História de dois gatos escrita por Christina


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Olá,
Não consigo me concentrar em algumas coisas enquanto não tiro ideias da minha cabeça.
Essa fic estava parada no meu Word, e na minha mente, tomei vergonha na cara e passei para o papel.
Espero que gostem. (Não há hibridismo na fic).
P.s. Plágio é crime
P.s² Existe uma música que se chama "História de uma gata" do Chico Buarque. Recomendo.
Beijos ♥



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—Charlie eu não acredito nisso, sua safada! Você quase nem sai de casa, como isso foi acontecer? — Olhei em choque para ela, e vi que a mesma parecia querer “falar” algo. —Fique quieta, não quero te ouvir! Estou chateado, como posso ser o último a saber disso? Estou sendo avô antes dos 30 anos! Ahhh, mas o Robson vai ouvir! Vai ouvir muito! Aquele porteiro irresponsável! E você, fique ai, esta de castigo!

            Iria agora falar com Robson, ele vivia criticando os meus horários de chegar em casa, e as –  poucas – companhias que apareciam... Sempre o mesmo discurso: “Esse é um prédio de idosas”. E agora isso me acontece? Foda-se, se aqui fosse realmente um prédio da família tradicional ele teria que cuidar da integridade da minha bebê!  Afinal, se  tem tempo de checar minha vida, tem que ter tempo de saber quem desvirtuou minha filha!

—ROBSON! — Falei indignado por ver que além de tudo, ele ainda dormia em serviço.—Preciso de uma informação sua... —Comecei manso.

 —Boa tarde, seu Pedro... Pode perguntar! — Respondeu enquanto ajustava seus velhos óculos de grau.

—Por acaso chegou algum morador novo no prédio? — Ele avaliou-me inteiro, mexeu os bigodes, e coçou a nuca.

—Sim... Há uns três meses você têm um vizinho novo... Nunca cruzou com ele por aí não? — Enquanto falava, ele virou-se de costas para mim, mexendo nas correspondências. Melhor assim, se não veria meus olhos assassinos.

—Não! Eu trabalho pela manhã e tarde, não tenho tempo para fofocar essas coisas...

—Não é o que parece! Soube que andou fazendo queixas para o sindico... — Deuses, esse homem esta me afrontando? — Aproveitando que o Sr. tá aqui, tome suas correspondências.

—Não vêm o caso o que eu ando falando com o sindico, isso é história minha e dele! — Puxei as minhas correspondências da mão dele. Desde que eu comecei a aparecer com homens no prédio, ele me trata assim, nunca nem entrega as correspondências na minha casa – como faz com todos os outros moradores– . Já tentei inúmeras vezes fazer queixas dele, mas a velharada preconceituosa do prédio, age em favor dele. — Gostaria de saber se ele têm um gato...

—Tem sim. Coincidentemente ele é seu vizinho de porta. — Arqueou uma das sobrancelhas brancas. —O que o senhor quer com ele?

—Tenha um Bom dia Robson! — Sai em disparada.

Ooo

            Mordi as falanges da minha mão impaciente. Será que era uma boa ideia vir tirar satisfações com um estranho? Boa parte da culpa é minha e não do cara... Afinal, quando peguei Charlie na rua ela estava tão magrinha que o máximo que fiz foi dar as vacinas, e passar a alimentar ela demais. Queria que ela ganhasse peso, e deixasse aquela aparência deplorável de lado. Nunca tive gatos, e nem cachorros, só a adotei pois ela começou a seguir-me na rua... Com a correria dos meus dias, passei a adiar as idas ao veterinário, e com isso, esqueci a maldita castração.

            Quando levantei as mão para a campainha, a porta se abriu. E Meu Deus do céu, meus olhos saltaram do meu rosto! Na minha frente estava um homem, altíssimo, forte, e apenas de bermuda. Um puta gostoso! Hiperventilei! Imagina um cara desses em cima de mim? Jesus! Claro que ele estaria em cima de mim brigando pela honra da minha gata! E apanharia feio...

—Olá, bom dia vizinho! — Abriu um sorriso tão grande, que fui capaz de enxergar covinhas ali. Céus, QUE HOMEM É ESSE?

—Eu... Bom dia! — Murmurei ainda confuso, muita tentação! Balancei a cabeça. — Eu quero saber quem é o pai do desvirtuador safado que engravidou minha filha! — Empinei o queixo, qualquer coisa a porta da minha casa estava apenas encostada, correria para lá.

