Until Your Last Breath escrita por Mrs Joker


Capítulo 35
Vazio


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem.



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Harley Quinn ainda se lembrava de como era... Estar morta. Estava escuro e estava frio, mas sentia uma paz que nunca havia sentido. Talvez fosse uma sensação de liberdade, como se estivesse livre de tudo que viveu e sentiu, o fim da dor. Ela esperava ir direto ao céu, em que ela acredita que merece, mesmo não o merecendo totalmente. Não havia uma crença dentro dela, mas ela sempre se sentiu como se algo a observasse e a protegesse, seria tolice não acreditar em Deus? Ou seria tolice acreditar?

Ela força seus pés no chão, se levantando da mesa. Coringa cobre a visão dela com o seu corpo, enquanto olhava para a porta.

— Você não tem que ver isso. — Ele diz, se referindo ao corpo quase carbonizado de Hera Venenosa no chão

Harley olha assustada para ele, já pressentindo o que aconteceu. Ela olha para baixo e vê, ao lado da perna do Coringa, uma mão com unhas pontudas imóvel. Reconhecendo aquela pele esverdeada, que estava levemente machucada, Harley coloca a mão na cintura do Coringa, afastando-o.

Ela cobre a boca com as duas mãos, reprimindo um forte grito. Coringa fecha os olhos, sabia que ela iria ver aquilo inevitavelmente.

Harley Quinn faz gestos negativos com a cabeça, enquanto vê Hera Venenosa com sua pele queimada, tinha muitas áreas em que a pele dela chegou a sair, sangue no chão e o olhar vazio de Hera para o nada. O furo da bala foi certeiro e estava estampado para qualquer um que olhasse.

Harley se abaixa lentamente, se aproximando da amiga, tremendo e com um enorme peso no peito, querendo gritar e chorar até perder a voz e toda a água de seu corpo. Não conseguia se lembrar de quando havia sentindo uma dor tão forte e persistente. A pessoa que a salvou de várias maneiras, várias vezes estava ali, morta. O que mais doía era o fato de nunca mais poder ouvir aquela doce voz, aqueles conselhos que deixavam Harley Quinn furiosa! E bem triste.

Era uma dor muito diferente, não era como ser torturada ou agredida pelo amor da sua vida, era um sentimento de perda. Era uma mistura de dor e perda, sufocante e claustrofóbico. Coringa segura Harley Quinn pelos ombros, tentando afasta-la daquele corpo decadente.

— E-Eu não acredito. — Harley diz olhando nos olhos verdes da amiga, que agora estavam opacos e meio acinzentados

— Eu sei, mas ela te salvou. — Coringa diz, ajudando-a a se levantar

Harley Quinn tremia enquanto olhava para ele. Talvez o choque estivesse tão alto que ela não conseguia derrubar nenhuma lágrima.

— Ei... — Coringa diz segurando o rosto dela, fazendo-a olhar para ele e parar de olhar para o chão — Nós precisamos sair daqui. A confusão lá fora não vai durar para sempre.

Harley olhava para ele sem expressões, sem piscar, sem raciocinar direito. Sua mente não estava lá, prestando atenção. Ela estava em algum lugar vazio, tentando processar tudo que está acontecendo, tentando entender a realidade do momento.

— E-Eu... Não podemos ir sem ela. — Harley diz baixo, ainda sem acreditar que sua melhor amiga havia partido, sua mente ainda não aceitou isso

Coringa observa o olhar distante e confuso de Harley. Ele não sentia pena da ruiva, e seu único pensamento era "Antes ela do que a Harley", mas precisava reconhecer a coragem da Hera ao se sacrificar pela amiga. Ele se pergunta se faria o mesmo, e nesse momento de dúvidas, Harley morreria.

— Vou ver o que consigo fazer. — Coringa diz pegando seu celular

Harley volta a encarar o vazio no chão, completamente perdida.

— Não importa, dá um jeito de trazer o carro também — Harley ouve de longe Coringa dizer em seu celular — Eu não vou repetir. 

Harley Quinn olha novamente para o corpo da amiga, tentando aceitar que Hera Venenosa realmente havia partido. Coringa puxa novamente Harley para longe daquele corpo, fazendo-a dar alguns passos para frente.

— Eles vão dar um jeito de entrar e vão pegar o corpo da ruiva, temos que nos aproximar do portão. — Coringa diz tentando pegar a atenção de Harley, esse era um daqueles momentos irritantes que ele se sentia ignorado, mas devido aos motivos ele manteria sua calma

— Não... Não vou sem ela. Não posso. Eu vim aqui para resgata-la e a matei, se eu tivesse te ouvido... Se eu tivesse... Esperado... Talvez ela pudesse voltar para casa. — Harley diz tudo sem expressões

— Então, pelo menos... Chore. — Coringa diz sério, achando estranho as reações vazias dela

Mas por dentro ele sabia que aquilo era culpa dele. Afinal, foi por causa dele que Hera foi presa. E o pior, o corpo naquela sala poderia ser o de Harley Quinn. Felizmente, não era.

— Eu prometo que vamos fazer um enterro para ela, mas nosso tempo está acabando.

— Ela vai voltar.

— O que? — Coringa diz confuso, erguendo uma sobrancelha

— Ela vai voltar. A natureza não morre, jamais.

Harley pisca algumas vezes, caindo devagar a realidade. E essa não era uma verdade? Quando a natureza não venceu?

— Mas, iremos enterra-la, certo? Não quero você deixando o corpo em uma cama. — Coringa diz olhando para ela

— Sim, ela gostaria disso. Assim a natureza vai cura-la, eu sei. Pode demorar, mas ela vai renascer.

