Awakening escrita por sallyssong


Capítulo 10
Scars.




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    Vários pensamentos dominavam sua mente no momento. Revirou-se sentindo à curta grama arranhar sua pele. O sol estava radiante (o que era estranho em Londres) e Amber sentia o calor que ele proporcionava aquecer todo seu corpo, começando pelas pontas dos pés e subindo por toda a extensão do seu corpo. O barulho das crianças correndo pelo parque não a incomodava, pelo contrário. A alegria parecia espalhasse pelo ar como algum tipo de doença contagiosa. Sentiu alguém se aproximar e deitar ao seu lado, porém não abriu os olhos. Não podia ser Catherine. Se saísse à luz do sol, não conseguiria nem chegar até o parque. As risadas ecoadas no local fizeram-na abrir um pequeno sorriso, e o barulho da respiração da pessoa ao seu lado era calma e ritmada. Abriu os olhos e encarou o perfil de um homem de óculos trajando uma touca preta.

- Max? – Amber falara, observando o homem virar o rosto lentamente em sua direção, esboçando um pequeno sorriso.

- Belo dia, não é? – Ele falara, encarando-a nos olhos. A lente dos óculos dele estavam bem limpas, o que a deixava enxergar seus olhos castanhos com mais facilidade.

- Sim. Um dia de calor, pelo menos. – Amber sorrira encarando o homem, que não desviou o contato visual. Ficaram assim durante alguns minutos, até ela desviar o olhar e encarar o céu azul sem nuvens.

- Estava pensando... Vai fazer algo esta noite? Que tal tomarmos um café? Ou... Sei lá. – Max falara, coçando a testa e esboçando um pequeno sorriso tímido. Amber sorrira naturalmente. Sentia-se confortável na presença dele. Pensou por alguns segundos em aceitar, mas logo se lembrou que não poderia.

- Não posso. Essa noite estarei... Ocupada. – Ela mentira, de uma certa forma, encarando o céu com a expressão séria.

- Que tal amanhã? – Sid insistira, encarando-a de perfil. A luz do sol batia em seus olhos verdes, deixando-os ofuscantes.

- Também não. – Amber dissera, levantando-se e sentando-se. Sid fizera o mesmo e a encarara.

- Por quê? – Ele perguntara.

- De noite não posso. Só de dia. – Amber falara, encarando o chão. Elevou o rosto esboçara um pequeno sorriso.

- Que ocupada você. Posso saber o que faz a noite, de tão importante? – Sid dissera, em tom de brincadeira. Amber coçara a nuca e levantara-se.

- Muitas coisas. – Amber sorrira. – Nos falamos depois! – E direcionou-se à saída do parque, sendo observada por Sid.

 

   Amber abrira a porta de casa e assustara-se com o tanto de pessoas que vira no local. Pessoas não era bem a palavra certa. Vampiros. Todos bem arrumados e com um ar elegante, eram assim por natureza. Entrou na sala que tão bem conhecia sentindo olhares sob ela. Avistara Catherine perto da janela, conversando com algumas “pessoas”. Encaminhara-se até lá e a anciã logo notara a presença da garota.

- Oh, essa é a Amber. – Catherine puxara Amber delicadamente pela mão e a apresentara. – Belíssima, não? – Catherine sorrira, olhando para a garota. Deslumbrada, como se apresentasse um troféu difícil de se conseguir.

- Oh, ela é encantadora! – Um dos vampiros que estava por alí falara. Tinha a aparência de ter uns 40 anos, porém, era muito charmoso. – Mas parece ser tão novinha.

- Ela tem 16 anos. – Catherine falara, ignorando a presença de Amber no local. Como se ela não estivesse alí.

- Catherine, posso falar com você um instante? – Amber pedira, recebendo todos os olhares da roda em sua direção. Catherine sorrira e falara que já voltava, acompanhando Amber até o andar de cima da casa, entrando no quarto da loira.

- O que é isso? Porque todas essas pessoas estão aqui? – Amber falara assim que Catherine fechara a porta. A vampira olhara para a mortal seriamente, com cara de tédio.

- Não posso reunir mais meus amigos em minha casa? – Catherine falara e Amber continuara séria.

- Você não tem amigos. – Amber falara e um silêncio se instalara no local. Catherine caminhara devagar até Amber, chegando perto da loira.

- Ouça, querida. Você meça suas palavras comigo, você está em minha casa, sob meu poder. Eu faço o que quiser neste local, tenho mais do triplo de sua idade. – Catherine passara sua unha pela veia pulsante do pescoço de Amber, fazendo-a tremer. – Não se meta em assuntos que não lhe diz respeito. Agora desça e se comporte.