—Já nasceram? Meu Deus já estava a ponto de bater na sua porta! Como Charlie esta? — Olhei–o chocado, como assim ele sabia que minha gata estava grávida? E como sabia o nome dela?

—Como sabe o nome da minha filha, e como assim sabia que ela estava grávida? — Perguntei em choque.

—Tem que ser muito tapado para não perceber que sua gata estava grávida! E como eu não saberia o nome? Tem gravado na coleira dela! — Respondeu calmamente, e entre as pernas dele apareceu... apareceu o gato dele!

 —Eu nunca tive animais antes, não me chame de tapado, seu... seu brutamontes musculoso! Aposto que nem cérebro têm... — Ok, era agora que eu levaria umas porradas.

            Quando o cara levantou a mão, já me vi caído no chão, e morto. Será que ele cuidaria da Charlie e dos filhotes? Tomara que ligue para o número certo da minha mãe, se ligar pro antigo ninguém vai atender. Será que minha mãe vai me enterrar com meu terno azul? Acho que não, provável que ela compre um preto. Puta merda, vão me fuder mesmo quando estou morto. Aposto que meu tio homofobico vai chorar em cima do meu caixão... Tomara que o Rodrigo coloque a bandeira LGBT em cima do meu cai...

—Nossa, que covinhas fofas você tem! — Não sei como, mas aquelas mãozonas tocaram de modo leve minha face. Talvez eu tenha me arrepiado, muito talvez...

Esbugalhei meus olhos –  que estavam fechados– , e encarei o sujeito que mesmo tendo sido ofendido continuava sorrindo para mim.

—Não ouse tocar em mim! Eu... — Fiquei sem fala, ao ver que ele me observava com atenção ate demais. Como se qualquer coisa que eu fosse falar, fosse de extrema importância.

—Eu posso ir ver os gatinhos? Por favor, por favor! — Franzi o cenho em sua direção, estranhando seu jeito.

—Não é como se ela fosse deixar você se aproximar dos meus netos! — Resmunguei.

—Você é bem rabugento hem. — Suspirou, porém continuou sorrindo.

—Venha!

Deixei o “grandão” no meu encalço e fui em direção a minha porta.  Chegamos até meu apartamento, e o fiz deixar os chinelos na porta –  recebendo um olhar torto– em seguida.

—Você é bem organizadinho hem...

—Não compactuo com bagunça! — Rolei os olhos. — Venha, ela esta em meu quarto.

Meu rosto estava um pouco quente, não era a primeira vez que um estranho entrava em meu quarto, contudo eu nunca ou via no dia seguinte né?

—Meus Deus olha como eles são fofos! — Ele já ia se aproximando quando segurei nos seus braços (que pareciam ser demasiadamente fortes).

—Você é retardado? Ela acabou de parir, não vai querer sair desse armário tão cedo, muito menos nos deixar tocar neles! — Comentei ríspido.

—Ah... — Falou baixo, parecendo um pouco triste.

—Já viu, né? Agora pode cair fora! — Falei enquanto fazia gestos para ele sair.

—A gente podia tentar os deixar na minha casa... Você pode acabar esquecendo de deixar alimento para ela, e bem... Agora tem os filhotes! — Falou calmo.

—O quê? Eu nunca esqueceria de alimentar os meus filhos!  — Cruzei os braços, tentando o intimidar.

—Tem certeza? Algumas vezes que ela aparecia lá em casa, parecia estar com fome! — Rebateu.

—Ela come demais, caso não tenha percebido!

Eu já transpirava de indignação, pois NUNCA havia esquecido de dar alimentos a minha filha! Nunca!

—Ok, ok... Mas, você continuara sem tempo!

—Eu estou de férias! Terei tempo o suficiente de participar da adaptação dos filhotes! E você não trabalha, não?

—Eu trabalho em casa, escrevendo para meu blog, e fazendo alguns vídeos...

—Grande trabalho hem.... — Comentei sarcástico.

—E você, o que faz?

—Eu... Eu sou professor de Artes! — Estava envergonhado, contudo não demonstraria.

—Grande trabalho hem... — Rebateu ainda risonho.

Observei o filhote de Léo Stronda caminhar pelo quarto, tocando nos meus porta–retratos, e observando uns pôsters antigos que eu ainda mantinha na parede. “Sai da adolescência, porém a adolescência não saiu de mim.”

—Los Hermanos? — Gargalhou baixo. Céus, que risada!

—Não me julga, você não sabe o que eu já passei por essa banda!

—Eu já os conheci. Já até entrevistei para meu site. — Olhou na minha direção. — Os caras eram maneiros juntos...

