de esconde-esconde.

Primeiro nós ouvimos o coração do bebê e pela quinta vez Clara chorou ao ouvir, então apareceu um borrão na tela e mais lágrimas no rosto da minha namorada quando o médico disse que era um menino. Acho que eu nunca sorri tanto como eu sorri naquele dia.

O médico nos deu uma “foto” do ultrassom do bebê e Clara fazia questão de mostrá-la para todo mundo com quem conversava. Cada vez que ela olhava para aquela imagem ou mostrava para alguém, ela parecia ficar mais e mais feliz. Eu não sabia se era a felicidade de ser pai, se era a felicidade dela ou se eram as duas coisas juntas, mas isso me fazia bem. Eu nunca havia me sentido tão leve em toda a minha vida.

O início do nono mês chegou mais rápido do que eu esperava, e a cada dia que passava eu ficava mais ansioso.

Nós esperávamos o bebê para o meio de julho, mas ele parecia estar um pouco impaciente para conhecer o mundo e acabou chegando pelo fim de maio mesmo.

Nós estávamos abraçados no sofá, escolhendo os possíveis nomes para o nosso filho. Ela começou a fazer algumas caretas e quando eu perguntei se estava tudo bem ela disse que sim, que eram algumas contrações, mas que o médico tinha dito que era normal devido ao dia do parto estar chegando. Eu a tinha acompanhado em todas as consultas e realmente me lembrava de o médico ter dito algo assim.

Ela me pediu para pegar o remédio que o médico havia passado para quando isso acontecesse e eu fui. Quando eu voltei para a sala ela estava em pé e havia uma poça aos seus pés.

Acho que nosso filho quer nos conhecer logo Gabriel.

Então eu travei enquanto olhava para aquela poça.

Meu filho ia nascer. Nosso filho ia nascer!

Eu mal podia acreditar. Meu peito se encheu de uma felicidade que eu nem sabia que existia.

Gabriel!

O... o… o que?

Hospital. Agora. Rápido, por favor.

Certo, hospital.

Então foi uma correria. Eu liguei para o médico enquanto íamos para o hospital. Ao chegarmos lá, tudo já estava preparado para a chegada do nosso filho.

Eu me lembro de segurar a mão dela e dizer que a amava, que aquele era o dia mais feliz da minha vida e que ela e o nosso filho que estava nascendo eram as coisas mais importantes da minha vida.

Foi então que eu ouvi, pela primeira, vez o choro do nosso filho e chorei com ele. Era uma sensação tão incrível que não havia maneiras para descrever o que eu sentia naquele momento.

Ouvi os médicos dizerem que ele havia nascido com 3,7 quilos e 51 centímetros. Um bebê perfeitamente saudável.

Então eles levaram meu filho para poderem limpá-lo e levaram minha Clara para o quarto. Nós mal podíamos esperar para olhar o rostinho dele.

Eu pensei que não poderia me sentir mais feliz do que quando o ouvi chorar na sala de parto, mas quando a enfermeira entrou no quarto e o colocou no colo de Clara, parecia que meu peito ia explodir! Eu nunca tinha visto uma coisa tão linda na minha vida, minha Clara segurando nosso filho, ela tinha lágrimas nos olhos e o sorriso mais lindo do mundo no rosto enquanto nosso filho resmungava um pouco e mexia os bracinhos.

Ela olhou para mim e me chamou, eu me sentei ao seu lado na cama e ela me deu nosso filho para que eu pudesse segurá-lo um pouco.

Eu nunca tinha sido tão feliz na minha vida.

Hoje, seis anos depois de me tornar pai, eu percebi que não se pode planejar ser feliz, simplesmente acontece. Quando você menos imaginar, do jeito mais inesperado possível, a felicidade vai chegar e você provavelmente não vai perceber logo de cara.

— Shiu Ana, não pode fazer barulho, ta bem?

— Tá bem irmaozão.

Fechei os olhos e sorri ao ouvir os pequenos passinhos vindo em direção a minha cama tentando não fazer barulho. Senti minha mulher me soltar e se afastar um pouco para sobrar mais espaço na cama.

Ouvi alguma coisa se colocada na cômoda ao lado da cama e senti pequenas pessoinhas subindo em cima de mim.

— Papaiii... – ouvi a voz doce da minha filha mais nova me chamar – acorda papai.

— É pai, acorda logo – dessa vez foi a voz de Lucas, meu filho mais velho que eu ouvi. Impaciente desde que nasceu.

Fingi um pouco de antes de finalmente abrir os olhos.

— Feliz dia dos pais!

Senti dois pares de braços ao meu redor enquanto eu ria.

Ouvir meus dois filhos me dizendo isso fez com que eu me sentisse mais feliz do que já estava.

— Bom dia crianças.

— Nós fizemos seu café da manha papai – olhei para o lado e vi uma bandeja com uma tigela cheia de cereal com leite e um copo de suco de laranja.

— E trouxemos seu presente, pai. Aqui, – disse enquanto me entregava uma caixa embrulhada em papel azul – abre, abre, abre!

— Calma aí campeão, pra que essa pressa toda? – abri a caixa e encontrei um relógio dentro.

— Você gostou, papai?

— Eu adorei – dei um beijo em cada um.

— Papai, a gente ainda vai ao parque hoje?

— Mas é claro que vamos, eu prometi a vocês, certo?

— E que horas a gente vai pai? Você vai jogar futebol comigo, não vai?

— Não, ele vai brincar de pique-esconde comigo.

— Não vai não.

— Calma aí os dois. – achei melhor intervir antes que os dois começassem a brigar – Nós vamos fazer tudo, ok? Vou jogar futebol com você Lucas e também vou brincar de pique-esconde com a Ana. E nós só vamos depois que sua mãe acordar.

— Ah pai, mas a mamãe demora muito pra acordar.

Eu ri. Definitivamente eu concordava com o meu filho sobre isso.

— O parque não vai sair de lá filho, e também, está muito cedo para nós irmos. Porque vocês dois não vão tomar café da manhã e assistir desenho enquanto nós esperamos sua mãe acordar?

Eles concordaram e saíram do quarto indo em direção a cozinha.

Senti a cama se mexer mais uma vez e logo minha Clara já estava me abraçando novamente.

— Eu não demoro pra acordar – a ouvi dizer perto do meu ouvido – a culpa é sua que não para de fazer filhos em mim. Eu não preciso só comer por dois, preciso dormir por dois também.

Eu me virei para ela e coloquei uma mecha de seu cabelo atrás da orelha.

— Você tem toda razão meu anjo. – há quatro meses e meio, nós esperávamos outro filho – E como está nosso bebê hoje?

— Ele está cansado, muito cansado. Ele quer dormir até tarde.

É inevitável sorrir quando ela fala desse jeito.

— Melhor descansar então. Ainda está muito cedo e nós vamos ter um dia agitado hoje. Não quero nenhum dos meus dois amores cansados.

Senti-a chegar mais perto e me dar um leve beijo

— Hey, feliz dia dos pais. Você é o melhor pai do mundo. Eu amo você Gabriel.

— Eu também amo você Clara.

Eu sorri mais uma vez pensando no quão feliz eu era. Sou casado com uma mulher incrível, tenho os dois melhores filhos do mundo e estou à espera do terceiro.

Hoje eu realmente posso me considerar o homem mais feliz e sortudo de todo o universo.


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Notas finais do capítulo

[1] Em resumo, é uma concepção que significa amar o próprio destino, o caminho que seguiu sua vida, em suas experiências boas e ruins.

[2] Dicionário informal.



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