- Não! Eu não sou um cachorrinho, Catherine. Eu tenho minhas vontades! – Amber falara, aumentando o tom de voz. Catherine respirou profundamente e em segundos o baque do corpo de Amber contra a cama fora ouvido. Catherine segurava o pescoço da humana, por cima dela. Aproximara seu rosto da loira, que mantinha os olhos arregalados.

- Não se rebele contra mim, Amber. Eu já estou com problemas demais, não me atormente. Só faça o que eu pedi, está bem? Assim tudo ficará calmo. – Catherine sorrira e selara os lábios com os da jovem, levantando-se no segundo seguinte. – Recomponha-se e desça. – A vampira falara com seu tom de voz frio e saíra porta afora. Amber sentara na cama, abraçando os joelhos e sentindo uma lágrima teimosa e fria escorrer pelo seu rosto. Ela não sabia o que fazer. Desejava Catherine, desejava ser como ela. Mas tinha medo. Sabia que esse meio que estava seguindo poderia custar muito caro. Até sua vida.

 

   Catherine estava sozinha em sua enorme sala com Kurt. Todos haviam ido embora, por medo do nascer do sol. Aquilo não tinha sido uma festa, na verdade. Foi algo bem mais sério que isso. Estavam acontecendo problemas por alí, e todos os anciões deveriam saber disso. Problemas que Amber não deveria saber. Não por enquanto. Suspirou profundamente e sentiu Kurt se aproximar.

- Você acha certo o que está fazendo com a garota? – Kurt perguntara, percebendo Catherine virar o rosto em sua direção.

- O que eu estou fazendo? – Ela perguntou, naturalmente. O homem continuou sério encarando-a.

- Você está privando-a de sua vida humana. Afastando-a da família. Iludindo-a com sua sedução e promessas. – Kurt falara enquanto aproximava-se devagar da progênie. – Eu te conheço, Catherine. Melhor do que todos. Eu lhe criei, e sei perfeitamente como você é.

- Você não pode falar nada, me obrigou fazer praticamente a mesma coisa com Matthew. A diferença é que eu o transformei. – A menina falara, afastando-se de Kurt. Sua expressão amargurada dava a entender que ela havia se lembrado de toda história com Matt. Desde o começo.

- Com Matthew foi diferente. Foram ordens, ele soube demais. Mas essa menina... Ela é uma criança, Catherine. Possui apenas 16 anos e está completamente maravilhada com nosso mundo. Mas ela não te conhece. Não sabe do que é capaz. Ela sabe de toda história de Matthew? – Kurt perguntara e Catherine ficara em silêncio. – Ela me lembra muito ele. Será por isso toda sua pequena obsessão por ela? Ela não é Matthew, Catherine. Você não a ama. Você só não quer perdê-la porque ela é a única coisa que te faz lembrar de Matt. Os olhos... Isso lhe faz lembrar. Ela é uma criança... – Kurt iria continuar, mas Catherine o cortara rudemente. Sua expressão raivosa e seu tom de voz alto mostravam que seu humor havia mudado.

- Pelo o que eu me lembre, Kurt, você me transformou com essa idade. Roubou toda minha humanidade tão cedo que nem eu mesma percebi! Não pude viver minha vida, por sua culpa! – Catherine falara e Kurt olhara para a janela. – Está me ouvindo? OLHE PARA MIM! – Catherine berrara e Kurt encarara-a. – Olhe para isso! Olhe esse corpo, esse rosto! Estarei presa para sempre como uma garota de 16 anos. Nunca saberei novamente como é ver o pôr-do-sol. Nunca saberei o que é ter uma família! Se eu sou esse terrível ser hoje em dia, a culpa é sua. Sua Kurt... – Catherine diminuíra o tom de voz conforme fora acabando de falar. – E a única coisa que me importava, que fazia minha “vida” ter sentido, fora Matthew. Você me fizera tê-lo, você me fizera lembrar do que é amar, e ele fora arrancado de mim brutalmente como um coração do seu corpo. – Ela falara quase em sussurros. – Por ele que tudo valia a pena. Se tudo que eu fiz com ele, depois de tê-lo transformado, foi por amor. Eu não sei lidar com o amor, e posso extrapolar, mas essa é quem eu sou. Sou formada por todos esses defeitos e não irei mudar. Não tem mais chance para mim. E Amber é como a réplica de Matthew, mais nova e feminina. Os traços são todos dele. Ela é uma boneca, uma criança que precisa de ajuda. E ela é minha. Eu não a amo, mas necessito dela. Não a deixarei ir. Agora, saia de minha casa. Estou cansada. – Catherine falara, virando-se para a janela. Kurt caminhara devagar até a porta, parara e virara o rosto, sussurrando:

- Só tenha certeza do que está fazendo. – E ao falar isso, Kurt saíra devagar, deixando Catherine para trás. A mesma encarara a rua noturna pela janela e passara o polegar pelo rosto, retirando o sangue que escorria como lágrimas por ele.


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