—Separados também são... Tem ótimos trabalhos solo.

—Você quer o CD que eu consegui que eles autografassem? — Continuou vagando os olhos pelo meu quarto.

—Você tá falando sério? — Quase soltei gritinhos de felicidade. — Não quero ficar te devendo nada...

—Não devera nada. Eu gosto do som, mas não sou fã.

—Ah, então ok...— Murmurei envergonhado ao ver seus olhos fixos em mim.

OoO

—Não me sinto bem em deixar esta responsabilidade toda com você! — Falei um tanto envergonhado.

Minhas férias acabariam hoje, e não seria nem um pouco bom deixar dois filhotes e uma gata em casa sozinhos. Com certeza não sobraria casa na hora que eu voltasse. Eles já estavam sendo “desmamados”, precisavam receber refeições 3 vezes ao dia, e em pouca quantidade... Coisa que eu não conseguiria fazer estando no trabalho!

—Ei calma... Não se pode separar os filhotinhos da mãe, e nem posso deixar todas as responsabilidades com você! — Acariciou meus fios de cabelo, como se eu fosse um filhotinho.

            Uma estranha “amizade” surgiu entre nós. Maior parte por culpa dele, que sempre invadia meu espaço pessoal com toques sutis.

—Ok, ok. Cuide dos nossos netos! — Mordi o lábio nervoso.

—Relaxa Pedro, eu já te ajudei a cuidar deles. E você sabe... Tenho gatos desde que me entendo por gente.

—Ok... — Olhei para os rostinhos dos meus três bebês pela última vez, e segui meu caminho.

OoO

            Cheguei ao prédio em que eu morava morrendo de cansaço. Se tem uma coisa desgastante é ser professor. Não é como se eu não me orgulhasse, ou que não amasse minha profissão, mas é extremamente estressante ter que levantar a voz pra alguns “aborrescente”, ter que cobrar respeito... Enfim né.

            O bom é que a maioria dos meus alunos entraram num bom consenso comigo. O acordo era claro; Passo uns trabalhos interessantes e libero fones de ouvido,  e em troca eles têm um pouco de capricho, e conversarem em tom normal ( e não berrando).

            O ruim é que todos nos voltamos de férias. Tanto eu, quanto eles. Muita conversa paralela, muita animação, enfim... Aula vaga.

            Olhei no meu relógio é era quase oito da noite. Tristemente eu tenho a péssima mania de ficar esperando o ônibus mais vazio, e quando ele vem... Já se passaram incontáveis minutos!

            Antes de ir buscar meus gatinhos, fui em direção a minha casa. Deixei todos os trabalhos que recebi dos alunos no “quarto dos trabalhos” (que fica bem trancado graças aos meus bichinhos), e troquei de roupa. Após conferir se estava apresentável, e sem a cara de zumbi (não que eu quisesse impressionar alguém), toquei a campainha do apartamento da frente.

—Oi. — Pietro bocejava quando me recebeu na porta. Estava apenas de calção, e aparentava estar dormindo.

—Estava dormindo? — Perguntei confuso, por estar relativamente cedo.

—Dormi tarde essa noite, acordei cedo para pegar os gatinhos com você, e agora o corpo tá cobrando tirar um soninho. — Sorriu –como sempre–.

—Ohh, eu não sabia! Me desculpe... — Comentei envergonhado. — Amanhã eu sairei de casa mais tarde... Mas, se não puder ficar com eles tudo bem... Eu...

—Ei, calma! — Bocejou novamente. — Entre.

Após ele me dar passagem, entrei dentro de sua casa. Vi que seu gato – Patrick–  estava deitado no tapete da sala, e o sofá parecia totalmente desorganizado (provavelmente por que ele estava deitado lá).

—Você aceita beber alguma coisa, Pedro?

—Aceitaria uma água.

Enquanto Pietro seguiu para a cozinha, reparei o quanto aquele calção se apertava na sua bunda. Se academia deixa a bunda assim, eu já quero. Quero muito, e não é só a academia...

—Sua água. — Esticou um copo em minha direção, me deixando um pouco zonzo, por estar em outro mundo.

—Como vai fazer com sua academia, agora que cuida dos gatos? — Perguntei curioso.

—Nas quintas e sextas que você tem folga, eu farei alguns exercícios... O resto da série faço no sábado. — Respondeu já se jogando no sofá.

—Estamos atrapalhando toda a sua rotina... Espero que sua namorada não se importe.— Joguei, esperando que a resposta dele fosse favorável a mim.