É a vez do Coringa piscar algumas vezes. Sim, a Hera era a natureza em forma humana, mas ele não acreditava que ela iria renascer após a morte. Afinal, ela era humana também. E sinceramente, as coisas aconteceram como deveriam.

— Tudo bem, mas agora nós vamos sair. Os homens cuidarão do corpo dela assim que chegarem. Enterramos e você espera o renascimento dela.

Ele não acreditava mesmo nisso, quem ele queria enganar? Ah é, a Harley. Mas retirar as esperanças dela não seria algo sábio de se fazer, parecia que a sanidade dela estava em uma fina corda bamba. E não seria uma insanidade boa para encarar, seria a parte dela que com certeza chegaria a morte.

— Foi por causa das suas promessas que estamos aqui, Coringa.

Coringa arregala os olhos com o que ela diz, enquanto ela parecia nem prestar muita atenção.

— Como você... Disse? — Ele abaixa a cabeça, olhando-a com raiva

— Você... Prometeu encontra-la, depois me deixou sozinha.

— Acho que já paguei por esse pecado, mas por esse — Coringa aponta para o rosto dela — Você estará devendo.

Do lado de fora do prédio, os homens do Coringa rasgavam as faixas de seguranças com seus carros, entrando pelo lugar. Com suas armas grandes em punho, eles descem no pátio, olhando ao redor. Alguns policiais aparecem e são baleados até a morte, o grupo se separa e alguns homens entram pelo edifício principal.

— Senhor? — Um deles grita, o som ecoa pelo prédio

— Vamos. — Coringa puxa Harley Quinn pela mão

Harley olha mais uma vez para trás e começa a correr, seguindo-o. Eles descem as escadas e dão de cara com os homens armados que procuravam por eles.

— Corpo na última sala a esquerda, refém no quarto de limpeza. — Coringa diz saindo do prédio

Os homens correm pela escada.

Ao sair, dá para ver o enorme tiroteio e confusão que estava acontecendo do lado de fora, apesar de estar menor agora. Os policiais estavam trocando tiros com os homens do Coringa, que estavam em grande número, é óbvio que pediram reforços perante a situação.

Coringa coloca primeiro Harley Quinn no banco do passageiro e em seguida entra no do motorista, dando a partida. Ele se pergunta como vai passar pelas pessoas que trocavam tiros no portão principal.

Acelerando o veículo, ele assusta todos, mas parece ser impossível recurarem para trás a tempo.

— Se segura. — Coringa diz sorrindo, apertando o volante

— Pudinzinho! — Harley grita, se segurando na janela do carro

Um dos policiais é arremessado no vidro do carro, quebrando-o. Harley grita e sorri ao mesmo tempo, enquanto o homem é atirado contra o chão. As pessoas correm para trás e Coringa mantém o carro acelerado, conseguindo sair por entre as viaturas, saindo de perto da confusão e do Asylum.

Harley Quinn sorri e respira fundo, agitada pela adrenalina momentânea. Coringa sorri ainda apertando o volante, a caminho da avenida principal, que os levaria para a estrada que sai da cidade. Mas logo o sorriso de Harley se apaga e ela se lembra do que o Batman havia dito antes de ataca-la.

— Não, pudinzinho! — Harley grita, Coringa olha rapidamente para ela — Não podemos voltar!

— E do que você está falando agora? — O sorriso anterior dele também se apaga

— Antes de atirar em mim, o Batman disse que a Hera nos entregou. Ela contou da nossa casa e ele sabe onde fica, não podemos voltar para lá.

Coringa olha com raiva para ela e freia o carro bruscamente. Harley é jogada para frente com a rápida parada, ela se apoia com os braços na janela novamente. Uma fumaça branca sobe, vinda dos pneus.

— Como assim a Hera nos entregou? — Coringa grita, um carro buzina atrás deles e derrapa na pista, devido ao bloqueio do carro do Coringa no meio da rua

— Eu não sei, ela disse onde fica nossa casa. Mas pega leve, ela está morta! — Os olhos de Harley marejam

Agora ela estava de volta a realidade.

Coringa fecha os olhos e passa os dedos pela testa, tentando pensar em algo.

— Há um lugar. — Ele diz ligando o carro novamente

— O Cassino? — Harley pergunta, secando uma lágrima antes que descesse

Ele afirma com a cabeça e acelera o carro.

(...)

A única coisa que fizeram naquela noite foi retornar ao lugar comandado pelo Coringa, que estaria inativo até amanhã, se não fosse esses inconvenientes. Ele provavelmente iria ter que adiar a inauguração alguns dias. Afinal, ele iria precisar de mais homens e queria que a Harley fizesse parte disso, e ela precisava de tempo.

Coringa foi o primeiro a entrar no quarto ao lado do escritório naquela cobertura. Um lugar que devia trazer boas lembranças a Harley, que não entrava lá a muito tempo, não conseguia animar a mulher. Ela caminha silenciosa atrás dele.

Coringa deixa suas armas no chão ao lado da cama e se deita, Harley faz o mesmo do outro lado. Em um dia normal, ela estaria feliz por estar dormindo ao lado dele, mas a todo momento ela sentia apenas seu estômago se revirando, cada vez que se lembrava do corpo de Hera no andar de baixo. Incapaz de se animar por essas coisas simples, mas reconfortada por seu pudinzinho estar ao seu lado independente de tudo.

Ela fecha os olhos e segura seu travesseiro, tentando dormir. Mas sempre que fechava os olhos, Hera invadia sua mente. Sua voz, sua doçura ácida... Ela só queria a amiga de volta.


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Notas finais do capítulo

Até o próximo ♥