Dolores escrita por Marília Bordonaba


Capítulo 45
Dolores




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Essa rodada de provas será iniciada com Literatura, Gramática, Redação e Espanhol. Eu tô bem tranquila, por mais incrível que possa parecer, mesmo sendo dia de Redação. Ou então eu to completamente indiferente, não sei dizer ainda. O que acontece, na verdade, é que ter a segunda e a terça-feira sem aula foi ótimo pra estudar de boa, parando de vez em quando pra dar uma relaxada. O problema nisso é que eu acabava lembrando do caos que a minha vida estava, só que aí eu voltava às anotações e estudava mais um pouco.

Eu estava confiante com relação às provas e até com certa ansiedade de fazer tudo de uma vez, porque eu não via a hora de entrar logo de férias, mas assim que chegamos ao colégio e vimos que o estacionamento tava lotado, eu soube que aquele dia não terminaria como eu esperava.

Eu tava com medo de a história da briga ter chegado aos ouvidos da direção e do jeito que a Luíza é, ela tomaria o partido da Virgínia e, com certeza, me puniria. O bom é que eu tinha o argumento de que a briga não foi dentro da escola, mas isso não me impedia de continuar com medo.

Enquanto meu pai continuou andando com o carro, procurando algum lugar onde pudesse parar pra que eu descesse, notei que tinham professores e outros funcionários na entrada da escola, falando com os pais dos alunos que chegavam. A maioria dos pais que falavam com esses funcionários entravam na escola com seus filhos.

— Ué. O que será que aconteceu? – meu pai perguntou intrigado.

— Não sei. – por um milésimo de segundo, pensei que fosse alguma coisa relacionada à briga, mas desencanei e tentei me acalmar. Por que uma briga fora da escola teria uma repercussão desse tipo? Logo tirei essa loucura da cabeça e perguntei – Você vai entrar?

— Acho que sim, fiquei curioso. 

Meu pai não era o único que estava parando em local proibido, mas parecia que naquele momento não havia problema e eu não sabia dizer se isso era um bom sinal ou não.

Quando paramos pra falar com um professor, pra nos informamos do que estava acontecendo, a única resposta que tivemos foi:

— Tá todo mundo se reunindo no pátio. A diretora logo, logo vai falar com vocês.

Seu semblante era triste, o que foi suficiente pra eu tirar de vez da cabeça que era algo relacionado à briga, mas isso não me deixou aliviada. Pelo contrário, fiquei ainda mais preocupada.

Meu pai e eu nos encaminhamos até o pátio, nos juntando ao aglomerado de pessoas que cochichava baixinho, especulando o que poderia ter acontecido.

— Será que vão fechar a escola? Já tem uns anos que to ouvindo falar disso. – uma mãe comentou com a outra.

— Não, acho que não. Capaz de algum funcionário ter morrido. Talvez um professor, pra ter um evento desse.

Senti um arrepio na espinha. Rapidamente listei todos os professores que eu sentiria muito caso tivesse morrido e comecei a procurar desesperadamente de um por um pelas redondezas, sentindo alívio toda vez que encontrava mais um da minha lista.

— Bom dia, alunos. Pais… – a diretora Luíza disse assim que subiu ao palco montado pra festa junina, com um microfone em mãos – Peço desculpas pelo imprevisto, pois sei que muitos de vocês têm compromissos a essa hora, mas é que não encontramos outra maneira de reportarmos essa desafortunada notícia. – era chocante como que a diretora estava abatida e era a primeira vez que eu ouvia sua voz tão sem confiança e tremida – É com grande pesar que noticio que na noite de ontem fomos anunciados de que uma querida aluna da 3ª série do Ensino Médio de nossa escola faleceu.

Todos os pais lamentaram em uníssono, solidários com os pais que estavam sofrendo, naquele exato instante, a pior das perdas. Os alunos, e é claro que me incluo nessa estatística, ficamos paralisados; sobretudo quem era da 3ª série, porque isso significava que era um de nossos colegas. Poderia ser alguém da minha turma e por mais que eu não goste da maioria deles, temi pelo nome de qualquer um.

A diretora Luíza perdeu a compostura e fez uma pausa, se afastando do microfone e tentando cessar o pranto. Depois de alguns segundos, longuíssimos pelo suspense do nome ainda velado, finalmente ela retornou ao microfone e disse uma das coisas mais aterrorizantes que já ouvi na vida:

— O nome da aluna é Virgínia Lima de Souza.


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