Afinal, eu nunca fui escroto ao ponto de fingir que não quero uma pessoa. Não há motivo para fazer diferente agora... Com certeza só duraria uma noite.

—Opa hem... Acho que você nunca me fez uma pergunta tão direta. — Seu braço passou a repousar sobre seus olhos. Me dando uma boa visão de seus braços flexionados. — Eu não tenho namorada. Nem nunca tive, na verdade.

—Ahh.... Nunca namorou? — Me sentei em uma poltrona daquela sala, começando a acariciar os pelos do gatinho que estava próximo aos meus pés.

—Eu não disse que nunca namorei, disse que nunca namorei uma mulher... — Vi um sorriso de lado desenhando-se em seus lábios.

Arregalei um pouco os olhos, vendo o quão franco ele era.

—Sabe, é meio incomodo um silencio logo depois de se assumir gay para o carinha que eu quero pegar. — Falou enquanto voltava a rir.

—E quem disse que eu quero te pegar?

—A tensão que sempre fica entre nós. — Rebateu.

—Que tensão? — Me fiz de sonso.

—Olha, não é muito normal apertar sem querer a bunda de um amigo, enquanto ele instala uma caixinha de areia no seu apartamento. — Frisou bem o sem querer.

—Culpado. — Levantei as mão em frente ao meu rosto. — Achei que eu fosse mais discreto.

—Bom, os gatinhos estão no segundo quarto aqui de casa...  O meu esta vago...

OoO

 

—Eu já cansei de falar que você não pode deixar a porta do quartinho aberto Pietro! — Pedro bradava indignado enquanto caminhava em direção a sala.

—Mas eu nem entrei lá... — Falou na defensiva. Ainda tinha uma péssima memória, então não tinha muita certeza.

—Tem certeza querido? — Puxei do bolso dos meus shorts a chave da moto daquele ser.

—Ué, minhas chaves estavam lá? Nem sabia...

—Claro que estavam! Óbvio que você não sabia, você perde tudo pela casa!

—Não é culpa minha, amor...— Pietro continuou calmo, sabendo que se falasse algo a mais, irritaria ainda mais o outro.

—É culpa de quem? Minha? Você é um bagunceiro! — Pedro puxou uma almofada do sofá e passou a bater contra o outro.

—Amor você tá muito exaltado... — Pietro continuou, enquanto tentava afastar o menor de si.

—Os seus gatos fizeram xixi pela minha sala! Por algum milagre divino, eles não estragaram nenhum trabalho dos meus alunos!

—Não é como se os seus alunos se importassem com trabalhos de artes... — Pietro achou que o outro pararia de bater nele com a almofada, porém ficou mil vezes pior.

—O QUE VOCÊ QUER DIZER COM ISSO? QUE ARTES NÃO PRESTA PARA NADA?

Pietro soube ali que logo seria seu fim. Nestes dois anos que os dois viviam juntos, eles sempre tinham algumas briguinhas, muita das vezes pela organização de um, e a bagunça do outro... Porém, era quase uma regra silenciosa; “Não desafie, ou fale contra a arte”.

—Desculpa Pê. Não foi isso que eu quis dizer... —  O outro já ia rebater, e o ameaçar, quando...

—Miauuuuuu — O gatinho preto pulos sobre o colo do dono maior.

—Marcelo não defenda ele! –  Por mais maluco que fosse, Pedro tinha a estranha mania de brigar com os gatos como se eles o entendessem, e isso ocorria sempre.

—Calma, o importante é que eles não fizeram nada. Prometo não invadir mais a sua sala de coisas dos alunos, e sempre a manter bem fechada...

—Promete? — Perguntou com um certo bico.

—Prometo. — O maior sorriu, puxando o outro para um beijo.

—E o que você queria na minha salinha? — Perguntou curioso. Marcelo já havia saído do colo do dono, então o menor pôs-se no colo do namorado.

—Procurando fazer uma surpresa...

—Que surpresa? — Se pôs melhor no colo do outro.

—Isso. — Puxou uma telinha pequena, bem colorida, da mesinha da sala. Logo a estendendo para o outro.

— O quê? — Olhou para a tela, vendo uns garranchos feitos a tinta, e algumas patinhas nas pontas do quadro. No centro um “Casa comigo?” e embaixo uma mão (enorme).

—Casa comigo, gatinho? — Pietro sussurrou.

—Caso, gatão. — Pedro abriu um sorrisão, voltando a beijar o outro.

OoO


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